O preservativo
Preservativo é um contraceptivo
de barreira que
pode ser usado durante a relação sexual com o intuito de
reduzir a probabilidade de ocorrência de uma gravidez ou de contrair doenças
sexualmente transmissíveis, como o VIH. É colocado no pénis erecto do homem e forma
uma barreira física, impedindo o sémen ejaculado de penetrar no
corpo do parceiro sexual. Os preservativos são também usados para recolha de
sémen em tratamentos de infertilidade. Uma vez que os preservativos são à prova
de água, elásticos e duráveis, são ainda utilizados para diversas finalidades
sem propósitos sexuais. Atualmente, a maioria dos preservativos é fabricada em látex, embora alguns sejam fabricados com
outros materiais, como poliuretano ou poliisopreno.
Existe também um preservativo
feminino, geralmente fabricado com nitrilo.
Enquanto
método contraceptivo, o preservativo masculino
tem a vantagem de ser barato e de fácil utilização, com muito poucos efeitos
secundários, oferecendo ainda protecção acrescida contra doenças sexualmente transmissíveis.
Com utilização correcta e em todas as relações sexuais, a taxa de gravidez
entre as mulheres cujo parceiro sexual usa preservativo é de 2% por ano para
uma utilização perfeita e 15% por ano para uma utilização típica.1 Os preservativos
são usados desde há, pelo menos, 400 anos. Desde o século XIX que são um dos
mais comuns métodos contraceptivos à escala global. Embora amplamente aceites
na sociedade contemporânea, geram ainda alguns focos de controvérsia.
Eficácia clínica
Na
prevenção da gravidez
A
eficácia do preservativo, tal como qualquer método contraceptivo, pode ser avaliada de
duas formas. A taxa de eficácia relativa ao "uso perfeito" só inclui
indivíduos que usam preservativos de forma correta e consistente. A taxa de
eficácia para o "uso típico" abrange todos os utilizadores de preservativos,
incluindo os que usam de forma incorrecta ou que não os usam em todas as
relações. Ambas as taxas referem-se geralmente ao primeiro ano de uso.2 A fórmula de
cálculo mais comum é o índice de Pearl.3
A
taxa de gravidez para uma utilização típica do preservativo varia entre 10-18%
ao ano, dependendo da população em estudo.4 5 Para uma
utilização perfeita, a taxa de gravidez é de 2% ao ano.2 O preservativo
pode ser conjugado com outras formas de contracepção para uma protecção
acrescida, como os espermicidas.6
Na
prevenção de doenças sexualmente transmissíveis
Os
preservativos são amplamente recomendados na prevenção de doenças
sexualmente transmissíveis. Têm-se mostrado eficazes na redução das
taxas de infecção em parceiros de ambos os sexos. Embora nunca perfeito, o
preservativo é eficaz na redução da transmissão de organismos que provocam SIDA, herpes genital, cancro
do colo do útero, verrugas genitais, sífilis, clamídia e gonorreia, entre outras.7 Os preservativos
são ainda recomendados enquanto método auxiliar de métodos de controlo de
natalidade mais eficazes, em situações onde também é necessária protecção
contra DST.8
Um
relatório de 2000 conclui que a utilização correcta e consistente de
preservativo de látex reduz o risco de transmissão de VIH/SIDA cerca
de 85% em relação ao risco na ausência de protecção. A taxa de infecção com a
utilização de preservativo é de 0,9 por 100 pessoas-ano, muito inferior ao
valor sem protecção de 6,7 por 100 pessoas-ano.9Uma análise publicada em 2007 pela
Organização Mundial de Saúde estimou a redução de risco entre os 80 a 95%.10 Embora o
preservativo seja eficaz ao limitar a exposição ao agente infeccioso, continua
a haver um pequeno risco de transmissão. As áreas infectadas de órgãos
genitais, sobretudo quando os sintomas são observáveis, podem não ser cobertas
pelo preservativo, o que possibilita o contágio de certas doenças através de
contacto directo.11 No entanto, o
principal factor que limita a eficácia do preservativo na protecção de DST é a
sua utilização de forma inconsistente.12
O
preservativo pode também ser útil no tratamento de alterações
pré-cancerígenas do colo do útero. A exposição ao vírus
do papiloma humano, mesmo em indivíduos já infectados com esse
vírus, aparenta aumentar o risco de alterações pré-cancerígenas. O uso de preservativo
ajuda a promover a regressão destas alterações.13 Para além disso,
investigadores no Reino Unido sugerem que uma hormona do sémen pode
agravar uma situação de cancro do colo do útero, pelo que o uso de preservativo
pode prevenir a exposição a essa hormona.
Causas
para falhas
O
preservativo pode deslizar para fora do pénis após a ejaculação, romper-se devido a uma
aplicação incorrecta ou danos físicos (como fissuras ao abrir a embalagem), ou
ainda romper-se devido à degradação do látex (geralmente como consequência do
uso fora do prazo de validade, armazenamento incorrecto ou exposição a óleos).15 A taxa de
rompimento situa-se entre 0,4-2,3% e a taxa de deslize entre 0,6-1,3%.9 Mesmo quando não
se verifica deslize ou ruptura, 1% a 2% das mulheres apresentam indícios de
sémen após relação sexual com preservativo.16 17 O nível de
exposição ao sémen varia consoante a causa da falha. Se a falha ocorre durante
a aplicação, o preservativo danificado pode ser descartado e aplicado um novo
antes do início da penetração, sem existir risco para o utilizador.18 Um estudo
confirmou que a exposição ao sémen a partir de um preservativo rompido era
cerca de metade do valor para sexo sem protecção, e que a exposição após o
deslize do preservativo era cerca de um quinto do valor para sexo sem
protecção.19 Os utilizadores
experientes de preservativos têm muito menor probabilidade de experimentar um
deslize do que novos utilizadores.20 Um artigo sugere
que a educação para o uso correcto do preservativo reduz o risco de
comportamentos por parte do utilizador que potenciam o risco de ruptura e
deslize.21
É
comum a alegação de que a utilização em simultâneo de dois preservativos pode
aumentar a taxa de falha, devido à fricção de borracha com borracha.22 23 Esta alegação não
é suportada por dados científicos. Os estudos limitados realizados sobre este
assunto defendem que a utilização simultânea provavelmente não é prejudicial,
sendo possivelmente benéfica.24 25
Os
preservativos convencionais são adequados a praticamente todos os tamanhos
do pénis humano, embora haja vários graus de conforto e de risco de
deslize. Muitos dos fabricantes disponibilizam tamanhos maiores ou mais
pequenos. Alguns disponibilizam até preservativos feitos à medida, alegando
serem mais fiáveis e oferecerem maior sensação de conforto e/ou prazer.26 27 28 Alguns estudos
associaram pénis maiores e preservativos mais pequenos com um maior risco de
ruptura e menor risco de deslize, e vice-versa. No entanto, outros estudos têm
sido inconclusivos.29 A espessura do
preservativo não tem relação com o risco de ruptura, sendo os mais finos tão
eficazes como os mais espessos.30 No entanto, é
recomendado aos fabricantes que evitem o fabrico de preservativos
demasiadamente finos ou espessos, uma vez que se considera ambos menos
eficazes.31 Alguns autores
encorajam os utilizadores a escolher preservativos mais finos devido à maior
durabilidade, sensação de prazer e conforto,32 embora outros
avisem que quanto mais fino o preservativo, menor é a força necessária para o
romper.33
Entre
os casais que utilizam o preservativo como método contraceptivo, a principal
causa da taxa de falha por uso típico (em oposição ao uso perfeito) são
comportamentos de risco em que ocasionalmente se opta por "arriscar"
quando não se tem disponíveis preservativos.34 Outra causa
possível para a falha do preservativo enquanto método anticoncepcional é a coerção reprodutiva, cujo principal motivo é o desejo de ter
um filho contra a vontade ou consentimento do parceiro.35 Há relatos por
parte de algumas profissionais do sexo nigerianas sobre clientes que
deliberadamente danificam os preservativos em retaliação pelo facto de serem
forçados a usá-los.36
Tipos
A
maior parte dos preservativos tem na extremidade um reservatório, fazendo com
que seja mais fácil depositar o sémen ejaculado. Os preservativos são vendidos
em diversos tamanhos e com diversos tipos de superfície com o intuito de
estimular o parceiro sexual. Normalmente são vendidos com uma camada de lubrificante de modo a tornar
mais fácil a penetração. Os preservativos com sabor são
usados principalmente para sexo oral. A maior parte é fabricada com
látex, embora estejam também à venda preservativos em poliuretano.
Materiais
Látex
natural
O
látex tem propriedades elásticas notáveis: a sua resistência à
tração é
superior a 30
MPa e
pode ser esticado até 800% antes de romper.37 Em 1990 a Organização Internacional para Padronização definiu padrões
para o fabrico de preservativos (ISO 4047 - preservativos de látex natural),
seguida pelo Comité
Europeu de Normalização(Directiva 93/42/EEC sobre dispositivos
médicos).38 Cada preservativo
de látex é testado para a presença de orifícios através de uma corrente
eléctrica. Se o preservative passa no teste, é enrolado e embalado. Para além
disso, uma percentagem de cada lote é testada com recurso a fugas de água ou
ar.12
Embora
as vantagens do látex o tenham tornado o material mais comum para o fabrico de
preservativos, apresenta algumas desvantagens. Os preservativos de látex
deterioram-se quando são aplicadas como lubrificante quaisquer
substâncias à base de óleo, como por exemplo vaselina, óleo de cozinha, óleo mineral, loção, protetor solar,manteiga ou margarina.39 O contacto com o
óleo faz com que o látex perca a elasticidade, aumentando a probabilidade de
romper.29 A alergia ao látex,
relativamente comum, é também um dos principais motivos para o uso de materiais
alternativos. Em maio de 2009 foi aprovado nos Estados Unidos um composto de
látex previamente tratado de forma a remover 90% das proteínas responsáveis pelas reações alérgicas.40 Estão também
disponíveis no mercado preservativos isentos de alergénios fabricados com
látex sintético.41
Sintéticos
O
material mais comum para o fabrico de preservativos, à excepção do látex, é o poliuretano. Podem também ser feitos a
partir de outros materiais sintéticos, como a resina AT-10 ou o poliisopropeno.41 Os preservativos
de poliuretano são geralmente da mesma espessura dos de látex, entre 0,04 mm e 0,07 mm. O
poliuretano pode ser considerado superior ao látex em vários aspetos: conduz melhor o calor,
não é tão sensível à temperatura e às radiações ultravioleta (tendo assim maior
prazo de validade), pode ser usado com lubrificantes à base de óleo, é menos
propenso a causar alergias e não apresenta odor.42 Os preservativos
de poliuretano são aprovados para venda nos Estados Unidos como método efectivo
de contracepção e prevenção do VIH, tendo demonstrado em ensaios laboratoriais
ser tão efectivos como os de látex para estes propósitos.43 No entanto, os
preservativos de poliuretano quando comparados com os de látex são menos
elásticos, mais propensos a rasgar ou a sair do pénis e mais dispendiosos.42 44 O poliisopreno é
uma versão sintética do látex de borracha natural. Embora bastante mais caro,45 apresenta as
vantagens do látex mas sem a proteína responsável pelas alergias.45 Tal como os
preservativos de poliuretano, conduzem melhor o calor do corpo embora, ao
contrário dos de poliuretano, também não possam ser usados com lubrificantes à
base de óleo.46
Com
espermicida
Alguns
fabricantes têm à disposição preservativos de látex lubrificados com uma
pequena quantidade de espermicida, geralmente nonoxinol-9.
No entanto, os preservativos lubrificados com espermicida não têm qualquer
benefício acrescido na prevenção da gravidez quando comparados com os
restantes, para além de terem menor prazo de validade e poderem causar infecções
do trato urinário na
mulher.47 Por outro lado,
acredita-se que a aplicação de espermicida embalado à parte pode aumentar a
eficácia contraceptiva dos preservativos.6
Até
há pouco tempo, acreditava-se que o nonoxil-9 oferecia proteção acrescida
contra doenças sexualmente transmissíveis (incluindo VIH). No entanto,
investigações recentes concluíram que com o uso frequente, o nonoxil-9 pode de
facto aumentar o risco de transmissão de VIH.48 A Organização
Mundial de Saúde alega
que os preservativos lubrificados com espermicidas devem deixar de ser
promovidos. No entanto, sustenta que ainda assim é preferível um preservativo
lubrificado com nonoxil-9 a nenhum preservativo.49 Em 2005, nove
fabricantes mundiais cessaram por completo o fabrico de preservativos com
nonoxil-9.50
Texturados
Os
preservativos texturados são aqueles que são desenhados com saliências na
superfície de modo a proporcionar maior sensação de prazer para ambos os
parceiros. As saliências podem localizar-se no interior, exterior, ou em ambos
os lados. Estão dispostas em locais específicos de modo a oferecer estimulação
directa do ponto G ou do freio.
Muitos dos preservativos com textura que são anunciados como "prazer
mútuo" têm uma forma arredondada na ponta de modo a oferecer maior
estimulação ao homem. Algumas mulheres experienciam irritação durante a
penetração vaginal com preservativos texturados.51
Preservativos
para adolescentes[
Em
março de 2010, o governo da Suíça anunciou que
planeava promover preservativos mais pequenos destinados a adolescentes entre
os 12 e 14 anos de idade, na sequência da preocupação pública com o aumento da
taxa de gravidez entre as adolescentes e pela potencial disseminação da SIDA
nesta faixa etária. Isto deve-se ao facto dos preservativos normais serem muito
largos e não oferecerem protecção aos adolescentes durante relações vaginais ou
anais. Vários grupos suíços ligados ao planeamento familiar e à prevenção da
SIDA exerceram pressão para que fosse criado um preservativo de menor dimensão
para uso adolescente, na sequência de uma série de estudos, entre os quais um
estudo governamental na Universidade de Basileia, ter demonstrado que os
preservativos comuns não eram adequados a adolescentes nestas idades. Os
estudos demonstraram ainda que ou o preservativo não atingia o seu propósito,
ou os adolescentes os rejeitavam por serem demasiadamente largos, não usando
qualquer tipo de protecção.52 Na sequência desta
decisão, passou a estar disponível na Suiça e em alguns países um preservativo
juvenil denominado Hotshot.
Embora de igual comprimento, o diâmetro, de apenas 4,5 cm é menor do que um
preservativo convencional com 5,2 cm. Outros fabricantes começaram também a
comercializar preservativos mais estreitos destinados a adolescentes.53
Preservativo
com efeito retardante
O
preservativo com efeito retardante possui um anestésico misturado com o
lubrificante, geralmente à base de benzocaína, fazendo com que o homem
consiga retardar a ejaculação.54
Preservativo
feminino
Enquanto
o preservativo masculino possui um anel apertado na base de forma a mantê-lo
seguro no pénis, o preservativo feminino tem um anel semi-rígido que o impede
de deslizar para o interior do orifício corporal. O primeiro preservativo
feminino era inicialmente fabricado com poliuretano, embora as novas versões
sejam feitas a partir de nitrilo e esteja também disponível uma marca em látex.55
Aplicações
Relações
sexuais
Os
preservativos masculinos são geralmente embalados no interior de uma embalagem
de alumínio, enrolados, e desenhados para serem colocados na extremidade do
pénis e depois desenrolados ao longo do pénis erecto. É importante que na extremidade
seja deixado um pequeno espaço de modo a formar um reservatório que possa
recolher o sémen ejaculado; caso contrário, pode ser impelido a sair pela base.
Depois de ser usado, recomenda-se que o preservativo seja embrulhado num lenço
ou que seja feito um nó, colocando-o depois num recipiente do lixo.56
Alguns
casais sentem que o acto de colocação interrompe o sexo, enquanto outros o integram
nos preliminares. Alguns casais referem também
que a barreira física do preservativo diminui a sensação de prazer. Esta
diminuição pode trazer vantagens, como uma ereção prolongada ou atraso no
momento da ejaculação, embora também possa trazer desvantagens ao diminuir o
estado de excitação sexual.7 Os defensores do
uso do preservativo referem também a vantagem de ser pouco dispendioso, fácil
de utilizar e ter muito poucos efeitos secundários.7 57
Tratamento
de infertilidade
Os
procedimentos habituais em tratamentos de infertilidade, como o espermograma ou a inseminação
artificial, necessitam da recolha de amostras de sémen, geralmente
através de masturbação. Em alternativa, pode ser usado
um preservativo de recolha durante a relação sexual. Os preservativos de
recolha são fabricados em silicone ou poliuretano, uma vez que o látex pode
influenciar o esperma. Alguns homens preferem este método, ao mesmo tempo que
algumas religiões proíbem por completo a masturbação. Em comparação, as
amostras recolhidas com preservativo apresentam ainda maior número de
espermatozóides, maior motilidade de esperma e maior percentagem de esperma com
fisiologia normal. Devido a estes factores, acredita-se que ofereçam resultados
mais precisos em espermogramas, e maior probabilidade de gravidez quando usadas
em inseminação intracervical ou intra-uterina.58 59
A
terapia com preservativo é ocasionalmente prescrita a casais inférteis, nos
quais a mulher tenha elevados níveis de anticorpos antiesperma. Em
teoria, acredita-se que diminuição da exposição ao sémen do parceiro diminui
também o nível de anticorpos, aumentando assim as probabilidades de atingir uma
gravidez no momento em que a terapia é interrompida. No entanto, não se
demonstrou ainda que este tipo de terapia aumente a taxa de fertilidade.60
Outras
aplicações
Para
além da utilização vulgar enquanto método contraceptivo e clínico, os
preservativos são também utilizados para diversas outras aplicações, visto
serem à prova de água, elásticos e de elevada durabilidade. No contexto
militar, desde a Segunda
Guerra Mundial que
são usados preservativos para cobrir a boca de armas de fogo de forma a impedir
a infiltração de sujidade,61 para oferecer uma
barreira estanque em dispositivos de demolições subaquáticas,62 , recipiente para
armazenagem de materiais corrosivos e para garrotes improvisados.63 A utilização de
preservativos é também comum no tráfico de cocaína, heroína e diversas drogas
pelas fronteiras e para o interior de estabelecimentos prisionais. Geralmente, a
substância ilícita é depositada no preservativo, o qual é amarrado com um nó e
engolido ou inserido no reto. Estes métodos são extremamente perigosos e
potencialmente letais, no caso do preservativo romper, o que faz com que as
substâncias no seu interior sejam imediatamente absorvidas pela corrente
sanguínea e provoquem uma overdose.64
Em
ambiente clínico, os preservativos podem também ser usados no revestimento de
sondas sondas endovaginais por ultra-sons,65 ou para a criação
de uma válvula de sentido único em descompressões torácicas por agulha de
emergência.66 O preservativo tem
também sido usado na proteção de amostras científicas do ambiente exterior,67 e na criação de
uma barreira à prova de água para microfones em situações de
gravação debaixo de água.68
Prevalência
A
prevalência do uso de preservativo varia de forma muito significativa entre
países. A maior parte dos inquéritos sobre o seu uso são realizados entre
mulheres casadas ou em uniões informais. O Japão tem o maior índice de uso de
preservativo a nível mundial, correspondente a 80% do universo de métodos
contraceptivos entre mulheres casadas. Em média, nos países
desenvolvidos, o preservativo é o mais popular método contraceptivo;
28% dos utilizadores de contraceptivos casados confiam no preservativo. Na
média dos países em vias de desenvolvimento, apenas 6-8% dos utilizadores de
contraceptivos casados escolhem o preservativo.69
Em Portugal, segundo os dados do Programa
Nacional para a Infeção VIH/SIDA relativos a 2010, 36% dos inquiridos afirmaram
utilizar o preservativo sempre ou a maior parte das vezes que tem relações
sexuais e 84,4% afirmaram utilizar sempre preservativo em relações sexuais
ocasionais.70 O IV Inquérito
Nacional de Saúde, realizado entre 2005 e 2006, concluiu que 43,5% dos casais
entre os 15 e 55 anos não utilizavam qualquer método contraceptivo. Entre os
casais que utilizavam contracepção, o método mais utilizado é a pílula (65,9%), seguida
pelo preservativo (13,4%) e o dispositivo
intra-uterino (8,8%).71 No Brasil, segundo dados da UNAIDS Brasil para o ano de 2004,
entre os inquiridos em idade jovem (15-24 anos), 57% afirmaram ter usado
preservativo na última relação sexual, enquanto que 67% afirmaram ter usado na
última relação sexual com parceiros eventuais. Entre o universo de inquiridos
em qualquer idade, 25% afirmaram ter usado preservativo em todas as relações
sexuais durante o último ano, enquanto que 51% afirmaram ter usado o
preservativo de forma consistente nos casos de parceiros ocasionais.72
Em Moçambique, no ano de 2003, 12% das
mulheres jovens e 27% dos homens jovens afirmaram ter usado preservativo na
última relação sexual. No ano de 2007, o governo distribuiu 40 milhões de
preservativos gratuitamente no âmbito do Programa Nacional de DST.73 Em Angola, no ano de 2006, 66,5% dos inquiridos em áreas urbanas
afirmaram ter usado preservativo na última relação com um parceiro/a ocasional.
No entanto, nas áreas rurais este número é de apenas 16,7%. Em 2007, o
Ministério da Saúde distribuiu gratuitamente cerca de 21 milhões de
preservativos.74 Em São Tomé e
Príncipe, entre 2006 e 2007 cerca de 60% dos jovens adultos
inquiridos afirmaram ter usado preservativo na última relação sexual com
parceiro ocasional.75 Na Guiné-Bissau, em 2006, 38,8% dos
inquiridos entre os 15 e os 24 anos declararam ter usado preservativo na última
relação sexual com um parceiro/a com o qual não estivessem casados ou vivessem
em união.76 Em Cabo Verde, 72,3% dos homens e 45,8% das
mulheres afirmaram usar preservativo em 2006.77
História
Da
Antiguidade ao século XIX
A
utilização de preservativos na Antiguidade é ainda objeto de
debate entre arqueólogos e historiadores.78 Nas civilizações egípcia, grega e romana, a prevenção da gravidez era
geralmente vista como responsabilidade da mulher, e os únicos métodos
contraceptivos amplamente documentados são métodos controlados pela mulher.79 Na Ásia anterior
ao século
XV há
registo do uso de preservativos que apenas cobriam a glande do
pénis, embora tal fosse restrito às classes superiores e apenas com o intuito
contraceptivo. Na China, é provável que os preservativos para a glande tenham
sido fabricados em papel de seda oleado ou a partir de intestino de cordeiro.80
A
primeira estirpe documentada de sífilis, que apareceu durante uma epidemia
europeia na década de 1490, provocava diversos sintomas e frequentemente a
morte poucos meses após a contracção da doença.81 82 Na Itália do século XVI, Gabriele
Falloppio escreveu
um tratado sobre a sífilis, no qual se inclui a mais antiga
descrição incontestada do uso de preservativos. Refere panos de linho mergulhados
numa solução química, posteriormente secos antes de serem usados. O tecido era
usado para cobrir a glande do pénis e seguro no local através de um laço.83 84 Falloppio alegava
que um ensaio experimental da folha de linho tinha demonstrado ser eficaz na
protecção contra a sífilis.85
Em
épocas posteriores, o uso de coberturas para o pénis com o intuito de protecção
contra doenças é amplamente descrito por toda a Europa. A primeira indicação de
que estes dispositivos eram também usados para controlo de natalidade, e não
apenas para doenças, é uma obra teológica de 1605 De iustitia et
iure (Da
Justiça e da Lei), da autoria do teólogo católico Leonardus Lessius, que condenava os
preservativos como imorais.86 Para além do
linho, durante o Renascimento os preservativos
eram feitos de intestinos e tecido da bexiga. Em finais do século
XV, os comerciantes holandeses introduziram no Japão preservativos feitos de
pele que cobriam o pénis por completo.87
A
partir do século
XVIII, o uso do preservativo encontrou oposição em alguns círculos religiosos,
médicos e legislativos, devido essencialmente às mesmas razões apontadas ainda
hoje: os preservativos reduzem a probabilidade de gravidez, o que alguns
defendem ser imoral ou indesejável; não oferecem protecção total em relação a
infecções sexualmente transmissíveis, ao passo que a crença nesta imunidade
pode encorajar a promiscuidade sexual; e não são usados de forma consistente devido
à pouca conveniência, custo ou diminuição da sensação física.88 Apesar de alguma
oposição, o mercado do preservativo cresceu rapidamente. Em meados do século XVIII os preservativos
estavam já disponíveis numa ampla gama de qualidades e tamanhos, fabricados
quer a partir de linho tratado com químicos ou pele (da bexiga ou intestino,
amaciada através de um tratamento à base de enxofre e lixívia).89 Eram vendidos em
tabernas, barbearias, drogarias, mercados ao ar livre e em teatros por toda a
Europa e Rússia.90 Mais tarde
começaram a ser comercializados na América, embora geralmente fossem apenas
usados pelas classes média e alta, devido ao elevado custo e ausência de
educação sexual.91
De
1800 até à década de 1920
Durante
início do século
XIX assistiu-se
pela primeira vez à promoção de contraceptivos entre as classes mais
desfavorecidas. No entanto, os especialistas em contracepção continuavam a
preferir outros métodos de controlo de natalidade. As feministas deste período
defendiam que a contracepção deveria ser uma questão exclusiva da mulher e
desaprovavam métodos controlados pelo homem, como o preservativo.92 Vários autores
citam também o facto dos preservativos serem dispendiosos e pouco fiáveis (era
frequente abrirem-se orifícios, deslizarem ou rasgarem-se), embora referissem
que para alguns pudesse ser uma boa opção e que o preservativo era o único
contraceptivo que também protegia contra doenças.93 Vários países
adoptaram leis que impediam o fabrico e a promoção de contraceptivos.94 Apesar destas
restrições, os preservativos começam a ser promovidos em anúncios de jornais e
em campanhas de rua, recorrendo a eufemismos em locais onde a
sua divulgação era proibida.95 Na Europa e nos
Estados Unidos eram muitas vezes distribuídas instruções para o fabrico de
preservativos em casa.96
A
partir da segunda metade do século
XIX, a incidência de doenças sexualmente transmissíveis disparou nos Estados
Unidos. Entre as causas apontadas pelos historiadores estão a Guerra
Civil e
ignorância em relação aos métodos de contracepção, devido à Lei de Comstock.97 Para combater a
crescente epidemia foram criadas pela primeira vez aulas de educação sexual nas escolas
públicas, que esclareciam o público em relação a doenças venéreas e à sua
transmissão, embora geralmente ensinassem que a abstinência era a única forma
de prevenção.98 O preservativo não
era promovido, uma vez que a comunidade médica e alguns sectores da sociedade
consideravam as DST um castigo por conduta sexual imprópria. O estigma contra
as vítimas destas doenças era de tal ordem que muitos hospitais se recusavam a
tratar doentes com sífilis.99Apesar da oposição social e legal,
em finais do século
XIX o
preservativo era já o mais popular método contraceptivo no Ocidente.100
Em
1839, Charles Goodyear descobriu uma
forma de processar borracha natural de forma a
torná-la consistentemente elástica, uma vez que é demasiado rígida fria e
demasiado flexível quente. Isto viria a ter implicações no fabrico de
preservativos, uma vez que ao contrário dos preservativos de origem animal, os
preservativos de borracha podiam esticar e não se rompiam facilmente durante o
suo. O processo de vulcanização foi patenteado por
Goodyear em 1844.101 Os primeiros
preservativos de borracha tinham uma costura, sendo tão espessos como a câmara
de ar de uma bicicleta. Durante várias décadas, os preservativos de borracha
eram fabricados envolvendo tiras de borracha crua em torno de um molde com a
forma do pénis, depois mergulhado numa solução química para a cura da borracha.102 Em 1912, o
inventor polaco Julius
Frommdesenvolveu uma nova técnica de fabrico de preservativos,
mergulhando moldes de vidro numa solução de borracha.103 Este método exigia
que fosse acrescentada gasolinaou benzina à borracha para a
tornar líquida.104 Em 1920 foi
inventado o látex, que consiste em borracha suspensa
em água. A produção de preservativos de látex era menos trabalhosa do que o
mergulho em borracha, que depois necessitava de ser amaciada e cortada. A
utilização de água para suspender a borracha em vez de gasolina ou benzina
eliminou o risco de incêndios associado às fabricas de preservativos. Os
preservativos de látex eram também superiores do ponto de vista da utilização:
mais resistentes e mais finos do que os de borracha e com um prazo de validade
de cinco anos, quando comparado com os três meses dos de borracha.105
Até
à década de 1920, todos os preservativos eram fabricados à mão por operários
pouco qualificados. Ao longo dessa década foram introduzidos vários processos
automáticos, sendo a primeira linha totalmente automatizada introduzida em
1930. Os maiores fabricantes de preservativos adquirem linhas de produção
mecanizadas, afastando os pequenos produtores do mercado.106 Os preservativos
de pele, agora bastante mais caros do que os de látex, tornam-se restritos a um
nicho de mercado.107
O
exército alemão foi o primeiro a promover o uso do preservativo entre os
soldados, a partir de finais do século
XIX.108 Algumas
experiências norte-americanas durante o início do século XX concluíram que
distribuir preservativos entre os soldados diminuía consideravelmente as taxas
de infecção com doenças sexualmente transmissíveis.109 Todos os países
intervenientes na Primeira
Guerra Mundial, à excepção dos Estados Unidos, distribuíram
preservativos entre o exército, promovendo o seu uso através de várias
campanhas.110 Durante o pós
guerra, os exércitos europeus continuaram a distribuir preservativos entre os
soldados como forma de prevenir infecções, até mesmo em países cujo uso era
proibido entre a generalidade da população.111
Nas
décadas posteriores à I Guerra Mundial, continuaram a existir obstáculos
sociais e legais em relação ao uso do preservativo por toda a Europa e América
do Norte.112 Sigmund Freud opunha-se a
qualquer método de controlo de natalidade, alegando que a sua taxa de insucesso
era demasiado elevada, opondo-se em particular ao uso do preservativo, que
argumentava diminuir o prazer sexual. Algumas feministas continuavam a opor-se
a métodos contraceptivos controlados pelo homem, como os preservativos. Em 1920
as Conferências
de Lambeth da
Igreja Anglicana condenaram todos os "meios de evitar a concepção que não
fossem naturais".113 Ao longo da década
de 1920, o slogan facilmente
memorizável e o cuidado com a embalagem tornam-se uma técnica de promoção cada
vez mais importante para os bens de consumo, entre os quais os preservativos.114 O controlo de
qualidade torna-se cada vez mais comum, consistindo sobretudo no enchimento de
cada preservativo com ar, seguido por um de vários métodos para detectar
qualquer diminuição de pressão.115 Na mesma década, a
venda de preservativos à escala mundial duplicou.116
De
1930 à actualidade
Em
1930, as Conferências
de Lambeth da
Igreja Anglicana sancionam o uso de métodos contraceptivos por casais. Em 1931,
o Conselho
Nacional de Igrejas dos
Estados Unidos emite uma declaração semelhante.117 A Igreja Católica
Romana emite também a encíclica Casti connubii,
afirmando a sua oposição a todos os contraceptivos, uma posição que ainda hoje
mantém.118 Ao longo da década
de 1930 começa a haver maior permissividade nas restrições legais ao uso de
preservativos.119 No entanto, a Itália fascista e aAlemanha nazi aumentam as
restrições aos preservativos, embora tenham permitido a sua distribuição para a
prevenção da transmissão de doenças venéreas.120 Ao longo daSegunda
Guerra Mundial, o uso do preservativo foi amplamente promovido entre
os exércitos através de filmes, cartazes e palestras,121 inclusive por
parte da própria Alemanha, que em 1941 tinha proibido por completo o seu uso
entre civis.122
Após
a guerra, as vendas de preservativos continuam a crescer. Entre 1955 e 1965,
42% dos norte-americanos em idade fértil usavam o preservativo como método
preferencial de controlo de natalidade. Em Inglaterra, entre 1950 e 1960, 60%
dos casais casados usavam preservativos. No entanto, a partir da sua estreia em
1960, a pílula contraceptiva oral combinada tornar-se-ia o
método contraceptivo mais popular, embora o preservativo tenha sempre
continuado em segundo nas preferências do mundo Ocidental. O uso de
preservativos tem também sido promovido em campanhas de controlo de natalidade
em regiões em vias de desenvolvimento.123 Nas décadas de
1960 e 1970, ao mesmo tempo que é reforçada a regulamentação sobre qualidade,
são removidos os últimos obstáculos legais ao uso de preservativos.124 Continuaram a
haver, no entanto, algumas restrições em publicidade. Nos Estados Unidos, por
exemplo, os anúncios televisivos a preservativos foram banidos até à revogação
em 1979.125 Após a descoberta
no início da década de 1980 de que a SIDA podia
também ser transmitida por via sexual,126 começou-se a
encorajar o uso de preservativos para prevenir a transmissão do VIH. Apesar da oposição de alguns sectores políticos e
religiosos, são realizadas várias campanhas nacionais de promoção do
preservativo na Europa e na América do Norte,127 responsáveis pelo
aumento significativo do seu uso.128
Devido
à procura crescente e uma maior aceitação social, os preservativos começam a
ser vendidos nas mais diversas superfícies comerciais, incluindo supermercados,
estações de serviço e máquinas de distribuição automática no exterior de
farmácias e em locais de diversão noturna.129 As vendas de
preservativos aumentaram progressivamente até 1994, data em que a atenção da
comunicação social à pandemia de SIDA começou a diminuir.130 O fenómeno do uso
cada vez menor de preservativos pra prevenir a transmissão de infecções tem
sido denominado "fadiga da prevenção", sendo relatada tanto na Europa
como na América do Norte.131 Em resposta, os
fabricantes têm vindo a alterar o tom da publicidade, de assustadora para
humorística.132
O
mercado dos preservativos continua a acolher inovações tecnológicas. O primeiro
preservativo de poliuretano foi introduzido na
década de 1990,133 e o primeiro com
tamanho personalizado introduzido em 2003.26 Prevê-se que o uso
à escala global continue a crescer. Um estudo concluiu que em 2015 os países em
vias de desenvolvimento precisarão de 18,8 mil milhões de preservativos.134 À data de setembro
de 2013, estão disponíveis gratuitamente preservativos nas prisões da União
Europeia, Brasil, Canadá, Austrália, Indonésia e África do Sul.135
Sociedade e cultura
Apesar
da demonstração dos imensos benefícios do preservativo e do consenso
científico em
relação ao seu uso, sobretudo entre especialistas de saúde sexual, persistem
ainda algumas críticas a nível moral e científico, sobretudo ao longo do último
século à medida que a investigação e popularidade aumentaram.
Barreiras
culturais à utilização
Na
maior do mundo ocidental, a introdução da pílula na
década de 1960 está associada ao declínio do uso de preservativo.136 No Japão, os
contraceptivos orais só foram aprovados para consumo em setembro de 1999 e,
ainda assim, de acesso mais restrito do que noutras nações industrializadas.137 Em função desta
restrição, o Japão tem a mais alta taxa de uso de preservativo no mundo, cerca
de 80% em 2008.69
As
atitudes culturais em relação aos papeis
sociais de género, contracepção e comportamento
sexual variam
de forma significativa em todo o mundo, desde as extremamente conservadores às
extremamente liberais. Em regiões ou sociedades onde o preservativo é mal
compreendido, reprovado socialmente ou diabolizado, há um impacto directo na
prevalência do seu uso. Em países menos desenvolvidos ou entre estratos sociais
com menos educação, as ideias erradas sobre a forma como funciona a transmissão
de doenças e a concepção afectam de forma negativa o uso de preservativo. Em
culturas onde o homem tenha um papel preponderante, a mulher pode não se sentir
confortável em exigir ao seu parceiro sexual que use preservativo. Por exemplo,
um estudo realizado entre a comunidade latino-americana na América do Norte
concluiu que as mulheres se sentem frequentemente intimidadas para discutir e
negociar o uso de preservativo com os seus parceiros sexuais, descrevendo
receios de irritação ou episódios de violência
doméstica em
consequência do machismo fortemente
enraizado na sua cultura.138 Foi observado um
fenómeno semelhante entre mulheres afro-americanas, que descreviam o medo de
violência ao sugerir ao parceiro sexual o uso de preservativo.139
Em
África, a promoção do uso de preservativo em algumas regiões tem sido impedida
por campanhas anti-preservativo por parte de alguns clérigos muçulmanos140 e católicos.141 Entre os Masai da Tanzânia, o uso do preservativo é travado
por uma aversão ao conceito de "desperdiçar" esperma, ao qual é dada
importância socio-cultural para lá da reprodução. Acredita-se que o esperma
seja um elixir para a mulher, tendo efeitos benéficos na saúde. As mulheres
Masai acreditam que, depois de conceber um filho, devam praticar repetidamente
o acto sexual de forma a que o esperma adicional ajude ao crescimento do filho.
Os Masai consideram também que o preservativo cause impotência.142 Algumas mulheres
em África acreditam que os preservativos sejam apenas para prostitutas e que as
mulheres "respeitáveis" não os devam usar.140Alguns clérigos chegam a promover
a ideia de que os preservativos são deliberadamente infectados com VIH.143
Perspetivas
religiosas
A Igreja
Católica Romana opõe-se
a qualquer tipo de acto sexual fora do casamento, assim como a qualquer acto
sexual no qual as probabilidades de concepção tenham sido reduzidas de forma
intencional (por exemplo, com recurso a cirurgia anticoncepcional) ou através de objetos externos (por
exemplo, preservativos).144
O
uso de preservativo para prevenir a transmissão de doenças sexualmente
transmissíveis em particular não é abordado pela doutrina católica, sendo
actualmente um tema de debate entre teólogos e autoridades católicas. Algumas
individualidades, como o cardeal belga Godfried Danneels, acreditam que a Igreja
católica deve apoiar activamente o uso de preservativo enquanto forma de
prevenção de doenças, sobretudo doenças graves como a SIDA.145 No entanto, a
perspectiva da maioria – incluindo as declarações do Vaticano – é a de que os
programas de incentivo ao seu uso incentivam também a promiscuidade, aumentando
assim a transmissão de doenças sexualmente transmissíveis.141 146 Esta perspetiva
foi reiterada em 2009 pelo Papa Bento XVI.147 A Igreja Católica
Romana, a maior instituição religiosa do mundo148 , lidera centenas
de programas dedicados a combater a epidemia de SIDA em África.149 A sua oposição ao
uso de preservativo nestes programas tem sido particularmente controversa.150
Durante
uma entrevista em novembro de 2011, o Papa Bento XVI defendeu pela
primeira vez o uso de preservativo enquanto método de prevenção de doenças
sexualmente transmissíveis, tendo declarado que o uso do preservativo pode ser
justificado em determinados casos de modo a reduzir o risco de infecção com VIH.151 O papa referiu
como exemplo os prostitutos masculinos, o que
gerou alguma confusão inicial sobre se a declaração se aplicaria apenas a
prostitutos homossexuais. No entanto, Federico Lombardi, porta voz do Vaticano,
viria a público esclarecer que se a decisão se aplicava a todos os prostitutos,
independentemente do sexo e da orientação sexual. Ficou no entanto por
esclarecer se os princípios do Vaticano sobre sexualidade e contracepção tinham
ou não mudado.152
Ciência
e ambiente
Alguns
investigadores têm-se mostrado preocupados com determinados produtos que são
por vezes acrescentados aos preservativos, nomeadamente talco e nitrosaminas. Antes de serem embalados, os
preservativos de látex são polvilhados com uma substância liofilizada de modo a
prevenir que o preservativo fique colado depois de enrolado. Até há algum
tempo, a maior parte dos fabricantes usava talco; atualmente o produto mais
usado é o amido de milho.153 O talco é tóxico
se penetrar na cavidade abdominal através da vagina. O amido de milho é considerado seguro, embora alguns
investigadores tenham levantado algumas questões também sobre o seu uso.153 154
Acredita-se
que uma das substâncias usadas para melhorar a elasticidade dos preservativos
de látex contenha nitrosaminas, que são potencialmente carcinogénicas em seres humanos.155 156 Um estudo de 2001
demonstrou que a exposição do ser humano a nitrosaminas é entre mil a dez mil
vezes superior em alimentos e tabaco do que no uso de preservativo, tendo
concluído que o risco de cancro é muito baixo.157 No entanto, um
estudo de 2004 detectou nitrosaminas em 29 de 32 marcas de preservativos
testadas e concluiu que a exposição resultante dos preservativos era de 1,5 a 3
vezes superior à dos alimentos.156 158
O
uso em larga escala de preservativos descartáveis têm levantado preocupações
relativas ao seu impacto ambiental, quer pelo acúmulo de lixo, quer pela sua
deposição em aterros
sanitários, onde eventualmente podem contaminar a natureza, caso não
sejam incinerados. Os preservativos de
poliuretano, em particular, dado que são uma forma de plástico não são biodegradáveis, enquanto que os de látex
demoram imenso tempo a degradar-se. As entidades públicas recomendam que os
preservativos usados sejam depositados em recipientes próprios para o lixo, e
não em sanitas onde
podem causar prejuízos na canalização.56 159Para
além disso, as embalagens de alumínio ou plástico também não são
biodegradáveis. Apesar disto, considera-se que os inúmeros benefícios que o
preservativo oferece relativizam esta situação.56
Embora
biodegradáveis, os preservativos de látex são prejudiciais ao ambiente caso não
sejam descartados de forma apropriada.56 Os preservativos,
a par de outros detritos marinhos, depositam-se sobre osrecifes de corais, ervas-marinhas e outros elementos
do fundo do mar, havendo o risco dos animais poderem confundir o lixo com
comida.160
Investigação
Um
preservativo invisível, desenvolvido na Universidade
Laval no Canadá, consiste num gel que
endurece perante o aumento da temperatura após a penetração. Em laboratório,
tem demonstrado ser eficaz no bloqueio do VIH e do vírus herpes simplex.
A barreira liquefaz-se passado algumas horas. À data de 2005, o preservativo
invisível estava ainda na fase de ensaio clínico e não tinha sido aprovado para
uso.161
Também
em 2005 foi desenvolvido um preservativo tratado com um composto erectogénico,
destinado a ajudar o utilizador a manter a erecção, o que também ajuda a
prevenir as situações de deslize. À data de 2007, encontrava-se ainda na fase
de ensaio clínico.162 Em 2009 foi
introduzido no mercado um preservativo lubrificado com um gel em cuja
composição se encontra um aminoácido denominado I-arginina, destinado a melhorar a
resposta eréctil.163
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