Sobre operacionalização de conceitos




Segundo Howard Becker (2008), conceitos são maneiras de sumarizar dados, devem ser desenvolvidos em diálogo contínuo com os dados empíricos e não tratados apenas como construtos lógicos, desenvolvidos através da articulação de idéias básicas e divorciados do mundo empírico. Para o autor, não é possível fazer ciência sem a construção de conceitos, pois sem eles sequer saberíamos para onde dirigir o olhar ou de fato reconhecer algo que buscamos.
Conceitos são passíveis de variações históricas, contextuais, e são relacionais, ou seja, seu sentido é referente a sistemas de termos. Sua formulação e definição pressupõem também o exame mais amplo possível da variedade de casos do fenômeno abrangidos pelos os conceitos, conteúdo este que governa justamente o tipo de definição a ser alcançada. Operacionalização de conceitos pode, assim, ser definida como um processo de especificação e redução a indicadores ou variáveis empíricas, atributos observados ou supostamente contidos nos conceitos (deduzidos logicamente). Variáveis podem assumir diversos e distintos tipos de valores e possuir referentes diretamente observáveis e mensuráveis no mundo empírico, os quais assumirão resultados particulares para problemas específicos; podendo também ser complexas, como, por exemplo, a participação política e o status social, que trazem em si outras dimensões.
Becker critica as escolhas de indicadores pouco criteriosas ou apressadas, que apresentam uma relação muito imperfeita com o fenômeno de interesse; além disto, embora os indicadores tornem possível trabalhar com os conceitos na prática, afirma que estes nunca deveriam ser tratados como se de fato fossem ou representassem o próprio fenômeno.
A precisão dos conceitos é obviamente fundamental para a formulação de hipóteses verdadeiramente científicas, as quais devem recusar a ilusão do saber imediato ou senso comum, as definições legais e socialmente dominantes, e permitir questionamentos teóricos; sendo as opções técnicas sempre inseparáveis das teóricas. Passos seguintes, à definição de conceitos e escolha de variáveis, são a formação e construção de índices e escalas, tentativas de síntese que podem finalmente resultar numa intercambialidade entre os índices, escalas e indicadores.
Tendo em vista que o processo de medir depende da construção teórica precedente, o ato de passar das definições mais abstratas às operacionais, com relativa qualidade ou grau de segurança de que os indicadores escolhidos são realmente capazes de medir o conceito em questão, sempre demanda cuidados com a validade e confiabilidade da mensuração (estabilidade do instrumento, capacidade de obter o mesmo resultado uma vez repetida a medida). A validade pode ser subdividida em três tópicos: validade aparente, relacionada ao fato de que medidas empíricas podem ou não coincidir com as convenções e imagens associadas a um conceito, demandando avaliação das evidências desta correspondência; validade de conteúdo ou grau de abrangência da medição sobre a gama de significados embutidos no conceito; e validade de construção, maneira pela qual a medida se relaciona com outras variáveis num dado sistema de relações teóricas.



Referências


BECKER, H. Segredos e Truques da Pesquisa. Rio de janeiro, Zahar, 2008.

(Métodos e Técnicas de Pesquisa I, FFLCH, 2015)