A FORMAÇÃO DE VALORES NO ENSINO PRIMÁRIO
RESUMO
O presente artigo tem como finalidade fazer um esboço
inicial sobre a formação de valores no ensino primário, apegando-se na
influência que os pais, professores e profissionais exercem sobre as crianças e
adolescentes desde os primeiros anos de escolaridade. Pretende-se também
identificar os procedimentos utilizados nas escolas para se ensinar valores aos
alunos do ensino primário. Observando a influência do ambiente escolar na transmissão
e criação de valores nos alunos.
Detectando as estratégias mais usadas pelos professores.
Identificando o que os pais esperam da escola em relação à transmissão de
valores a seus filhos e analisando o nível de satisfação dos alunos. com sua
escola e os valores que ela defende. A transferência de papeis dos pais para os
professores, quando se refere à educação das crianças, é uma realidade
facilmente encontrada na sociedade de hoje. Onde os pais fogem da sua
responsabilidade de ensinar os princípios básicos da educação a seus filhos e
deixam esse papel para os professores nas escolas.
A escola por sua vez preocupa-se com o desenvolvimento académico
do aluno e muitas vezes se esquece de se trabalhar os valores. Em
contrapartida, é sabido que a Educação não deve estar apenas a serviço do
sucesso académico, mas precisa desenvolver estratégias que alcancem os valores
perdidos no tempo.
PALAVRAS-CHAVE: Valores morais – Ensino primário – Ensino de valores
morais.
INTRODUÇÃO
Pensar em Educação não é apenas deter-se em conteúdos
curriculares. Na realidade, a necessidade do homem moderno não é limitada a
estes conteúdos contidos nos currículos escolares que somente podem oportunizar
o sucesso ou fracasso académico. A Educação com vias de transformação do ser
humano e da sociedade precisa estar intimamente vinculada aos valores das
civilizações antigas e, evidentemente, às que perduraram até os dias actuais.
Valores estes que ajudam a moldar o carácter de nossas crianças e torna a nossa
sociedade mais humana.
Neste trabalho de pesquisa a pergunta que procuramos
responder é a de que estratégias ou procedimentos são utilizados pelas escolas
para ensinar valores aos alunos do ensino primário. Esse é o problema que
norteia todo esse estudo e para tanto temos como objectivo identificar tais
procedimentos observando a influência do ambiente escolar na transmissão e
criação de valores nos alunos, detectando as estratégias mais usadas pelos
professores em suas práticas educativas para estimular nos alunos a reprodução
de valores, identificando o que os pais esperam da escola em relação à
transmissão de valores a seus filhos e analisando o nível de satisfação dos
alunos com sua escola e os valores que ela defende.
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
A FORMAÇÃO DE VALORES NO ENSINO PRIMÁRIO
Antecedente histórico
Os
valores humanos existem desde os primórdios da humanidade e são metas de todas
as religiões, códigos de ética e filosofias. Considerar a expressão “valores”
na modernidade do século XXI é bastante sugestivo. O termo valor pertence
essencialmente ao vocabulário da economia; entretanto, a proposta deste
trabalho é reflectir na definição mais aceita pela Educação da sociedade
moderna.
Segundo
Jean Piaget (1896-1980), “os valores são investimentos afectivos”. Isso significa
que, apesar de se apoiarem em conceitos, estão relacionados a emoções, tanto
positivas quanto negativas. Logo, educar para os valores é ajudar aos filhos ou
alunos a descobrirem ideias e valores em que realmente se acredita. Os valores
constituem o conjunto de qualidades que salientam nossas diferenças como seres
humanos independentemente de credo, raça, condição social ou religião, e como
já nos foi dito anteriormente, estando presentes em todas as filosofias ou
crenças religiosas.
Os
valores dignificam e ampliam a nossa capacidade de percepção. É por elas que
obtemos as qualidades que os homens consideram importantes, como a verdade,
rectidão, paz, amor e não violência, que unificam e libertam as pessoas do
egocentrismo, engrandecendo a condição humana e dissolvendo preconceitos e
diferenças. É por não se observar a importância dos valores nos comportamentos
sociais que a sociedade tem passado por um período de desordem, diante da
corrupção, dos jogos de poder, da violência, do desprezo pelo ser humano e pelo
meio ambiente.
Ao não
cultivá-los, oportunizaram a formação de adultos sem referenciais de cidadania
e de respeito ao próximo. Concede-se, então, à Polícia, ao Ministério Público,
ao Poder Judiciário e a outros órgãos estatais a função de responsabilizarem-se
pelo destino das pessoas em conflito com a lei, a fim de que sejam afastadas do
convívio social e (re)educadas. Diante desta evidência, torna-se ainda mais
necessário o estudo de valores nas escolas desde a Educação Infantil, para que
as crianças ainda que não tenham estes conceitos em casa, tenham a
possibilidade de ser moldadas e preparadas para uma educação transformadora.
Sem transmitir os valores humanos universais, não há como formar cidadãos
éticos e preparados para viver em sociedade.
O ADULTO E A FORMAÇÃO
DOS VALORES DA CRIANÇA
A busca pela sobrevivência na sociedade moderna
fez com que a mulher, na qualidade de mãe, se unisse ao esforço mantenedor do
homem e pai ― chefe da família ― para prover-lhe o meio de subsistência. Assim,
os filhos ficaram sujeitos aos cuidados de parentes próximos ou estranhos, o
que acarretou na transferência de responsabilidade da transmissão de valores na
educação dos menores.
Esse novo modelo de organização familiar — pai
e mãe ausentes do ambiente doméstico durante grande período — trouxe a
necessidade de se ter uma profissional qualificada para ajudar na criação dos
filhos. A questão é que uma vez que os pais são substituídos pela figura de uma
terceira pessoa para cuidar da educação dos filhos, estes receberão intensa
influência daquele que se fizer presente na maior parte do tempo, pois o adulto
não somente olha e cria a criança simplesmente, ao estar com elas mesmas sem
querer fazê-lo ensina-lhes seus valores e crenças.
Sendo que em cada família há uma grande
variedade de valores que são transmitidos de geração a geração como uma
experiência vivida. Estes valores são partilhados num ambiente de afecto e de
identidade, que sobrevive com o passar do tempo, desenvolvendo um sentido de
poder e orgulho que reforça o carácter e inspira o comportamento.
Se a criança ou adolescente for criada por
alguém que não faz parte da família ela receberá influencia dos valores e
crenças desta pessoa e muitas vezes pode não ser o que os pais gostariam que
seus filhos aprendessem. Quando os pais
decidem buscar o auxílio de um parente ou de um profissional para a criação dos
filhos, não cogitam a possibilidade de entregar-lhes a responsabilidade de
também educar os pequenos e transmitir-lhes valores diferentes dos que defendem.
Para os pais, o acto de criar é diferente do acto de educar, ou seja, ambas as acções
não estão relacionadas.
Ellen G. White (1993) acredita que a criança,
principalmente em seus primeiros anos de vida, tem uma mente mais
impressionável, quer seja com coisas boas ou más e é durante esse período que
devemos estimulá-las ao processo da direcção correcta e do conhecimento.
É durante os primeiros anos da vida da
criança que sua mente é mais susceptível a impressões, sejam boas ou más.
Durante esses anos, faz-se decidido progresso, quer na direcção certa, quer na
errada. De um lado, muita informação inútil pode ser adquirida; de outro,
conhecimento muito sólido e valioso. A força do intelecto, o saber substancial
são riquezas que o ouro de Ofir não pode comprar. Seu preço está acima do ouro
ou da prata (WHITE, 1996a, p. 132).
Exactamente
quando mais necessitam da companhia e amor paternos as crianças são submetidas
aos cuidados de estranhos que indirectamente imprimem-lhes as marcas do próprio
carácter. A necessidade das crianças não fica limitada à companhia e amor dos
pais, se considerarmos o que Ellen White diz de que até os sete anos de idade
elas têm o carácter formado através do aprendizado e influências recebidas. É
preciso aqui destacar o papel relevante dos pais na educação da criança até os
sete anos de idade.
A FORMAÇÃO DE VALORES NA ESCOLA
Embora
exista bom grau de concordância a respeito do ensino de valores à criança e ao
adolescente e suas consequências na vida adulta, observa-se que tal fato ocorre
superficialmente na prática, e não com o necessário vigor a tal formação. Ou
seja, vários dos que concordam sobre a importância do ensino de valores e da
moral no desenvolvimento da pessoa parecem não empreender essa tarefa com a
dedicação que lhe é devida. Estimular a criança e o adolescente a exercitar
cotidianamente certos valores é acção educacional necessária ao estabelecimento
das virtudes que se almeja para ela.
Percebe-se
o empenho que deve ter o responsável por essa educação, empregando energia e
tempo na convivência com a criança. Em síntese, a escola, como instituição que
exerce decisivo papel na formação do aluno, deve desenvolver suas actividades
não só cognitivas como também voltadas para a transmissão de valores, como
elemento indispensável para a formação da cidadania.
Sanches
(1997, p. 170-189) apresenta os seguintes modelos de educação em valores:
a)
A função da educação formal não é de transmitir valores, mas de possibilitar a
reflexão sobre eles: trata-se de um processo de ajuda ao estudante para ter uma
visão crítica de sua vida, meta, sentimentos, interesses e experiências, com o objectivo
de descobrir quais são seus valores.
b)
Formação do carácter moral: Remonta à tradição aristotélica e sintetiza a ideia
de que, para se conseguir o desenvolvimento moral de uma pessoa, não basta que
ele seja capaz de conhecer, intelectualmente, o que é o bem, o justo, porque a
mera actividade intelectual não é suficiente para apreender essa ideia. Há
necessidade de que a pessoa seja capaz de agir, conforme essa ideia de bem e de
justiça. Deve-se recorrer à prática e à formação de hábitos virtuosos. Têm
relevância à ideia do bem, da felicidade humana, a formação de hábitos e as
virtudes. O papel do educador apresenta-se relevante, diante dos valores que
pretende transmitir.
c)
Educação em valores concebida como um projecto de vida: consiste em um
exercício constante de autonomia, de reflexão e deliberação individual e de projecção
pessoal. O projecto ideal de vida conduz a dimensão valorativo-moral da pessoa
a uma finalidade última de aperfeiçoamento de seu carácter individual, mas em
consonância também com o social. Consegue-se, também, esta formação mediante a acção,
o exercício, mas difere do modelo anterior, por se tratar de um exercício
guiado por um projecto pessoal de vida. Trata-se, na verdade, da última etapa
do modelo anterior, com forte presença da filosofia aristotélica. Nesse modelo,
os valores orientam a conduta da pessoa, levando-a a agir em consonância,
formando sua personalidade.
d)
Educação em valores concebida como construção da personalidade moral: orientar
e estimular a pessoa na construção significativa de sua própria dimensão
valorativo-moral, tanto em seus hábitos individuais e privados como nos
públicos e colectivos. A educação em valores, concebida como construção da
personalidade moral, tem por objectivo principal colaborar no processo de
construção de princípios universais aceitáveis que permitam, não só regular a
sua própria conduta, mas construir, também, uma vida autónoma, considerada mais
justa, melhor e mais apropriada. Este objectivo se perfaz mediante o diálogo, a
reflexão, a empatia e a auto-regulação (autonomia e razão dialógica), tendo
como referência a racionalidade, que implica defender uma postura crítica. Três
são os eixos sobre os quais este modelo se desenvolve: autonomia, diálogo e
vontade.
Araújo
e Aquino (2001, p. 14), ao discorrerem sobre a forma de transmissão dos valores
pelos professores, anotam dois modelos que, tradicionalmente, são concebidos,
para, após, chegarem a uma conclusão do método mais eficiente. No primeiro,
relatam que “a maioria dos modelos educacionais parte do pressuposto
epistemológico de que o conhecimento é exógeno em relação ao sujeito que o
internalizaria a partir de suas experiências sensórias com o mundo moderno –
ex. professor, livros, palestras e outros eventos informativos” e que na
educação moral ou em valores não seria diferente, no sentido de que a “formação
da pessoa virtuosa se daria por meio de palestras, ou outros eventos
informativos, livros de conteúdo moral ou mesmo por meio das novas tecnologias
(vídeo, Internet)”.
No
segundo modelo, a “transmissão dos valores ocorre por meio da convivência com
pessoas que agem de maneira coerente com determinados valores morais, e que o
exemplo é a melhor forma de se educar moralmente”. Sem desconhecer os méritos
de tais sistemas, os autores apontam que “os valores são construídos na
interacção entre um sujeito imbuído de razão e emoções e um mundo constituído
de pessoas, objectos e relações multiformes, díspares e conflituantes.
Os
valores são construídos a partir do diálogo e da qualidade de trocas que são
estabelecidas com as pessoas, grupos e instituições em que vive”. Tratando,
ainda, da questão da forma de educar em valores, Marques (2001) centra sua
reflexão nos ensinamentos aristotélicos, no sentido de se alcançar à educação
em valores por meio do desenvolvimento das virtudes. Virtude, na concepção
aristotélica, deve compreender-se como uma disposição que se encontra centrada
entre o excesso e a falta, ou seja, um meio termo entre dois extremos, como se
infere, igualmente, da proposição de Pitágoras: “virtus est in medius” (a
virtude está no meio). Decorre de uma deliberação voluntária do cidadão de
saber, o que faz com justo equilíbrio, visando à felicidade.
A
propósito, afirma Marques (2001, p. 35) “A pessoa virtuosa é aquela que sabe o
que faz, que é conhecedora de seus deveres, que escolhe deliberadamente seguir
a conduta recta e é capaz de repetidamente executar a rectidão com espírito e
vontade inabalável”. Ainda na visão aristotélica, as virtudes dividem-se em (a)
morais e (b) intelectuais (sabedoria e conhecimento). As morais, como coragem,
temperança, mansidão, liberalidade, magnificência, magnanimidade, afabilidade,
reserva e justiça, podem ser ensinadas, mas “mais do que produto de ensino, são
produto do hábito” (MARQUES, 2001, p. 34).
Hábito
de praticar acção recta torna a pessoa virtuosa, ou seja, a educação ética, em
valores e virtudes, não se faz apenas pela via intelectual (por via de uma
disciplina específica), mas pelo hábito do educando em praticar acções
virtuosas. Platão chama de treinamento a forma de a educação transmitir valores
éticos, que é da sua própria essência:
Chamo educação àquele treinamento que é
dado, através de hábitos adequados, aos primeiros institutos de virtude
existentes nas crianças a disciplina correcta de prazer e sofrimento através
dos quais um homem, desde o início até o fim de sua vida, abominará o que deve
ser abominado e terá amor pelo que se deve amar (BEUST, 2000:45).
Arrematando esta questão, Marques (2001) aponta
como educar em valores, transmitindo virtudes na concepção aristotélica. Ele
comenta sobre a importância que Aristóteres dá à educação ética e como isso o
conduziu à defesa de uma educação pública capaz de complementar e de
substituir, quando necessário, as influencias da família, de modo que as novas
gerações pudessem beneficiar-se de uma boa formação de carácter. E diz ainda
que:
... a escola e a educação em geral, embora
não sendo uma panaceia, podem contribuir para ajudar os jovens a encontrarem os
caminhos para a vida digna e para a felicidade (MARQUES 2001, p.27).
Para transmitir as virtudes, não há necessidade
de uma disciplina autónoma independente, mas um comportamento profissional e social
do professor, comprometido com os valores que serão transmitidos. O hábito de
praticar estas acções levará à construção de uma verdadeira cidadania.
Buxarrais (1998, p. 84-86), ao tratar da
educação moral, apresenta três modelos de educação baseados em: Valores
absolutos; “de grande tradição pedagógica baseia-se numa visão de mundo que
contém um conjunto de valores e normas de conduta indiscutíveis e
imodificáveis. Os valores e as normas impõem-se com a ajuda de algum poder
autoritário e têm como objectivo regular todos os aspectos da vida pessoal e
social”.
Valores relativos; parte-se do princípio de que
os valores representam uma questão casual e que nenhuma opção de valores é
preferível em si mesma. Não há como afirmar valores absolutos, pois dependem da
subjectividade. As opções morais são decisões de carácter exclusivamente
individual. No campo da pedagogia, este modelo limita o papel da educação moral
e do próprio professor.
QUAIS OS VALORES QUE
DEVEM SER TRABALHADOS?
A educação em valores está presente em todas as
disciplinas do currículo escolar. Para educar em valores, é necessário que o
professor organize seu plano de ensino em actividades lúdicas, reflexivas e
conceituais sobre temas transversais. A questão que fica no ar é a de que
valores devem ser trabalhados.
Para Tillman (2001), os valores que devem ser
ensinados pela escola aos seus alunos são os seguintes: paz, respeito, amor,
tolerância, felicidade, responsabilidade, cooperação, humildade, honestidade,
simplicidade, liberdade e união. No entanto, Antunes (2010) em um dos seus
livros mais novos nos dá outra lista de valores. Nesta lista temos a
honestidade, a coragem, a amizade, o respeito, a liberdade, a criatividade, a
auto-estima, a bondade, a confiança, prestatividade, força de vontade, a
lealdade, o optimismo, a responsabilidade, a paciência e a sinceridade. Podemos
trazer ainda a visão de Libânio quanto a isso. Ele diz:
É preciso que a escola contribua para
uma nova postura ético-valorativa de recolocar valores humanos fundamentais
como a justiça, a solidariedade, a honestidade, o reconhecimento da diversidade
e da diferença-o respeito à vida e aos direitos humanos básicos, como suportes
de convicções democráticas (LIBÂNEO, 1998, p. 67).
Embora esses autores possam divergir em que
valores são mais importantes para serem trabalhados na escola acredito que
convergem em um pensamento, o de que é necessário se saber o que queremos
ensinar. Antunes (2010) diz que um barco que navega sem destino nunca chegará
ao porto que deseja. Esta ilustração nos mostra que nunca educaremos para
“alguma coisa” se não sabemos que “coisa” é essa. Trabalhar valores em sala de
aula é algo essencial, mas de igual modo é importante saber que valores serão
trabalhados.
Portanto em primeiro lugar a escola deverá
estabelecer quais os valores que ela julga mais importante para serem ensinados
e cultivados diariamente com seus alunos, para depois se estabelecer
estratégias e métodos de se trabalhar tais valores.
Fontana (1991) descreve as seis fases de
desenvolvimento moral de Kohlberg. Fases essas que são baseadas nas fases de
desenvolvimento de Piaget e que podem dar um norte aos educadores no sentido de
saberem que valores se trabalhar em sala de aula em cada fase do
desenvolvimento da criança. Essas fases são as seguintes: (crianças de 2 a 7
anos) modalidade pré-convencional – 1- Obediência; 2- egoísmo ingénuo;
(crianças de 2 a 11 anos) modalidade convencional – 3- Orientação bom menino/
boa menina; 4- Orientação de manutenção da autoridade; (crianças a partir de 12
anos) modalidade pós convencional – 5- Legalismo contratual; e 6- Princípios
gerais de consciência.
OS PROFESSORES E A
CONSTRUÇÃO DE VALORES
No cotidiano da escola, os professores ocupam
papel essencial no processo educativo. Boa parte da responsabilidade no êxito
ou fracasso desse processo reside no modo como o realiza o educador. No campo
da formação moral dos alunos, acontece o mesmo. A postura desse profissional
quando discute diferentes temas, transmite conhecimentos e, principalmente,
torna-se “exemplo de vivência” do conjunto de valores que apregoa, será, sem
dúvida, uma das condições essenciais na obtenção do êxito educativo. Os professores
são “interlocutores da educação moral”. Entretanto, é importante não deixar de
considerar, que “os professores, além de serem professores, também são pessoas
envolvidas e afectadas nas suas convicções, sensações, aspirações como qualquer
outra pessoa que conviva com os conflitos e ambivalências éticas e morais da
sociedade contemporânea” (GOERGEN, 2007, p.748).
É interessante destacarmos que o professor
poderá ou não, ser revestido de uma figura de autoridade a ser “imitado” servir
de exemplo ou de modelo de conduta e/ou atitudes, auxiliar no processo de
construção dos valores nos alunos, a partir dos sentimentos que despertar em
seus alunos. Segundo La Taille (2006, p.108-132), o “querer agir moral” está
alicerçado em seis sentimentos. Os dois primeiros aparecem indissociáveis para
o sentimento de obrigatoriedade: o medo e o amor.
Os demais: confiança, simpatia, indignação e a
culpa, com excepção da culpa, não estão directamente relacionados aos
sentimentos de obrigatoriedade, mas o alimentam e o fortalecem.
Particularmente, no que se refere à confiança, é importante tecer mais alguns
comentários. Para o autor (2006, p.111), “[...] para depositarmos confiança em
alguém, além de fazermos hipóteses a respeito da qualidade de suas acções
também fazemos hipóteses sobre suas qualidades enquanto pessoa moral. Em suma,
a confiança implica a dimensão moral”.
Muitos defensores da integração das áreas
disciplinares argumentaram que ela não representa simplesmente uma mudança na
pedagogia e, sim, que implica uma mudança fundamental nas crenças sobre o
ensino e a aprendizagem, bem como uma visão de realidade em que as coisas são
interconectadas e interdependentes. Aqueles que a advogam declararam que:
[...] as experiências do mundo real não
são fragmentadas em áreas e, por isso, a integração aumenta a relevância e a
motivação para aprender. De um ponto de vista prático, o conhecimento vem
aumentando rapidamente, e a integração pode evitar a duplicação, identificando
conteúdos e habilidades transversais. (YUS RAMOS, 2005, p.11)
Ainda, segundo esse autor, os obstáculos para a
integração são inúmeros, mas o maior deles é a própria especialização docente.
Drake (1998 apud YUS RAMOS, 2005, p. 11) assinala que:
[...] os programas das séries iniciais
do ensino fundamental sempre foram mais fáceis de integrar, visto que todas as
matérias são dadas por um mesmo professor, ainda que tal realidade esteja
mudando nos últimos tempos com a introdução de especialistas diversos.
Entretanto, as coisas ficam mais difíceis a partir da 5ª série, visto que a
compartimentalização do conhecimento escolar em espaços e tempos é muito maior
[...]. Os professores de 4ª a 8ª séries, que foram educados em um mundo onde as
disciplinas constituem o princípio organizativo, são formados como
especialistas e costumam argumentar que esse enfoque levaria à perda de sua
identidade. Contudo, os que se integraram com êxito tendem a se considerar como
“professores de estudantes” mais do que como professores de domínios académicos
específicos.
Nesse contexto, não é possível deixar de
considerar a importância da actuação dos cursos de formação de professores,
seja no nível do magistério ou do ensino superior, que possuem o compromisso de
preparar o profissional que trabalha na escola. Que conhecimentos são
necessários para constituir esse profissional? A formação do educador precisa
considerar o contexto em que se realizará sua actuação profissional.
Considerando que irá trabalhar com alunos, que estão em processo de formação,
independente da faixa de idade em que se encontram, é necessário despertar
nesse profissional um senso crítico e moral.
Segundo Goergen (2007) é preciso que os
docentes recebam uma formação correspondente à oferecida aos alunos, que tenham
passado por um processo de conscientização de sua própria moralidade, de seus
ideais e sentidos de homem, de mundo e de vida, dos fundamentos que orientam
seu julgar e agir, para só então, e a partir daí, pensarem no papel que lhes
cabe como agentes da formação moral. O estudo dos valores na formação do
educador visa tornar os (futuros) professores conscientes de sua
responsabilidade na promoção desses conteúdos em seus alunos. O professor
necessita ser formado para respeitar as características de seus alunos vivendo
seus próprios valores, respeitando os valores de seus alunos e propondo novas
opções de valores (SCHMITZ et al, 2003). Esse profissional necessita fazer
continuamente um exame sério de seus valores e atitudes, para melhorar sua actuação.
O professor é um portador de valores, e é impossível que
não seja vivenciador de valores bem definidos, para sentir-se seguro perante o
desafio da promoção dos valores de seus alunos (MORAIS, 1991). Ressaltamos que
a atitude/postura do educador não é só uma condição do êxito educativo, mas é
também um dos aspectos mais importantes em qualquer proposta de educação moral.
Nesse sentido, ele poderá assumir a posição do profissional
heterónomo, centralizar o processo educativo em si e não permitir as trocas
entre alunos, suas experiências e os conhecimentos/reflexões obtidas a partir
delas, ou um profissional que, por meio de sua postura e da base moral que
possui, possibilita a análise e discussão de problemas sociomorais, processos
de reflexão sobre eles, trocas significativas entre os alunos. Um dos elementos
mais significativos da educação moral a ser desenvolvido pelos alunos é o
diálogo.
Os alunos desenvolvem sua capacidade de expressão e de
compreensão à medida que sentem a necessidade progressiva de escutar os demais,
de entender o que outros dizem, de ceder ante um argumento melhor ou de
criticar aquilo que não compartilham (PUIG, 1998, p.118).
Diante deste quadro, cabe a reflexão: O que é ser professor
hoje? Estamos em consenso com a posição de Gadotti (2000) quando enfatiza que
ser professor hoje é viver intensamente o seu tempo, conviver; é ter
consciência e sensibilidade. Não se pode imaginar um futuro para a humanidade
sem educadores, assim como não se pode pensar num futuro sem poetas e filósofos.
Os educadores, numa visão emancipadora, não só transformam a informação em
conhecimento e em consciência crítica, mas também formam pessoas.
CONCLUSÃO
A disseminação que a educação emerge em valores
que se desenvolve na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas
escolas, nas manifestações culturais, nos movimentos e organizações socais, é
uma questão fundamental da sociedade actual, e considerado importante tanto
pelos pais como pelos professores e pelo governo expressado na lei de
directrizes e bases da educação.
Se a escola deixa de cumprir o seu papel de
educador em valores, o sistema de referenciação ético de seus alunos estará
limitado à convivência humana que pode ser rica em se tratando de vivências
pessoas, mas pode estar também carregada de desvios de postura, atitude
comportamento ou conduta, e mais, quando os valores não são bem formal ou
sistematicamente ensinados, podem ser encarados pelos educandos como simples
conceitos ideais ou abstractos, principalmente para aqueles que não os
vivenciam no cotidiano.
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