A GESTÃO DA AULA, INDISCIPLINA E A VIOLÊNCIA ESCOLAR
INTRODUÇÃO
As concepções modernas de infância estruturaram-se ao longo de mais de dois séculos em torno do desenvolvimento da infância enquanto categoria social autónoma, processo esse simultâneo com as transformações na estrutura e funções da família. O entendimento pré-moderno dos processos de socialização infantil, marcado por quadros de valores religiosos, colocava particular ênfase na obediência, em quadros familiares caracterizados pela fraca possibilidade de autonomia infantil; por contraposição ao entendimento moderno que valoriza a individualidade da criança. Então a criança passa a ser definida como naturalmente inocente, por contraposição à ideia cristã de inocência adquirida, resultado da purificação através do ritual do baptismo.
Este artigo tem como objectivo analisar
algumas das dimensões do lema social sobre a gestão da aula, indisciplina e a
violência na escola, já que nele se cruzam um número significativo de
concepções sociais sobre a infância, a escola e a evolução das sociedades de
modernidade avançada, facto que o torna um objecto particularmente interessante
do ponto de vista sociológico.
A GESTÃO DA AULA, INDISCIPLINA E A VIOLÊNCIA
ESCOLAR
As particularidades da sala de aula fazem com
que o professor enfrente uma série de impasses sobre como actuar e precise
manter o equilíbrio entre fazer o planejado e não reprimir os alunos. Esses
dilemas não conseguem ser totalmente superados pela experiência nem pela formação. No
entanto, a consciência de que eles ocorrem ajuda a conviver com a complexidade.
O sucesso do ensino depende de vários factores, como a interacção entre as
crianças e a relação delas com o professor e com o objecto de conhecimento.
Para planejar levando em conta a personalidade e o nível de aprendizado de cada
um, é preciso observar, fazer diagnósticos e analisar a produção deles com frequência.
A
gestão da aula
Na gestão da sala de aula, o professor é o
líder formal do grupo-turma (Estanqueiro, A. 2010). Esta qualidade de liderança
depende muito das qualidades pessoais do professor e, essencialmente, do estilo
de relação que adopta na relação com os alunos.
Tendo em vista o contexto em que nos
centramos (1ºCEB), temos que ter sempre em conta que, quanto mais novo é o
grupo de crianças, mais decisiva é a componente relacional. Para aprender, as
crianças precisam gostar de quem lhes transmite a informação.
A investigação (Amado, 2001; Maya, 200;
Carita, 19923; Freira, 1990; in Amado & Freire, 2002) revela que
os alunos esperam que os professores actuem com autoridade e poder dentro da
sala de aula. O grande problema que se verifica é na gestão equilibrada dos
poderes e na queda nos extremos (autoritarismo e permissividade).
Estilos
de gestão de sala de aula:
Autoritarismo: este modo de ensino é, de
certo modo, caracterizado como um abuso da autoridade, pela rigidez,
agressividade, repressão e prepotência. As atitudes do autoritário são de
vigilância constante e de distanciamento afectivo. Estes professores, com
frequência, desencorajam as discussões e os trabalhos de pesquisa, exigem obediência
estrita, castigam frequentemente e raramente elogiam;
Permissivo: o professor permissivo cria muitas
situações de perfeito descontrolo na aula. Permite que os alunos se sintam
perfeitamente à vontade, as suas decisões têm como centro de preocupações o bem-estar
académico dos alunos mais do que as preocupações académicas;
Indiferente: característica dos professores
desmotivados, que gerem a aula numa rotina diária, procurando ser o menos
incomodados possível. Aulas pouco interessantes, em que pouco ou nada de
interessante ocorre;
Assertivo: professor que se sabe fazer respeitar,
começando por respeitar os alunos. Acredita neles e confere-lhes
responsabilidades, censura e admoesta recordando a regra, tem em conta os
comportamentos e não a pessoa. É aquele que sabe elogiar quando devido, mas que
consegue castigar caso necessário, desde que a punição obedeça aos princípios
da razoabilidade, adequação e consistência.
Mais do que teorizar sobre as razões dos
problemas de comportamento, importa falar sobre o papel do professor para, numa
primeira instância, prevenir comportamentos disruptivos e, quando não possível,
em modificar a conduta dos alunos.
Se o papel do professor sempre esteve
confinado à transmissão de conhecimentos, verificou-se uma necessidade de evoluir
e, actualmente, além desse papel, vê-se impelido a ser um gestor de
sala-de-aula, um organizador da aprendizagem e, além das competências
didácticas inerentes à matéria que lecciona, deverá ser portador dum rol de
competências relacionais que lhe permitam de modo eficaz fazer face aos
desafios com que se depara.
Diferentes estudos e autores defendem que as
habilidades dos professores favorecem de modo preponderante o aumento de
interacções positivas dos alunos. Deste modo, ao iniciar-se um novo ano lectivo,
a grande questão que se coloca em termos educativos está em saber que tipo de
grupo uma turma se virá a tornar. E aí, o professor, enquanto líder, pode
claramente exercer uma influência importante na definição do grupo. As turmas
podem percorrer toda a escala, desde um grupo de indivíduos egocêntricos, até
um grupo com funcionamento harmonioso, em que cada indivíduo só o pode ser
enquanto membro do grupo. O objectivo é que seja o professor a definir a
atmosfera da sala de aula e os objectivos educacionais com base nas suas
necessidades, ao invés de ser a turma a definir o papel do professor.
O modo como o professor utiliza determinados
conceitos e ferramentas pode ajudar significativamente a promover o
desenvolvimento do grupo como um todo, e o individual, através da educação.
A
INDISCIPLINA NA SALA
A indisciplina na sala de aula não é um
assunto fácil de abordar. Há casos que ultrapassaram os muros das escolas,
tornados públicos e comentados até à exaustão. A comunidade escolar sabe que o
tema é delicado. Há mais casos ou menos tolerância para a má educação dentro
das escolas. Então os exemplos são importantes, as relações interpessoais devem
merecer toda a atenção e o desenvolvimento de competências de autocontrolo e auto-regulação
na infância pode fazer toda a diferença.
De um modo geral, uma das grandes
dificuldades apontadas pelos professores no exercício da sua actividade
encontra-se directamente ligada à indisciplina na sala-de-aula. Este parece ser
um desafio transversal, atingindo os professores principiantes na carreira,
como os mais experientes
Tal leva a uma reflexão sobre um conjunto de
estratégias e competências profissionais directamente ligadas à gestão da sala
de aula que os ajude, professores, no desempenho do seu papel.
Antes de mais, existirá uma procura e apelo a
um trabalho conjunto, através da partilha de saberes e experiências entre
psicólogos e professores, visando contribuir para o nosso desenvolvimento
profissional e motivação e, deste modo, conseguir resultados positivos no
comportamento e aprendizagem dos alunos.
É mais fácil para uma criança disruptiva
“reinar” quando os professores trabalham em separado, do que quando trabalham
em conjunto. Deste modo, uma coerência e firmeza comum na aplicação das regras
face à indisciplina da aula combate a confusão por parte dos alunos e evita
que, paralelamente, se tornem mais indisciplinados.
Funções e finalidades dos “desvios às regras”
A razão dos comportamentos disruptivos são
sempre variadas, e a leitura dos mesmos só se pode realizar tendo em conta
múltiplos aspectos, como a acção ou a situação vivida no momento do incidente,
a história relacional da turma ou do aluno com determinado professor, o período
do dia ou do ano lectivo, entre muitos outros factores (Amado & Freire, 2002).
Segundo Kauffman (in Lopes &
Rutheford) “ a característica marcante em crianças com perturbações do
comportamento é a confusão. Confusão sobre quem são, sobre o que se espera
delas, onde pertencem no meio social que é a escola e sobre como poderão obter
a gratificação que muitas outras parecem obter tão facilmente. São,
habitualmente, crianças com poucas habilidades sociais, e com fracas
capacidades de resolução de problemas. Estas lacunas, com facilidade, são
transportadas para a relação com os professores e, frequentemente, geram menos
suporte por parte dos mesmos.
Em contexto de sala-de-aula, as causas destes
comportamentos podem estar ligados a diversos factores (quer de ordem
psicológica, psicossocial ou pedagógica). Não sendo o nosso intuito abordar de
um modo profundo a origem destas atitudes, importa igualmente salientar que, em
dado momento, a maioria das crianças apresenta um ou outro comportamento
disruptivo, o que leva à difícil definição de aluno perturbador.
A
VIOLÊNCIA NA ESCOLA
Analisar sociologicamente a violência na escola
implica, assim, construir uma problemática capaz de dar conta da
multidimensionalidade do fenómeno, questionando as concepções que a vêem como o
resultado simples de crianças mal socializadas ou portadoras de distúrbios
comportamentais. Esse percurso implica a adopção de uma definição de violência
capaz de considerar não apenas o acto em si, mas igualmente o quadro relacional
em que este se produz. Entendemos aqui por violência os actos caracterizados
pela agressão intencional, seja esta física ou psicossocial, podendo assumir
formas reactivas/afectivas ou proactivas/instrumentais.
No primeiro caso encontram-se as situações em que a
agressão constitui uma reacção emocional a um impulso e tem como objectivo
central magoar o outro, como resultado de uma atitude hostil ou provocação,
constituindo a agressão um fim em si; já no segundo caso constitui um meio para
atingir um fim, que, sendo atingido, esgota a ameaça de violência.
Trata-se da acção de alguém sobre outro(s),
configuração relacional particular marcada pela tensão confrontacional
(Collins, 2008), em que as relações de poder entre intervenientes são
normalmente assimétricas em desfavor da vítima. Mas importa considerar que “os actos individuais ocorrem, sempre, num
quadro relacional” (Pires, 2012), sendo necessário abordar as situações de
violência em contexto, já que muitas das análises não tomam em conta as “mediações políticas e sociais, mas também a
espessura histórica, ao que possa separar o momento em que se forja uma
personalidade do momento da passagem ao acto” (Wieviorka, 2008).
Este cruzamento constitui um pressuposto analítico
fundamental, pois apenas assim se poderá compreender a variabilidade de
situações e comportamentos violentos, nomeadamente o reduzido número de
crianças e jovens que podemos classificar estritamente como vítimas ou
agressores. As significativas flutuações constatadas por variadas pesquisas,
com um número significativo de casos em que a maioria das crianças envolvidas
em situações de violência alternam nos papéis de agressores, vítimas ou
espectadores ao longo do percurso ou mesmo do ano escolar, mostram que é
necessário considerar os arranjos relacionais em que estes comportamentos se
produziram.
Para compreendermos as dinâmicas associadas às
situações de violência precisamos de considerar, por um lado, um eixo de
análise que dê conta da intervenção das instituições formais, seja nos
processos longos de socialização formal (a aprendizagem dos sistemas de regras
formais e quadros de valores societais), seja nos seus modelos e práticas de
regulação da violência (programas formais de intervenção ou educação para a
cidadania); e, por outro, considerar um segundo eixo de análise em que sejam
considerados os processos longos de socialização comunitária (relacionados com
a aprendizagem de quadros e modelos sociais e culturais grupais) e as práticas
informais de regulação da violência, resultantes dos processos de interacção
entre pessoas e grupos (como a família ou os grupos de pares).
Se considerarmos a forma como estes processos
interagem em cada momento particular, podemos olhar para a violência na escola
como uma forma de acção contingente, resultante do entrecruzar dos processos de
estruturação das concepções e atitudes violentas no quadro dos processos de
socialização múltiplos a que as crianças estão hoje sujeitas, com os processos
de regulação social da violência.
Neste quadro os actores sociais (crianças e jovens,
com os recursos reflexivos de crianças e jovens) possuem mais ou menos
capacidade para agir conforme o quadro relacional em que se integram, sendo necessário:
·
analisar os processos
de interacção (entre crianças, entre crianças e diversos tipos de adultos,
entre adultos);
·
considerar as
especificidades dos diversos tipos de grupos existentes dentro do quadro
relacional que é a escola, sabendo-se que esta questão se coloca em diversos
níveis, nomeadamente organizacional (os grupos turma / os anos de escolaridade)
e informal (os grupos de pares);
·
discutir a forma como
são construídos e levados à prática os sistemas de regras nas escolas, sejam
eles produzidos localmente ou resultantes de quadros mais amplos (nomeadamente
os produzidos centralmente no sistema educativo).
A análise das situações de violência na escola coloca
assim a necessidade de compreender de que forma a reconfiguração dos quadros de
socialização das crianças e jovens influencia e regula o desenvolvimento de
atitudes e comportamentos violentos. É, contudo, necessário rejeitar as concepções
que colocam a explicação dos actos violentos entre o resultado mecânico da actuação
dos processos de socialização e a expressão de um qualquer traço patológico.
Não se trata de ignorar os condicionamentos estruturais da acção individual nem
a influência das características individuais, mas de evidenciar como cada
situação de violência traduz uma configuração relacional particular com quadros
de possibilidades diversos, em que diferentes tipos e graus de tensão
confrontacional podem levar (ou não) a situações de confronto.
Um exemplo significativo das consequências incertas de
uma situação de conflito tem sido desvendado pelas pesquisas em torno da actuação
daqueles que as testemunham, sem serem os seus intervenientes centrais. “Tanto a possibilidade de um confronto
terminar em violência, como a sua intensidade e a gravidade das suas
consequências dependem muitas vezes da actuação dos espectadores, seja esta
pacificadora, neutra ou incentivadora da agressão” (Gini e outros, 2008).
As concepções deterministas obscurecem ainda o facto
de estas situações se produzirem em contextos institucionais e organizacionais
particulares, em que o sistema de regras é apropriado de forma diferenciada por
cada tipo de actor, como resultado da sua posição nas hierarquias internas da
escola e das características particulares destas (políticas, administrativas,
pedagógicas, entre outras). A violência expressa, neste sentido, uma
possibilidade de acção com características próprias, resultantes dos
constrangimentos a que cada agente se encontra sujeito num espaço-tempo
determinado.
São ainda de rejeitar algumas abordagens que olham
para toda a actividade da escola como uma forma de violência simbólica. Nesse
quadro os comportamentos violentos dos alunos constituiriam uma resposta
legítima, mesmo que muitas vezes fora de contexto, enquanto actos de
resistência face ao veredicto escolar e aos processos de dominação. Em sentido
lato estas concepções aplicam à escola actual parte dos quadros teóricos
produzidos nos anos 1960-70, sem tomarem em consideração as transformações
societais e educativas, e os desenvolvimentos teóricos entretanto produzidos.
A
postura do educador face à (in)disciplina na infância
Cada vez mais as educadoras são confrontadas
com problemas de indisciplina e na sua maioria veem-se a braços com situações
às quais não conseguem por um fim, por não saberem como lidar com elas nem de
que maneira as fazer parar. Atendendo aos vários episódios de indisciplina
vivenciados nos dias de hoje, Pedro Mota Curto refere que Maria Teresa Estrela
é de opinião que a formação dos professores tenha também como uma prioridade a
prevenção da indisciplina. Estrela, citada pelo mesmo autor, refere que
“(…) a formação de
professores deverá ser orientada por valores democráticos, no sentido da
prevenção das situações de indisciplina favorecedora de um clima relacional e
disciplinar propício ao desenvolvimento moral e social do aluno e às
aprendizagens escolares.” (1998: 23)
De outra maneira as educadoras não estarão
preparadas para vivenciar situações fora do comum, e sendo este um problema
cada vez mais frequente, é importante sabermos como reagir em casos de
indisciplina/conflito.
O período de adaptação da criança à creche
e/ou ao jardim-de-infância não é fácil. É um período de grande mudança, tanto
para as crianças como para os pais. A criança, que passou todo o seu tempo com
os pais e os seus familiares, tem agora um período de adaptação a outras
pessoas e a outro ambiente que não aquele do seu lar e, por essa mesma razão, o
período de absorção das regras de disciplina, é mais propício à ocorrência de
conflitos. Pedro Mota Curto refere que
“As fontes de
indisciplina na escola constituem um problema complexo, pouco estudado e
dependente de inúmeras variáveis, mas, perante um cenário que cada vez se
complica e agrava mais, os professores não se devem alhear das suas
responsabilidades e sobretudo não devem deixar de refletir sobre tão difícil
problemática.” (Curto, 1998: 22)
Assim, para tornar a convivência em sala mais
harmoniosa, é importante que exista um constante contacto da equipa de sala com
os pais das crianças para que, deste modo, exista um trabalho conjunto e,
através de reflexões e diálogos, se encontrem soluções para os problemas
ocorridos.
Pode também dar-se o caso de culpabilizar as
educadoras dos contextos pelos episódios de indisciplina ocorridos, porém Amado
(2000: 27) é da opinião que se deve “(…)
evitar o risco de levar ao extremo a sua lógica e concluir que se há problemas,
como por exemplo a indisciplina, isso se deve apenas à «ineficácia» da ação do
professor, o que nem sempre é verdade (…)”. Por essa mesma razão deve
existir o contacto entre a equipa e os familiares pois, por vezes, o “problema”
não está na sala em si mas em casa. O tempo de Creche e Jardim-de-Infância
traduz-se num completamento à educação em casa, e não o contrário e, por esta
mesma razão, é tão importante a troca de informação equipa-família de modo a
existir uma continuidade desse trabalho.
É também importante que o educador tenha a
capacidade de criar um bom ambiente na sala para, deste modo, prevenir alguns
momentos menos agradáveis. Por isso mesmo, Doyle (1986), citado por Amado
(2000: 27), refere que “(…) o professor
pode e deve obter um bom ambiente de trabalho (ordem e disciplina) através do
modo como o organiza e apresenta durante a aula, e não através da força e do
poder «legítimo»”. Ou seja, o educador não deve apropriar-se do poder que
tem na sala para criar um bom ambiente. Esse ambiente é conquistado por todo o
grupo através da aprendizagem e negociação das regras e todos devem ter uma
palavra a dizer no momento de decisão.
Antes de qualquer outra coisa, um dos pilares
da relação das educadoras com as crianças é a afetividade e o respeito, só
assim as crianças terão a segurança necessária para se desenvolverem
cognitivamente durante o pré-escolar. As educadoras devem ter a capacidade de
criar um bom clima relacional na sala, permitir e incutir as interações das
crianças, apoia-las nas suas necessidades e fazer despoletar as suas
capacidades. Após tudo isto, e já conhecendo o grupo, têm de ter a “(…) capacidade de prevenir, impedir ou pelo
menos limitar possíveis e naturais situações de indisciplina” (Curto, 1998:
23).
Para além disso o educador tem o papel de
observadora dentro da sala, deste modo estará sempre pronta a agir em
conformidade com qualquer situação. Uma das situações em que existe, por vezes,
a dificuldade em perceber se devemos ou não agir de imediato, são as situações
de conflito. É necessário saber como, quando e de que maneira agir perante um
conflito.
Sendo
a disciplina a base de uma boa relação do indivíduo com o mundo, é
indispensável que seja bem assimilada por todos. Como base do bem-estar com
tudo e todos, é vital que se construam as primeiras noções de disciplina, logo
desde os primeiros tempos da infância. É importante que desde muito pequenos
aprendam a conhecer o mundo e a viver em sociedade, pois é através da interacção
com o meio, com os materiais e com outras crianças e adultos que estes aprendem.
CONCLUSÃO
As situações de violência na escola expressam
características particulares resultantes da transformação progressiva dos
processos de socialização infantil nas sociedades contemporâneas, e das
tentativas de redefinição da missão e métodos de organização do trabalho na
escola, agora num contexto de globalização. A violência constitui um problema
efectivo do sistema educativo e a sua análise contextualizada, que relativiza
visões individualistas e patológicas, permite compreender as dinâmicas
específicas de cada situação de violência como um arranjo relacional, entendido
como o cruzamento num espaço-tempo particular dos processos transversais às
sociedades com as decisões tomadas em situações de interacção face a face
marcadas pela tensão confrontacional.
O educador deve assumir a responsabilidade
pela segurança física das crianças; usar métodos não-verbais para acalmar as
crianças; reconhecer/aceitar/validar os sentimentos de todas as crianças e as
suas percepções dos conflitos; ajudar as crianças a verbalizarem sentimentos e
desejos umas às outras e a escutarem o que outras têm a dizer; esclarecer e
declarar o problema; dar uma oportunidade para que as crianças sugiram as
soluções; propor soluções quando não surgem ideias por parte das crianças;
enaltecer o valor do acordo mútuo e oferecer oportunidade para que as crianças
rejeitem as soluções propostas; ensinar procedimentos imparciais pra resolver
disputas em que a decisão é arbitrária; abandonar o conflito quando ambas as
crianças perdem o interesse nele; ajudar as crianças a reconhecerem que têm
responsabilidade na situação de conflito; dar oportunidade para a compensação,
se apropriado; ajudar as crianças a restaurarem o relacionamento, não as
forçando a serem insinceras e encoraja-las a resolverem os seus conflitos por
si mesmas.
BIBLIOGRAFIA
Amado, J. S. & Freire, I. P.
(2002) Indisciplina e violência na escola – compreender para
prevenir. Porto: Asa Editores.
Amado, J. S. (2000). A Construção da
Disciplina na Escola – Suportes teórico-práticos. Porto: Edições ASA
Collins, Randall (2008), Violência. Uma
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Curto, P. M. (1998). A Escola e a
Indiciplina. Porto: Porto Editora
Estanqueiro, A. (2010) Boas práticas na
educação – o papel dos professores. Lisboa: Editorial Presença.
Gini, G., T. Pozzoli, F. Borghi, e L.
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moral e senso de segurança", Journal of School Psychology, 46,
pp. 617-638.
Lopes, J & Rutherford, R. (2001) Problemas
de comportamento na sala de aula. Porto: Porto Editora.
Pires, Rui Pena (2012), “O problema da
ordem”, Sociologia Problemas e Práticas, 69, pp. 31-45.
Wieviorka, Michel (2008), Nove Lições de
Sociologia. Como Abordar Um Mundo em Mudança, Lisboa, Teorema.