A HISTORIOGRAFIA LIBÉRICA E ROMÂNICO

INTRODUÇÃO

A Historiografia do século XIX, é diferenciada por quatro (4) correntes ou tendências historiográficas distintas como o Romantismo ou corrente Romântica na primeira metade; Positivismo ou corrente Positivista; Historicismo ou corrente Historicista e o Marxismo ou Materialismo histórico na segunda metade. Esta historiografia mergulha as suas raízes nas transformações económicas, sociais e políticas ocorridas entre 1789 e 1848.
Neste período, decorre o processo final da destituição do sistema feudal e a estruturação do poder burguês que tem como termo a passagem do absolutismo ao liberalismo. Portanto, o liberalismo no campo político vai defender a igualdade e liberdade aos direitos do Homem perante a lei, a soberania do povo e a divisão dos poderes opondo-se ao absolutismo. No plano económico, o liberalismo vai defender a liberdade da iniciativa económica, livre circulação da riqueza e o valor do trabalho humano.
Com base nesta explanação, neste trabalho poderemos falar sobre a historiografia libérica e românico, que sobre a qual consta os detalhes da era já vivenciada pelos seus autores.









A HISTORIOGRAFIA LIBÉRICA E ROMÂNICO

Conceito

A historiografia pode ser definida como o conjunto de obras concernentes a um assunto histórico, como por exemplo a produção histórica de uma época. Quando se diz historiografia moçambicana refere-se as obras escritas sobre a história de Angola, por autores nacionais ou estrangeiros.
A historiografia inclui tudo quanto foi escrito para proporcionar informações sobre o passado humano como testemunho. Integram esta literatura os relatos autobiográficos e memoristas desde que sejam referentes a aspectos da vida social mais amplos do que os estritamente pessoais. A história oral também ocupa um lugar, tanto quando este conceito designa as tradições históricas transmitidas oralmente, nos povos sem escrita, como quando se refere ao registo escrito ou por gravação de depoimentos orais de autores ou testemunhas de acontecimentos históricos.
No sentido mais amplo a história da historiografia não se reduz ao estudo das principais obras históricas de cada época ou civilização, compreende também trabalhos de metodologia, publicação de documentos, ensino de história e apreciação de obras literárias de teor histórico. A história da historiografia está também ligada a história das ideias, pois os historiadores estão sempre ligados às correntes de pensamento do seu tempo.

Historiografia judaica

A historiografia judaica baseia-se na Bíblia, velho Testamento. A Bíblia é uma grandiosa obra que pela natureza e variedade de géneros literários nela contidos constitui literatura nacional do povo judaico e portanto importante fonte de informação da história judaica e dos povos com quem os judeus estavam em contacto.

A importância da Bíblia na historiografia judaica

Escrita e conservada pelos sacerdotes, a Bíblia constituiu para os judeus um instrumento de unidade, que era posta em causa pelo contacto com outros povos, a que os judeus eram sujeitos por ser um povo nómada.
Existiam duas formas de poder entre os judeus: o poder espiritual, dos sacerdotes, e o poder temporal, dos reis, sempre em aliança ou em rivalidade ou em luta. O desentendimento entre estes dois poderes resultava do facto de os sacerdotes pretenderem a unidade do povo judaico, recusando, por isso o contacto com outros povos, enquanto os reis priorizavam o alargamento do território, integrando as populações vencidas o que significava a admissão no mesmo panteão nacional dos deuses dos vencidos.
A Bíblia funcionou portanto como instrumento dos objectivos da classe sacerdotal, conservando um carácter exclusivista de defesa da tradição judaica e de ataque a tudo o que lhe fosse estranho. Baseada na bíblia, a historiografia judaica teve como principal característica a incapacidade de aceder a uma concepção universalista do homem, ou seja a limitação do homem ao homem judeu. Assim, para os judeus, a história da humanidade passava a confundir-se com a história judaica contada na Bíblia. Os outros povos apenas eram referenciados na medida em que tivessem algum relacionamento com os judeus.
Como livro sagrado dos católicos, protestantes e cristãos ortodoxos, a Bíblia teve uma credibilidade quase universal e até ao século XIX constituiu a única fonte de história dos judeus e dos povos do médio oriente, com quem estiveram em contacto. Só no século XIX, com a decifração dos escritos egípcios e sumérios surgiu uma alternativa para as fontes da história judaica. A Bíblia passaria a ocupar um lugar secundário como fonte histórica.

A HISTORIOGRAFIA GRECO-ROMANA

Historiografia Grega: Os Primórdios da Cientificação da História

A história nasceu na Grécia” é frequente ouvir-se dizer. Bem para nós que falamos na aula anterior de História sem fazer referencia a Grécia pode parecer algo estranho. Mas existe uma explicação para esta aparente confusão.
Na Grécia também existiu a abordagem mítica e teocrática da evolução da humanidade como no oriente antigo. Dos vários mitos destacou-se o mito das cinco idades que considerava que a humanidade tinha passado por cinco etapas de evolução nomeadamente a idade do ouro da prata, do bronze, dos heróis e do ferro. Entre estas, a etapa do ouro era a melhor porque nela não havia preocupações, sofrimento, velhice, etc.
Entretanto, de acordo com o conceito de ciência não podemos ainda falar nesta altura de uma ciência histórica. A cientificação da história só terá início na Grécia Clássica. É o que nos leva a falar do surgimento da história na Grécia. Este logro dos gregos tem explicação no facto de a Grécia desse tempo ter conseguido avançar em muitas áreas de desenvolvimento social, a partir do século V a.n.e. Nesse século vivia-se na Grécia, uma sociedade democrática, fruto de cerca de três séculos de reformas, iniciadas por Dracon e que atingiram o seu pico no reinado de Péricles.
Na democracia ateniense o poder era exercido pela Bule, assembleia, que reunia quarenta vezes por ano e exprimia directamente, não através de deputados, a vontade nacional. Decidia sobre a guerra ou a paz, as finanças, votava leis e decretos, julgava certos crimes, etc. cada pessoa podia tomar a palavra, propor uma decisão ou emenda. Os magistrados não eram mais do que servidores do povo. A justiça estava igualmente nas mãos do povo. A origem nobre do indivíduo já não era condição para se ocupar de questões importantes da vida do país. O importante agora era a competência e a capacidade individual.
Portanto a Atenas do século V destaca-se dos restantes estados da época pois pode conceber e aplicar os princípios de igualdade perante a lei, da liberdade individual e da fraternidade, embora com algumas reservas, principalmente ligadas com o alcance das referidas reformas democráticas. Este contexto, de abertura da vida nacional a todos os cidadãos, levou a Grécia antiga a se destacar em vários domínios da vida incluindo o do pensamento. É assim que o pensamento grego da época revelava já uma maturidade que se reflectia no desenvolvimento de varias ciências entre as quais a história.
Na obra “História” Heródoto tentou para além de escrever sobre os gregos, falar dos bárbaros, reconstituir os factos e apresentar a razão deles. A ele também se deve uma abordagem universalista dos homens pois, como cidadão oriundo da nobreza, Heródoto teve facilidades de viajar e escrever sobre varias regiões (Egipto, Mesopotâmia, etc.) incutindo desse modo uma visão mais global do Homem e do universo. Era a passagem da historiografia gentílica a historiográfica ecuménica (universal).
Numa das passagens do livro de Heródoto “Historias” pode se ler: “Eis a exposição do inquérito empreendido por Heródoto de Thouriori para impedir que as acções cometidas pelos homens se apague da memória com o tempo e que grandes e admiráveis factos, levados a cabo tanto do lado dos gregos como do lado dos bárbaros, cessem de ser nomeados, finalmente e sobretudo, o que foi causa de entrarem em guerra uns contra os outros. Até aqui, falei segundo a minha observação, reflexão e informação; mas a partir de agoira passarei a referir a tradição egípcia, tal como a ouvi; acresce ainda um pouco do que vi. O meu dever é referir a tradição mas de modo algum sou obrigado a acreditar nela”.
A história de Heródoto é feita com base em testemunhos fidedignos, ou seja dignos de crédito. Assim, ele preferiu servir-se da tradição oral, mas sempre aquela prestada por protagonistas ou testemunhas dos acontecimentos, bem como o seu testemunho ocular.
No caminho de Heródoto esteve também Tucídides, cujo grande contributo para a História foi o início do questionamento das fontes, procurando apurar a sua veracidade e credibilidade. Foi o que ele fez na sua obra “História da Guerra do Peloponeso” que escreveu servindo-se do seu próprio testemunho de participante. Tucídides revelou-se superior a Heródoto na inteligência crítica, na arte e na solidez do saber. As ideias de Tucídides sobre a História estão bem expressas na seguinte afirmação contida no seu livro História da Guerra do Peloponeso: “Só falo como testemunha ocular, ou depois duma crítica das minhas informações, tão completa quanto possível. Outros historiadores deram corpo à história como foram os casos de Xenofonte, Plutarco, Eforo, etc.
Observando os trabalhos de Heródoto e Tucidides verificamos que os gregos começam a caminhar para a cientificação da história. A sua história tem um objecto de estudo, uma metodologia própria e um objectivo bem definido. Senão vejamos.
·         Estuda-se, o passado e o presente dos homens ou simplesmente o homem;
·         Alarga-se a noção de fonte histórica que para além da tradição oral passa a considerar testemunhos oculares;
·         Cria-se uma metodologia que integra a recolha de dados através da observação e da informação, a reflexão, análise crítica e a comparação das fontes e finalmente a síntese.
·         A sua finalidade é sobretudo a verdade histórica pelo que defende a objectividade e neutralidade de análise.
Portanto na Grécia clássica temos uma historia humanista (seu objecto de estudo é o homem), científica (inicia-se nesse caminho), auto reveladora (procura a projecção do presente no futuro, ensinar aos homens o seu passado e a relação entre o passado e o presente, para revelar o sentido da acção humana) e pragmática, porque tenta tirar do ocorrido uma lição aproveitável para o futuro.
Embora dando notáveis passos a nível da história os gregos revelaram ainda algumas insuficiências. Os historiadores gregos viram-se confrontados e até encurralados pela contradição entre o ideal de história universal baseada em fontes fidedignas e a incapacidade de falar de regiões relativamente afastadas pois o nível de desenvolvimento dos transportes não os permitia ir para longe e são praticamente inexistentes informações sobre essas regiões. Deste modo eles vem-se condenados a ter que fazer a história que negam, a história de alguns povos, de algumas regiões, a história regional e não a universal que defendem.
Por outro lado as fontes orais e os testemunhos oculares não permitiam abarcar períodos de tempo relativamente longos mantendo a fidelidade numa história que busca de facto a verdade, pelo que ficam também a este nível limitados.

A HISTORIOGRAFIA ROMANA

A constituição do império romano incluiu entre outros processos a conquista de vários estados na Europa, Ásia e norte de África. Ora, este facto sugere uma miscelânea de povos, costumes, formas de vida, etc. num só estado que é o império romano. Desta situação resulta em Roma um desenvolvimento social, do qual se inclui o âmbito do pensamento, bastante influenciado pelas outras civilizações.
Temos assim que a nível da história os romanos recorrem, a princípio, à língua e aos moldes de outros povos, em particular os gregos que, como dissemos atrás tinham avançado bastante neste campo. Os romanos não copiaram mecanicamente dos gregos, procuraram dar forma própria, moldaram os ensinamentos gregos atribuindo-lhes forma própria. Deste processo resultou a produção de uma história tipicamente romana, assente na íntima relação com o passado.
Outro elemento historiográfico exclusivamente romano é o carácter político ou seja a prática da historiografia feita pelos homens políticos, em estreita relação com a política prática que conduz a historiografia política, orientada para fins políticos e não encarada como conhecimento. Portanto a história é em geral, para os romanos, uma exaltação da cidade e do império, adquirindo um carácter nacional e patriótico. É uma história apologética e pragmática. O predomínio, entre as produções historiográficas da Roma antiga, dos anais (anotações dos principais acontecimentos políticos) demonstra bem o seu carácter nacional.

Os Principais Historiadores Romanos

Políbio – é um historiador de origem grega que viveu, como prisioneiro, em Roma e lá produziu quase toda a sua obra histórica e, naturalmente, sobre o império romano. Foi o responsável pela transmissão das tendências racionalistas da historiografia grega a Roma, sendo por isso contrário a história “oficial” defendida por muitos historiadores romanos com destaque para Tito Lívio que por vezes recorria a mitologia para sustentar as suas ideias.
Polibio aplicou à história o modelo de ciclo, conduzindo à concepção segundo a qual a história é o conhecimento do geral, daquilo que se repete, que obedece a leis e por isso susceptível de previsão.
Tito Lívio – diferentemente de Polibio, esteve mais virado para o passado, tido, pelos romanos, como fonte de virtudes nacionais. Foi um intelectual ao serviço da política imperial, cuja preocupação maior foi elevar bem alto o rei e o império romanos não hesitando quando a defesa passasse pela deturpação da verdade, ou impusesse o recurso à mitologia.
Tácito – Politico e homem das letras, foi autor de uma importante obra histórica com o senão de ter misturado, por vezes, indevidamente a história com o género literário. O seu maior defeito terá sido fazer uma comparação unilateral dos romanos com os bárbaros, os bretões e os germanos revelando-se percursor da teoria do “bom selvagem”, ao apresentar uns como os de costumes mais puros e outros mais corruptos.



CONCLUSÃO

Pese embora esta Historiografia tem a França como cenário principal ou palco, estas transformações repercutem amplamente através duma Europa marcada pelos mesmos problemas e envolvida por idênticos fluxos e refluxos do movimento liberal. Há que ter em conta que a identidade dos problemas europeus não se afirma apenas ao nível da evolução social e política, mas também estava-se já em plena Revolução Industrial gerada pela máquina a vapor.
Do ponto de vista político, pôs-se termo o absolutismo, passando a França a ser governada por uma monarquia constitucional, legitimada pela soberania popular. O poder legislativo fora confiado a uma assembleia legislativa constituída por deputados eleitos e o poder judicial fora confiado a Juízes igualmente eleitos, pondo-se em prática a teoria e ideologia de Montesquieu, a da separação de poderes. Socialmente foi assegurada a igualdade dos cidadãos perante a lei, a igualdade religiosa e a liberdade de culto.
Todavia, com excepção da abolição dos direitos feudais que beneficiou particularmente os camponeses pobres, as outras conquistas da revolução nunca lhes beneficiou tendo continuado na miséria e a passar de fome.






BIBLIOGRAFIA

História da 10ª, 11ª, 12ª Classe: Historiografia do século XIX. Moçambique.





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