HISTÓRIA DA LÍNGUA PORTUGUESA EM TODA SUA ESSÊNCIA
INTRODUÇÃO
No presente trabalho abordarei sobre a história da língua
Portuguesa em que Curiosamente, o português surgiu da mesma língua que originou
a maioria dos idiomas europeus e asiáticos. Com as inúmeras migrações entre os
continentes, a língua inicial existente acabou subdividida em cinco ramos: o
helénico, de onde veio o idioma grego; o românico, que originou o português, o
italiano, o francês e uma série de outras línguas denominadas latinas; o
germânico, de onde surgiram o inglês e o alemão; e finalmente o céltico, que
deu origem aos idiomas irlandês e gaélico. O ramo eslavo, que é o quinto, deu
origem a outras diversas línguas actualmente faladas na Europa Oriental.
O latim era a língua oficial do antigo Império Romano e
possuía duas formas: o latim clássico, que era empregado pelas pessoas cultas e
pela classe dominante (poetas, filósofos, senadores, etc.), e o latim vulgar,
que era a língua utilizada pelas pessoas do povo. O português originou-se do
latim vulgar, que foi introduzido na península Ibérica pelos conquistadores
romanos. Damos o nome de neolatinas às línguas modernas que provêm do latim
vulgar. No caso da Península Ibérica, podemos citar o catalão, o castelhano e o
galego-português, do qual resultou a língua portuguesa.
HISTÓRIA DA LÍNGUA PORTUGUESA EM TODA SUA ESSÊNCIA
A história da língua portuguesa é a história da evolução da língua portuguesa desde a sua origem no
noroeste da península ibérica até ao presente, como língua oficial falada em Portugal e em vários países de expressão portuguesa.
Em todos os aspectos - fonética, morfologia, léxico e sintaxe - a língua portuguesa é essencialmente o resultado
de uma evolução orgânica do latim vulgar trazido por colonos romanos no Século III a.C., com influências menores de
outros idiomas e com um marcado substrato céltico. O português arcaico desenvolveu-se no Século V d.C., após a queda do Império Romano e as invasões germânicas,
ditas bárbaras, como um dialecto românico, o chamado galego português, que se diferenciou de
outras línguas românicas ibéricas. Usado em
documentos escritos desde o século IX, o galego-português tornou-se uma linguagem madura no
século XIII, com uma rica literatura. Em 1290 foi decretado língua oficial do reino de Portugal pelo rei D. Dinis I. O salto para o português moderno
dá-se no renascimento, sendo o Cancioneiro
Geral de Garcia de
Resende (1516) considerado o marco do seu
início. A normalização da língua foi iniciada em 1536, com a criação das
primeiras gramáticas, por Fernão de Oliveira e João de Barros.
A partir do séc. XVI, com a expansão da era dos descobrimentos, a história
da língua portuguesa deixa de decorrer exclusivamente em Portugal, abrangendo
o português europeu e o português internacional. Em 1990 foi firmado um tratado internacional com o objectivo
de criar uma ortografia unificada,
o Acordo Ortográfico da Língua
Portuguesa de 1990, assinado por representantes
de Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal e São Tomé e Príncipe.
PROTO-HISTÓRIA (SÉC. III a.C. – SÉC. XII)
Recentes Estudos sugerem que o substrato linguístico
dominante no ocidente peninsular tem uma forte relação com as línguas antigas
do Próximo Oriente, como o ugarítico, o Acácio, o hebraico antigo ou o assírio.
É possível que essa língua tenha acompanhado os povos que migraram ao longo do
Mediterrâneo ao longo de milhares de anos desde o Neolítico. Tanto a toponímia,
como a própria língua portuguesa (bem como a castelhana, a catalã, e provençal)
parecem mostrar essa relação . Curiosamente já no século XIX o Cardeal D. Francisco
de S. Luiz Saraiva (conhecido popularmente por "Cardeal Saraiva"),
publicou um trabalho intitulado: Glossário de Vocábulos Portugueses
Derivados de Línguas Orientaes e Africanas Excepto a Árabe, em que se
demonstrava que muitas palavras do português encontram paralelo no hebraico
antigo no caldaico e mesmo no persa. Contudo este conhecimento foi ignorado,
tendo-se retomado a tese da impossibilidade de encontrar a língua do povo que
foi colonizado pelos romanos. Também no final do século XX, Moisés Espírito
Santo publicou vários e assinaláveis estudos sobre o tema, mas o meio
universitário português tem sido reticente à mudança de paradigma. A visão
tradicional, geralmente reproduzida, é fortemente latinista e quase ignora
totalmente a língua falada pelo povo que foi conquistado por Roma. Os textos
que se seguem, seguem essa linha de pensamento, estando portanto em desacordo
com as ideias mais recentes.
O português tem um substrato céltico/lusitano, originado nas línguas faladas
pelos povos pré-romanos que habitavam a parte
ocidental da península. Várias escritas testemunham a existência
de línguas paleo-hispânicas. Em
Portugal destaca-se a escrita do sudoeste dos séculos VII e V a.C. no
Baixo Alentejo e Algarve. Não há acordo entre os especialistas sobre a origem
destes sistemas de escrita, que poderá estar no alfabeto fenício ou no alfabeto grego, provavelmente relacionados com os contactos comerciais
destes povos.
Da língua lusitana, uma língua indo-europeia céltica ou
relacionada falada entre o Douro e o Tejo, apenas se conhecem cinco inscrições
tardias em alfabeto latino, incluindo as de Cabeço das Fráguas , a inscrição do Penedo de Lamas e de Arronches. Da língua galaica, também uma língua céltica ou um grupo de
línguas e dialectos aparentados com o celtibero, conhecem-se numerosas palavras
e frases curtas registadas em inscrições latinas de Oviedo e Mérida, ou
glosadas por autores clássicos, que permanecem até hoje para nomear locais,
rios ou montanhas. Após séculos de contacto com o latim estas línguas foram absorvidas, mas deixaram
a sua marca num dialecto determinante na evolução das línguas portuguesa
e galega.
A influência celta na língua portuguesa pode ser
detectada em várias centenas de palavras como abrunho, barra, bico,
vidoeiro, bilha, borba, braga, brio, cais, caminho, camisa, canga, canto,
carro, cerveja, choco, colmeia, crica, curro, embaixada, gorar, légua, lousa,
menino, minhoca, peça, rego, tojo, tranca, vassalo, manteiga e tona(galaico-português:
pele, odre); os topónimos de origem céltica em
Portugal destacam-se pelo elemento "briga", que significa
“fortaleza”, com em Conímbriga, Arcóbriga(antigo nome de Arcos de Valdevez), Lacóbriga (antigo nome da cidade algarvia de Lagos) e Brigantia (Bragança); o elemento "dunum", que
significa “cidade” e surge no topónimo Caladunum (cidade antiga em Trás-os-Montes); frequentemente é
também considerada de origem celta a etimologia do nome Portugal, de Portus Cale, sendo Cale um desenvolvimento de "Gall-", com
a qual os Celtas se referiam a si próprios (como em "Galiza", "Gália", "Galway") e o do rio Douro (Durus em latim), do celta "dwr", que
significa água.
O latim: base linguística (III a.C - V d.C)
Em 218 a.C, os romanos iniciaram a invasão península ibérica, onde viriam a fundar a província romana da Lusitânia, actual centro e sul de Portugal. Quase 200 anos depois,
terminadas as guerras Cantábricas, foi constituída a Galécia, actual norte de Portugal e Galiza.
A romanização afectou muitas áreas da vida, incluindo a língua.
O latim, língua oficial do Império Romano, passou a ser usado na administração. A sua versão coloquial, o latim vulgar falado em todo o império, foi difundido por
soldados, colonos e mercadores vindos de várias províncias e colónias romanas.
Estes estabeleceram-se em cidades perto de povoações nativas, mantendo frequentemente os mesmos nomes.
Falar latim era mais um privilégio do que um dever, e
começou pelas camadas mais altas da sociedade, que tinham de lidar com a
administração romana. A evolução do latim no território correspondente a
Portugal ocorreu a dois ritmos: no centro e sul, na Lusitânia, foi adaptado cedo, acompanhando a rápida romanização e
maior cosmopolitismo. A norte, na região da Galécia, a tardia romanização, o carácter rural e o isolamento
resultaram numa menor assimilação cultural e linguística, que levou ao
desenvolvimento de uma variedade de latim com influências da língua galaica. A adesão ao cristianismo, introduzido nas cidades da Hispânia a partir do século
I e tornado religião oficial do império em 380 pelo imperador hispano Teodósio I, contribuiu para popularizar o latim.
O uso das línguas paleo-ibéricas foi decrescendo,
primeiro através do bilinguismo nos centros de ocupação romana, depois limitando-se
às regiões isoladas. As línguas pré-romanas nativas acabaram por
desaparecer, mas supõe-se que o seu contacto com o latim contribuiu para
o desenvolvimento de diversos dialetos nas diferentes regiões da Hispânia. Mesmo a elite educada de hispano-romanos parece ter
tido um sotaque peculiar: entre outros, o imperador Adriano, de origem bética, foi alvo de riso ao discursar no
senado romano pelo "pronuntians agrestius", um sotaque rústico
que o levou a aperfeiçoar o latim.
Para alguns autores o fato da Lusitânia e Galécia estarem
incluídas na Hispânia Ulterior (a "Hispânia
afastada" na primeira divisão da península), sob influência da Bética, uma província antiga colonizada pela aristocracia
senatorial, explica o latim conservador, que preservou formas arcaicas (como
"pássaro"/"pájaro" (passer) e "comer" (comedere)
em vez de formas latinas mais recentesave (avicellus) manger/mangiare
(manducare), e que pode explicar parte das diferenças entre o castelhano e o
português. Um dos fenómenos mais antigos nesta
diferenciação é a "troca
dos b pelos v", ou betacismo ,
provavelmente sob a influência das línguas pré-romanas, com o /v/ muito mais
usado no português. No latim clássico não existia o actual som [v]:
"via" pronunciava-se "uia" (semelhante ao W inglês). A
partir do século I o latim vulgar transformou o /w/ em /β/, que se manteve no
espanhol, e que evoluiu para /v/ no português. Exemplos antigos de betacismo
incluem a grafia de Nabia/Navia, deusa da mitologia
galaica e lusitana.
O processo de diferenciação dos dialectos que levou ao
desenvolvimento de diversos traços individuais das línguas ibero-românicas terá
ocorrido ainda no período romano. Origem de todas as línguas românicas, o latim terá contribuído para
quase 90% do léxico do português.
O românico de influência germânica sueva e visigótica
Pormenor do Códice Albeldensis visigótico, c. 976,
reprentando Martinho de Dume, com a inscrição Martinus episcopus
bracarensis.
A partir de 409, com o Império Romano em colapso, a
península Ibérica foi ocupada por povos de origem germânica, a que os romanos chamavam bárbaros. O território foi então cedido a alguns destes povos
como federados: em 410 os suevos estabeleceram na Galécia o reino Suevo, primeiro reino cristão, (410-589). Na Lusitânia seriam
os visigodos a dominar (411-711).
Estes povos adoptaram em grande parte a cultura romana, incluindo as leis, o cristianismo e a língua latina. Com as
invasões desapareceram todos os quadros do estado, mas manteve-se de pé a
organização eclesiástica, que os suevos adoptaram ainda no século V, seguidos
pelos visigodos, e que foi um importante instrumento de estabilidade. Como a
maioria da população hispano-romana era cristã, a governação sueva - que se
estendeu até Emínio (Coimbra)- baseou-se nas paróquias, descritas no Parochiale suevorum de c.569.
O latim escrito, com influências germânicas e românicas,
manteve-se na Europa como língua franca, litúrgica e jurídica: o latim medieval. No reino Suevo da Galécia, região correspondente ao
norte de Portugal e Galiza, destaca-se na liturgia a partir da arquidiocese de Braga, e no direito visigótico. Foi dessa liturgia, por
iniciativa de Martinho de Dume - para reforçar a ortodoxia face a tendências pagãs
e heréticas do priscilianismo e arianismo- a origem do português ser a única língua românica que
usa a terminologia eclesiástica de numeração ordinal para os dias da semana, de segunda-feira a sexta-feira, com registos desde 618.
No entanto, uma vez que as escolas e administração
romanas acabaram, o latim vulgar falado perdeu uniformidade, evoluindo de forma
diferenciada nas comunidades isoladas. Acredita-se que por volta do ano 600 já
não era falado na Península Ibérica, substituído pela evolução
das línguas românicas. Na Galécia, ganhou
características locais levando à evolução de uma forma primitiva de galaico-português.
A presença germânica, sobretudo os três séculos de
domínio visigótico, deixou numerosas palavras na língua portuguesa, sobretudo
na onomástica: nomes como Rodrigo, Afonso,Álvaro, Fernando, Gonçalo, Henrique, Adães; toponímia Baltar, Gondomar, Ermesinde, Esposende, Tagilde, Guimarães, Tresmonde, Trasmil; o sufixo - engo (em solarengo, mostrengo) e palavras em
regra poéticas ou guerreiras: guerra, elmo, bando, guardar, agasalhar entre outras. Também a letra ç (cê cedilhado) no português moderno, teve origem na escrita visigótica, resultando da evolução do Z (ʒ)
visigótico.
INFLUÊNCIA ÁRABE EM PORTUGAL
Em 711 tropas muçulmanas vindas do Norte de África ocuparam a península Ibérica. Rapidamente atravessaram o Douro, terminando o reino visigodo. Às suas investidas escapou um
grupo de visigodos acantonado no reino das Astúrias a partir de 718. Os
muçulmanos assenhorearam-se do território que designavam em língua árabe Al-Andalus, o qual governaram por cerca de cinco séculos no caso
português, e mais de oito séculos na Espanha.
Com a invasão da península, a língua árabe foi adoptada como língua administrativa nas regiões
conquistadas. Contudo, a população continuou a falar dialectos românicos, conhecidos colectivamente
como moçárabes. A principal influência árabe
foi no léxico: o português moderno regista 945 palavras de origem árabe, especialmente
em relação à agricultura, comércio e administração, sem cognatos noutras línguas românicas, com excepção do castelhano língua da qual adoptou aliás muitas dessas
palavras.
A maioria das palavras portuguesas de origem árabe é facilmente identificável pelos prefixos al-
(correspondente ao artigo definido árabe o) ou uadi- (que significa rio).
Embora aquelas em que al não forme uma sílaba possam ter uma raiz
distinta (casos de Alexandre e Alentejo). Entre estas açúcar, alface,
laranja, arroz, alfândega, armazém, bairro, almanaque, álgebra, almirante. A
influência árabe é também visível em topónimos árabes em Portugal,
principalmente no sul do país, tais como Algarve e Alcácer do Sal e Odemiraque foram assimilados à medida que a reconquista foi avançando pelo que actualmente é o centro-sul
(Lisboa, Santarém, Palmela) e sul de Portugal.
PORTUGUÊS ARCAICO (séc. XII - séc. XVI)
O galego-português
Apocalipse do Lorvão, manuscrito iluminado de 1180
baseado noComentário de Beato de Liébana, Mosteiro de Lorvão
Entre 740 e 868 a região a norte do Douro foi
reconquistada pelos cristãos hispano-góticos, que aí estabeleceram os seus
reinos. O documento medieval com traços românicos mais antigo da península
Ibérica data de 775, o Diploma do rei Silo das Astúrias, encontrado na Galiza e preservado no arquivo da catedral de Leão. Como este, muitos documentos
escritos em latim medieval contêm palavras românicas.
Em Portugal, os mais antigos textos com traços de galego-português são a Doação à Igreja
de Sozello, de 870, e a Carta de Fundação e Dotação da Igreja de S.
Miguel de Lardosa, de 882. Entre os séculos XII e XIV o galego-português
teve um papel especial nos reinos cristãos medievais da península ibérica como
língua literária, semelhante ao contemporâneo occitano. Foi, quase sem excepção, a única língua usada na
composição da poesia lírica trovadoresca dos reinos de Leão, Castela, Galiza, e Portugal. A sua importância foi tal que o chamado trovadorismo é considerado a segunda mais importante literatura medieval europeia. O rei de Leão e
Castela Afonso X, o Sábio (1221-1284), mecenas do
movimento trovadoresco e ele próprio trovador e poeta da língua galego-portuguesa,
escreveu ou mandou escrever o cancioneiro sacro Cantigas de Santa Maria em
galego-português, que reúne 430 composições musicadas para monofonia.
Ladinho ou linguagem ladinha era o nome que se dava ao
puro romance português derivado do Latim, sem mescla de Aravia ou da Gerigonça
judenga.
A poesia heroica tinha duas vertentes, a Aravia, usada
pelo povo, e o Romance empregada pelos eruditos. São numerosos os documentos em
que a palavra Aravia significou a linguagem plebéia, a gíria e o canto do povo.
Para os eruditos o Romance significava a linguagem vulgar. "Para os
eruditos do seculo xv e xvi, a Aravia é a linguagem corrupta com que cristãos e
árabes se entendiam, é uma especie de gíria não escrita, e a própria designação
de um canto do povo." [...]a Aravia que os Mosarabes falavam eram os
dialetos vulgares ou Ladinha cristenga que em breve se iam desenvolver como
línguas nacionais. A designação de Aravia passava a significar o
cantar-romance, que veio a servir de primeiro elemento tradicional da
historia." Na comédia Eufrósina, Jorge Ferreira de Vasconcelos refere-se
ao termo "germania" como sendo uma forma de aravia, quando
escreve : "quando eles querem falam Germânia [...] senhora que viva
convosco pera que me ensineis essa aravia."
DIVERGÊNCIA DO PORTUGUÊS E DO GALEGO
Em 1143 o reino de
Portugal foi formalmente
reconhecido pelo Reino de Leão e Castela, no qual o
Reino da Galiza estava então incorporado. Como resultado da divisão política, o
Galego-Português perdeu a unidade como língua nativa secular do noroeste
peninsular. O galego e o português seguiram então caminhos evolutivos
independentes, divergindo. O português incorporou elementos árabes durante a
reconquista e, no período que se seguiu, dá-se a uniformização
em -ão das terminações nasais. O galego foi influenciado pelas
línguas leonesa e castelhana.
Os textos escritos em português mais antigos conhecidos
são a A Notícia de fiadores (1175), uma pequena lista
de nomes que termina com uma única frase, "O Pacto dos irmãos Pais" de
ca. 1175. Mas o documento que atesta o nascimento oficial da língua portuguesa
data de 27 de Junho de 1214, Testamento de D. Afonso II,
terceiro Rei de Portugal, consensualmente considerado o texto em escrita
portuguesa mais antigo conhecido. Em 1290, concluída a reconquista portuguesa, o rei Dinis I de Portugaldecretou que a "língua
vulgar" (o galego-português falado) fosse usada em vez do latim na corte,
e nomeada "português". O rei trovador, neto e tradutor de Afonso X O
Sábio, adoptara uma língua própria para o reino, tal como o seu avô fizera com
o castelhano. Em 1296 o português foi adaptado pela chancelaria régia e passou a ser usado não só
na poesia, mas também na redacção das leis e pelos notários.
Na Galiza, a documentação legal em galego-português
remonta a 1231, data de um diploma de venda procedente do mosteiro de Melón, no Minho. No entanto, o documento chamado Carta
Foral do Boo Burgoé provavelmente mais antigo (c. 1228). Os primeiros textos
poéticos datam de c. 1195 a c. 1225. O galego manteve-se a língua escrita mais empregada no Reino de Galiza, tanto no uso legal como na criação literária, para o
que contribuíram grandemente as scriptoria da nobreza e da igreja local, na ausência de uma
corte real na Galiza. Mas as derrotas dos nobres galegos nas guerras irmandinhas provocaram o fim da
autarquia do reino da Galiza, que passa a ser governada por uma delegação real
castelhana, que impõe o castelhano como língua oficial. A partir de 1530 dá-se o
desaparecimento oficial do galego como língua de cultura, que durou até finais
do século XIX, nos chamados "Séculos Escuros", ficando relegado a língua
regional, oral, com pouco emprego escrito. O português, por seu lado,
desenvolveu-se no único território peninsular independente do domínio
linguístico do castelhano.
PORTUGUÊS MODERNO (séc. XVI - séc. XXI)
Normatização: as primeiras gramáticas no Renascimento
A publicação do Cancioneiro
Geral de Garcia de
Resende em 1516 é frequentemente considerada o marco do fim do
"português arcaico".
A partir do
século XVI, o renascimento aumentou o número de palavras eruditas importadas
para o português e a complexidade da língua. Tal como em várias outras línguas
europeias, o interesse pelos estudos humanísticos, em especial a filologia, e o desenvolvimento da imprensa levou à procura da normatização da língua portuguesa.
Em 1536 Fernão de Oliveira publicou a primeira gramática da língua portuguesa, a Gramática da linguagem portuguesa, em Lisboa,
dedicada a D. Fernando de Almada. A obra do heterodoxo frade dominicano, diplomata, escritor, filólogo e
tratadista naval em breve seria seguida. Em 1540, João de Barros, distinto funcionário da coroa e tesoureiro da Casa da Índia, publicou a Gramática da língua portuguesa e diversos diálogos morais a acompanhá-la, para
ajudar ao ensino da língua materna. Considerada a primeira obra didáctica
ilustrada no mundo, dedicada a informar aos jovens aristocratas, a quem se dirigia, incluia também fundamentos básicos
da Igreja Católica.
O interesse pela filologia difundiu o uso de ortografias etimológicas, procurando justificar palavras vernáculas através de raízes latinas
ou gregas, genuínas ou imaginadas. Duarte Nunes de Leão, pioneiro no estudo da ortografia portuguesa, na obra Orthographia da lingoa portuguesa,
de 1576, foi um dos seus teóricos. O desenvolvimento da imprensa contribuiu para tornar correntes as novas grafias,
abundantes em ch, ph, rh, th e y nas palavras de origem grega (archaico,
phrase, rhetorica, theatro, estylo, etc.) e ct, gm, gn, mn, mpt nas palavras de
origem latina (aucthor, fructo, phleugma, assignatura, damno, prompto),
incluindo até falsas etimologias, como a de tesoura escrita thesoura, por
sugestão de thesaurus, quando o étimo é tonsoria.
Durante o período da União Ibérica (1580-1640), em que os reinos de Portugal e Espanha estiveram unidos, linguistas espanhóis cogitaram em
ser a língua portuguesa, um dialecto docastelhano. Essa teoria foi descartada,
visto que consistia em ser uma ideia de cunho mais político, na tentativa de uma maior dominação para com os portugueses,
e por não possuir qualquer fundamento linguístico ou histórico.
EXPANSÃO COM OS DESCOBRIMENTOS
Entre os séculos XV e XVI, com a expansão da era dos descobrimentos, os
portugueses levaram a língua portuguesa a muitas regiões das África, Ásia e América. Simultaneamente importaram para o léxico português e de
várias línguas europeias novas palavras, vindas de terras distantes.
Os primeiros contactos eram assegurados por intérpretes poliglotas, os chamados "lingoas",
como Gaspar da Gama e Duarte Barbosa. O português tornou-se a língua franca nas costas do Oceano Índico e em África, usado não só pela administração colonial e pelos
mercadores, mas também entre os oficiais locais e europeus de todas as
nacionalidades. Vários reis do Ceilão (actual Sri Lanka) falavam português fluentemente, e os nobres normalmente
tinham nomes portugueses. A propagação da língua foi ajudada por casamentos
mistos entre portugueses e as populações locais.
A língua portuguesa continuou a gozar de popularidade no
sudoeste asiático até ao século XIX. No Ceilão e na Indonésia a língua continuou popular mesmo com várias medidas
contra ela levadas a cabo pelos holandeses. Algumas comunidades cristãs que falavam português, nas Índia,
Sri Lanka, Malásia e Indonésia preservaram a sua língua mesmo depois de se
isolarem de Portugal. Ao longo dos séculos desenvolveram-se vários crioulos de base portuguesa em
África, na Índia, no Sudeste Asiático e em Macau.
Topónimos como Serra Leoa, Lagos (Nigéria), Elmina (Gana), Ano Bom, Natal, Gabão, Camarões, Brasil, Cochinchina,[55] Formosa (Taiwan), Flores (Indonésia) atestam a passagem dos
portugueses no século XVI. Várias palavras portuguesas entraram no léxico de
outras línguas, tais como "sepatu" (sapato) em indonésio,
"keju" (queijo) em malaio, "meza" (mesa) em swahili,
"botan" (botão), "kompeitō" (confeito), "kappa"
(capa), entre várias palavras japonesas de origem portuguesa. Simultaneamente foram importadas para a Europa palavras
ligadas à marinharia e a produtos exóticos como banana, albatroz,
cachalote, caju, crioulo, garoupa, sargaço, junco (navio), macaco,mandarim,[56] monção, pagode. Hoje, a maioria dos falantes do português encontram-se
no Brasil, na América do Sul.
Base dos primeiros estudos linguísticos fora da Europa
Os esforços missionários do padroado português, sobretudo a actividade
missionária jesuíta, levou a que "língua
cristã" fosse sinónimo da "língua portuguesa" em muitos locais
da Ásia. A expansão de colégios e o pioneirismo das missões fez com que muitos
dos primeiros estudos linguísticos europeus, incluindo gramáticas e dicionários, fossem escritos em português. É o caso do primeiro
dicionário europeu de chinês - português, c. 1580 por Michele Ruggieri e Matteo Ricci ; do dicionário japonês - português "Nippo Jisho", de 1603 por João Rodrigues ; do dicionário vietnamita - Português -latim publicado em
Roma em 1651 por Alexandre de Rhodes.
Destacaram-se nesta acção o Colégio de São Paulo (Macau) como
sede dos primeiros sinólogos, e o Colégio de São Paulo (Goa), que introduziu a imprensa na Índia, e levou à primeira impressão e estudos
europeus da língua tâmil. Também sob alçada portuguesa, foram os estudos
da língua concani (canarim) e da língua marata pelo linguista jesuíta Thomas Stephens. Foram
também pioneiros no estudo do sânscrito Roberto de
Nobili e João de Brito. No Brasil, José de Anchieta e Luís Figueira desenvolveram os primeiros estudos da língua tupi, incluindo a gramática e dicionário; Luís Mamiani estudou
a língua cariri (hoje extintas). Em África, Mateus Cardoso fez a
primeira tradução de quicongoc.1625. Na Etiópia, foi estudada intensamente e
feitas traduções de ge'ez, a língua litúrgica da Etiópia, até à expulsão dos
Jesuitas em 1634.
O PERÍODO ROMÂNICO
O processo de formação e consolidação das
línguas romanas está profundamente ligado ao histórico da expansão da nação
portuguesa, através dos seus domínios territoriais e lingüísticos, impondo a
sua supremacia linguística aos povos dominados e expondo a sua língua coloquial
a interações sociais com diferentes culturas e às diversas situações,
favorecendo o seu enriquecimento variável, culminando nos diferentes Romanços e
línguas neolatinas, como o Catalão, o Castelhano e o Galego Português.
Embora a Península Ibérica fosse habitada
desde muito antes da ocupação romana, pouquíssimos traços das línguas faladas
por estes povos persistem no português moderno.
A língua portuguesa, que tem como origem a
modalidade falada do latim, desenvolveu-se na costa oeste da Península Ibérica
(atuais Portugal e região da Galiza, ou Galícia) incluída na província romana
da Lusitânia. A partir de 218 a.C., com a invasão romana da península, e até o
século IX, a língua falada na região é o romance, uma variante do latim que
constitui um estágio intermediário entre o latim vulgar e as línguas latinas
modernas (português, castelhano, francês, etc.).
Durante o período de 409 d.C. a 711, povos de
origem germânica instalam-se na Península Ibérica. O efeito dessas migrações na
língua falada pela população não é uniforme, iniciando um processo de
diferenciação regional. O rompimento definitivo da uniformidade linguística da
península irá ocorrer mais tarde, levando à formação de línguas bem
diferenciadas. Algumas influências dessa época persistem no vocabulário do
português moderno em termos como roubar, guerrear e branco.
A partir de 711, com a invasão moura da
Península Ibérica, o árabe é adoptado como língua oficial nas regiões
conquistadas, mas a população continua a falar o romance. Algumas contribuições
dessa época ao vocabulário português atual são arroz, alface, alicate e refém.
No período que vai do século IX (surgimento
dos primeiros documentos latino-portugueses) ao XI, considerado uma época de
transição, alguns termos portugueses aparecem nos textos em latim, mas o
português (ou mais precisamente o seu antecessor, o galego-português) é
essencialmente apenas falado na Lusitânia.
CONCLUSÃO
A língua
portuguesa está entre as mais faladas e conhecidas do mundo. Juntamente
com o espanhol, o catalão, provençal francês, italiano, rético, sardo e romeno,
é uma língua que possui suas raízes no latim vulgar. Essas línguas são chamadas
de línguas românticas, latinas ou neolatinas, e são consideradas um tipo de
continuação do latim de onde se originam. Ou seja, de maneira pouco
explicativa, a língua portuguesa, na verdade, veio da antiga Roma.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1 - Ver a este propósito "A Origem da
Língua Portuguesa", de Fernando R. Almeida, Chiado, 2013.
Anderson, J. M. 1985.
«Pre-Roman Indo-European languages of the Hispanic Peninsula», Revue des Études
Anciennes 87, 1985, pp. 319–326.
Untermann, J. 1987. «Lusitanisch, Keltiberisch,
Keltisch», in: J. Gorrochategui, J. L. Melena & J. Santos (eds.), Studia
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