hereditariedade
Introdução
Cada ser humano tem características próprias,
características que os tornam únicos. No entanto, para conseguirmos explicar
este facto, temos que ter em conta dois aspectos fundamentais: o meio e a
hereditariedade.
O
património genético do indivíduo define-se na sua singularidade morfológica,
fisiologia, sexual (ser homem ou mulher). Na determinação do temperamento estão
as variações individuais do organismo, concretamente a constituição física (a
cor da pele, dos olhos, do cabelo, etc.) e o funcionamento dos sistemas nervoso
e endócrino, que são em grande parte hereditários.
Hereditariedade
Podemos
definir Hereditariedade, portanto, como o somatório de todas as características
contidas no núcleo das células gaméticas, transmitidas a um indivíduo durante a
fecundação. Podendo os descendentes ocultar ou manifestar as características
herdadas, inscritas no material genético, mais precisamente pela expressão
gênica dos cromossomos (molécula portadora dos caracteres biológicos de um ser
vivo ou até mesmo um vírus).
Quando
não expressa a característica, não significa dizer que foi apagado do genoma
(conjunto de cromossomos de uma espécie), típico da população, ou seja, um
indivíduo portador de um genótipo qualquer, mesmo tendo seu gene inactivo,
transmite aos seus descendentes um fenótipo que ficou escondido na geração
parental.
“O padrão genético estabelecido no
momento da concepção influencia as características da personalidade que
uma pessoa desenvolverá. De forma muito óbvia, o dano encefálico herdado ou
os defeitos de nascença podem ter influência pronunciada sobre o
comportamento da pessoa. Além disso, os factores somáticos (orgânicos)
como altura, peso (…), o funcionamento dos orgãos dos sentidos,,e outros,,podem,,afectar,,o,,desenvolvimento,,da,,personalidade.
“WITTIG, A., Psicologia Geral, McGraw-Hill, 1981, p.7 (adapt.)
Nós herdamos um conjunto de genes provenientes dos
nossos progenitores. Designamos por genótipo o património hereditário com que
fomos dotados. Contudo, as características de um indivíduo não dependem apenas
do código genético que recebem aquando da sua concepção – ele sofre a
influência do meio ambiente. Designamos por fenótipo todas as características
fisiológicas e psicológicas que um indivíduo apresenta. O fenótipo corresponde
à “aparência” do indivíduo, ao conjunto de traços que resulta da interacção
entre genótipo e o meio.
O fenótipo é o resultado da acção concertada de dois
factores:
- A informação genética;
- A influência do meio;
O genótipo pode contribuir para a possibilidade de
desenvolver membros longos e grande massa muscular. Contudo, a subnutrição ou a
falta de exercício impedirão o desenvolvimento das capacidades atléticas.
O Estudo da
Hereditariedade Humana
O
estudo das árvores genealógicas foi utilizado durante muito tempo. Alguns
investigadores têm analisado árvores cujos membros têm conhecidas capacidades
musicais. Ex: o compositor J. Sebastian Bach A análise do ADN é uma
técnica utilizada pela biologia molecular.
Os
estudos de gémeos são estudos comparativos que assumem duas formas
ou modalidades – comparação entre as características psicológicas e os
comportamentos de gémeos idênticos e de gémeos dizigóticos; comparação
dessas características e comportamentos em gémeos idênticos educados
separadamente.
O
estudo de adopções é importante para se fazer comparações entre as
características psicológicas das crianças adoptadas e as suas famílias
biológicas e as famílias adoptivas.
A hereditariedade e a
inteligência
Determinadas
famílias, reuniam pessoas cujo trabalho reflectia um alto nível
de inteligência.
Parentes
mais próximos de indivíduos ilustres tinham tendência a ser mais bem
sucedidos que os mais distantes Inteligência é determinada pela
hereditariedade Relação entre QI e o nível socioeconómico, profissão dos pais,
qualidade do meio familiar. Componente genética é um factor muito importante no
desenvolvimento e capacidade intelectual.
Os cientistas descobriram há anos que traços
como a cor dos olhos e a cor do cabelo são determinados
por genes específicos codificados em cada célula
humana. Hoje em dia a Teoria da Natureza leva as coisas um
passo adiante afirmando que os traços mais abstratos como a inteligência, personalidade,
agressão e orientação sexual também são codificados
no DNA de um indivíduo.
Influência do meio
ambiente
O meio social – família, grupos e cultura a que se
pertence – desempenha um papel determinante na construção da
personalidade. A personalidade forma-se num processo interactivo com os sistemas
de vida que a envolvem: a família, a escola, o grupo de pares, o
trabalho, a comunidade.
Uma personalidade é marcada por todo o processo
de socialização em que a família, sobretudo nos primeiros anos, assume um papel
muito importante, pelas características e qualidade das relações
existentes e pelos estilos educativos.
Na actualidade, embora não se ignore a existência
da influência genética, os defensores da teoria da educação acreditam
que, em última análise, a mesma isolada não tem grande relevância – que os
nossos aspectos comportamentais têm apenas origem a factores
ambientais de nossa educação. Estudos sobre o comportamento infantil
realçam a importância da influência do meio ambiente.
As
primeiras experiências do psicólogo de Harvard BF Skinner, basearam-se
no trabalho com pombos que desenvolveram a habilidade de
dançar, fazer oitos, e jogar ténis. Hoje conhecido
como o pai da ciência comportamental, finalmente
Conseguiu provar que
o comportamento humano pode ser condicionado da mesma forma como
acontece com os animais.
Um
estudo na revista New Scientist sugere que sentido de humor
é uma característica aprendida, influenciada pelo ambiente
familiar e cultural, e não determinada geneticamente. Se o
ambiente não desempenhasse um papel importante na determinação
de traços de um indivíduo e comportamentos, em seguida, os
gémeos idênticos seriam, teoricamente, exactamente iguais em todos os
aspectos, ainda que criados separados. Mas uma série de estudos
demonstram que eles nunca são exactamente iguais, embora sejam
muito semelhantes em muitos aspectos.
Controversa hereditariedade
e Meio ambiente
Há quem defenda que o nosso desenvolvimento é
influenciado sobretudo pelo meio ambiente, ou principalmente pela
hereditariedade. Porém, a hereditariedade não pode exprimir-se sem um meio
apropriado, assim como o meio não tem qualquer efeito sem o potencial genético.
A forma como nos comportamos nasceu connosco, ou terá sido
desenvolvida ao longo do tempo em resposta às nossas
experiências? Pesquisadores envolvidos em ambas as teorias
(hereditariedade vs meio ambiente) concordam que a ligação entre
um gene e o comportamento não é o mesmo que “causa e
efeito”. Enquanto um gene pode aumentar a probabilidade de
nos comportarmos de uma maneira particular, não faz as pessoas
actuarem, o que significa que continuamos a ter de escolher
quem vamos ser quando crescermos.
Por tudo isto, podemos afirmar que a
hereditariedade e o meio interagem, determinando o desenvolvimento orgânico,
psicomotor, a linguagem a inteligência a afectividade, etc.
A hereditariedade influi de algum modo na
agressividade infantil, mas, sem dúvida, o meio é o mais perturbante. O que
falta internamente à criança é a capacidade e a habilidade para lidar com esse
ambiente que a deixa com raiva, com medo e inseguras.
A Grande Influência
do Meio
Família: membros familiares com traços anti-sociais de
conduta (principalmente os pais), pais que não respeitam a autonomia dos filhos
ou que são demasiadamente controladores ou que rotulam seus filhos como
agressivos são factores familiares que induzem à agressividade infantil.
Mídia: os meios de comunicação de massa têm dividido
opiniões sobre a influência que exercem na criança. Podemos encontrar programas
com imagens que chegam a requintes de perversidade. Os video-jogos bélicos, os
desenhos animados violentos que fascinam as crianças também podem influenciar.
Escolaridade: a escola também pode influir no desenvolvimento ou na
prevenção de problemas de conduta; o pessoal da escola pode avisar aos
familiares quando detecta problemas nas crianças; a escola pode proporcionar
programas de estímulo de habilidades sociais, resolução de conflitos entre os
alunos ou buscar outras soluções aos problemas de cada aluno.
Condição Social: a maioria
dos estudos procura relacionar o nível socioeconómico baixo com o
desenvolvimento de problemas de conduta. Um desses estudos observou que a alta
percentagem de crianças agressivas de pouca idade pertencia a um nível social
mais baixo. Deve-se ter em conta, além disso, que esses factores diferem de uma
família para outra, de forma que nem todas as famílias pertencentes a uma
classe social mais baixa se caracterizam pelos mesmos padrões de conduta.
Idealizações
Filosóficas
A questão da grande influência que o meio exerce sobre
a criança já vem sendo discutida há tempos. O filósofo francês Jean-Jacques
Rousseau (1712-1778), considerado o “descobridor da criança”, considera,
juntamente com outros filósofos, que a bondade é a tendência natural e inata do
homem, que só é pervertido pela civilização e pelas injustiças sociais
decorrentes. Ou seja, o homem nasce bom, e a sociedade limita-se a corrompê-lo.
Gregor Johann Mendel foi um monge agostiniano,
botânico e meteorologista austríaco. Descobriu as leis da hereditariedade, hoje
chamadas Leis de Mendel, que regem a transmissão dos caracteres hereditários.
Entre todos os estudiosos dos fenómenos da hereditariedade
(ciência que estuda a transmissão de características de geração em geração),
Mendel tem um lugar especial.
Durante sete anos, de 1856 a 1863, Mendel cruzou e
produziu híbridos de plantas com características distintas – plantas altas com
plantas anãs, ervilhas amarelas com ervilhas verdes e assim por diante.
Observou com surpresa que tais características não são diluídas nem resultam em
meio-termo, mas mantêm-se distintas: o rebento híbrido de uma planta alta e de
uma anã era sempre alto, não de tamanho médio.
Conclusão
De realçar, que vários são os exemplos que comprovam a controversa de uma interacção
da hereditariedade e o meio. Um dos exemplos mais significativos é a
inteligência – o nível intelectual mede-se através de testes de inteligência,
que são apresentados sob a forma de Q.I. O Q.I, grau de inteligência,
relaciona-se intimamente com o meio. Por exemplo, quando a criança está
inserida num ambiente economicamente menos favorável, este é normalmente menos estimulante
intelectualmente, daí que a criança tenha um Q.I mais baixo. Contudo, temos
também uma situação inversa, dependendo da personalidade de cada um, visto que
a mesma situação de pobreza, pode ser um estímulo para atingir um nível
cognitivo mais alto que permita uma ascensão social e económica.
Não podemos, contudo, restringir ao meio a influência no desenvolvimento do
Q.I em cada criança. A hereditariedade assume também uma importância crucial. O
melhor exemplo é o caso dos gémeos homozigóticos. Existem estudos que comprovam
que gémeos verdadeiros separados à nascença e criados em meios sócio-económicos
diferentes, têm um Q.I. semelhante, bem como, outras características de
hereditariedade genética, como sendo o temperamento, os gestos, predisposições
intelectuais.
Referências bibliográficas
DAVIS, C. Modelo da
aprendizagem Social. In: RAPPAPOR, FIORI E DAVIS. Teorias do Desenvolvimento: conceitos fundamentais. V. 1. EPUD (?)
COLE, M.; SCRIBNER, S. introdução. In: VYGOTSKY, L.S. A formação Social da Mente. São
Paulo: Martins Fontes, 2000.
DESCARTES, R. Discurso
do Método: regras para a direção do espírito. São
Paulo: Martin Claret, 2000.
FURTADO, O; TEIXEIRA, M.L.T.; BOCK, A.M.B. Psicologias: uma
introdução ao estudo da Psicologia. São Paulo: Saraiva, 1999
FREITAS, M.T.A. de. Vygotsky
e Bakhtin: Psicologia e Educação: um intertexto. 4.ed. São Paulo: Ática,
2000
GABBI JR, O.F.. Leis, Regras
e a Psicologização do Cotidiano. Departamento de Psicologia Experimental da
USP; Depto. de Filosofia da UNICAMP - 1884
GUILHARDI, H.J. Palestra
sobre o behaviorismo -
proferida em 30/08/1988.