crise na adolescencia
INTRODUÇÃO
Discutir, construir e implementar a execução de medidas socioeducativas
é um desafio complexo e constante, colocado no quotidiano, para todos os atores
sociais envolvidos no processo de trabalho com jovens autores de actos
infraccionais.
Sistematizar a prática desenvolvida pelo serviço social em um Centro de
Socioeducação que executa a medida socioeducativa de internação é uma opção
voltada ao relato de um trabalho colectivo e democrático na busca, muitas vezes
na contramão do sendo comum social, pela consolidação de direitos: direito a
aprendizagem, direito a reconstrução da realidade, direito a percepção de si
como sujeito de possibilidades. Concomitantemente busca-se a preparação do
jovem para o retorno e o convívio social, a partir da construção de um projecto
de vida desconexo de práticas delitivas.
Deste modo, além de actividades do dia-a-dia no atendimento directo ao
adolescente desenvolvidas pelo serviço social, destacaremos a consolidação de
uma iniciativa voltada ao desenvolvimento do protagonismo da crise na
adolescência. Uma iniciativa vinculada a uma perspectiva ética e política – que
pressupõe o fortalecimento da identidade de cada individuo em um processo de
construção quotidiano e concreto orientado por uma concepção de cidadania.
CRISE NA ADOLESCÊNCIA
A adolescência é uma extraordinária etapa na vida de todas as pessoas. É
nela que a pessoa descobre a sua identidade e define a sua personalidade. Nesse
processo, manifesta-se uma crise, na qual se reformulam os valores adquiridos
na infância e se assimilam numa nova estrutura mais madura.
A adolescência é uma época de imaturidade em busca de maturidade. Mas…
como é difícil para os pais este novo período na educação dos filhos! No
adolescente, nada é estável nem definitivo, porque se encontra numa época de
transição.
Vejamos, pois, em que consiste a adolescência e o que é a maturidade;
quais são as mudanças que os adolescentes costumam sofrer, bem como as fases
pelas quais vão passando, para podermos ter atitudes positivas que favoreçam a
superação dessa crise.
O caminho básico que os pais devem seguir é o da compreensão, com o
devido respeito e carinho que merece cada um dos adolescentes.
A adolescência é este período no qual uma criança se transforma em
adulto. Não se trata apenas de uma mudança na altura e no peso, nas capacidades
mentais e na força física, mas, também, de uma grande mudança na forma de ser,
de uma evolução da personalidade.
Devido a velocidade das mudanças psicológicas e
corporais, compreendemos a adolescência como um momento de travessia onde
conflitos, emoções e angústias encontram-se à flor da pele. É tempo de quebra
dos ideais infantis, queda das figuras parentais como modelo de perfeição,
confrontos com verdades pré-estabelecidas, descobertas sexuais que produzem insegurança
e desejos ambíguos.
A sociedade exige que o adolescente se defina no campo
sexual e profissional numa etapa da vida em que culminam questionamentos
importantes para a construção paulatina de sua identidade. Na contramão das necessidades
características desta fase, há uma grande pressão social para que o futuro
profissional entre no mercado de trabalho cada vez mais cedo. Contudo,
constatamos um crescente fracasso escolar, jovens completamente perdidos apesar
do arsenal informativo disponível nos dias de hoje.
A impossibilidade de elaborar tantas transformações
pode gerar manifestações de carácter patológico como nos casos de toxomania,
depressão, transtornos alimentares, delinquência e actos suicidas. Uma ajuda
profissional pode ser fundamental na construção de saídas mais criativas para o
sofrimento na adolescência.
Estas fases etárias representam uma ruptura
com as formas de comportamento e privilégios típicos da infância e a aquisição
de características e competências que capacitam a pessoa a assumir deveres e
papéis adultos. Elas são impulsionadas, por um lado, pelas mudanças
físico-fisiológicas iniciadas na puberdade e, por outro lado, pelas
mudanças de comportamentos induzidas socialmente.
Dentre as crises que marcam a adolescência,
as de identidade e autonomia costumam ser as mais importantes. Por um lado, o
adolescente sente necessidade de definir-se como pessoa, sem ser um mero
seguidor dos modelos adultos à sua volta; por outro, quer agir por si mesmo.
É-lhe mais importante sentir-se como autor dos próprios actos, que agir
racionalmente. Essa é a razão de muitas atitudes de oposição aos mais velhos e
mesmo de rebeldias. Embora essas crises possam tornar o adolescente uma pessoa
difícil de lidar, e até mesmo um ser anti-social, elas preparam-no para a vida
adulta e em geral eles emergem delas mais amadurecidos e ponderados.
As hormonas na crise do adolescente
Diferentes estudos demonstram que nesta fase o cérebro não se encontra
totalmente desenvolvido e evidenciam as mudanças que ocorrem nas diferentes
estruturas cerebrais. São mudanças que, sequencialmente e paulatinamente vão
permitir a passagem de um cérebro infantil a um cérebro maduro.
Neste processo podemos referir: O Crescimento e reorganização de algumas
estruturas cerebrais; o processo gradual de mielinização e consequente mudança
na condução dos impulsos; o processo de amadurecimento que se inicia nas
regiões posteriores, áreas com função sensorial; o amadurecimento na fase final
das regiões pré-frontais; integração funcional entre diferentes partes do
córtex; cristalização de competências motoras; expansão da substância branca e
maior eficácia das funções do córtex pré-frontal.
As regiões frontais são as responsáveis pelas tomadas de decisão. Como
iniciam o seu amadurecimento na adolescência, explica parcialmente por que
esses jovens agem de uma forma tão inconsequente em algumas circunstâncias.
O desenvolvimento do cérebro não é afectado, como é de senso comum,
negativamente por "descargas” de hormonas. Estas têm contudo a sua acção
no desenvolvimento do adolescente.
A preparar a adolescência temos a puberdade, fase na qual se identifica
o papel importante do cérebro. A hipófise estimulada pelo hipotálamo segrega
duas hormonas (FSH e LH) que vão por sua vez permitir a libertação das hormonas
sexuais (estrogénio e testosterona). Os harmónios esteróides influenciam o
comportamento adolescente que é em simultâneo espelho e motor do
desenvolvimento cerebral.
O cérebro adolescente apresenta-se muito sensível à dopamina,
neurotransmissor que activa os circuitos de gratificação. Este facto ajuda a
explicar a velocidade de aprendizagem dos jovens, a sua extraordinária
capacidade de resposta para a recompensa e as reacções intensas face aos
sucessos e aos fracassos.
Assumir riscos nesta fase da vida tem um valor adaptativo muito ligado à
vontade do adolescente querer saber quem é e como é.
O cérebro é muito sensível a sinais de aprovação e rejeição. A
ocitocina, hormona à qual o cérebro do jovem também se mostra muito sensível, é
impulsionadora de relações sociais sobretudo com pares e integração em grupos.
Relações gratificantes levam, graças a um mecanismo de retroacção, à libertação
dessa hormona.
Situações de rejeição conduzem, pelo contrário, à activação de circuitos
neuronais da dor. Para o evitar, há a procura de convívio com pares e situações
de prazer.
Nas situações atrás referidas está presente a possibilidade de todos os
seres humanos através da Educação, da relação com os outros e das suas próprios
decisões criarem experiências que de uma forma importante deixam marcas e
produzem mudanças decisivas nos padrões de conexões neuronais do cérebro.
O cérebro do adolescente distingue-se pelas características associadas a
crises mas sobretudo pela sua fantástica plasticidade. Obrigar ou esperar
comportamentos de adulto no adolescente será o mesmo que inibir um crescimento
saudável e estruturado.
A adolescência define-se como um período perfeitamente normal e
desejável de reorganização do cérebro.
Comportamentos identificados como críticos não são os únicos expressos
pelos adolescentes. Perante eles, os pais (e outros adultos) não sabem como
reagir e exibem desconforto muito pelo grau de perigosidade que lhes atribuem. Finalmente,
podemos dizer que as crises da adolescência existem mas quando acontecem
resultam de influências sociais assim como de experiências e atitudes
individuais de um ser naturalmente ainda vulnerável. Elas não são por si só
negativas. São o espelho do cérebro adolescente.
ALTERAÇÕES QUE SUCEDEM NAS DIFERENTES ETAPAS DA ADOLESCÊNCIA
A puberdade ou adolescência inicial (11 a 14 anos)
– Nasce a intimidade (o despertar do próprio “eu”).
– Crise de crescimento físico, psíquico e maturação sexual.
– Não há ainda consciência daquilo que se está a passar.
– Conhece pela primeira vez as suas limitações e fraquezas, e sente-se
indefeso perante elas.
– Desequilíbrio nas emoções, que se reflecte na sensibilidade exagerada
e na irritabilidade de carácter.
– “Não sintoniza” com o mundo dos adultos.
– Refugia-se no isolamento ou no grupo de companheiros de estudo, ou
integra-se num grupo de amigos.
Características psicológicas da adolescência
Ø
O
adolescente nesta etapa vive no seu mundo interior. Para conhecer a própria
personalidade, as suas ideias e ideais, compara-se com o mundo dos outros.
Ø
Dá
impressão de apatia devido a preocupação repousada e reflexiva pelos próprios
estados anímicos.
Ø
Esta
interiorização abarca também as esferas intelectuais, filosóficas e estéticas,
enchendo a sua vida com estas teorias.
As características
mais próprias deste período, são:
·
Crescente
consciência e conhecimento do “eu”.
·
Nascimento
da independência.
·
Adaptação
progressiva aos núcleos sociais da família, escola e comunidade em geral.
Ø
O
espírito de independência cresce rapidamente, mas é imaturo ainda e
manifesta-se com brusquidão e agressividade.
Ø
Independência e liberdade são a sua constante
exigência.
Ø
Opõe-se,
portanto, a que o tenham sujeito ou lhe perguntem sobre os seus assuntos,
projectos, amigos com quem anda, ou a que se imiscuam na sua vida privada.
Ø
É
capaz de albergar sentimentos de rancor, vingança e violência, embora de modo
esporádico e sejam pouco duradoiros.
Ø
Manifesta
uma grande preocupação por pormenores e gestos que observa na pessoa a quem
imita e idealiza.
Ø
Interessa-lhe
e procura conhecer a própria personalidade, mas é mais observador em relação à
dos outros, tanto dentro como fora do núcleo familiar.
Ø
Aos
16 anos, o adolescente é já um pré-adulto, possui uma mente mais segura, porque
está melhor ordenada e controlada.
Ø
Manifesta
uma maior confiança em si mesmo e uma autonomia mais arraigada.
Ø
Em
geral, domina perfeitamente as próprias emoções, possuindo um maior equilíbrio.
Ø
Valoriza
mais os motivos pessoais dos outros, sejam colegas ou adultos, e pensa mais
neles, pois apercebe-se de que o segredo da sua própria felicidade se encontra
relacionada com a vida dos outros.
Ø
Sente-se
mais livre e independente do que aos 15 anos, por isso já não o preocupa tanto
esta exigência.
Ø
Conduta
social em relação com a vida escolar
Ø
Aos
15 anos, em geral, manifestam uma atitude hostil para com a escola, vão contra
as exigências e normas rígidas.
Ø
Revoltam-se
às vezes contra a autoridade, em geral, não individualmente mas em grupo.
Ø
Entre
os 15 e os 16 anos, começam-se a interessar novamente pelo estudo sempre que
for interessante e vital para a sua experiência o conteúdo instrutivo, como por
exemplo a Religião, as Ciências Sociais, etc.
Ø
Integram-se
na comunidade escolar, participando nas actividades que a escola oferece.
Ø
Às
vezes a vida escolar converte-se em válvula de escape, em meio para afrouxar as
ataduras familiares.
Ø
No
âmbito escolar, põem-se de manifesto certas diferenças individuais, académicas
e sociais, relacionadas com a capacidade de liderança, o talento e as atitudes
intelectuais.
Ø
Atitudes
das pessoas implicadas na sua educação
Ø
É
necessária uma atitude de abertura e de conhecimento das fases desta idade,
para evitar atitudes inadequadas para com os filhos, o endurecimento da
autoridade e o não reconhecer ao adolescente qualquer tipo do direito. Isto,
unido à conduta do próprio adolescente, provoca choques violentos.
Ø
Deve-se
aceitar a emancipação progressiva dos filhos, e incluso favorecê-la, para os
ajudar a serem livres e a manifestarem-se como tais.
Ø
A
existência da crise tem a sua origem num problema afectivo, por isso temos de
favorecer no adolescente a criação de vínculos familiares, ambientais, (amor a
Deus, à Pátria).
Ø
Devem
sentir-se realizados numa actividade ou numa coisa, aspirando sempre a algo,
isto é, devem ter um ideal, fé. Também é importante o relacionarem-se com a
família, o grupo, etc…
Ø
Convém
saber que estas crises passam com o tempo e que tudo volta a normalizar-se, o
que não significa que se deixe de actuar e não se procure orientar
positivamente o desenvolvimento dessas crises de modo a que não deixem
conflitos na personalidade do jovem.
Ø
É
muito inseguro, procura a orientação e o conselho de pessoas alheias à sua vida
familiar; assim, os educadores encontram um campo propício para uma acção de
formação mais profunda.
Ø
Precisam
de uma mão compreensiva para os ajudar no esforço de esclarecer e definir os
seus pensamentos e estados anímicos, coisa que é difícil para ele e o faz cair
em estados depressivos.
Ø
Às
vezes convém tratá-lo com a mesma frieza ou indiferença com que se comporta,
para que repare na sua própria atitude.
Ø
As
formas mais extremas de desafio exigem um guia habilidoso, bem como prudência
nas medidas de controlo mais estritas que se pretendam utilizar.
Ø
Temos
de passar a ser “observadores participantes” na vida dos adolescentes.
Ø
Devemos
ajudá-los a encontrar a forma de se expressarem nas diversas actividades, e
procurar que o ensino seja estimulante e interessante, senão podem cair no
desleixo e na apatia perante o estudo.
Ø
Recordando
as tensões e inquietações da nossa própria adolescência, estaremos em condições
de ajudar os jovens e de sermos mais compreensivos para com eles.
Ø
Devemos
inculcar-lhes o respeito pelos pontos de vista alheios e o sentido da
realidade.
CRISE DE
IDENTIDADE NA ADOLESCÊNCIA
Época de
medos e insatisfações
Primeiro, a adolescência se torna visível no corpo.
Depois da estranheza do processo de se transformar em adulto, o adolescente
entra em crise. Precisa encontrar uma identidade de acordo com seus valores, e
é neste momento que surgem os medos e as mudanças.
As tensões internas fazem parte das modificações da
própria adolescência, o incremento das pressões instintivas. Aquelas de factor
externo referem-se à relação do adolescente com as exigências da família e da
sociedade. E é aí que surge a identificação com os grupos, a necessidade de ser
diferente, as insatisfações.
As insatisfações relacionadas ao corpo são as que mais
afectam os adolescentes. Cerca de 70% das meninas com o índice de massa corporal
considerado normal se dizem insatisfeitas com a própria imagem. A insatisfação
consigo no período da adolescência é um dos factores de risco para a depressão
e para os transtornos alimentares, como a anorexia e a bulimia.
– Adolescência é produto de uma história. Se as
experiências infantis foram predominantemente boas, o adolescente entra mais
fortalecido psiquicamente nesta etapa e supera melhor sua crise vital. É
importante que os pais estarem atentos e darem suporte afectivo aos filhos. A
tendência é que o filho supere a crise naturalmente, com a ajuda do tempo.
Além da época propícia para os conflitos internos,
outras questões podem contribuir para o desenvolvimento da depressão, como a
ausência afectiva da família, a genética, brigas em casa e factores de estresse
ambientais (como situações de abuso físico e a perda dos pais).
Busca pelo
grupo
Pertencer a um grupo possibilita experimentar a vida
sem os pais, geralmente considerados “antiquados”, e pessoas que não entendem
nada do que está acontecendo. Por estarem vivendo um momento de mudanças e de
buscas, os adolescentes experimentam coisas exageradas, como saias muito
curtas, cabelos coloridos, linguagem vulgar etc. Uma das intenções dessa
comunicação por meio do corpo é chocar os adultos – essa busca de oposição pode
ser uma maneira de encontrar o próprio limite.
Os pais devem se preocupar nesta fase quando não há
mais possibilidade de comunicação com o adolescente, quando os valores
familiares não são mais eficientes.
– Adoptar um estilo ou outro não é um problema. Pais
devem ficar atentos quando o sofrimento toma conta da vida.
Tristeza ou
depressão
Durante a adolescência, é natural que ocorram momentos
de intensa turbulência, onde os sentimentos de exclusão e de desamparo
tornam-se o pano de fundo dos acontecimentos. Os desencantos amorosos, as
traições dos melhores amigos e a decepção são os cenários que podem trazer
tristeza, mas, apesar de cicatrizarem em poucos dias, preparam os adolescentes
para a vida adulta.
O que caracteriza quadros depressivos nesta faixa
etária é o estado de espírito irritado, tristonho ou atormentado que compromete
as relações familiares, as amizades e o rendimento escolar. Na ausência de
tratamento, os episódios de depressão duram em média oito meses. Antes da puberdade,
o risco de apresentar depressão é o mesmo para meninos ou meninas. Mais tarde,
ele se torna duas vezes maior no sexo feminino. A prevalência da enfermidade é
alta: depressão está presente em 1% das crianças e em 5% dos adolescentes.
Sinais de
alerta
Diagnosticar a depressão em adolescentes
não é tarefa fácil, pois pode ser confundida com a tristeza, típica em alguns
momentos da fase. Os pais precisam ficar atentos quando o filho adolescente
demonstra sintomas frequentes e associados de humor irritado, perda de energia,
apatia, desinteresse, retardo psicomotor, sentimento de desesperança e culpa,
perturbações do sono ou excesso de sono, alterações de apetite e peso,
isolamento, dificuldade de concentração, prejuízo no desempenho escolar, baixa
auto-estima, queixas físicas (dor de barriga, dores de cabeça). Além disso,
problemas graves de comportamento, com uso de álcool e drogas, e tentativas de
suicídio são também sinais de alerta sobre a depressão. A família deve
conversar com o adolescente e, caso os sintomas sejam evidentes, deve-se buscar
ajuda profissional – o tratamento é feito com medicação e psicoterapia (ou
terapia comportamental).
Agressão ao
próprio corpo
Quando o adolescente machuca o próprio
corpo, ele procura testá-lo, mas também dominá-lo. Esse corpo já é maltratado
pela irrupção da puberdade, com todas as transformações externas e internas que
nós conhecemos. Os pais devem
ficar atentos quando os filhos apresentam sinais de mutilação. O acto que
prejudica a saúde põe em risco a vida e a integridade do corpo. A família deve
ajudar a adolescente a entender o problema e pedir ajuda de profissionais se
necessário.
ADOLESCÊNCIA E FORMAÇÃO DA IDENTIDADE EM ERIK ERIKSON
Erickson defende que a energia activadora do
comportamento é de natureza psicossocial, integrando não apenas factores
pulsionais biológicos e inatos, como a libido, mas também factores sociais,
aprendidos em contextos histórico-culturais específicos.
Desenvolvimento psicossocial é sinónimo de desenvolvimento da
personalidade e decorre ao longo de oito estágios que, no seu
conjunto, constituem o ciclo da vida. Cada estágio corresponde à formação de um
aspecto particular da personalidade
Um dos conceitos fundamentais na teoria de Erickson é
o de crise ou conflito que o indivíduo vive
ao longo dos períodos por que vai passando, desde o nascimento até ao final da
vida. Cada conflito tem de ser resolvido positiva ou negativamente pelo
indivíduo.
A resolução positiva traduz-se numa
virtude, que é um ganho psicológico, emocional e social: uma qualidade, um
valor, um sentimento, em suma, uma característica de personalidade que lhe
confere equilíbrio mental e capacidade de um bom relacionamento social.
Se a resolução da crise for negativa, o
indivíduo sentir-se-á socialmente desajustado e tenderá a desenvolver
sentimentos de ansiedade e de fracasso. Contudo, numa fase posterior, a pessoa
pode passar por vivências que lhe refaçam o equilíbrio e o compensem,
reconstruindo-lhe o seu auto-conceito.
O conceito de crise é desenvolvido, sublinhando as
incertezas e indagações do adolescente no sentido de descobrir quem é e de
definir o que virá a ser no futuro. A resposta à inquietação do adolescente só
é conseguida pela tomada de consciência de si, do seu ego e de que está apto a
assumir a sua verdadeira identidade.
Neste trajecto repleto de interrogações pode
necessitar de uma ou várias moratórias, antes da integração de todos os “eus”
num conceito de si como ser único e disposto a arcar com as responsabilidades
inerentes à construção do seu projecto existencial de vida.
Apesar de ter de ser feita interiormente pelo próprio
indivíduo, a construção da identidade necessita do contributo das pessoas
significativas com que o adolescente convive. Estas funcionam como um modelo de
identificação. Por outro lado, funcionam como um espelho que lhe devolve a
imagem que a sociedade tem a seu respeito.
Em termos da constatação da personalidade, Erickson
considera a adolescência como a fase mais crítica do ciclo vital. Porém, a
crise da identidade pode ocorrer em qualquer fase da vida do indivíduo,
manifestando-se por sentimentos incomodativos que se evidenciam por um mal
estar típico de quem “não se sente bem na sua pele”.
Erik Erickson afirmava que um indivíduo tinha de
construir a sua personalidade durante a adolescência, porém essa
construção não era feita de um mesmo modo para todos os adolescentes, ou seja,
não era feita de um modo padronizado e linear. Durante esta fase da vida há
sempre procura de algo mais, há crises, indecisões, situações conflituosas que
têm de ser resolvidas de um modo ou de outro.
Como se sabe, os adolescentes não têm sempre o mesmo
tipo de atitudes, ou seja, vacilamos entre vários tipos de identidade,
transitando de uns para outros.
Uma vez construída a personalidade, isso não confere
um carácter rígido à personalidade, continuando o indivíduo a reorganizar, a
cada momento, os elementos integrantes da sua personalidade, ajustando-a,
portanto às diversas circunstâncias, do quotidiano, que nos vão surgindo.
Erickson coloca as dimensões institucional,
sociocultural, histórica e biológica em interacção, no entre cruzamento dessas
influências, Erickson elaborou oito etapas de desenvolvimento psicossocial para
representar momentos diferentes de investimento da energia psíquica. É uma
etapa que impele o indivíduo a uma redefinição da própria identidade, ao
avaliar sua inserção no plano espaço-temporal, integrando o passado, com suas
identificações e conflitos, ao futuro, com suas perspectivas e antecipações.
Erickson insiste na necessidade de o adolescente fazer uma integração de seu
passado e futuro, através de um processo de recapitulação e antecipação.
O DESAFIO DO SERVIÇO SOCIAL NA CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA CRIANÇA, ADOLESCENTE E FAMÍLIA
Um dos grandes desafios no âmbito do atendimento ao adolescente é o
processo de exclusão ou inclusão social das famílias carentes, vivenciado nas
triagens realizadas pelo Serviço Social. A
importância do profissional de Serviço social com o Adolescente estão ligadas
no sentido de nivelar o conhecimento de todos a respeito dos conceitos básicos
que envolvem a questão da criança e o adolescente em um sentido amplo,
discutindo assim seus direitos, deveres e obrigações a serem cumpridas.
Também é a função do Estado, juntamente com os outros órgãos da sociedade,
desenvolver programas em diversas áreas, como educação, saúde, que tenha como
objectivo o desenvolvimento da criança e do adolescente, pondo a salvo de
qualquer risco, descriminação, trabalho desumano, exploração de qualquer
espécie, etc.
O profissional do serviço social trabalha no desenvolvimento e aplicação
de políticas sociais, cujo objectivo é retirar as crianças e adolescentes, das
condições desumanas, que estão envolvidos, e desenvolver com estes um trabalho
de socialização, de mudança de vida, não só para eles, mas também para sua
família.
Ao desenvolver, um trabalho para crianças e adolescentes (políticas
publicas) é fundamental que o trabalho seja realizado também com a família, uma
vez que muitos problemas que atingem as crianças têm origem da própria família,
por questões de violência domésticas, pobreza, abandono, etc.
Sendo assim sabemos que os adolescentes não tem conhecimento dos seus
direitos, garantidos por lei, não tem acesso a essas informações, e quem as
tem, por interesses próprios, os negam, e outros se omitem. A maioria das
famílias angolanas, também não conhecem os seus direitos, e muitas vezes são
enganados, por falta de informação, por falta de alguém que lhe mostre o que e
seu, os seus direitos, e os ajude auxilie, na busca destes.
O trabalho do assistente social, nas questões do adolescente são vários,
consiste na conscientização, na busca da implementação dos direitos, e no
desenvolvimento de políticas publicar em prol destas pessoas, que são
submetidas as condições sobre humana de sobrevivência, isto porque, muitos por
interesses mesquinhos, exploram menores, para obter grandes lucros, mesmo
sabendo que estão acabando com a vida de uma criança, acabando com um sonho.
Enfim, o trabalho do profissional do serviço
social, no que se refere aos problemas envolvendo a criança e o adolescente,
não é fácil, uma vez que a luta desse profissional, que é liberdade dos
indivíduos, sem exploração dos menores pelo homem, não é fácil, vai contra o
interesse de uma parte da sociedade, que ganha que cresce em cima do sofrimento
do outro.
Muito já se foi feito, e mais poderá ser
feito ainda, e quem sabe um dia veremos uma Angola, onde os adolescente não são
explorados, e sim estudando e desenvolvendo fisicamente e intelectualmente sem
sacrificar a sua vida.
CONCLUSÃO
Nos voltando a socioeducação, claramente vinculada no quotidiano dos
assistentes sociais ao seu projecto ético-politico, a compreendemos como praxis
pedagógica que objectiva a preparação destes adolescentes para o convívio
social na comunidade. Assim, e possível compreender este jovem como agente
transformador do mundo, autor e construtor da sua própria historia,
protagonista das suas acções que pode perceber-se como sujeito de direitos,
deveres e possibilidades.
Com certeza o papel do serviço social diante da realidade destes dos
adolescentes em crise extrapola a confecção de instrumentos técnico –
operativos para subsidiar magistrados. Nosso trabalho depende de superação e
reflexão constante sobre a relação com o judiciário, bem como, na busca pela
reinserção social e comunitária de forma articulada com a rede objectivando a
transformação da realidade social e concreta destes sujeitos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ATKISON,
Rita L. Introdução à psicologia de Hilgard. 13ª ed. Porto Alegre: Artmed
Editora, 2002.
CLONINGER,
Susan. Teorias da personalidade. Trad. Claudia Berliner. 1ª ed. São Paulo: Ed. Martins
Fontes, 1999.
HALL, Calvin S.; LINDZEY, Gardner; CAMPBELL, John. Teorias da Personalidade. Trad. Maria Adriana
Veríssimo Veronese. 4ª ed. Porto Alegre: Artmed Editora. 2000.
ÍNDICE
INTRODUÇÃO
1.
CRISE NA ADOLESCÊNCIA
1.1.
As hormonas na crise do adolescente
2.
ALTERAÇÕES QUE SUCEDEM NAS DIFERENTES ETAPAS DA ADOLESCÊNCIA
2.1.
Características psicológicas da adolescência
3. CRISE DE IDENTIDADE NA ADOLESCÊNCIA
3.1. Época de medos e insatisfações
3.2. Busca pelo grupo
3.3. Tristeza ou depressão
3.4. Sinais de alerta
3.5. Agressão ao próprio corpo
4.
ADOLESCÊNCIA E FORMAÇÃO DA IDENTIDADE EM ERIK ERIKSON
5.
O DESAFIO DO SERVIÇO SOCIAL NA CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA CRIANÇA, ADOLESCENTE E
FAMÍLIA
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS