cultura de Angola
INTRODUÇÃO
O ser humano é naturalmente um ser cultural, religioso,
comunicativo, livre e está aberto ao diálogo.
Durante a sua vivência, vai assimilando experiências e
conhecimentos e vai aprimorando o seu repertório cultural. Para melhor nos colocarmos
dentro do conhecimento de um determinado povo, precisamos conhecer, antes de
mais, a sua cultura. Neste contexto diz-se que ao tratar do conceito de cultura, a sociologia se ocupa em entender os aspectos aprendidos que o ser humano, em contacto social, adquire ao longo de sua convivência.
Esses aspectos, compartilhados entre os indivíduos que fazem parte deste grupo
de convívio específico, reflectem especificamente a realidade social desses
sujeitos.
A CULTURA ANGOLANA
História
A história de Angola
remonta ao período do paleolítico. Os vestígios de presença humana encontrados
em algumas regiões, nomeadamente em Luanda, Congo e Namibe, comprovam que o
território angolano é habitado desde a pré-história.
Nos primeiros 500 anos da era actual, as migrações de povos eram
frequentes. Os povos instalaram-se e cruzaram-se pelo país. As lutas
sucederam-se pela conquista de terras. Os portugueses, sob o comando de Diogo
Cão, no reinado de D. João II, chegaram ao Zaire em 1484. Iniciaram, então, a
conquista desta região de África, incluindo Angola.
A história enche-se de
marcos importantes até à actualidade, com a colonização, a independência,
obtida em 1975, e a guerra civil, que apenas teve fim em 2002, a assinalarem
períodos chave da evolução do país.
Cultura
A cultura Angolana é influenciada por diversas etnias que moldaram o
país. Portugal iniciou a ocupação na região de Luanda e mais tarde também em
Benguela no início dos séculos XVI, mantendo o controlo da região até 1975.
Devido a isso, ambos os países compartilham vários aspectos culturais, como a
língua e a principal religião. No entanto, a cultura angolana é em grande parte
de origem bantu que foi misturada com a cultura portuguesa, prevalecendo também
influencias de diversas comunidades étnicas com seus próprios traços culturais,
tradições e línguas nativas ou dialectos onde se incluem os Ovimbundu, Ambundu,
Bakongo, Côkwe e outras.
A riqueza cultural de
Angola manifesta-se em diferentes áreas. No artesanato, destaca-se a variedade
de materiais utilizados. Através de estatuetas em madeira, instrumentos
musicais, máscaras para danças rituais, objectos de uso comum, ricamente
ornamentados, pinturas a óleo e areia, é comprovada a qualidade artística
angolana, patente em museus, galerias de arte e feiras. Associado às festas
tradicionais promovidas por etnias locais está também um grande valor cultural.
A música anuncia a
riqueza artística de Angola, com os ritmos do kizomba, semba, rebita, cabetula
e os novos estilos, como o zouk e kuduro, a animar as noites africanas. As
danças tradicionais assumem, paralelamente, particular relevância, a par da
gastronomia rica e variada. A literatura angolana tem origem no século XIX, com
uma função marcadamente “intervencionista e panfletária de uma imprensa feita
pelos nativos da terra” (Angola Digital). A literatura reflecte a riqueza
cultural do país.
Em 1935, o romance “O
segredo da morta”, de António Assis Júnior, atinge uma notoriedade
significativa, assinalando um ano de viragem. No decorrer das décadas seguintes
outras obras e autores se afirmam, contribuindo para a diversidade temática. Em
Portugal, escritores como José Eduardo Agualusa fazem parte da moderna
literatura de origem angolana. Outros nomes, como Ondjaki, integram a nova
geração de escritores do país.
O POVO OUVIMBUNDO
Os Ovimbundos ocupam uma grande área no centro
ocidental do país e estendem-se desde o litoral até às regiões montanhosas de
Benguela.
O grupo linguístico Mbundo compreende 15 grupos
principais: os mais significativos em número de habitantes dão os Bieno e os
Bailundo.
Embora as tradições Ovimbundu digam que este povo
veio do nordeste, alguns especialistas crêem que provavelmente vieram do
sudoeste do Congo.
Entre 1500 e 1700, o povo de Ovimbundu
emigrou do norte e do este de Angola para a Meseta de Benguela.
Eles não consolidaram os seus reinos nem seus reis
afirmaram sua soberania em cima da Meseta, até ao século 18, quando surgiram 22
reinos. Treze dos reinos, incluso Bié, Bailundu, e Ciyaka surgiram como
entidades poderosas e os Ovimbundu adquiriram reputação de serem os
comerciantes mais exigentes do interior de Angola.
Depois que os portugueses conquistaram a maioria dos
estados de Ovimbundu, em finais do século 19, as autoridades
coloniais portuguesas prenderam os reis de Ovimbundu directa ou
indirectamente.
Os Ovimbundos ocupam o planalto central de Angola e a
faixa costeira adjacente, uma região que compreende as províncias do Huambo,
Bié e Benguela.
São um povo que, até à fixação dos portugueses em
Benguela, vivia da agricultura de subsistência, da caça e de alguma criação de
gado bovino e de pequenos animais. Durante algum tempo, uma vertente importante
teve o comércio das caravanas entre o Leste da Angola de hoje e os portugueses
de Benguela. Este comércio entrou em colapso quando, no início do século XX, o
sistema colonial português lhes exigia o pagamento de impostos os Ovimbundos
viraram-se sistematicamente para a agricultura de produtos comercializáveis,
principalmente o milho
No decorrer do século XX, e em especial no período da
"ocupação efectiva" de Angola, implementada a partir de meados dos
anos 1920, a maioria dos Ovimbundu tornou-se cristã, aderindo quer à Igreja
Católica, quer a igrejas protestantes, principalmente à Igreja Evangélica
Congregacional de Angola (IECA), promovida por missionários norte-americanos.
Esta cristianização teve, entre outras, duas consequências incisivas. Uma, a
constituição, em todo o Planalto Central, de aldeias católicas, protestantes e
não-cristãs separadas. A outra, um grau relativamente alto de alfabetização e
escolarização, e por conseguinte também do conhecimento do português, entre os
Ovimbundos, com destaque para os protestantes
Em simultâneo houve dois processos de certo modo
interligados. Por um lado, formou-se lentamente uma identidade social (um
sentido de pertença) abrangendo todos os Ovimbundu, e não apenas subgrupos como
p.ex. os M'Balundu ou os M'BienoPor outro lado, verificou-se uma "umbundização"
cultural, inclusive linguística, de alguns povos vizinhos que tinham tido (e em
certa medida mantiveram) características algo distintas dos Ovimbundu
Objectivo
Alcançada a paz, uma parte dos Ovimbundu refugiados
nas cidades regressou para as suas terras de origem, enquanto a outra parte,
possivelmente mais da metade, preferiu ficar nas áreas urbanas. No Planalto
Central, regista-se a reconstrução, ainda em curso, das cidades do Huambo e
Kuito, e a recomposição, algumas vezes em moldes diferentes. Ao mesmo tempo, a
forte presença dos Ovimbundu nas cidades fora da sua região, facto novo na
história de Angola, confere-lhes uma projecção nova, a nível nacional.
Tradição dos povos ovimbundu
Na tradição dos Ovimbundu os o nascimento de bebés
gémeos constitui alegria para a família e ao mesmo tempo uma preocupação.
Quando nascem gémeos , ao contrários de outros bebés,
estes são saudados com insultos.
São chamados por nomes abusivos, por exemplo: "
Ove a Ngulu, ove ambua" que significa em português (tu porco, tu cão) e
outras palavras depreciativas pelas quais são tratados.
A mãe e os gémeos depois de os umbigos caírem, são
levados para fora de casa, envoltos em barro, a mãe é arrastada no lodo passando
com ela em volta da casa num alarido de insultos assobios e ao som de chifre de
boi ou cabrito, com uma balaio cheio canjica não desfarelada na cabeça (
ombulungu), que vai sendo consumida á medida que se vai arrastando a mãe no
lodo.
Esta festa dura quase a manhã toda.
De seguida os umbigos são enterrados junto ao
cruzamento dos caminhos, as roupas que serviram a parturiente são deitadas fora
ou num rio. Quem faz isto é o curandeiro que acompanhou a parturiente e os
bebés.
Grupos etnolinguísticos
O
grupo étnico dos Ovimbundu é, actualmente, formado por vários subgrupos:
Va-Mbalundu, Va-Vihe, Va-Wambu, Va-Ngalangi, Va-Kimbulu, Va-Ndulu, Va-Kingolo,
Va-Kalukembe, Va-Sambu, Va-Ekekete, Va-Kakonda, Va-Kitatu, Va-Sele, Va-Mbui,
Va-Hanya, Va-Nganda, Va-Cikuma, Va-Ndombe e Va-Lumbu). Estes subgrupos vivem na
regiãoque compreende o Huambo (zona de solo fértil e onde se podem cultivar
cereais, horticultura, e com boas condições para o gado, especialmente bovino);
a Huila, sobretudo nos municípios de Caconda, Caluquembe e na própria cidade do
Lubango, cuja população é maioritariamente Ovimbundu; o Bié, igualmente uma
zona fértil e de clima saudável; Benguela, com terrenos muito férteis e onde
existem minérios de cobre, ferro, enxofre, sulfato de sal, etc., e numa parte
do Cuanza Sul, Moxico e Kuando-Kubango. Por fim, resta-nos apenas acrescentar
que os futuros estudos a efectuar, quer ao nível da linguística, quer da
arqueologia, quer ainda da tradição oral, poderão aportar outros dados
importantes para o conhecimento da origem dos Ovimbundu
Os
defensores da segunda hipótese afirmam que os Ovimbundu são uma síntese de
vários grupos étnicos angolanos. E, consequentemente, não têm um carácter
homogéneo. Estão à vista os aproveitamentos políticos que se podem fazer desta
interpretação, uma vez que se pretende, com este ponto de vista, provar que os
Ovimbundu não são um grupo étnico unitário, e muito menos têm uma
especificidade cultural e etnolinguística própria.
Os
estudiosos, defensores desta hipótese, apegando-se a aspectos linguísticos,
afirmam que os Ovimbundu seriam descendentes dos Bakongo, uma vez que, segundo
eles, a língua Umbundu é uma síntese do Bantu-Kongo e do Bantu-Lunda. Na
verdade, esta hipótese possui uma certa evidência científica, pois os Ovimbundu
pela posição que ocupam no planalto central teriam ligações com os Ambundu da
Baixa de Kassanji; com os Cokwe e os Lunda.
E
mesmo a sua grande versatilidade, a sua impressionante capacidade de adaptação
aos diversos habitat, poderiam ser explicados a partir desta simbiose, ou seja,
desta miscigenação que não se cingiu apenas a aspectos linguísticos e
biológicos, mas também à adopção de saberes, técnicas, formas colectivas de
luta contra a adversidade da natureza. Esta hipótese, a mais aceite pelos
vários historiadores, viria a levar um rude golpe, criando assim várias dúvidas
com a descoberta da estação arqueológica de Caninguiri (kaniñili).
A visita a locais Sagrados ( Akokoto e Etambo)
Imagens da entrada para os
Akokoto
Sekulo fala sobre Akokoto
As Pedras de Kandumbo onde se encontram um dos
Akokoto. No local sagrado encontra-se os corpos dos antepassados. O povo
ovimbundu venera muito os seus antepassados. Construindo assim pequenas casotas
a que se chamam Etambo e os Akotoko.
A entrada para o Akokoto
Para os Ovimbundu quando uma pessoa morre o seu espirito permanece como manifestações efectivas de poder, personalidade e conhecimento dessa pessoa na sociedade, assim sendo os espíritos têm uma influência poderosa sobre os vivos. Por isso deve-se cuidar bem dos seus túmulos. Para se visitar estes locais os visitantes devem ungir os pulsos e só tornozelos com óleo de Palma e elimbui. Esta acção é que dá acesso e permissão a entrada do local.
Para os Ovimbundu quando uma pessoa morre o seu espirito permanece como manifestações efectivas de poder, personalidade e conhecimento dessa pessoa na sociedade, assim sendo os espíritos têm uma influência poderosa sobre os vivos. Por isso deve-se cuidar bem dos seus túmulos. Para se visitar estes locais os visitantes devem ungir os pulsos e só tornozelos com óleo de Palma e elimbui. Esta acção é que dá acesso e permissão a entrada do local.
Devem ser acompanhados por um guia.
Este é uma pessoa indicada pela Corte da Ombala, geralmente é o soba que toma a
dianteira. Mas para visitar um Etambo (local onde se encontram as caveiras dos
antepassados) o ritual é mais complicado deve-se seguir os seguintes passos:
1. Repete-se o caso da junção dos pulsos e dos tornozelos
com óleo de palma e elimbui;
2. Deposita-se uma quantia monetária no balaio;
3. Entrega-se a autoridade uma garrafa de aguardente e um
galo; E só assim se tem acesso ao Etambo
Ritual da chuva
A dança da chuva é um tipo de dança ritual que é
habitualmente executada em certas comunidades com a finalidade de propiciar chuvas para a colheita.
Quando não chove na devida altura (nda Kuli ocitenya) os velhos da
comunidade ficam preocupados, porque as plantações secam, tais como o milho e o
feijão principal dieta dos ovimbundos.
Assim os velhos (sa Sekulo) decidem ir ao túmulo dos antepassados aos
Akokoto para a realização do ritual.
O local é limpo para a ocasião a comida é preparada pela Nassoma
(mulher do soba). A comida é constituida por canjica de milho e são
sacrificados alguns animais (cabras e galinhas);
As bebidas tradicionais como Kachipembe, chissangua(ocimbmbo);
A comida e a bebida são oferecidos aos espiritos, tocam os batuques e as
pessoas comem e bebem. Se os espiritos dos chefes receberem as oferendas,
choverá no mesmo dia. Se não chover, significa que os espiritos não estão
satisfeitos com a cerimónia e tem de ser feita outra vez segundo o soba
Kavinganji
Ritual de nascimento de Bebés Gémeos
O nascimento de bebés gémeos, constitui alegria para a família e ao mesmo
tempo uma preocupação. Quando nascem gémeos, ao contrários de outros
bebés, estes são saudados com insultos. São chamados por nomes abusivos, por
exemplo: " Ove a Ngulu, ove ambua" que significa em português (tu
porco, tu cão) e outras palavras depreciativas pelas quais são tratados.
A mãe e os gémeos depois de os umbigos caírem, são levados para
fora de casa, envoltos em barro, a mãe é arrastada no lodo passando com
ela em volta da casa num alarido de insultos assobios e ao som de chifre de boi
ou cabrito, com uma balaio cheio canjica não desfarelada na cabeça (
ombulungu), que vai sendo consumida á medida que se vai arrastando a mãe no
lodo.
Esta festa dura quase a manha toda. De seguida os umbigos são enterrados
junto ao cruzamento dos caminhos, as roupas que serviram a parturiente são
deitadas fora ou num rio. Quem faz isto é o curandeiro que acompanhou a
parturiente e os bebés.
Atribuição
de nomes aos Bebés
Recebem o nome de animais selvagens mais temidos na fauna Angolana
tais como:
Se forem dois rapazes
1º nascido = JAMBA ( ELEFANTE)
2º nascido = HOSSI (LEÃO)
Se forem um menino e uma menina
1º o menino =JAMBA
2ª a menima = NGUEVE ( HIPOPOTÁMO)
O
tratamento dos bebés
Devem ser considerados por igualdade de direitos. As roupas devem ser
da mesma cor e tecido para evitar aborrecimentos entre eles.
A circuncisão
A iniciação de jovens para a vida cultural e social na tradição
ovimbundu começa com a circuncisão (evamba), que na língua nacional umbundu
significa mutilação da pele que envolve a cabeça do órgão genital masculino,
cientificamente conhecida por prepúcio, considerada como parte inútil. Depois
do acto de corte, antes de sarar a ferida, o jovem circuncidado permanece num
acampamento com outros jovens também circuncidados e toma o nome de
otchindanda.
A morte de um bebé
Se falecer um deles não se deve Chorar. A mãe e o bebé vivo são
escondidos ao máximo, até terminar o óbito e em sua substituição cria-se
uma estátua antropomórfica de pequenas dimensões que deverá trajar a mesma
roupa que o vivo e que deverá sempre ser levada pela mãe.
A dança
O povo ovimbundu aprecia muito a música acompanhada de dança diversificada
de acordo ás circunstâncias dos rituais, pois através da música e da dança ele
manifesta os seus sentimentos afectivos que podem ser de alegria ou tristeza. O
dançarino é uma figura pública dominadora da arte da dança e por isso tem um
lugar de referência na sociedade.
Pode ser homem ou mulher. Ele/ela dançam em público em festas tradicionais
como a entronização, de iniciação a puberdade, na morte de um Rei entre outras.
A
dança dos mais velhos – Olundongo
Executa-se durante o dia. Os executantes vestem-se de panos amarrados com cintos
e usam o batuque. Esta dança usa-se tradicionalmente na entronização, em óbitos,
despedidas de lutos das dançarinas, dos caçadores, circuncisores e soberanos.
Onyaca - Modalidade da
dança tradicional, executada pelas mulheres. Geralmente usa-se na despedida de
luto de quem em vida também usava tal dança.
Okatita - Dança
tradicional usada pelos ambos os sexos, em momentos de diversão.
A Alimentação
A base de alimentação do povo ovimbundu é o pirão feito de farinha de milho
e por vezes de mandioca O pirão é acompanhado de diversos condimentos tais
como: Feijão, feijão frade, folhas de mandioqueira, folhas de abóbera, folhas
de pepino, folhas de batata doce, bringeiras, quiabos, peixe salgado,
carne de caça, ratos, gafanhotos.
Normalmente este povo come logo de manha, um prato substancial de pirão,
batata doce ou canjica. A noite come um prato de pirão. No intervalo destas
duas refeições come fruta e bebe Quissangua.
CONCLUSÃO
Este tema foi bastante interessante pois conhecemos
melhor alguns ritos e costumes da cultura do povo ovimbundo. Portanto este círculo cultural, além
de caracterizar uma distribuição geográfica, considera ainda a história do
desenvolvimento cultural e estuda a estratificação dos elementos existentes.
Nisso diverge do conceito, mais moderno, de área cultural, que considera territorialmente
a existência dos elementos culturais em face de semelhança de cultura material
e de condições geográficas do povo ovimbundo.
BIBLIOGRAFIA
Augusto da Silva: O Povo Ovimbundo. Escola: Ngola Kiluanje, Angola,
2012.
ÍNDICE