a memória e a sua influencia no processo de aprendizagem
A memória e a sua influência no processo de aprendizagem.
RESUMO
O presente trabalho
tem como objetivo analisar a importância da memória e objetiva desenvolver e
aprofundar os conceitos inerentes à mesma, bem como as suas implicações nos
processos mentais, cognitivos e percetivos no processo de acesso à informação.
Neste sentido, foi realizada uma revisão da literatura, que forneceu
contributos fundamentais para um referencial teórico lógico, e que localizou
reflexões sobre as temáticas da psicologia cognitiva, concretamente a memória
sensorial, memória a curto e memória a longo prazo e a sua influência no
processo de aprendizagem.
Palavras-chave: Psicologia Cognitiva, Memória, Memória
de Curto e Longo Prazo, Aprendizagem.
INTRODUÇÃO
Neste trabalho
pretende-se identificar os diferentes tipos de memória quer em termos de
duração temporal quer em termos de capacidade de armazenamento de informação, e
ainda identificar e hierarquizar os fatores capazes de influenciar a memória.
A memória ajuda-nos a
definir quem somos, na verdade ela é essencial para a construção da identidade
da pessoa. O conjunto de experiências armazenadas na mente do indivíduo e a
facilidade com que se acede a elas, é vital para que possamos interpretar o que
se passa à nossa volta e possamos tomar decisões.
Pretende-se ainda
analisar a influência da memória no processo de aprendizagem e a
interdependência da aprendizagem e da memória, uma vez que a estrutura e
material a ser aprendido está em grande parte dependente do conhecimento retido
na memória, ou seja daquilo que o indivíduo já sabe e é capaz de recordar. O
atual conhecimento não só influencia a aprendizagem de novos conhecimentos e
informações, mas também o modo como esses conhecimentos e informações são organizados,
de forma a serem recuperados no futuro.
Partindo das
definições dos conceitos de memória e de aprendizagem, será analisada a relação
entre os dois, e em que medida um condiciona e influencia o outro. Será ainda
dada especial relevância ao processo da memória na retenção de saberes durante
a aprendizagem.
1
ENQUADRAMENTO TEÓRICO
A memória humana é um
elemento fundamental nas tarefas de compreensão verbal e escrita, no cálculo e
raciocínio. Ela representa um papel indispensável no sistema cognitivo e poderá
ser considerada responsável por algumas diferenças importantes ao nível do
desempenho dos sujeitos nas tarefas escolares, profissionais, do dia a dia, na
execução e performance das tarefas a realizar.
A memória consiste num
conjunto de procedimentos que permite ao indivíduo manipular e compreender o
mundo, tendo em conta o contexto e as experiências individuais. Estes
procedimentos envolvem mecanismos de codificação, retenção e recuperação.
Sabe-se que a memória humana possui limitações, isto é, o indivíduo é apenas
capaz de memorizar um número limitado de informações.
A memória é uma das
componentes que faz parte integrante dos processos cognitivos. Para Sternberg
(2000) a Psicologia Cognitiva trata do modo como as pessoas percebem, aprendem,
recordam e pensam sobre a informação.
Os psicólogos
cognitivos estudam as bases biológicas da cognição, as imagens mentais, a
atenção, a consciência, a perceção, a memória, a linguagem, a resolução de
problemas, a criatividade, a tomada de decisões, o raciocínio, as mudanças
cognitivas durante o desenvolvimento ao longo da vida, a inteligência humana, a
inteligência artificial e vários outros aspetos do pensamento humano.
Para uma melhor
compreensão centífica da memória humana têm sido adotadas diferentes perspetivas.
As perspetivas mais frequentes podem designar-se por perspetiva estrutural e a
perspetiva processual. Segundo a perspetiva estrutural, a memória seria
constituída por vários sistemas responsáveis pelo armazenamento e retenção da
informação quer a curto prazo quer a longo prazo. De acordo com a perspetiva
processual, a informação daria entrada na memória, permanecia lá durante um
certo tempo e por fim seria usada.
2.
MEMÓRIA
Todos os dias
recebemos inúmeras informações, as quais são selecionadas (de forma consciente
ou não), para posteriormente serem armazenadas ou eliminadas. É ao processo de
armazenamento das informações que podem ser recuperadas no futuro que
designamos de memória.
O termo memória é uma
ampla denominação para o elevado número de processos que formam as pontes entre
o passado e o presente.
A memória é o processo
cognitivo que compreende a retenção e a recuperação da informação. É um sistema
aberto em que a informação é adquirida (aquisição e codificação), armazenada
(retenção), podendo depois ser recuperada ou evocada (recordação). Lembrar
implica um processo ativo de reconstrução das informações e estímulos
anteriormente adquiridos, codificados e armazenados.
De acordo com
Albuquerque (2001), para caraterizar o conceito memória, podemos orientar-nos
por três perspetivas diferentes. No início a memória foi referida como uma
representação interna do que foi aprendido, sendo neste caso, autobiográfica,
uma vez que estaria referenciada no episódio de processamento. De seguida
a memória é considera como um processo que conduz à recordação. Pode ser então
definida como o conjunto dos processos de codificação, retenção e
recuperação da informação. Na última perspetiva, a memória consiste na sua
interpretação como uma estrutura, permitindo assim, a distinção em memória
sensorial, memória de curto prazo e memória de longo prazo.
2.1 Definição do
Conceito
Segundo Sternberg
(2000) a memória é o meio pelo qual se recorre às suas experiências passadas, a
fim de usar essa informação no presente.
A Memória é a
capacidade de adquirir, armazenar e recuperar as informações disponíveis. Para
Lent (2001), há uma sequência de eventos nos processos mnemónicos, o primeiro é
a aquisição da informação, segue-se o armazenamento e por último a recuperação
da informação através da recordação.
2.2 Fases da Memória
A memória ocupa um
lugar central entre as temáticas que são estudadas no âmbito da Psicologia
Cognitiva. A sua definição revela-se difícil, devido à sua abordagem ter sido
perspetivada de acordo com duas correntes diferentes e por vezes antagónicas: a
perspetiva estruturalista (memória sensorial, memória de curto prazo e memória
de longo prazo) e a perspetiva processual (diz respeito às atividades mentais
que executamos tendo em vista a codificação, retenção e recuperação da
informação da memória).
A conceção
estruturalista mais estudada, mostra-nos que há várias memórias, que diferem
entre si e encontram-se na unicidade e interdependência de funcionamento.
A prespetiva orientada
pelos processos, tem ajudado a compreender que as estratégias usadas em
qualquer das fases do processo mnésico: aquisição, retenção e recuperação da
informação, são fundamentais e interdependentes, ou seja a utilização de uma
estratégia numa das fases, condiciona o desempenho otimizado se não estiver
presente na noutra fase.
Sternberg (2000),
descreve que os psicólogos cognitivos identificaram três operações comuns da
memória: codificação, armazenamento e recuperação.
- Aquisição: antes de recordar temos de aprender, sem
aprendizagem não há memória. A aprendizagem pode ocorrer de diferentes
formas e depende da atenção que dámos ao evento ou acontecimento. Através
da atenção, ignoramos os estímulos que não têm interesse para nós e
retemos os que consideramos importantes, mas para os conservar é
necessário a sua codificação. Acodificação diz respeito à forma como um
item de informação é colocado na memória.
- Retenção ou Armazenamento: é a capacidade de reter e
conservar as informações, e serão utilizadas sempre que necessário. A
retenção pode permanecer por períodos mais ou menos longos. Para que seja
recordada, a experiência codificada tem de deixar algum registo no sistema
nervoso (traço mnésico), este tem de ser armazenado de forma permanente
para permitir a sua utilização futura. A retenção é uma condição
necessária para a recuperação pois não se recorda o que não se sabe.
- Recuperação ou Ativação: quando se torna necessário as
informações são ativadas e recuperadas, para as utilizar na experiência
presente. É o momento em que o indivíduo tenta lembrar-se dos conteúdos
que armazenou anteriormente. Uma das formas de recuperar as informações
armazenadas é através da recordação, que diz respeito aos nossos esforços
para produzir informação a partir da memória, em resposta a um determinado
estímulo. Os processos de recordação são responsáveis pelo acesso à
informação retida na memória e incluem, entre outros, processos explícitos
ou diretos como a evocação e reconhecimento e processos implícitos ou
indiretos como a reaprendizagem e ativação (priming).
A memória é um fator importante na aprendizagem, ela significa a
aquisição, a formação e a conservação de informações. No fundo gravamos o que
aprendemos e lembramos o que gravamos.
É graças à memória que
podemos identificar e categorizar sons, sinais, gostos e sensações, reter e
manipular informações adquiridas durante a nossa existência.
3. TIPOS
DE MEMÓRIA
Os processos de
retenção ou processos de armazenamento são
responsáveis pela conservação da informação na memória. No entanto, a memória não
é um sistema único, é antes um sistema formado por vários sistemas ou
componentes que armazenam conhecimentos de natureza e períodos de tempo
diferentes.
Os principais sistemas
de memória são a memória sensorial, a memória de curto prazo e a memória de
longo prazo, estes são processos sequênciais e operam de modo diferente.
A organização da
memória humana é geralmente concebida como sendo composta por três processos
distintos.
O primeiro processo é responsável pelo reconhecimento de padrões e dá-se na Memória
Sensorial-Motora, que envolve a associação entre um significado e um
padrão sensorial. Trata-se de um sistema de memória que, por meio da perceção
da realidade pelos sentidos, retém por alguns segundos a imagem detalhada
da informação sensorial recebida por algum dos orgãos dos sentidos. É
responsavel pelo processamento inicial da informação sensorial e da sua
codificação.
O segundo processo ocorre na Memória de Curto Prazo, que recebe as informações
anteriormente codificadas pelos mecanismos de reconhecimento de padrões da
memória Sensorial-Motora e retém as informações por alguns segundos, talvez
alguns minutos, para que sejam utilizadas, eliminadas ou até mesmo armazenadas.
O terceiro processo acontece na Memória de Longo Prazo, esta memória obtém as informações
da Memória de Curto Prazo e armazena-as. A sua capacidade de armazenamento é
ilimitada e as informações ficam armazenadas por períodos de tempo muito
longos.
3.1 Memória
Sensorial
A memória sensorial é
um sistema de memória que retém por alguns segundos a imagem detalhada da
informação sensorial recebida pelos órgãos dos sentidos.
Existem diferentes
tipos de memória sensorial : visual, auditiva, olfativa, tátil e
gustativa. Os dois tipos de memória sensorial mais relevantes são a visual e a
auditiva. São os nossos sentidos que conduzem as informações sensoriais dos
estímulos ao sistema da memória.
A memória visual ou
icónica (ícone significa imagem) permite-nos percecionar o movimento, por
exemplo quando vemos um filme, já que retemos por um curto período de tempo as
imagens, o que nos possibilita fazer a ligação entre os diversos fotogramas.
A memória auditiva ou
ecóica (eco significa repetição) permite-nos perceber o que ouvimos, pois
retemos a informação auditiva por um curto espaço de tempo, possibilitando a
ligação das frases de um discurso.
A memória sensorial é
constituída por imagens percetivas que normalmente se perdem, mas que poderão
ser processadas no armazenamento a curto ou longo prazo.
3.2 Memória de Curto
Prazo
A memória a curto
prazo é uma memória que retém a informação durante um tempo curto e limitado, a
partir do qual essa mesma informação pode ser esquecida ou movida para a
memória a longo prazo (Albuquerque, 2001).
Distinguem-se ainda
dois tipos de memória: a memória imediata e a memória de trabalho. Ambas
completam-se e formam a memória de curto prazo.
A memória imediata é aquela que retém a informação apenas
por uma fração de tempo (até 30segundos). Normalmente, conseguimos reter até
sete unidades de informação: sete dígitos, sete letras, etc.
A memória de trabalho acontece quando mantemos a informação
enquanto ela nos é útil, por exemplo quando repetimos um nome ou um número
várias vezes porque não o pudemos escrever.
Qualquer informação
que tenha estado na memória a curto prazo e que se tenha perdido é
irrecuperável.
Segundo Sternberg
(2000), o número de sílabas
que pronunciamos com cada item afeta o número de itens que podemos evocar, ou
seja quando cada item tem um maior número de sílabas, podemos lembrar menos
itens. Além disso, qualquer atraso ou interferência pode levar a nossa
capacidade de sete itens, cair para cerca de três.
Apesar da capacidade
da memória a curto prazo ser pequena, lidamos com uma quantidade enorme de
informação e será sobre esta que se desenvolverá a aprendizagem, o raciocínio e
a imaginação. O registo da informação na memória de curto prazo é efetuado a partir
de processamentos prévios que ocorrem na memória sensorial e constituem uma
primeira, e por vezes decisiva, fase de atribuição de significado à informação
processada.
O registo da
informação de curto prazo está sujeito a um rápido esquecimento, a menos que
seja repetida e com isso transferida para a memória a longo prazo.
3.3 Memória de Longo
Prazo
A Memória de Longo
Prazo tem uma capacidade de armazenamento ilimitada e pode ser armazenada por
tempo indeterminado. A recuperação da informação exige algum esforço do
organismo. A informação armazenada pode ser temporáriamente recuperada e
transferida para a memória de curto prazo.
Há dois tipos de
memória de longo prazo: a memória explícita e a memória implícita.
A Memória Explícita implica consciência do passado, de
experiências vividas, de acontecimentos, etc. Esta memória refere-se a tudo
aquilo que só podemos evocar por meio de palavras, e pode ser episódica, quando
envolve a memória de eventos que possuem uma etiqueta temporal (que acontecerem
em determinado momento no tempo) ou semântica, quando envolve a memória das
ideias e dos conceitos atemporais.
- A memória
episódica é
constantemente associada à memória autobiográfica, uma vez que se reporta
a lembranças da vida pessoal. Envolve rostos de pessoas, músicas, fatos,
experiências. É pessoal e manifesta uma relação íntima entre quem recorda
e o que se recorda. Por exemplo: a memória episódica é utilizada para nos
recordarmos do que fizemos no último aniversário. Tulving (1985, p. 387)
definiu a memória episódica como a recordação consciente de “acontecimentos
pessoalmente vividos enquadrados nas suas relações temporais”.
- A memória
semântica permite
identificar objetos e conhecer o significado das palavras. Refere-se ao
conhecimento geral sobre o mundo: leis, fatos, fórmulas, regras, etc. Não
há localização no tempo, nem ligação com qualquer ação ou conhecimento
específico. Por exemplo: a memória semântica é utilizada para nos
recordarmos que a capital de França é Paris. Tulving (1972, p. 386)
definiu a memória semântica como “uma enciclopédia mental do
conhecimento organizado que uma pessoa mantém sobre palavras e outros
símbolos mentais”,
tendo mais tarde alargado o seu âmbito para incluir “o
conhecimento do mundo de que um organismo seria portador” (Tulving, 1985, p. 388).
A Memória Implícita diz respeito aos comportamentos que
podem ser atribuídos a processamentos anteriores sem que, no momento da
realização desses comportamentos haja consciência do episódio do seu
processamento. A memória implícita não precisa ser descrita com palavras. Na
realidade, ainda que desejemos descrevê-la com palavras, a verbalização é muito
difícil ou mesmo impossível. Da memória implícita faz parte a memória de
procedimentos.
- A memória
de procedimento reúne os hábitos, as habilidades aprendidas e as regras em geral, como
por exemplo, a série de movimentos necessária para se tocar um
instrumento, andar de bicicleta ou as regras gramaticais necessárias para
se construir adequadamente uma frase.
Em suma, quando
procuramos recordar ou reconhecer o material, apoiamo-nos na memória explícita. Ao contrário, a memória implícita diz respeito aos casos em que somos
afetados por experiências passadas sem darmos conta que estamos de fato a
recordar.
A memória de longo
prazo tem o processo de formação de arquivo e consolidação, e pode durar de
minutos a décadas. São exemplos desse tipo de memória as nossas lembranças da
infância ou de conhecimentos que adquirimos na escola.
Este tipo de memória
contém as informações que nós temos disponíveis de maneira mais ou menos
permanente. A memória de longo prazo permite a recuperação de uma informação
depois de décadas armazenada e os limites da sua capacidade são desconhecidos.
Segundo Ilida (1990) a
memória de longo prazo retém informações através do processo de aprendizagem e
tem uma duração um pouco mais longa, podendo sofrer associações ou combinações
para serem lembradas seletivamente. O autor também observa que a distinção dos
dois tipos de memória, na prática, torna-se difícil, pois elas operam em
conjunto.
Como já foi referido,
existem dados que são transferidos da memória de curto prazo e estes para serem
armazenados, sofrem um processo de transformação e de codificação. Os códigos
utilizados podem ser distintos, codificação através das representações verbais
ou através de imagens (imagética).
4.
ESQUECIMENTO
A memória é seletiva e
limitada na sua capacidade de armazenamento. Por isso, o esquecimento é
condição essencial ao normal funcionamento da memória.
Podemos definir
esquecimento como a incapacidade de recordar, de recuperar dados, informações,
experiências que foram memorizadas no passado. O esquecimento pode ser
provisório ou definitivo. O esquecimento é essencial pois só continuamos, ao
longo de toda a vida a memorizar informação, porque conseguimos esquecer outra.
O esquecimento tem uma função seletiva e adaptativa, já que despreza a
informação inútil e desnecessária e os conteúdos conflituosos, impedindo um
excesso de informação acumulada no cérebro que bloquearia a captação de novas
informações.
O esquecimento está,
normalmente, mais relacionado com a memória a longo prazo uma vez que, na
memória a curto prazo, o tempo de retenção da informação é demasiado curto e
passa para a memória a longo prazo ou é apagada.
Segundo Izquierdo
(2006), esquecemos a maior parte das informações que chegam até nós. Várias
teorias já foram propostas para esclarecer porque isso acontece (Sternberg,
2008). Entre elas, estão a Teoria da
Interferência e a Teoria da Deterioração.
Para a Teoria da Interferência, a interferência ocorre quando informações concorrentes, ou seja quando a informação anterior interfere
com a nova aprendizagem. O esquecimento será o resultado da
competição entre respostas similares. À medida que a informação vai sendo
processada, a probabilidade de serem armazenadas informações muito semelhantes,
faz com que a recuperação se possa processar com maior dificuldade. Neste
contexto foram identificados dois tipos de interferência: proativa e
retroativa.
No que respeita à interferência proativa ela é tanto maior quanto maior for a
similaridade do material a processar, quanto maior for a sua quantidade e
também quanto menor for o intervalo de tempo entre a aprendizagem e a evocação.
“A interferência proativa refere-se
à dificuldade que as pessoas têm de aprender novos itens porque os itens
previamente aprendidos interferem na nova aprendizagem” (Matlin, 2004, p.
58). Nesse caso, o material que interfere está antes da aprendizagem do
conteúdo que tem que ser lembrado (Sternberg, 2008).
O índíviduo tem
dificuldades de fazer novas aprendizagens por interferência de aprendizagens anteriores,
ou seja, tem dificuldades de aprender o francês porque já aprendeu o inglês.
Já na interferência retroativa, o material que interfere está depois
que aprendemos algo, mas antes que tenhamos que recordá-lo (Sternberg, 2008).
A informação que estava
codificada e armazenada anteriormente interfere com a nova aprendizagem.
Segundo a Teoria da Deterioração, a informação é esquecida porque
desaparece gradualmente, com o passar do tempo, e não porque ela foi deslocada
por outra informação. A deterioração acontece quando a simples passagem do tempo faz com que esqueçamosos conteúdos
e informações (Sternberg, 2008).
Segundo Izquierdo
(2007, p. 17), “talvez o esquecimento seja o aspecto
mais predominante da memória; mas conservamos e usamos suficientes memórias ou
fragmentos de memória para ter um desempenho ativo, funcional e relativamente
satisfatório como pessoas”. Ainda segundo o mesmo autor, existe algo de seletivo e proposital no nosso esquecimento. Afinal, a nossa
capacidade de formar novas memórias está intimamente ligada à sua perda
(Izquerdo, 2006).
Concluindo, não
podemos falar de memória sem falar de esquecimento, uma vez que o esquecimento
não pode ser encarado como uma lacuna da memória, já que ele é condição da
própria memória: é porque esquecemos que continuamos a reter. O esquecimento é
então a incapacidade de reter, recordar ou reconhecer uma informação.
5
APRENDIZAGEM
Aprendizagem é uma
modificação relativamente estável do comportamento ou do conhecimento, que
resulta do exercício, experiência, treino ou estudo. É um processo que,
envolvendo processos cognitivos, motivacionais e emocionais, manifesta-se em
comportamentos.
No entanto, é preciso
notar que nem todas as mudanças de comportamento resultam da aprendizagem.
Alguns comportamentos atualizam-se naturalmente sem necessidade de aprendizagem
porque fazem parte da matriz genética.
A aprendizagem é um
processo cognitivo que nos humaniza, sendo essencial na adaptação ao meio.
Segundo Campos (1986,
p.30) “A aprendizagem pode ser definida como
uma modificação sistemática do comportamento, por efeito da prática ou da
experiência, com um sentido de progressiva adaptação ou ajustamento.”
“A aprendizagem é uma capacidade que pomos em acção quotidianamente para dar
respostas adaptadas às solicitações e desafios que se nos colocam devido às
nossas interacções com o meio” (Jorge Pinto, 1999).
A memória serve para
aprender, logo devemos ter em conta o conceito de aprendizagem, já que “A aprendizagem e a memória estão intimamente relacionadas, …” (Rosário, 2004).
Podemos dizer que a aprendizagem é a mudança manifesta de comportamento como
resultado de influências práticas ou experienciais. Além disso, ela é também o
processo mediante o qual interiorizamos uma série de comportamentos e
capacidades intelectuais.
É devido à capacidade
para aprender, que o ser humano consegue uma melhor adaptação ao meio que o
rodeia. A maior parte da aprendizagem que o homem adquire é consequência da
imitação de outras pessoas. A memória intervém decisivamente no processo de
imitação, já que ela permite a retenção daquilo que se observa para posterior
reprodução.
Aprendemos de forma
consciente e com o objetivo de que as aprendizagens nos possam servir no
futuro.
Um outro aspeto tem a
ver com o período de aprendizagem, já que este tem a mesma duração que a
existência da pessoa, pois a aquisição de novos conhecimentos só termina com o
desaparecimento do indivíduo.
5.1 Aprendizagem e
Memória
Compreender a memória
humana é uma das tarefas importantes da pesquisa psicológica e dos psicólogos
cognitivos.
A aprendizagem é o
processo através do qual nós adquirimos conhecimento, já a memória é o processo
pela qual essa aprendizagem é codificada, retida e posteriormente evocada ou
recuperada. A aprendizagem é um processo pelo qual nós adquirimos novos
conhecimentos, por sua vez a memória é o processo pelo qual retemos os
conhecimentos aprendidos.
Riesgo (2006) afirma
ainda que, do ponto de vista neurobiológico, existe algo como um “filtro” que
classifica as informações em conhecidas ou desconhecidas. “É justamente aqui que reside a relação entre memória e a aprendizagem, na
distinção entre as informações já consolidadas e as inteiramente novas” (RIESGO et al., 2006, p. 270).
A memória e a aprendizagem
estão intimamente relacionadas, são processos complementares. Sem memória os
processos de aprendizagem estavam sempre a iniciar-se, pondo em causa todo o
processo de adaptação do ser humano, pois é a partir de aprendizagens retidas
que se processam novas aprendizagens. Por isso, a memória é fundamental ao
permitir que as aprendizagens se mantenham e possam ser utilizadas quando
necessário.
Aprendizagem e memória
são conceitos fundamentais para a noção da individualidade. A forma peculiar de
nós pensarmos, sentirmos e agirmos depende do que aprendemos e armazenamos na
nossa memória durante a nossa vida. Cada indivíduo vive experiências distintas,
por isso as pessoas terão, forçosamente, memórias e histórias diversas para
contar, bem como mentes singulares para assimilar novos conhecimentos.
Para Cardoso (2006) a
memória é uma faculdade cognitiva extremamente importante porque forma a base
para a aprendizagem. Assim a memória envolve um complexo mecanismo que abrange
o arquivo e a recuperação de experiências, portanto está intimamente associada
à aprendizagem.
Considerando-se que a
aprendizagem envolve a função intelectual do ser humano, e que esta só é
possível a partir das informações que temos registadas na memória, ou seja
informações memorizadas, podemos dizer que os processos de memorização trazem
influências diretas na aprendizagem.
Aprender envolve o
raciocínio, que nada mais é do que comparar informações que temos na memória.
Podemos dizer que existe diferença entre: aprender e lembrar, sendo que ambas
as habilidades são complementares e essenciais para o desenvolvimento de um
processo de aquisição de novos conhecimentos.
Pode afirmar-se que
não há aprendizagem sem memória: é graças à memória e aos processos mnésicos
que retemos o que aprendemos.
6
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao concluir este
trabalho, percebi que a memória humana representa um papel crucial no
funcionamento do sistema cognitivo e poderá ser responsável por algumas
diferenças no desempenho e performance dos indivíduos na execução das várias
tarefas a realizar. Sem memória, isto é, sem um sistema de retenção e
recordação não seria possível ver, ouvir, falar, nem pensar.
A memória ainda é uma
área de difícil estudo devido à sua ligação com o sistema nervoso e cérebro. No
entanto, é essencial conhecê-la para a podermos utilizar melhor, contribuindo
positivamente para o sucesso académico, profissional e pessoal do indivíduo.
Embora a memória
apresente falhas em alguns momentos, é um sistema sabiamente voltado para que
possamos atuar eficazmente no nosso meio. As informações que normalmente nos
auxiliam são mantidas e, aquelas que não cumprem essa função, tendem a ser
eliminadas.
Este trabalho
pretendeu apresentar uma breve análise e reflexão sobre a memória e os
processos inerentes à mesma, bem como a sua influência na aprendizagem. Espero
de alguma forma, ter contribuído para uma melhor elucidação acerca do tema
proposto.
Conclui-se que, apesar
de existirem várias definições dos conceitos e diferentes teorias de diversos
autores, relativas ao mesmo tema, o objectivo final é similar, ou seja
compreender o funcionamento da memória humana e o seu contributo no processo de
aprendizagem e consequentemente aumento da performance do indivíduo.
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