Vida e obra de Viriato da Cruz
VIDA E OBRA VIRIATO CLEMENTE DA CRUZ
Viriato Francisco Clemente da Cruz nasceu em Porto
Amboim, aos 25 de Março de 1928 e morreu em Pequim, República Popular da China
aos 13 de Junho de 1973. Foi considerado um importante impulsionador de uma
poesia angolana, nas décadas de 1940, 1950 e 1960, e um dos líderes da luta
pela libertação de Angola.
Actividade
Política
Viriato cresceu numa
família em situação económica difícil, uma vez que o seu pai o tinha
abandonado. Apesar destas dificuldades, fez estudos liceais no Liceu Salvador
Correia. Nos anos 1950 esteve em contacto com a movimentação anticolonial
clandestina em Luanda, incluindo o Partido Comunista Angolano (PCA), fundado
naquela altura. Abandonou Angola por volta de 1957 para se dirigir a Paris onde
se encontrou com Mário Pinto de Andrade, desenvolvendo actividades políticas e
culturais.
A primeira digressão
pela China Continental foi em Novembro de 1958, e durou 3 semanas. Tanto
Viriato da Cruz e Mário Pinto de Andrade foram a Pequim, Xangai e Guangzhou
(Cantão).
Tal como Mário Pinto
de Andrade, Viriato participou na fundação, no exterior de Angola, do Movimento
Popular de Libertação de Angola (MPLA), em 1960, tornando-se o seu
secretário-geral. Nesta capacidade fez parte de uma delegação da recém-formada
FRAIN (Frente Revolucionária Africana pela Independência Nacional dos Povos sob
Domínio Português) que, ainda em Agosto de 1960, fez uma viagem à China para
obter apoios. Este foi um passo fundamental para Viriato da Cruz. Ele trouxe
dinheiro que ajudou a nível político-militar e financeiro o MPLA.
Em 1962, Viriato da
Cruz abandonou o cargo de secretário-geral do MPLA, devido a insanáveis
divergências com o presidente do movimento, Agostinho Neto, e foi formalmente
expulso, em 1963.
Nos dias 24 e 30 de Abril
de 1963, Viriato da Cruz participou na Conferência de Jornalistas
Afro-Asiáticos, patrocinada pelos regimes de Ahmed Sukarno e Mao Zedong, que
levou à fundação da respectiva associação, que excluía propositadamente a União
Soviética, recorrendo ao argumento que eram "brancos". Por outras
palavras, ajudou a instituir mais um organismo rival criado pela China
Continental, contra a União Soviética. Viriato integrou a mesa da presidência
da reunião, em representação de Angola.
Na
China
Valendo-se dos
contactos anteriores, Viriato da Cruz viaja em 1966 para Pequim onde mais tarde
fixaria residência. A sua chegada deu-se, assim, no início da Revolução
Cultural Chinesa, e foi recebido pelos dirigentes chineses, dentro do espírito
daquele período chineses.
Os dirigentes
chineses recebem-no de braços abertos, pois tinha demonstrado uma enorme
capacidade na criação do primeiro Partido Comunista de Angola (PCA) e,
posteriormente, do MPLA, primeiro em Conacri e, depois, no Congo Belga (neste
foi detido e sofreu torturas, por defender ideias contrárias às estabelecidas).
Uma das suas primeiras acções foi o de ajudar a dividir a Organização de
Escritores Afro-Asiáticos (OEAA), no decorrer da sua Assembleia Geral
Extraordinária, que decorreu em Pequim entre os dias 27 de Junho e 9 de Julho
de 1966, em duas agremiações distintas: a pro-soviética, baseada no Cairo, e a pro-chinesa,
com sede em Pequim e em Colombo, no Sri Lanka. Os chineses entendiam que Viriato
da Cruz poderia facilitar a penetração ideológica do socialismo maoísta no
continente africano - o que não sabiam era que estavam profundamente enganados;
daí nasceu um grave mal-entendido com consequências trágicas para Viriato e
para a sua família.
Pouco tempo depois
instaram-no a proferir um discurso nas comemorações do dia nacional da
República Popular da China, 1 de Outubro de 1966. Em nome do povo angolano,
Viriato da Cruz exaltou o pensamento do dirigente máximo chinês, as actividades
dos Guardas Vermelhos e a "revolução cultural" em curso. Para as
derrotar era necessário constituir uma "frente única internacional"
contra o imperialismo americano e o imperialismo russo, que congregasse os
povos da Ásia, da África e da América Latina.
Elabora um relatório
onde afirma que os países Africanos, mesmo os mais desenvolvidos, não estão
preparados para uma revolução socialista. Demonstra então grande firmeza ao
recusar-se a mudar o relatório. Esse aspectos do seu carácter já lhe tinha
valido graves dissabores na sua curta vida política quando da crise de 1962-63,
no seio do MPLA. O relatório pessimista elaborado por Viriato ia contra a
doutrina maoísta da iminência da revolução mundial.
Os chineses começaram
a ver que Viriato se distanciava cada vez mais das teses maoístas e
mantiveram-no como refém. Ele não entendia porque não o expulsavam. Mas os
Chineses temiam a inteligência superior de Viriato e as consequências negativas
que ele poderia causar à causa maoísta se saísse da China.
Últimos
anos de vida na China
Com o claro propósito
de precipitar a expulsão do seu marido e família da China, a mulher de Viriato,
Maria Eugénia, derrubou o busto do presidente Mao Zedong. O efeito foi
precisamente ao contrário, as autoridades chinesas desterraram-nos para um
campo de trabalho na região sul da cidade de Pequim. Os últimos anos de vida de
Viriato foram marcados por falta de alimentos, colidindo na fome que acabou por
fragilizá-lo. Veio a falecer no dia 13 de Junho de 1973. No entanto, a
derradeira humilhação foi a maneira abjecta como foi levado para o cemitério
dos estrangeiros: entaipado entre quatro tábuas, transportado num camião
militar.
Principais
obras
- Poemas (1961). Entre os seus textos poéticos,
destacam-se Namoro, Sô Santo e Makézu.
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
- Edmundo Rocha, Francisco Soares, Moisés Fernandes
(orgs.), Viriato da Cruz: O homem e o mito, Lisboa: Prefácio e
Luanda: Chá de Caxinde, 2008