A decisão

INTRODUÇÃO
A articulação deste discurso com a prática real passa necessariamente por analisar, fundamentar  e operacionalizar os conceitos essenciais relativos ao currículo e à sua gestão, de modo a procurar formas de gerir e organizar a escola com mais eficácia e qualidade e com maior satisfação e sucesso - quer  para os profissionais que nela trabalham quer, sobretudo,  para os alunos que a frequentam e a quem ela se destina.   Esses conceitos essenciais são os de currículo, gestão curricular e profissionalidade os que afinal estavam em presença no relato com que se iniciou este texto: o currículo que me apresentaram, vinha contido no manual, a gestão que me foi proposta traduzia-se na ocupação/programação  semanal das horas distribuídas,  seguindo o manual e “dando notas” após o teste, a profissionalidade em que me introduziu o velho director traduzia-se em  dar cumprimento a estas directrizes, integrando-me, o melhor que pudesse, no grupo de colegas.



NÍVEIS DE DECISÃO: CENTRAL, INSTITUCIONAL, GRUPAL OU INDIVIDUAL; PESSOAL E INTERPESSOAL
As decisões sobre o currículo implicam sempre uma variedade de níveis de amplitude:
 O  nível central - Que é preciso aprender nas escolas de um país? Que modos de ensinar são recomendados.
 O nível institucional - Como vai a escola A ou B  assegurar eficazmente as aprendizagens aos seus alunos, no concreto? Que opções toma como escola? Que face quer ter para o público, valorizando e afirmando-se sobretudo em quê?
 O nível grupal - Que decisões particulares é preciso tomar ao nível dos grupos de professores (formais, instituídos ou informais?)
 O nível individual - Que fazer cada dia na acção educativa concreta, face aos alunos com que se trabalha?
Se considerarmos, por outro lado,  não só os níveis de amplitude das decisões, mas também a sua natureza, podemos ainda identificar outros tipos de decisão:   decisões de natureza pessoal - a preferência por uma estratégia, a forma de dispor os alunos, as iniciativas pessoais  decisões de natureza interpessoal - trabalhar uma estratégia em articulação com os outros do grupo (por exemplo, aplicar técnicas de desenvolvimento da capacidade de observação ou registo, priorizar a realização de tarefas de apresentação estruturada de ideias pelos alunos).
 Os  dois níveis não se confundem, mas podem e devem articular-se.  Se um grupo de professores decide trabalhar o sentido de observação nos alunos (decisão grupal, gestão curricular de uma aprendizagem ), cada um deles vai ainda operacionalizar outro nível de decisão - com que actividades vai desenvolver essa aprendizagem? Para realizar essa decisão terá de gerir o processo de aprendizagem, tendo em conta: Num exemplo oposto, uma direcção assiociativa ou desportiva colegial, por exemplo, as decisões e a gestão são assumidas paritariamente pelos elementos do órgão de direcção. Contudo é óbvio que as decisões têm contributos mais influentes de alguns dos membros do órgão do que de outros.
 Ou seja, importa distinguir, ao falar de decisões, os agentes ( os responsáveis pela assunção da decisão) dos parceiros ( os intervenientes e interlocutores), bem como não confundir  o tipo de instância decisora (individual, grupal, colegial) do modo como essa instância exerce a função de decidir (mais ou menos participado, mais ou menos partilhado com outros).
 Servem  estes exemplos para ilustrar o seguinte:
A gestão e as decisões que ela implica envolvem sempre uma diversidade de parceiros, com graus diversos de intervenção no processo a gestão é assumida por quem tem a responsabilidade funcional mas pressupõe negociação entre parceiros e consideração dos seus interesses e perspectivas;
 Os parceiros não coincidem sempre com os intervenientes na decisão (os agentes) alguns parceiros serão agentes, outros não, dependendo da sua implicação, papel e responsabilidade funcional na actividade em causa e nas decisões respectivas.
 Assim, por exemplo, os doentes e as famílias dos doentes são parceiros a ouvir nas decisões da gestão de um hospital, mas não são decisores directos.  Os empresários de uma região são parceiros nas decisões da escola, mas não são agentes dessa decisão. 
Os pais, sendo parceiros privilegiados, também não são decisores directos  na escola, mas poderá haver campos da acção da escola em que o sejam , em parceria com os responsáveis da escola (p.e. a organização dos tempos livres ou de um centro de recursos).
 No caso da educação escolar actual, o professor é o responsável pela função de ensinar e a escola a instituição a quem compete essa função e que responde socialmente por ela.  Ao nível local e institucional eles são assim os decisores e os responsáveis directos, no quadro de uma responsabilidade nacional que é a que cabe à administração central e ao governo de cada país.A escola funciona como instituição social, interagindo com muitos outros parceiros, a dois níveis:
•  os mais directamente interessados  - pais e empregadores
•  a comunidade em sentido global, com as suas outras instituições, serviços e actividades,  a quem interessa a educação e a sua qualidade, enquanto componente da melhoria da vida social e do bem-estar da comunidade.
Assim as decisões da escola terão que resultar da interacção com estes dois tipos de parceiros, sem que isso signifique substituição da sua responsabilidade ao nível das decisões que lhe cabem.




CONCLUSÃO
Chega-se a conclusão de que o exercício profissional numa perspectiva de gestão da acção curricular implica que a formação dos docentes (inicial e contínua) se oriente no sentido dessa filosofia e que integre determinadas áreas de conhecimento, como Teoria das Organizações, Gestão Estratégica, Teoria e Gestão Curricular, entre outras.  Mas essas áreas já existem nos planos de formação inicial de muitas instituições;  numerosos  professores já frequentaram muitas acções de formação nesses domínios ou muito próximos.  E contudo essa  formação, que é fundamental, não garante, por si, a autonomia crescente do profissional neste domínio. Toda e qualquer formação extrínseca não atinge a mudança de práticas se não for apropriada pelos próprios no seu trabalho conjunto face às situações.  O conhecimento teórico é base fundamental, mas muito mais essencial é utilizá-lo para  aprender a teorizar as situações, a produzir e reconstruir conhecimento a partir delas.  Caso contrário, o conhecimento permanece como informação inerte e não se transforma num ^”saber em uso”, corporizado em competências de acção e reflexão.



BIBLIOGRAFIA

ü  Roldão, M.C.  – Gestão Curricular – Fundamentos e Práticas. ME-DEB , 1999