a comunicação no mundo globalizado
INTRODUÇÃO
Os
sistemas de comunicação em tempo real determinam a estrutura de organização do
planeta. O que se convencionou chamar de comunicação no mundo globalizado. Este
trabalho pretende registrar algumas fases de abertura do mundo, na história das
formas sociais que o processo de inter- nacionalização foi assumindo no correr
do tempo. A interconexão generalizada das economias e das sociedades é,
comefeito, o resultado do movimento de integração mundial que foi iniciado na
virada do século XIX.
É
um fenômeno gerado pela necessidade da dinâmica do capitalismo de formar uma aldeia
global que permita maiores mercados para os países centrais (ditos
desenvolvidos) cujos mercados internos já estão saturados. O processo de
Globalização diz respeito à forma como os países interagem e aproximam pessoas,
ou seja, interliga o mundo, levando em consideração aspectos econômicos,
sociais, culturais e políticos. Com isso, gerando a fase da expansão
capitalista, onde é possível realizar transações financeiras, expandir seu
negócio até então restrito ao seu mercado de atuação para mercados distantes e
emergentes, sem necessariamente um investimento alto de capital financeiro,
pois a comunicação no mundo globalizado permite tal expansão, porém, obtêm-se
como consequência o aumento acirrado da concorrência.
A COMUNICAÇÃO NUM MUNDO GLOBALIZADO
Os
sistemas de comunicação em tempo real determinam a estrutura de organização do
planeta. O que se convencionou chamar de comunicação no mundo globalizado. Este
trabalho pretende registrar algumas fases de abertura do mundo, na história das
formas sociais que o processo de internacionalização foi assumindo no correr do
tempo. A interconexão generalizada das economias e das sociedades é, com efeito,
o resultado do movimento de integração mundial que foi iniciado na virada do
século XIX. Ampliando progressivamente o campo de circulação de pessoas, como
também de bens materiais e simbólicos, os instrumentos de comunicação têm
acelerado a in- corporação das sociedades particulares em grupos cada vez
maiores, redefinindo continuamente as fronteiras físicas, intelectuais e
mentais.
Comunicação é um campo de conhecimento acadêmico que
estuda os processos de comunicação humana. Entre as subdisciplinas da
comunicação, incluem-se a teoria
da informação, comunicação
intrapessoal, comunicação
interpessoal, marketing, publicidade,,propaganda, relações,,públicas, análise,,do,,discurso, telecomunicações e Jornalismo.
Também se entende a comunicação como o
intercâmbio de informação entre sujeitos ou objetos. Deste ponto de vista, a comunicação
inclui temas técnicos (por exemplo,,as,,telecomunicações),,biológicos,,(por,,exemplo, fisiologia, função e evolução,e,,sociais,,(por,,exemplo,,jornalismo,,relação,,públicas,,publicidade,audiovisual e média.
A comunicação humana é um processo que
envolve a troca de informações, e utiliza os sistemas simbólicos como suporte para este fim. Estão
envolvidos neste processo uma infinidade de maneiras de se comunicar: duas
pessoas tendo uma conversa face a face, ou através de gestos com as mãos,
mensagens enviadas utilizando a internet, a fala, a escrita que permitem interagir com as outras
pessoas e efetuar algum tipo de troca informacional.
No processo de comunicação em que está
envolvido algum tipo de aparato técnico que intermedia os locutores, diz-se que
há uma comunicação mediada.
O estudo da Comunicação é amplo e sua
aplicação é ainda maior. Para a Semiótica, o ato de comunicar é a materialização
do pensamento/sentimento em signos conhecidos pelas partes envolvidas.
Estes símbolos são então transmitidos e reinterpretadas pelo receptor. Hoje, é
interessante pensar também em novos processos de comunicação, que englobam as
redes colaborativas e os sistemas híbridos, que combinam comunicação de massa e
comunicação pessoal e comunicação horizontal.
O termo comunicação também é
usado no sentido de transportes (por exemplo, a comunicação entre duas
cidades através de trens).
Sociedade global, Aldeia
global, Sociedade pós-industrial, Sociedade da informação, Sociedade em rede,
Sociedade tecnológica, Sociedade do conhecimento. Não importa como chamemos o
momento histórico-cultural que estamos experimentando, marcado por
transformações de toda ordem, em qualquer parte do mundo. É fundamental, no
entanto, reconhecer as mudanças surpreendentes movidas pelo advento das
Tecnologias da Informação na Comunicação (TICs
SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO
Os autores que discutem o
vasto território da sociedade da Informação enfocam o assunto nos mais
diferentes ângulos e objetivos, como também pelos mais distintos pressupostos
teóricos. sociedade global, aldeia global, sociedade pós-industrial, sociedade
da informação, sociedade em rede, sociedade tecnológica, sociedade do
conhecimento, não importa a nomenclatura destinada à sociedade atual, pois
todas elas têm algo em comum: discutem a sociedade a partir da mudança de
paradigma causado pela avalanche de informações midiáticas. Esta teve seus
primórdios com o telégrafo e as ondas radiofônicas, mas seu boom foi
consolidado especialmente a partir dos anos 60, após a eclosão do fenômeno
televisivo e, mais tarde, com o aperfeiçoamento do computador e o surgimento da
Internet.
A sociedade global seria
composta por um conjunto de ‘sociedades globais’ que se tocam, mas no fundo,
excluem-se. Uma idéia elaborada em 1950 continua atual, a globalização
acentuada pelas inovações tecnológicas faz com que as regiões locais participem
de fenômenos globais – de consumo e midiáticos –, mantendo, porém, suas
especificidades regionais (G. Guervitch apud Ortiz, 2003).
Alvin Toffler (1997) acredita
que vivemos em uma sociedade pós-industrial. O autor popularizou suas idéias em
especial em “A terceira onda”, quando desenvolveu o conceito de uma sociedade
diferente da industrial e agrária ao discutir uma teoria pós-industrial. Ele
debate as transformações na sociedade trazidas por ondas: 1. revolução
agrícola, 2. revolução industrial e 3. revolução tecnológica. Com a
convergência tecnológica – o computador aliado aos telefones celulares, TV
Digital, TV a Cabo – permite-nos aferir que estamos no limiar da terceira onda,
marcada pelas grandes mudanças que proporcionam as comunicações e a intensa
troca de informações.
Com o extraordinário
desenvolvimento científico e tecnológico experimentado na segunda metade do
século XX, estabeleceram-se as condições e o cenário para a convergência entre
a informática, a eletrônica e a comunicação. Este fato leva o computador a
centralizar funções que antes eram apresentadas por diversos meios
comunicacionais. As tecnologias digitais, segundo Pierre Lévy, “surgiram como a
infra-estrutura do ciberespaço, novo espaço de comunicação, de sociabilidade,
de organização e de transação, mas também novo mercado da informação e do
conhecimento” (1999). O ciberespaço abre caminhos para a cibercultura, pela
qual a produção e a disseminação de informações são pautadas pelo dispositivo
comunicacional todos-todos. Assim, não há apenas um emissor, mas milhares.
Assim como as ondas de
Toffler, Pierre Lévy defende que a sociedade passou por três etapas: 1. as
sociedades fechadas, voltadas à cultura oral; 2. as sociedades civilizadas,
imperialistas, com uso da escrita; e, por último, 3. a cibercultura, relativa à
globalização das sociedades. A cibercultura “corresponde ao momento em que
nossa espécie, pela globalização econômica, pelo adensamento das redes de comunicação
e de transporte, tende a formar uma única comunidade mundial, ainda que essa
comunidade seja – e quanto! – desigual e conflitante” (1999). Revista
Ciberlegenda/UFF - Ano 10 - número 20 - junho/2008
A imagem de aldeia global foi
criada, na década de 1960, pelo canadense Marshall McLuhan. Autor de "O
meio é a mensagem" previu as transformações sociais provocadas pela
revolução tecnológica. Com a metáfora, queria dizer que o progresso tecnológico
estava levando o planeta à mesma situação de uma aldeia, ou seja, a
possibilidade de se intercomunicar diretamente com qualquer pessoa que nela
vive. Por este princípio, o mundo seria interligado, com estreitas relações
econômicas, políticas e sociais, fruto da evolução das Tecnologias da
Informação e da Comunicação (TICs). Essa profunda interligação entre todas as
regiões do globo originaria uma poderosa teia de dependências mútuas e, desse
modo, promoveria a solidariedade e a luta pelos mesmos ideais em prol do
desenvolvimento sustentável da Terra, superfície e habitat desta ‘aldeia
global’.
Sobre ‘a sociedade em rede’,
Manuel Castells ressalta que a sociedade voltada ao uso da informação traz a
idéia de que as novas tecnologias da informação estão integrando o mundo em
redes interligadas globalmente. Estas se tornam fonte de formação, orientação e
desorientação da sociedade. Por isso, “a informação representa o principal
ingrediente de nossa organização social, e os fluxos de mensagens e imagens
entre as redes constituem o encadeamento básico de nossa estrutura social”.
Pode-se, assim, visualizar uma sociedade que mudou a dinâmica nas relações que
envolvem troca de informações, migrando do meio geográfico (físico) para o meio
virtual oferecido pelas redes. Com isso, há também transformações nas relações
de poder. O poder está nas mãos de quem detém as conexões que ligam as redes
como, por exemplo, os “fluxos financeiros assumindo o controle de impérios da
mídia que influenciam os processos políticos” (1999).
Apesar de o mundo parecer
unificado pelas redes e pela transposição das fronteiras, Othon Jambeiro (2000)
atenta que o conceito de sociedade mundial não elimina o fato de existirem
sociedades particulares, com culturas, etnias e tradições próprias – a noção de
coexistência entre global e local.
Defende-se a crença de que
haverá tantas sociedades da informação quantas forem as sociedades, porque cada
sociedade usará as novas tecnologias e alternativas de serviços de acordo com
suas necessidades prioritárias específicas e assim consolidará seu futuro. A
construção de uma abrangente sociedade mundial da informação implicará a
expansão das oportunidades de cada sociedade para realçar sua distinção. E tudo
isso dependerá de uma imensa infra-estrutura, montada em nível mundial, sobre
plataformas nacionais – integradas ou não, econômica e culturalmente, em
macro-regiões (2000: 210-211). Revista Ciberlegenda/UFF - Ano 10 - número 20 -
junho/2008
A infra-estrutura montada para
integração das diversas sociedades já é realidade hoje, porém os países 3
produtores de tecnologia e conhecimento detêm a vantagem sobre os países pobres
ao produzirem e comercializarem hardware e software. Estes monopolizam desde a
produção de peças até o gerenciamento da rede; já os países pobres participam
do processo como consumidores.
INTEGRAÇÃO PLANETARIA
Uma nova sociedade advinda da
revolução tecnológica. Esta parece uma constatação unânime entre os argumentos
que explicam esta integração planetária. Esta Revolução tecnológica supõe uma
quebra de paradigma. Que paradigma? Para Thomas Khun, paradigma é o conjunto de
problemas e soluções que dirigem as investigações de um grupo, num determinado
tempo. Se aceitarmos esta noção, o momento de ‘ruptura’ aconteceu muito antes
do advento da alta tecnologia.
Nos séculos XVI e XVII, o
Ocidente viveu mudanças fundamentais em direção a um espírito crítico,
impulsionado por descobertas revolucionárias na física e na astronomia,
culminando nas realizações de Copérnico, Galileu e Newton. De uma idéia de que
o mundo forma uma totalidade finita, ordenada, em que todas as coisas têm um
lugar definido, como num imenso organismo (Paradigma Medieval ou
Salvacionista), constitui-se uma noção de mundo como se fosse uma máquina –
universo mecânico. A ‘máquina’ converteu-se na metáfora dominante na era
moderna. Foi um caminho que os historiadores chamaram de a ‘Idade da Revolução
Científica’ (Capra, 1993).
A ciência do século XVII
baseou-se em novos métodos de investigação: a indução –, defendida por Francis
Bacon, que envolvia a descrição matemática da natureza, e o método analítico de
raciocínio concebido por Descartes – a dedução. “Cogito, ergo sum – Penso, logo
existo” – a célebre dedução de Descartes, foi a chave para a enunciação do seu
método, que
3 Manuel Castells (1999, p.
99) afirma que a primeira revolução da tecnologia da informação foi
norte-americana, especificamente advinda da Califórnia. O Japão contribuiu com
a base em Eletrônica e a popularização de produtos voltados à tecnologia da
informação como videocassetes, fax, bips. A Inglaterra, França, Alemanha e
Itália contribuem com as descobertas científicas que constituíram a base das
novas tecnologias de Eletrônica e Biologia. “As empresas, instituições e
inovadores norte-americanos não só participaram do início da revolução da
década de 1970 como também continuaram a representar um papel de liderança na
sua expansão, posição que provavelmente se sustentará ao entrarmos no século
XXI”. Revista Ciberlegenda/UFF - Ano 10
- número 20 - junho/2008
consiste em decompor
pensamentos e problemas em suas partes componentes (particular) e em dispô-las
em sua ordem lógica para se entender o todo (universal). Sua intenção era a
emancipação do homem, desvencilhando-se de qualquer poder político ou
religioso, tanto que imaginou o homem como sujeito. Mas ao colocar como
princípio de verdade as idéias ‘claras e distintas’, Descartes motivou a
separação entre sujeito pensante – ego cogitans – e a coisa extensa – res
extensa. Em outras palavras, atribuiu a tarefa de reflexão à filosofia e a do
conhecimento à ciência, estabelecendo um ‘pensamento disjuntivo’ (Morin, 2006:
11).
As grandes contribuições de
Bacon e Descartes propiciaram a Isaac Newton a possibilidade de complementar o
trabalho, ao desenvolver uma completa formulação matemática da concepção
mecanicista da natureza. O universo newtoniano era, de fato, um gigantesco
sistema mecânico que funcionava de acordo com leis matemáticas exatas. O
Paradigma Mecanicista, fruto dessa Revolução Científica, portanto, orientou e
modelou a ciência moderna, com sua tendência à quantificação, previsibilidade e
controle, instituindo o primado do experimentalismo e do determinismo.
No mesmo sentido, a autonomia
do ser humano conquista um marco decisivo com o Iluminismo. A Aufklarung de
Kant objetivava permitir o acesso do homem à maioridade, pelo uso da razão,
sacudindo todas as tutelas religiosas e políticas. Essa autonomia pela razão
trouxe outras conseqüências, como “a atomização do homem, separado dos outros
homens e desmembrado, ele próprio, em três papéis diferentes e às vezes
contraditórios: o de cidadão, enquanto membro da sociedade política, o de
burguês, enquanto agente econômico, e o de particular, enquanto indivíduo e
membro de uma família” (Rouanet, 1987). Os ideais iluministas vislumbravam um
ser livre, ser sujeito e ser livre como sinônimos. Mas a má interpretação dessa
autonomia estabeleceu marcas indeléveis ao homem moderno: o individualismo se
sobrepõe ao ser social, coletivo (Moreira in Medina e Greco, 1993: 135-153).
A cosmovisão moderna, que nos
trouxe imensos benefícios através do incontestável e espetacular progresso
tecnológico, ocasionou, no entanto, um padrão de atitudes determinado pela
concepção moderna de mundo – racionalista, mecanicista e reducionista.
Este conjunto de fatores
altera significativamente as relações de poder no Ocidente. A autonomia
iluminista torna o homem o centro e a finalidade do mundo (visão
antropocêntrica), imbuído da missão de ‘explorar os recursos do planeta’. A
ascensão definitiva da burguesia e a Revista Ciberlegenda
própria Revolução Industrial,
portanto, são consequências dessa rutura com o pensamento medieval (regido pela
Escolástica Tomista). A separação do sagrado e do profano e, fundamentalmente,
a disjunção das funções da Filosofia – reflexão – e da Ciência – produção de
conhecimento – elaboraram um novo padrão de “problemas e soluções que dirigem
as investigações de um grupo, num determinado tempo” (Khun).
Dessa forma, quando se destaca
a ‘máquina a vapor’ como símbolo do progresso e do desenvolvimento, na
Revolução Industrial, há que se refletir, ao mesmo tempo, como uma conquista do
homem para substituir sua força física, mas também como decorrência de
investimentos da burguesia – através da ciência e da tecnologia – para sua
maior produção (e lucro). Esta reflexão também é necessária quando ressaltamos
outros ícones das conquistas humanas, como o avião, os satélites, os ônibus
espaciais ou as armas de destruição em massa. Sim, porque a produção do
conhecimento (Ciência) dissociada do pensar (Filosofia) colocou muitos de seus
esforços exclusivamente a serviço do poder e do lucro.
Se a penicilina foi
desenvolvida em tempos de guerra, também foi a guerra o cenário para o
aperfeiçoamento do rádio. A Guerra Fria – final da 2ª Guerra aos anos 80 –, não
casualmente, foi um período de extraordinário progresso tecnológico. A corrida
armamentista e a corrida espacial exigiram comunicações melhores e mais
seguras, como os equipamentos de codificação, decifração e transmissão de
mensagens – computadores. E aqui vale frisar que a própria Internet surgiu para
uso militar.
Sobre o inegável e presente
processo de globalização, a grande questão, nos parece, é como a sociedade –
heterogênea – poderá desenvolver-se com competência e sabedoria para usufruir
dos benefícios deste processo e contornar os seus inevitáveis problemas. O
histórico jogo de hegemonia e contra-hegemonia nunca esteve tão evidente e
precisa ser encarado e refletido.
DESAFIOS DA COMUNICAÇAO NO SÉCULO XXI
Estas críticas ao fascínio,
pela Revolução Tecnológica estão longe de um fatalismo. Em pleno apartheid,
Mandela e Biko persistiram que as crianças sul-africanas aprendessem o idioma
predominante – o inglês –, pois tinham consciência de que as lutas pela
igualdade de direitos e de oportunidades dependiam da apropriação dos recursos do
colonizador Revista Ciberlegenda/UFF - Ano 10 - número 20 - junho/2008
europeu, inclusive a língua.
Na mesma linha de raciocínio, o que pretendemos é sustentar a necessidade de
toda a sociedade apropriar-se dos produtos e dos recursos dessa Revolução Tecnológica.
É necessário, no entanto, que esse processo de apropriação seja refletido por
uma visão sistêmica, complexa.
Seria uma limitação
intelectual imperdoável negar as possibilidades das Tecnologias de Informação
na Comunicação. A eficiência e a agilidade que proporcionam para a comunicação
entre pessoas permitem vislumbrar avanços incalculáveis em todos os campos, em
especial na educação, enfoque que pretendemos nos concentrar a partir de agora
nesta reflexão.
Renne Descartes, nos anos que
antecederam a publicação de ‘O discurso do método’, manteve um debate com
alguns interlocutores. A troca de mensagens – um-um, como lembra Lévy – levava
meses. E a cada senão, objeção ou sugestão, a reelaboração e a resposta levavam
outros tantos meses. Se Descartes e seus colegas filósofos vivessem hoje, bem
que poderiam realizar os debates via teleconferência, pelo dispositivo
comunicacional todos-todos, a que se refere Lévy4.
O desenvolvimento de
equipamentos cada vez mais eficazes permite o aperfeiçoamento da organização,
catalogação e armazenamento de informações. As múltiplas vias de buscas, da
mesma forma, possibilitam o acesso a bens culturais por um público cada vez
maior. O acervo historicamente acumulado tem lugar amplo e seguro para sua
preservação e fruição no ciberespaço. Não só a localização de obras está
facilitada, como as próprias bibliotecas virtuais se multiplicam pelo mundo.
Para citar alguns poucos exemplos, temos o portal Domínio Público5, que
disponibiliza obras consagradas, muitas delas com edições esgotadas, e em nossa
área especificamente outros como Portcom6, conectado à Intercom7, que cataloga
trabalhos na área de Ciências da Comunicação, ou a Biblioteca On-line de
Ciências da Comunicação8. As revistas
4 Para Pierre Lévy, o
dispositivo comunicacional pode ser distinguido em três categorias: 1.
Um-todos: um emissor envia suas mensagens a um grande número de receptores. Ex:
rádio, imprensa e televisão. 2. Um-um: relações estabelecidas entre indivíduo a
indivíduo, ponto a ponto. Ex: telefone, correio. 3. Todos-todos: dispositivo
comunicacional original, possibilitado pelo ciberespaço, pois permite “que
comunidades constituam de forma progressiva e de maneira cooperativa um
contexto comum”.
científicas, de associações
profissionais ou de segmentos organizados crescem em número e variedade em
escala geométrica.
Esta alta tecnologia também
pode e deve estar a serviço da capacitação – acelerada – da população. A
educação a distância (EAD) já está presente e caminha como alternativa concreta
para a formação e/ou aperfeiçoamento de segmentos expressivos da população.
Assim também, a revolução tecnológica poderá chegar ainda com mais força na
educação fundamental. A TV interativa, os computadores, a internet, entre
outros recursos, poderão ser instrumentos decisivos para o enriquecimento
cultural e formação de cidadãos.
A par desses poucos exemplos
sobre a relevância das TICs no campo da educação, cabe questionar com que
‘paradigma’ esses recursos são ou serão usufruídos pela população. Voltamos,
então, a sublinhar a necessidade de discutir o tema por um pensamento complexo.
As reflexões e os experimentos
do século XX apresentam o confronto com o pensamento mecânico, finalista,
exato, reducionista, simplificador, fatalista e autoritário dos paradigmas
fundamentados na certeza. Nessa trilha, os estudos no campo da Física, com a
teoria da Relatividade e a teoria Quântica, levaram alguns cientistas a
voltarem os olhos para o Oriente, verificando uma forma de encarar o mundo
bastante semelhante à maneira como as sabedorias orientais o vêem – há
milênios. A essência dessa visão, como salienta Capra, é a consciência da
unidade e da inter-relação de todas as coisas e eventos, a experiência de todos
os fenômenos do mundo como manifestações de uma unidade básica. Todas as coisas
são encaradas como partes interdependentes e inseparáveis do todo cósmico; em
outras palavras, como manifestações diversas da mesma realidade última (Capra,
1995).
Compartilhando esse caminhar,
pode-se dizer que se esboça um paradigma, ainda em construção, mas que expressa
a insuficiência de respostas dos modelos anteriores. Do pensamento reducionista
e simplificador, o paradigma emergente baseia-se no pensamento complexo. Edgar
Morin ressalta que o pensamento disjuntivo/reducionista é mutilador e conduz a
ações mutiladoras, porque distingue, separa, reduz e simplifica. O desafio,
assim, é pensar um paradigma que permita distinguir sem separar, associar sem
identificar ou reduzir, num princípio dialógico e translógico. Por esse
caminho, Edgar Morin expõe a noção de complexidade por três ângulos: primeiro
como um tecido (complexus - o que é tecido em conjunto) de constituintes
heterogêneos inseparavelmente associados - coloca o paradoxo do uno e do
múltiplo. Depois, vê Revista Ciberlegenda/UFF - Ano 10 - número 20 - junho/2008
A complexidade como o tecido
de acontecimentos, ações, interações, retroações, determinações, acasos, que
constituem o nosso mundo fenomenal. Por fim, entende que a vida é não uma
substância, mas um fenômeno de auto-eco-organização extraordinariamente
complexo que produz autonomia (Morin, 13-16).
Postas essas noções, vejamos
algumas constatações sobre a presença da alta tecnologia no meio educacional
que, a nosso ver, ainda não foram suficientemente debatidas, pelo menos por
aqueles que as encaram apenas com a visão simplista do encantamento:
INCLUSÃO E EXCLUSÃO DIGITAL
O estudo ‘Informação e
desenvolvimento em uma sociedade digital’9 mostra que apenas 10% da população
angolana está incluída no mundo digital. O mapa da exclusão, por regiões, é
ainda mais aterrador. Por exemplo, apenas 5,41% dos sergipanos têm acesso a
computador. Miranda e Mendonça (2006) levantam algumas questões (ou dúvidas)
relevantes que possam contribuir para a compreensão desse quadro, entre as quais
destacamos:
• A tecnologia está disponível
e acessível a todas as pessoas e organizações
• A tecnologia disponível é
adequada às necessidades e condições locais
• A tecnologia está disponível
a um preço acessível para a população
• A população tem a capacitação
e os conhecimentos necessários para o uso efetivo da tecnologia
• Ela sabe como usar a
tecnologia e conhece seu potencial de uso?
• Está disponível um conteúdo
local relevante, especialmente em termos de linguagem
• Há restrições à utilização da
tecnologia com base em gênero, raça ou outros fatores socioculturais
• O ambiente econômico local é
propício ao uso da tecnologia? A tecnologia faz parte do desenvolvimento
econômico local? O que é preciso fazer para integrar a tecnologia ao
desenvolvimento econômico local?
• Existe vontade política da
parte do governo para promover a integração tecnológica de toda a sociedade e
apoio popular para o processo de tomada de decisão do governo?
Diante dessas questões, os
autores argumentam que o Programa Sociedade da Informação (criado pelo Governo
Federal) como uma iniciativa plausível. Este traz como objetivos integrar,
9 De Antonio Miranda, doutor
em Ciências da Comunicação pela USP; Professor titular do CID/UnB; e Ana
Valéria Mendonça, doutoranda em Ciência da Informação pela UnB; pesquisadora do
grupo Comunicação, Educação e Sociedade
coordenar e fomentar ações
para a utilização de tecnologias de informação, educação e comunicação, de
forma a contribuir para a inclusão social de todos os brasileiros na nova
sociedade e, ao mesmo tempo, contribuir para que a economia do país tenha
condições de competir no mercado global. Por este ponto de vista, portanto,
investir na inclusão digital não significa apenas alfabetizar tecnologicamente
os indivíduos, as famílias e comunidades, mas também inserir conteúdos, avaliar
seus processos de recepção e mediação, tendo como finalidade a aplicabilidade
social desses conteúdos trabalhados a partir de conceitos e práticas da
alfabetização da informação junto às escolas, por conseqüência, junto aos
professores e alunos, a fim de que a sociedade esteja bem preparada para os
desafios da informação e do desenvolvimento tecnológico.
Se o Programa Sociedade da
Informação sinaliza uma ‘vontade política’ para encarar o desafio da inclusão,
segmentos organizados da sociedade também parecem ter consciência de que o
enfrentamento a este desafio deve ser amplificado. O Comitê para Democratização
da Informática é uma organização não-governamental que procura promover a
inclusão social utilizando a tecnologia da informação como um instrumento para
a construção e o exercício da cidadania. Suas Escolas de Informática e
Cidadania, criadas principalmente em parceria com organizações comunitárias,
implementam programas educacionais no Brasil e no exterior, com o objetivo de
mobilizar os segmentos excluídos da sociedade para a transformação da sua
realidade. A organização desenvolve projetos que atendem a comunidades de baixa
renda, públicos com necessidades especiais, portadores de transtornos
psiquiátricos, jovens em situação de rua, presidiários, populações indígenas e
comunidades carcerárias, entre outros.
Apesar de respeitar e
reconhecer a relevância destas iniciativas, temos que relativizar alguns pontos
que merecem atenção.
Quando o ministro da Educação
Paulo Renato Souza, em 1997, promoveu ampla distribuição de televisores,
videocassetes e antenas parabólicas às escolas, Rubem Alves desferiu uma
crítica ácida e bem humorada sobre o assunto. Recorreu a uma de suas metáforas
para aliar o processo de ensinar e aprender ao de degustar. Comparou as
técnicas (e tecnologias de ensino) aos apetrechos de cozinha necessários ao
preparo da comida. Alertou, então, que a parafernália eletrônica então
disponibilizada aos professores não são mais do que panelas a serviço do
cozinheiro. Então disparou: — A questão não é mudar as panelas. A questão é
mudar o menu. Revista Ciberlegenda
O mesmo fascínio que se teve a
televisores e antenas parabólicas, em 1997, vem ocorrendo com presidentes,
ministros, governadores, prefeitos... como se as máquinas resolvessem, por si,
todos os problemas da educação. Com raras exceções, ao que parece, as
preocupações levantadas pelo Programa Sociedade da Informação não estão sendo
consideradas.
Em Campo Grande, MS, 100% das
escolas estaduais e municipais dispõe de salas de informática. Subutilizadas! O
estudo “O Computador como instrumento didático”, de Jacir Alfonso Zanatta,
assinala que em todas as escolas visitadas durante a sua pesquisa não havia
projeto pedagógico adequado ou compatível à tecnologia disponível. Mais que
isso, constatou que a maioria dos professores não dominava esses recursos. É
claro que estas considerações, levantadas em 2002, não podem ser generalizadas
ao país e ao presente momento, mas é uma sinalização significativa.
As próximas gerações, já
nascidas e formadas convivendo com esta alta tecnologia, provavelmente terão
mais tranqüilidade para otimizar o uso desses recursos. Mas cabe a nossa
Revista Ciberlegenda
geração, inevitavelmente,
preparar as próximas para que isso se concretize. Para tanto, cabe retornar à
questão posta inicialmente:
- Como o homem poderá
conduzir-se nessa galáxia de enésimas vias, na busca de seus objetivos
fundamentais de liberdade e bem-estar? Ou seja, como vai cumprir sua finalidade
– primeira e última – de humanização?
ÉTICA DO SUJEITO RESPONSÁVEL
Edgar Morin lembra-nos que uma
condição indispensável para nossos tempos é a restauração do sujeito
responsável. Para tanto, num primeiro momento, propõe a necessidade do exercício
ético que leva a cada um a reconhecer-se responsável. Esta exige a noção de
religação, que engloba o que faz comunicar, associar, solidarizar, fraternizar
e se opõe a tudo que fragmenta e disjunta – ignorância do outro, do humano,
egocentrismo. Esta ética também supõe a regra do debate, da argumentação ao
invés dos julgamentos de autoridade. Da mesma forma, incentiva a compreensão
mais que a explicação – a compreensão permite conhecer o sujeito enquanto
sujeito e tende a reumanizar o conhecimento político. Morin coloca que o único
meio capaz de tentar quebrar o ciclo infernal de intolerância entre os homens é
a irrupção da magnanimidade, da clemência, da generosidade, da nobreza. No
mesmo sentido, o autor faz um apelo à boa vontade de todos, para que se
associem entre si para salvar a humanidade do desastre. Por fim, por mais que
essa tarefa possa parecer impossível, exorta a um espírito de resistência
contra a barbárie, que fermente um germe para o futuro (in Carvalho et alli,
1998).
Iniciativas como o Programa
Sociedade da Informação ou o Comitê para Democratização da Informática,
portanto, passam por um componente ético insubstituível. Passa pela
humanização. O que queremos para nossos descendentes
INTEGRAÇÃO CULTURAL E A COMUNICAÇÃO
Como nós seres humanos só
podemos descobrir-nos nos espelhos deformantes que a cultura nos oferece, hoje
podemos constatar que o pesadelo do homem-máquina, tão perseguido pelo
Ocidente, também serviu para ratificar de maneira profunda e certeira a
autêntica dimensão do humano. O que caracteriza nosso pensamento, nossa
cognição, o que nenhuma máquina jamais poderá suplantar, é precisamente esse
componente afetivo presente em todas as manifestações da convivência
interpessoal (Restrepo, 1998). Revista Ciberlegenda
O professor Edmir Perroti,
desde a década de 1980, nos alerta para o processo de ‘confinamento cultural’
característico em nossos dias. O crescimento urbano, o crescente aumento de
famílias que trabalham fora (e mais horas diárias), o aumento da violência, entre
outros fatores, fazem os muros e as grades ficarem cada vez mais altos. Para
manter seus filhos ocupados com boas atividades, essas famílias estimulam que
estes façam cursos de línguas, música, pratiquem esportes, etc. O
‘confinamento’ de crianças e adolescentes se dá nesses ambientes ‘educativos’ –
pois nem sempre privilegiam as ações coletivas ou de sociabilidade – ou no
reduto restrito do lar, naquela época já bastante influenciada pela televisão e
pelos videogames. Este estado de confinamento inspira, entre tantos fatores, o
isolamento, o individualismo – mais que a vida pública (política), que o
espírito de cooperação e solidariedade. Cabe aqui destacar que tal
individualismo é tanto uma influência da modernidade, como – e principalmente –
conseqüência de uma interpretação equivocada da autonomia iluminista de
Descartes e de Kant.
O fato é que a proposta
educativa de Perrotti, desde aquela época, era a de criação e/ou transformação
de espaços públicos em lugares de ‘desconfinamento cultural’. Um dos projetos
que levou a frente parece colher bons frutos. Perrotti orientou a implantação
de redes de bibliotecas inovadoras nas escolas municipais de São Bernardo do
Campo, Diadema e Jaguariúna, no estado de São Paulo. Nessas ‘estações de
conhecimento’, como as denomina, além de o espaço ser mobiliado e especialmente
disposto para a aprendizagem, há o estímulo de suportes tecnológicos, como o
computador e a televisão. É uma espécie de centro cultural, onde as informações
produzidas nas salas de aula circulam. O mero exercício escolar vira
conhecimento, pois tem qualidade de linguagem para circular entre os usuários e
se torna público.
Mas Perroti não se preocupou
somente com a adequação de espaços e a disponibilidade de equipamentos. Para
ele, é fundamental o ‘toque humano’. O que chama de ‘infoeducador’ é uma
espécie de agente cultural, responsável por animar, contar histórias, promover
as conexões entre o que estão estudando com a vida. Por isso, a formação de
infoeducadores é uma das principais metas do projeto, pois têm a possibilidade
de agregar ao ambiente educativo – e de desconfinamento – o componente afetivo
presente em todas as manifestações da convivência interpessoal, como recomenda
Restrepo. Revista Ciberlegenda/UFF - Ano 10 - número 20 - junho/2008
Projetos como este, renovam
nossas esperanças para responder à questão - O que queremos para nossos
descendentes? Com estes pontos de vista em mente, cabe a todos nós refletir
sobre as “Tendências no século XXI”. Mais que tendências, devemos encará-las
como desafios de preparação das novas gerações. Como podemos contribuir para:
Que a tecnologia esteja
disponível e acessível a todas as pessoas e organizações; que esta seja
adequada às necessidades e condições locais; em preço acessível para a
população; que a população tenha a capacitação e os conhecimentos necessários
para o uso efetivo; que haja um conteúdo local relevante disponível.
Fundamentalmente, parece que
nos cabe o esforço de um amadurecimento e uma consciência de que todos esses
recursos devem atender efetivamente a um projeto humanizador. Se a comunidade
global é desigual e conflitante (Lévy), há que se ter boa vontade para que não
se acentuem as desigualdades e as diferenças não se transformem em
intolerância. Se nesta sociedade as relações de poder são determinadas pela
capacidade de conexões das redes (Castells), há que se ter generosidade e
nobreza para reumanizar o conhecimento político, e isto se torne meio de ligar,
religar, solidarizar. A apropriação de toda a alta tecnologia deve,
essencialmente, dar-se pela restauração do sujeito-responsável, que coloque
todos os seus esforços, pela ação e pela reflexão (pensar bem), para que nosso
futuro não seja determinado somente pelo poder e pelo lucro, mas pela riqueza
que a vida pode proporcionar. Pois senão continuaremos sendo apenas ‘partes’
(indivíduos egocêntricos) e as máquinas da alta tecnologia continuarão sendo
apenas máquinas.
Não podemos em todos os
domínios em que estamos engajados, os da pesquisa e os do ensino, os da
mediação social e os das responsabilidades econômicas e cidadãs, atuar juntos
para ‘trabalhar para pensar bem’, para construir esse próximo passo que
constrói o nosso caminho? (Morin, 2000).
CONCLUSÃO
Finalizando considero que o
sistema em que vivemos, onde o consumo, o capital e a venda imperam como
fatores preponderantes, percebe-se as muitas desigualdades e diversidades de
uma sociedade global que se organiza mediante uma iniqüidade que condiciona o
dia-a-dia das pessoas, levando-as a serem pautadas pelos fluxos do mercado,
pelo consumo desnecessário e pela busca do capital exagerado.
Analisei que os meios de
comunicação de massa, fruto deste aviltamento do sistema vigente, são os
grandes responsáveis por uma comunicação vertical, em que as mensagens são
produzidas e emitidas para a grande maioria através de impressões e interesses
de uma minoria que detém o poder, que monopoliza a comunicação, derramando mercadorias
que eles acham necessárias, suficientes e verdadeiras para a sociedade. E a
Televisão, tão conhecida de nosso dia-adia, se torna um instrumento ora
fascinante, ora assustador diante deste contexto globalizante. Ela é à base de
um profundo estudo sobre como os meios de comunicação de massa se constituem e
operam no desenvolvimento da sociedade. É o exemplo concreto da magnitude que a
mídia tem sobre nossas vidas. Por isso, não é à toa, que cada dia mais, grupos
menores detêm o poder desse tão precioso “diamante”. Precisamos ficar atentos e
alertas a todas as mudanças e manifestações a cerca da comunicação no Mundo
globalizado.
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