Desenvolvimento da Linguagem
Desenvolvimento
da Linguagem
Quais sao as caracteristicas do desenvolvimento linguistico da criança dos 0 aos 6 anos?
Segundo Oliveira
(1999, p. 42), “é a necessidade de comunicação que impulsiona, inicialmente, o
desenvolvimento da linguagem”.
Desde os primórdios, a comunicação é
essencial para o ser humano. O homem buscou se comunicar de diversas maneiras
para interagir com o ambiente e suprir suas necessidades.
A comunicação se estabelece de várias formas, como
por meio de gestos,
cores, símbolos e sinais. Portanto, não ocorre apenas por palavras faladas ou
escritas. Há uma convenção entre as partes para que ela ocorra.
Para que a comunicação aconteça é necessário o
emissor, a mensagem e o receptor. Esse sistema de comunicação permite a troca
de informação pelo o grupo e a concretização da linguagem.
O sistema de signos que traduz o pensamento verbal e
da linguagem foi considerável no desenvolvimento da
espécie humana.
Compreender a comunicação humana é saber que a
aquisição da linguagem tem vários níveis. Nos primeiros anos de vida a criança
apresenta a fase pré-verbal no desenvolvimento do pensamento e uma fase
pré-intelectual no desenvolvimento da linguagem.
O choro, o riso, o balbucio são uma das primeiras
formas que a criança demonstra para solucionar problemas práticos, mesmo antes
de dominar a linguagem. Demonstra uma comunicação ineficiente, mas é essa forma
que utiliza como um meio de contato social e alívio emocional.
Muitas mães passam a decifrar o choro dos bebês com o
transcorrer do tempo. Relatam que seus filhos choram de forma diferenciada
quando sentem fome ou para trocar fraldas. O choro é uma forma óbvia de
comunicação e que transmite o estado de desconforto do bebê.
Não é somente através do choro que os bebês se
expressam. Diversos são os sons emitidos por eles, que aos poucos são
identificados e assim transmitidas suas vontades.
Quando ocorre a junção dos processos de
desenvolvimento do pensamento e da linguagem, acontece o pensamento verbal e a
linguagem racional.
O ser humano passa a expor um funcionamento
psicológico sofisticado quando mediado pelo sistema simbólico da linguagem.
Para que ocorra o desenvolvimento da linguagem de
forma eficiente são necessários os fatores biológicos dentro da normalidade,
como exemplo, a integridade do Sistema Nervoso Central.
Quadro elaborado segundo os autores Chiari, B.M.;
Aimard, P.; Casanova, J. P.; Ajuriaguerra (citado por Cardoso, 2003).
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IDADE (meses)
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PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DO DESENVOLVIMENTO
DE LINGUAGEM
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- Vocalizações (repetições de vogais e
sons guturais) não lingüísticas. Essas produções têm pouca influência da
língua-mãe.
- Sorriso reflexo. - Apresenta movimentos corporais bruscos ou acorda ao ouvir estímulo sonoro. - Aquieta-se com a voz da mãe. - Procura fonte sonora com movimentos oculares. |
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- As vocalizações começam a adquirir
algumas características de linguagem, ou seja, entonação, ritmo e inicia-se a
modulação de ressonância.
- A fase de lalação aparece por volta dos - Pára de chorar ao ouvir música. - Começa a voltar à cabeça em direção a um som lateral e próximo. |
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- Pré-conversação. A criança vocaliza
principalmente durante os intervalos em que é deixada livre pelo adulto, e
também encurta suas vocalizações para dar lugar as respostas do adulto.
- Localiza diretamente a fonte sonora lateralmente e indiretamente para baixo. - Responde quando chamada. - Repete sons para escutá-los. |
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- Localiza diretamente a fonte sonora
para baixo.
- Reage paralisando a atividade quando a mãe fala "não". - Vocaliza na presença de música. - Compreende algumas palavras familiares, por ex.: "mamãe, "papai", "nenê". - Compreende ordens simples, por ex.: "bate palmas" e dar "tchau". - Vocalizações mais precisas e melhor controladas quanto a altura tonal e a intensidade. Agrupa sons e sílabas repetidas `a vontade. - Pede, recebe objetos e oferece-os de volta. - Usa gestos indicativos. - Surge a primeira palavra, muitas vezes não inteligível. |
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- Surgem as primeiras palavras funcionais
que, em geral, se dá um prolongamento semântico, por ex.: chama
"cachorro" a todos os animais.
- Crescimento quantitativo de compreensão e produção de palavras. - Localiza fonte sonora indiretamente para cima. - Gosta de música. - Compreende verbos que representam ações concretas (dá, acabou, quer). - Identifica objetos familiares através de nomeação. - Identifica parte do corpo em si mesma. - Utiliza-se de palavra-frase (usa uma palavra que corresponde a um enunciado completo). - Repete palavras familiares. - Tenta contar. |
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- Surgimento de frases de dois elementos.
- Localiza fonte sonora em todas as direções. - Presta atenção e compreende estórias. - Identifica parte do corpo no outro. - Inicia o uso de frases simples. - Usa gesto representante. - Usa o próprio nome. |
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- Iniciam-se sequências de três
elementos, por ex.: "nenê come pão" (fala telegráfica.
- Aponta gravura de objeto familiar descrito por seu uso. - Identifica objetos familiares pelo nome e uso. - Aponta cores primárias quando nomeadas (vermelho, azul, amarelo...) - Compreende o "Onde?” "Como?" - Pergunta o que? - Nomeia ações representadas por figuras. - Refere-se a si mesmo na 3ª pessoa. - Combina objetos semelhantes. - Constitui frase gramatical simples ( com verbos, preposições, adjetivos e advérbio de lugar).A partir dos três anos aumenta extraordinariamente o número de vocábulos da criança e espera-se que até os cinco anos ela tenha
domínio de todos os fonemas da língua.
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4. carecteristicas do desenvolvimento linguistico da criança no ponto de vista de alguns autores.
Ao nascer, a
criança não entende o que lhe é dito. Somente aos poucos começa a atribuir um
sentido ao que escuta. Do mesmo modo acontece com a produção da linguagem
falada. O entendimento e a produção da linguagem falada evoluem. Existem
diferentes tipos de linguagem: a corporal, a falada, a escrita e a gráfica.
Para se comunicar a criança utiliza tanto a linguagem corporal (mímica, gestos,
etc.) como a linguagem falada. É lógico que ela ainda não fala, mas já produz
linguagem.
Steven Pinker;
em seu livro chamado "o instinto da linguagem: como a mente cria a
linguagem", explica tudo sobre a linguagem como funciona como as crianças
aprendem como ela muda, como o cérebro a computa e como ela evoluiu, (PINKER,
1954). Com o uso de exemplos cotidianos, Pinker diz que: Linguagem é um
instinto humano instalado em nosso cérebro, ou seja, existe um dispositivo que
é ativado na mente quando a criança alcança certa idade, por isso lembramos
apenas de certo momento de nossa infância.
Para Farias; a manifestação da linguagem
ocasiona modificações importantes nos aspectos cognitivos, afetivos e sociais
da criança, já que ela possibilita as interações humanas e fornece,
principalmente, a capacidade de trabalhar com representações para atribuir
significados à realidade. Tanto é assim, que a aceleração do alcance do
pensamento neste estágio do desenvolvimento, é atribuída, em grande parte, às
possibilidades de contatos interindividuais fornecidos pela linguagem, e é aqui
o papel fundamental da escola com a inserção de atividades lúdicas no contexto
escolar, ampliando o leque de possibilidades do desenvolvimento global do
individuo, (FARIAS 2003).
Segundo Book; embora o alcance do pensamento
apresente transformações importantes, ele caracteriza-se, ainda, pelo
egocentrismo, uma vez que a criança não concebe uma realidade da qual não faça
parte, devido à ausência de esquemas conceituais e da lógica.
O desenvolvimento da linguagem se divide em
dois estádios: pré– lingüístico, quando o bebê usa de modo comunicativo os
sons, sem palavras ou gramática; e o lingüístico, quando usa palavras. No
estádio pré – lingüístico a criança, de princípio, usa o choro para se
comunicar, podendo ser rica em expressão emocional. Logo ao nascer este choro
ainda é indiferenciado, porque nem a mãe sabe o que ele significa, mas aos poucos
começa a ficar cheio de significados e é possível, pelo menos para a mãe, saber
se o bebê está chorando de fome, de cólica, por estar se sentindo
desconfortável, por querer colo etc, (BOOK, 1996).
Segundo Del Ré; o balbucio ocorre de repente,
por volta dos 6-10 meses, e caracteriza – se pela produção e repetição de sons
de consoantes e vogais como “ma – ma – ma – ma”, que muitas vezes é confundido
com a primeira palavra do bebê. No desenvolvimento da linguagem, os bebês
começam imitando casualmente os sons que ouvem, através da ecolalia.
Por exemplo: os bebês repetem inumeras vezes
os sons como o “da – da – da”, ou “ma – ma – ma – ma”. Por isso as crianças que
tem problema de audição, não evoluem para além do balbucio, já que não são
capazes de escutar, (DEL RÉ (2006).
Sampaio cita que por volta dos 10 meses, os
bebês imitam deliberadamente os sons que ouvem, deixando clara a importância da
estimulação externa para o desenvolvimento da linguagem. Ao final do primeiro
ano, o bebê já tem certa noção de comunicação, uma idéia de referência e um
conjunto de sinais para se comunicar com aqueles que cuidam dele.
O estádio lingüístico está pronto para se
estabelecer. Sendo assim, contando com a maturação do aparelho fonador da
criança e da sua aprendizagem anterior, ela inicia a dizer suas primeiras
palavras, (SAMPAIO, 2003).
Para Sciar-Cabral; a fala lingüística se
inicia geralmente no final do segundo ano, quando a criança pronuncia a mesma
combinação de sons para se referir a uma pessoa, um objeto, um animal ou um
acontecimento. Por exemplo, se a criança disser apo quando vir a água na
mamadeira, no copo, na torneira, no banheiro etc., pode afirmar que ela já esta
falando por meio de palavras.
Espera – se que aos 18 meses a criança já
tenha um vocabulário de aproximadamente 50 palavras, no entanto ainda apresenta
características da fala pré – lingüística e não revela frustração se não for
compreendida, (SCIAR-CABRAL, 1991).
Segundo Piaget; é na fase inicial da fala
lingüística a criança costuma dizer uma única palavra, atribuindo a ela, no
entanto o valor de frase. Por exemplo, diz ua, apontando para porta de casa,
expressando um pensamento completo; eu quero ir pra rua.
Essas palavras com valor de frases são
chamadas holófrases. A partir daqui acontece uma “explosão de nomes”, e o
vocabulário cresce muito. Aos 2 anos espera – se que as crianças sejam capazes
de utilizar um vocabulário de mais de cem palavras
. Entre os 2 e
3 anos as crianças começam a adquirir os primeiros fundamentos de sintaxe,
começando assim a se preocupar com as regras gramaticais. Usam, para tanto, o
que chamamos de super – regularização, que é uma aplicação das regras
gramaticais a todos os casos, sem considerar as exceções. É por isso que a
criança quer comprar “pães”, traze – los nas “mães”. Aos 6 anos a criança fala
utilizando frases longas,tentando utilizar corretamente as normas gramaticais,
(PIAGET,1971).
Chomsky; é defensor da idéia de que a
estrutura da linguagem é, em grande parte, especificada biologicamente
(nativista). Skinner; afirma que a linguagem é aprendida inteiramente por meio
de experiência (empirista). Piaget; consegue chegar mais perto de uma
compreensão do desenvolvimento da linguagem que atenda melhor a realidade
observada.
Segundo ele,
tanto o biológico quanto as interações com o mundo social são importantes para
o desenvolvimento da linguagem (interacionista), (CHOMSKY, 1998), (SKINNER,
1954) e (PIAGET, 1971).
·
Até aos 2-3 mese
Ocorrem as
reações reflexas e instintivas (choro, sucção, deglutição)
Sorriso reflexo; Produz sons guturais;
Conforta-se com a voz da mãe;
Movimenta-se ao ouvir estímulos sonora
Conforta-se com a voz da mãe;
Movimenta-se ao ouvir estímulos sonora
·
Por volta dos 6 meses
A criança
emite produções sonoras diversas, como: gritos, sorrisos, murmúrios. Exemplo:
“gu-gu-gu” ou “hm, hm, hm”. Neste período, as produções sonoras resultarão no
balbucio (repetições, com encadeamento de sílabas). Exemplo: “Pa-pa-pa-pa-pa”.
As primeiras palavras aparecem em torno dos 10
meses, são simples e fazem parte do cotidiano da criança. Exemplo: papa;
mama; mamá.
·
12-18 meses
A criança
utiliza uma palavra para expressar uma idéia completa (frase), o que chamamos
de: “palavra-frase”. Essa palavra-frase deverá ser analisada pelo adulto no
momento em que é produzida, já que, pode representar uma dimensão de fatores em
situações diversas. Exemplo: Num momento a criança diz: “Bola”. (Chamando a
atenção do adulto para a televisão). Num outro momento a criança diz: “Bola”.
(Chamando a atenção do adulto para pegar a bola e jogar para ela).
·
18 – 20 meses
A frase
poderá conter duas ou três palavras (já observamos a estrutura verbal
correspondente ao português). Exemplo: “Medo au-au gande”.
·
2 anos
Ocorre intenso
desenvolvimento da linguagem oral. A criança, geralmente, inicia a construção
de seu vocabulário não produzindo corretamente todos os sons da fala (caberá ao
adulto fazer a referência correta das palavras).
Exemplo: a
criança diz: “Cassoo!” (apontando para o cachorro).
Adulto: “Estou vendo. Que cachorro bonito!”
Se a criança
estiver fazendo uso, é nessa fase que deverá acontecer a retirada da chupeta
e/ou da mamadeira, pois o uso destas, a partir desse período, poderá:
atrapalhar no alinhamento dos dentes, causar flacidez na musculatura facial,
provocar cáries, favorecer a respiração bucal, impedir a correta movimentação
da língua durante a fala, dentre outros.
·
3 anos
Iniciam-se as interrogativas: Porquê? O que
é?
·
4 anos
A criança é
capaz de reproduzir pequenas seqüências de fatos e/ou histórias.
No período dos 2 aos 5 anos, a linguagem,
principalmente, o vocabulário, tem o seu desenvolvimento mais impressionante,
podendo aumentar de 50 – 100 palavras para mais de 2000.
Até os 5 anos de idade a criança
deverá ser capaz de produzir todos os sons da língua portuguesa, de maneira
adequada e significando coerentemente os conteúdos de sua expressão oral (a
partir do contexto em que está inserida).
A partir desse
período, a criança detém-se à ampliação do vocabulário e à aquisição de
estruturas mais complexas da linguagem. Percebe-se um grande investimento na
representação gráfica, o que facilitará, em seguida, a aquisição da língua
escrita, sendo de grande importância a estimulação desta (o estímulo poderá
ocorrer a partir de situações simples do cotidiano, por parte do adulto:
leitura de placas na rua, nomes de lojas, outdors, dentre outros. O mais
importante é que seja favorecido todo o contato possível com a escrita e a
leitura).
Luciana dos
Santos Celia
Fonoaudióloga
2003
Classificar
isto:
Narrativas orais
de crianças com desenvolvimento típico de linguagem
Priscila Artioli
Cavalcante e Patrícia Pupin Mandrá
Durante o
desenvolvimento lingüístico a criança compreende as regras referentes aos
planos semântico, fonológico, morfossintático e pragmático, incluindo as
habilidades orais de narrar, argumentar, justificar e explicar. O estudo da
narrativa decorre da sua importância para a inserção da criança no contexto
familiar, educacional e social. Pressupõem-se a existência de uma rede complexa
de fatores de ordem cognitiva e lingüística para que haja a estruturação, o processamento,
a compreensão e o compartilhamento da experiência pessoal e de eventos
interligados por relações lógicas e cronológicas.
Por volta de 2
anos as crianças começam a explorar o relato de suas próprias experiências,
evocando e discutindo eventos passados, nesta fase não possuem todos os
elementos cognitivos e linguísticos para organizar a estrutura da narrativa e
dependem da intervenção do interlocutor em co-autoria para contextualizar,
ordenar os acontecimentos e fornecer a estrutura de coerência e de coesão
textual.
Até mais ou menos
três o adulto fornece um modelling para as narrativas
posteriores da criança em
desenvolvimento. A partir de três a quatro anos de idade os
relatos passam a ser compostos de um número maior de sentenças encadeadas com a
presença de alguns marcadores de narrativa. Na narrativa fictícia observa-se a
presença de elementos secundários, inserção de fatos não verdadeiros, mas ainda
pode ocorrer o auxílio esporádico do adulto relacionado a coerência e a coesão
do discurso.
Entre quatro anos
e um mês e 6 anos a aquisição da estrutura do texto narrativo esta
completa e as crianças passam a narrar com coerência histórias conhecidas,
relatos pessoais e histórias inventadas de forma detalhada e sem apoio do
interlocutor. Contextualizando o interlocutor quanto aos personagens, ações,
onde e quando ocorreram os fatos e quando estão narrando com apoio visual podem
ainda acrescentar relações intermediárias e não visíveis. Com o aumento da
idade e escolaridade, maturação cognitiva e o desenvolvimento lingüístico da
criança, a complexa estrutura narrativa se torna familiar fazendo com que
decresça a freqüência de produção de rupturas (pausas e interjeições) no
discurso, tornado a narrativa mais complexa e elaborada. Espera-se que crianças
em idade escolar compreendam as explicações de seus professores, contem e
recontem histórias e as interpretem.
Autores consideram
que produzir e compreender narrativas orais é importante para o sucesso
acadêmico da criança e seu bem estar sócio-emocional. Ao revisar a literatura
nacional e internacional não foram encontrados estudos sobre o tempo de
narrativa, tempo de pausa e número de palavras e intervenções do adulto durante
a produção de relato pessoal e com apoio visual.
Assim, o objetivo
do estudo foi verificar o tempo de narrativa, o tempo de pausa, o número de
palavras e de intervenções do interlocutor em narrativas orais de crianças
pré-escolares com desenvolvimento de linguagem típico.
Discussão
Com relação ao
tempo de narrativa os grupos etários não diferiram significativamente, mas em
situação de produção de narrativa com apoio visual (livro sem texto) o tempo
foi maior sugerindo que esse apoio em ilustrações e a questão utilizada para
iniciar o relato pessoal são variáveis importantes. Assim sendo, o uso de
ilustrações poderia desencadear narrativas mais extensas, e para narrar
espontaneamente deve existir intenção, iniciativa e interesse do narrador em
evocar e transmitir lingüísticamente a experiência vivenciada. Aos quatro anos
as relações intermediárias não visíveis na figura estão presentes nas
narrativas infantis. Para iniciar o relato pessoal, nessa pesquisa, foi
realizada a questão "o que você fez hoje?", considerando que as
crianças falam inicialmente sobre fatos rotineiros e familiares relatando suas
próprias experiências a partir de 2 anos. As situações de interação em grupo e
lúdicas já foram mencionadas como promotoras de aumento do tempo e da
complexidade da estrutura narrativa.
O maior tempo de
pausa em narrativa com livro estaria relacionado a lacunas cognitivas e
lingüísticas evidenciando o processo gradual de formação de conceitos, itens
lexicais e assimilação de regras sintáticas para a estruturação do discurso
narrativo. Essa também seria uma estratégia para que o narrador tivesse maior
tempo para buscar reparações de erros na produção discursiva ou mesmo para
acompanhar ações como mudanças de página do livro.
A ausência de
significância estatística nos grupos etários considerando o valor do tempo de
narrativa e de pausa é um resultado que não corrobora estudos anteriores que
indicaram uma relação inversamente proporcional entre o processo gradual de
desenvolvimento linguístico e a interrupção do discurso narrativo.
O número de
palavras foi significativamente menor nas amostras de narrativa espontânea em
comparação com a narrativa com apoio visual para os grupos G-III e G-IV,
sugerindo novamente que para narrar espontaneamente é preciso ter intenção e
motivação aliados as habilidades cognitivas e linguísticas. As ilustrações contribuiriam
para a construção do sentido da história e sua estruturação linguística, pois
poderiam ampliar as possibilidades semânticas e facilitar o acesso lexical,
visto que o narrador teria na ilustração o seu referente. Aos três anos os
relatos deveriam ser compostos por períodos simples e complexos, por marcadores
de narrativa e palavras de com significado lexical, gramatical relacional e
contextual.
Constatou-se que
com o aumento da idade diminui-se a intervenção do interlocutor com maior
freqüência de indivíduos dos grupos mais novos (G-I e G-II) na categoria
"Muita Intervenção" (M.I) e menor número de indivíduos destes mesmos
grupos etários na categoria "Nenhuma Intervenção" (N.I) no contexto
de narrativa com apoio visual (livro sem texto) com p-valor = 0,03. Esse dado
já foi discutido na literatura e explica que o grau de participação do
adulto é maior na fase inicial do desenvolvimento do discurso narrativo onde há
a construção conjunta e com o aumento dos recursos lingüísticos e cognitivos
vai diminuindo até a criança chegar a narrar sozinha. Em relação à narrativa
espontânea os achados não foram significativos. Na narrativa fictícia
observa-se a presença de elementos secundários, inserção de fatos não
verdadeiros, mas ainda pode ocorrer o auxílio esporádico do adulto relacionado
a coerência e a coesão do discurso.
As crianças
apresentaram uma narrativa mais extensa no contexto de relato com livro sem
palavras em relação ao contexto de narrativa espontânea, porém, sem diferenças
significativas entre as idades. Este fato mostra que diferentes contextos
narrativos influenciam na produção desta. Assim, na prática clínica, a coleta
de várias situações narrativas para comparação entre elas pode ser um
procedimento eficaz para avaliação e diagnóstico do aspecto narrativo e da
linguagem como um todo. O estudo permitiu ainda concluir que a participação do
interlocutor faz-se menos necessária conforme aumenta a idade do narrador.
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