Reflexões sobre as concepções de tecnologias nas Diretrizes Curriculares Nacionais do Ensino Fundamental


Reflexões sobre as concepções de tecnologias nas Diretrizes Curriculares Nacionais do Ensino Fundamental

              Tatiane Custódio da Silva Batista – UEG – tatiane_custodio_silva@hotmail.com
Mirza Seabra Toschi – UEG – mirzas@brturbo.com.br

Resumo: As Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) têm feito parte do dia a dia e estado presente em diversas situações da vida. Essas tecnologias têm causado alterações em variados momentos e atividades diárias como: o trabalho, as relações sociais, as atividades bancárias e vem mudando também o ambiente escolar. Santaella (2013) afirma que as alterações que se dão no âmbito das TIC se apresentam no espaço, no tempo, na modalidade e forma, que é favorecida por uma rede móvel, pela Internet. A interação, a informação e a comunicação se dão em quaisquer e em diferentes espaços. Por isso, a relevância em perceber a concepção de TIC tanto dos professores pesquisados como dos documentos oficiais que orientam o trabalho na sala de aula. Para subsidiar este trabalho utilizaram-se teorias a respeito, principalmente das TIC e seus usos na escola (TOSCHI, 2002, 2004; SANTAELLA, 1997, 2003, 2013; BELLONI, 2001) dentre outros. Esta pesquisa foi realizada com o objetivo de analisar, segundo relato dos professores do Ensino Fundamental, as compreensões dos professores sobre as Diretrizes Curriculares Nacionais do Ensino Fundamental (DCNEF) e sobre as TIC.  Para obter respostas ao problema da pesquisa, foi utilizada pesquisa bibliográfica, análise documental, aplicação de questionários e entrevistas com professores de uma escola municipal. Os professores dizem que utilizam as TIC em suas aulas, principalmente no laboratório de informática e as consideram importantes e relevantes nas aulas. Concordam com as DCNEF de que as tecnologias estão presentes no cotidiano dos alunos, que estes conhecem e sabem utilizar e que, por isso, é necessário e tão importante o trabalho com as TIC na escola. Na fala dos professores é perceptível que sentem necessidade de maior formação para este uso e afirmam serem necessários mais equipamentos e maior acesso das crianças aos recursos no ambiente escolar.

Palavras-chave: Tecnologias da Informação e Comunicação e DCNEF. TIC no ambiente escolar. Diretrizes Curriculares Nacionais e tecnologias. As TIC no ambiente escolar

As TIC e a escola
O uso das tecnologias na educação tem levado a estudos e a um sentimento de preocupação. Autores dizem e tem se percebido que essas tecnologias chegam às escolas por meio de politicas públicas que não levam em conta a realidade destas escolas. O professor, muitas vezes, não conhece e não sabe como trabalhar em sala de aula, articulando seus conteúdos com as tecnologias. Toschi (2004) observa que, em escolas pesquisadas a respeito do uso das tecnologias na educação, os professores relatam sobre o tempo maior necessário para preparar aulas, utilizando as Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC), o que tem incomodado os docentes.
Torna-se importante e relevante identificar o que as Diretrizes Curriculares Nacionais do Ensino Fundamental (DCNEF) trazem sobre o uso das TIC na educação escolar e se os professores do Ensino Fundamental conhecem essas DCNEF e se têm levado em conta essas orientações no seu trabalho escolar. Pretendeu-se, ainda, conhecer qual a concepção que professores do Ensino Fundamental têm em relação às TIC e descrever, por meio da fala dos pesquisados, qual uso das TIC é feito nas escolas de Ensino Fundamental.
Estes são alguns aspectos que nos instigam à investigação, a fim de construir uma reflexão sobre tal questão presente no dia a dia do estudante e do brasileiro em geral.
A escola pesquisada é uma escola localizada em um bairro periférico da cidade de Anápolis, porém, como a escola funciona de tempo integral, esta recebe alunos de diversas regiões da cidade, com classes sociais distintas. Atendendo no período da manhã alunos de 1º a 5º ano e no período vespertino as crianças recebem monitores do programa Mais Educação, com atividades que vão desde o reforço escolar e orientações de estudo até atividades de esportes e recreação. Na escola funcionam dez turmas, porém apenas nove das professoras participaram da pesquisa, são todos professoras do sexo feminino.
Neste intento, realizou-se uma pesquisa de cunho qualitativo, nas séries iniciais do Ensino Fundamental; sendo efetivada por meio de entrevistas realizadas com os professores da escola e com aplicação de questionário a eles.  Com o objetivo de, por meio de suas falas e respostas, conhecer o que os professores sabem a respeito das Diretrizes Curriculares Nacionais do Ensino Fundamental (DCNEF), suas atribuições a respeito das TIC e seu uso no ambiente escolar; analisando se estes têm levado em conta tais orientações.
            Ao refletir sobre entrevista, Lüdke e André (2013) apresentam que a grande vantagem da entrevista é que permite a captação imediata e corrente da informação desejada, permite correções, esclarecimentos e adaptações que a tornam eficaz na obtenção de informações. As autoras abordam, ainda, a respeito da entrevista estruturada ou padronizada, na qual o entrevistador segue um roteiro fixo de perguntas e visa à obtenção de resultados uniformes para comparação imediata, geralmente com tratamentos estatísticos. Apresentam também a entrevista não estruturada ou não padronizada, com a liberdade no percurso da entrevista, na qual o entrevistado discorre sobre o tema de acordo com o conhecimento que este tem.  Entre estes dois tipos de entrevista apresentadas pelas autoras, há a semi-estruturada, que se desenvolve a partir de um esquema básico, que não é aplicado com a mesma rigidez da entrevista estruturada, mas permite que sejam feitas adaptações necessárias durante a entrevista. Essa foi a forma de entrevista utilizada nesse estudo.
Para Severino (2007), entrevista é uma técnica de coleta de informações sobre determinado assunto, que são diretamente solicitadas aos sujeitos pesquisados e possibilita interação entre pesquisador e pesquisado. O pesquisador busca apreender o que os sujeitos sabem, pensam, fazem, representam e argumentam a respeito do tema da pesquisa.
            Para Severino (2007), um questionário, enquanto técnica de pesquisa são questões articuladas a fim de levantar informações escritas por parte dos sujeitos pesquisados, visando conhecer a opinião destes sobre os assuntos em estudo. Devem ser questões pertinentes ao objeto, claramente formuladas, para serem bem compreendidas. As questões devem ser objetivas, de modo a suscitar respostas igualmente objetivas, evitando gerar duvidas, ambiguidades e respostas lacônicas. Essas questões podem ser fechadas ou questões abertas. Neste trabalho, o questionário também foi utilizado como fonte de dados.
            Entende-se que as Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) vão além de instrumentos ou ferramentas para serem utilizadas, ou mais ainda, que tais equipamentos não podem por si só resolver problemas educacionais e/ou sociais. A tecnologia, cultural e historicamente produzida e construída pelo homem, carrega representações sociais, cargas culturais e, principalmente, a necessidade desse criador para ser utilizada, desenvolvida e presenciada no nosso dia a dia.
            Santaella (1997) apresenta que o computador, por exemplo, em seu processo de evolução, foi se humanizando, perdendo feições de máquina e ganhando funções e capacidade para interações com os sentidos e o cérebro humano. Um pensamento e evolução humana que possibilitou, por meio de um modelo digital, ser capaz de conectar em um mesmo equipamento eletrônico, a imagem, o som, a escrita, etc. É, então, possível conectar entre si mídias como, a televisão, o rádio, o cinema, o jornalismo, a edição, as telecomunicações e a informática. Para a autora, o ciberespaço se apropria de todas as linguagens anteriores. A isso chamamos ‘convergência de mídias’ (PELLANDA, 2003).
            Neste sentido, Belloni (2009) define como Tecnologia da Informação e Comunicação, as mídias de televisão e suas variações (videocassete, DVD, antena aberta, por assinatura), os jogos de vídeo (videogames) e também de computador, como as filmadoras de vídeo e máquinas fotográficas, MP3, telefones celulares e redes. Ou seja, para a autora, TIC são ferramentas que possibilitam e facilitam a informação, interação e a comunicação do homem com seus pares, levando em conta que são construções e apropriações históricas.
            Já os Parâmetros Curriculares Nacionais apresentam que as TIC dizem respeito aos
recursos tecnológicos que permitem o trânsito de informações, que podem ser os diferentes meios de comunicação (jornalismo impresso, rádio e televisão), os livros, os computadores etc. Apenas uma parte diz respeito a meios eletrônicos, que surgiram no final do século XIX e que se tornaram publicamente reconhecidos no início do século XX, com as primeiras transmissões radiofônicas e de televisão, na década de 20. Os meios eletrônicos incluem as tecnologias mais tradicionais, como rádio, televisão, gravação de áudio e vídeo, além de sistemas multimídias, redes telemáticas, robótica e outros (BRASIL, 1998, p. 135).

            Assim como Belloni (2009) e Santaella (2003), entendemos tecnologias como construída e apropriada historicamente e que carrega bagagens culturais e sociais. São desta forma, mais que recursos. As TIC necessitam do homem para existir e para serem utilizadas.
            Santaella (2013) diferencia TIC das tecnologias de massa, como a TV e o rádio e as tecnologias digitais. Para ela, há seis eras culturais: oral, escrita, impressa, de massas, das mídias e digital. A televisão solidificou a era das massas, que se baseia em um emissor comunicando a muitos, sem a audiência poder responder tornando-a despersonalizada e homogeneizada. A cultura das mídias vem numa lógica diferente da de massa, pois incluiu a interação com o usuário, tais como os o videogames, revistas e programas para públicos específicos, videocassetes, TV a cabo, sem que a televisão perdesse seu poder junto ao público. As eras se misturam (SANTAELLA, 2003, p. 81), sobrepõem-se, “criando tecidos culturais híbridos e cada vez mais densos. Essa densidade estava fadada a intensificar-se com a chegada da cultura digital”. O uso de computadores, a relação com suas telas de maneira interativa e bidirecional foram introduzidas pela cultura das mídias. Atualmente, as mídias móveis, a Internet, e a compressão informática e digital, que funde as formas de comunicação humana (impresso, áudio-visual, telecomunicações e informática), em convergência de mídias, traz uma nova era da cultura, a era digital, ou cibercultura.
             Santaella (2013), a respeito da mudança e evolução das TIC na vida cotidiana, afirma que:
na medida em que a comunicação entre as pessoas e a conexão com a internet começaram a se desprender dos filamentos de suas âncoras geográficas – modems, cabos e desktops – espaços públicos, ruas, parques, todo o ambiente urbano foram adquirindo um novo desenho que resulta da intromissão de vias virtuais de comunicação e acesso à informação enquanto a vida vai acontecendo. Assim, a revolução digital encontra-se hoje em plena era da mobilidade, que também chamo de tecnologias comunicacionais da conexão contínua constituídas por uma rede móvel de pessoas e de tecnologias nômades que operam em espaços físicos não contíguos (p.22).

            Para a autora, as alterações que se dão do âmbito das TIC se apresentam no espaço, no tempo, na modalidade e forma, que é favorecida por uma rede móvel, pela Internet. A interação, a informação e a comunicação se dão em quaisquer e diferentes espaços.
           

Novos desafios
            Pode-se dizer que atualmente as propostas relacionadas à formação do professor estão sendo apresentadas com frequência nas políticas públicas educacionais. Propostas, muitas vezes, relacionadas às TIC no ambiente escolar.
            Por meio de alterações concebidas em variadas áreas da sociedade, têm ocorrido reconfigurações que têm sido impostas aos professores, como aumento do tempo de trabalho, maior necessidade de buscas em diferentes fontes e conhecimentos, etc. Reconfigurações essas que, segundo Barreto (2001), são indissociáveis da inserção das TIC, o que, por vezes, vem resultar em uma simplificação que se desloca para uma formação para a capacitação em serviço. Para a autora, ao se falar de formação do professor não se está falando de uma formação inicial, ou mesmo continuada, mas, sim de uma capacitação em serviço ou em uma certificação.
            Muito se tem falado em inclusão digital, muito se tem falado em utilização das tecnologias e muito se tem responsabilizado a escola e, principalmente os professores pela efetivação dessa utilização e dessa inclusão, e pior, o professor é apresentado como responsável e capaz de preparar seu aluno para o trabalho.
            Neste sentido, Pretto (2001) afirma que a preocupação deve ser em uma educação para a inclusão e não se ter a ideia somente de preparação para o mercado, de preparação de um consumidor. Para o autor, a inclusão digital e social abordada pelos programas, tem que buscar satisfazer às inúmeras desigualdades no país, ao tratar de questões tecnológicas e não criar mais uma desigualdade – que é aquela dos sem acesso às TIC. Ao contrário, precisa-se ao oferecer o acesso, ter um trabalho intenso para diminuir tantas desigualdades tão presentes e conhecidas no país. Assim, entendemos o que o autor chama de “educação para a inclusão”, preocupando-se com o governo, as linhas de produção, o sistema bancário, o transporte, o comércio, etc. Para ele, essas iniciativas e politicas precisam ser direcionadas por uma busca da construção de uma sociedade menos injusta socialmente.
            O cuidado deve ser tomado para não provocar a exclusão digital ao invés da inclusão. Não se deve visar apenas preparar para o mercado de trabalho ou uma preparação técnica, mas levar em consideração também questões políticas e sociais, a fim de diminuir as inúmeras desigualdades existentes.
            Pretto (2001) afirma que é preciso, sim, uma escola mais qualificada para o trabalho com as TIC, que contemple questões relacionadas à cidadania, à subjetividade e à diversidade. Porém, a presença dessas tecnologias também deve ser acompanhada por uma profunda reflexão sobre as concepções de educação que estamos adotando. O que não conseguimos formando um professor apenas em serviço e para o serviço.
            O autor ainda diz que é preciso formar o cidadão para o uso das tecnologias, com um grande cuidado para não se pensar que é suficiente prepará-lo para utilizar um computador e a rede. Isso é necessário, mas não é o bastante. A educação deve ser pensada como fundamental para a formação da cidadania, sendo necessário um professor qualificado, bem pago e com boas condições de trabalho, tendo uma escola pública e gratuita, com qualidade e equipada para manejar todos esses equipamentos tecnológicos. É preciso pensar nas condições da escola e do professor.
            Na mesma linha de pensamento, Belloni (2001) apresenta que já se tem pistas de caminhos a percorrer para a integração dos novos meios técnicos aos processos educacionais, para que este se dê no sentido da construção da cidadania e emancipação, e não no sentido do simples consumo. A autora apresenta que é preciso ir além de práticas meramente instrumentais; além de uma visão apocalíptica (que recusa toda tecnologia); e é preciso dar um salto qualitativo na formação de professores. Essa é uma grande mudança que visa superar o caráter redutor da tecnologia educacional, sem perder suas contribuições.
            Belloni (2001) propõe uma abordagem sociopolítica do uso das Tecnologias. Para ela, essa é uma perspectiva de um usuário, utilizador, em clara ruptura com a noção de receptor passivo. Nessa abordagem, o usuário é considerado como sujeito ativo de suas relações de uso com as mídias ou tecnologias de informação e comunicação. Dessa forma, entendemos, que esse ator não pode estar externo à definição das políticas educacionais, em especial, as relativas ao uso de tecnologias na educação, como tem acontecido. Os professores não são ouvidos e nem levados em conta na elaboração e implementação das políticas, mas tem sido responsabilizado pelo insucesso delas.
            Para Belloni (2001), a integração das TIC no contexto educacional como um eixo pedagógico central pode ser de grande valia, sempre considerando as técnicas como meios e não como finalidade educacional. É necessário considerá-las como ferramentas pedagógicas ricas e proveitosas para a expansão do ensino e também como objeto complexo de estudo e reflexão. Para a autora, a tecnologia pode ser tratada como um tema transversal, que perpassa todas as disciplinas com conhecimentos específicos, assim, não está presente apenas em uma disciplina formal.
            Ainda falando do professor nesta sociedade atual e sua necessária formação, há vários desafios na formação desse profissional que o capacite a lidar com alunos e situações extremas, alunos que já possuem conhecimentos tecnologicamente avançados e que tenham acesso pleno ao universo da informação. Até mesmo com alunos que se encontram em plena exclusão tecnológica, sem oportunidades para vivenciar esta nova realidade. Professor que seja capaz de lidar também com instituições de ensino equipada com modernas tecnologias digitais, a instituições precárias e com mínimos recursos para se trabalhar. São muitas as exigências feitas aos professores, mas pouco lhes é concedido. Barreto (2001) salienta que, para alcançar tamanhas reconfigurações, é preciso uma preocupação para a formação do professor que vá além da certificação e da preparação para o mercado.
           
O Currículo
Silva (1999) afirma que, de acordo com as teorias críticas, o currículo é um espaço de poder, que os conhecimentos do currículo carregam marcas de relações sociais de poder e que o currículo no capitalismo reproduz as estruturas sociais, tendo papel de decisão na reprodução de organismos de classes dessa sociedade. Enfim, o currículo é um território político, que transmite a ideologia dominante.
            As teorias pós-críticas, para Silva (1999), ampliam e modificam o que as teorias críticas ensinaram, e enfatizam que o currículo não pode ser entendido sem analisar as relações de poder que o envolve. Em resumo, para Silva (1999), depois das teorias criticas e pós-criticas, não se pode olhar o currículo de forma inocente, pois este tem significados além dos que as teorias tradicionais mostram.
            Para o mesmo autor, currículo é lugar, espaço, território, é relação de poder, é trajetória, viagem, percurso, é autobiografia, nossa vida, é curriculum vitae. O currículo é texto, é discurso e documento - “O currículo é documento de identidade”.
            Neste sentido, podemos entender as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) como o exercício do poder que o Estado exerce diante dos sistemas educacionais. As DCN apresentam-se como fundamentos e princípios curriculares, e o documento se dá como orientações para a formulação e estruturação curricular das redes e sistemas escolares. Diante disso, tal documento tem sido o documento de identidade para as escolas, as quais precisam adequar-se ao que é apresentado. O que, muitas vezes, se torna inviável, se levar em consideração realidades e necessidades distintas de cada sociedade e de cada escola.
                       
Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental
            É importante entender que as Diretrizes Currículares Nacionais para o Ensino Fundamental (DCNEF) se apresentam enquanto um conjunto de fixações doutrinárias sobre fundamentos, princípios, e procedimento da educação básica. São definições expressas pela Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação, que deverão orientar escolas brasileiras dos sistemas de ensino em relação a sua organização, articulação, desenvolvimento e avaliação de propostas pedagógicas. É documento orientador das práticas e que serve de fundamento para a definição do currículo dos sistemas de ensino.
Como tal documento orienta ações das escolas, ele apresenta questões relevantes e contemporâneas do ambiente escolar. Trata ainda de novos desafios para a função docente, com o aumento das informações na sociedade contemporânea e da mudança de sua natureza. Deve-se atentar para a dupla função do conhecimento escolar: de “desenvolver habilidades intelectuais e criar atitudes e comportamentos necessários para a vida em sociedade” (p. 112). Neste sentido, são abordados diversos temas pertinentes à educação e iremos nos atentar para o que o documento apresenta em relação às TIC e sua integração na sala de aula.
            Com a alta relação dos alunos com as tecnologias, a escola enfrenta novas perspectivas e o professor enfrenta novos desafios em sua prática docente. Neste sentido, é apresentado pelas DCNEF (2010) que as TIC estão presentes no cotidiano dos alunos e que têm alterado suas relações sociais. As DCNEF orientam que essas tecnologias sejam consideradas como instrumentos importantes para a aprendizagem dos alunos e que o professor tenha capacidade de utilizá-las e tratá-las como recursos, podendo utilizá-las como ferramenta pedagógica em diversas situações. Segundo o documento, isso seria capaz de desenvolver nos alunos habilidades intelectuais e atitudes necessárias para a vida.
            Ainda que o documento não apresente explicitamente o que entende por tecnologias da informação e comunicação, a partir do que este apresenta e defende pode-se entender que há uma predominância de aspectos técnicos, uma vez que as trata como recursos. Quando o documento apresenta essas tecnologias principalmente como instrumentos, recursos e ferramentas a serem utilizadas pelo professor para a aprendizagem dos alunos têm-se uma visão de uso tecnológico, não priorizando o uso pedagógico e formativo.
As DCNEF apresentam, no artigo 28 de sua resolução que:

A utilização qualificada das tecnologias e conteúdos das mídias como recurso aliado ao desenvolvimento do currículo contribui para o importante papel que tem a escola como ambiente de inclusão digital e de utilização crítica das tecnologias da informação e comunicação, requerendo o aporte dos sistemas de ensino no que se refere à: I – provisão de recursos midiáticos atualizados e em número suficiente para o atendimento aos alunos; II – adequada formação do professor e demais profissionais da escola. (p. 136).

O artigo reforça a ideia dos autores citados, da necessidade de equipamentos e materiais suficientes, mas também de formação adequada para professores e demais profissionais da escola. Porém, não se deve limitar seu entendimento apenas como instrumentos, mas também levar em conta o sentido culturas das TIC e o  uso social delas.
Ao levarmos em conta os textos apresentados até aqui, percebemos que as DCNEF têm abordado questões importantes para o trabalho com tecnologias midiáticas em sala de aula. Porém, tanto em relação à utilização qualificada, à provisão de recursos midiáticos atualizados e suficientes, assim como em relação à formação dos profissionais da educação, o texto de Toschi (2004) nos mostra que estas questões não têm sido as mais abordadas e importantes para as políticas públicas que tratam do uso das TIC na educação.

As TIC e os professores
            A respeito do que as professoras pesquisadas entendem como tecnologias, pudemos identificar em suas respostas uma concepção técnica delas e de seu uso. Uma professora respondeu que concorda com as DCNEF que as TIC são importantes. Disse ela:
O aluno hoje tem que ter um algo a mais pra chamar a atenção dele e com esta tecnologia que vem tendo na escola é um ponto positivo, porque prende a atenção do aluno, o aluno vai ter mais vontade de aprender, ele vai ter mais interesse em mexer no computador (professora 1).

            Outra professora afirma gostar de trabalhar com o datashow, diz usar sempre que possível o aparelho e que coloca suas aulas e conteúdos para apresentar no equipamento.
            Uma das pesquisadas afirma que queria comprar um datashow para ela, garantindo ser muito mais fácil e que seria importante, já que seus alunos convivem com isso (tecnologias) diariamente.            Em relação ao contato dos alunos com as tecnologias digitais, essa professora ainda afirma: “é o mundo deles, porque eu tenho alunos na minha sala que tem tablet, eu não tenho tablet” (professora 5).
            A maioria das professoras, ao falar de tecnologias, se remete principalmente ao computador, ao laboratório de informática e ao datashow. Uma das professoras ainda se remete ao som, e diz que não se pode lembrar apenas do computador ou tablet e celular, e esquecer a mídia televisiva e a mídia do rádio.
As respostas das professoras quanto às tecnologias e seu uso no ambiente escolar, praticamente se resumem em datashow e laboratório de informática, pois estas afirmam que o número de equipamentos é restrito para a quantidade de crianças e que a formação quando acontece deixa a desejar.
            Algumas professoras ainda culpam os colegas por não usar o equipamento, afirmando que é responsabilidade do professor correr atrás de formação, pois o equipamento chega na escola e deve ser utilizado.
            Sendo assim, observa-se que muitas professoras interiorizaram o discurso da formação como responsabilidade do professor, e que este deve se desdobrar para conseguir realizar o que esperam dele. Mesmo trabalhando muito, mesmo com salário precário, o docente deve conseguir realizar uma formação e trabalhar com mais uma atividade destinada a ele, sem sequer considerar sua opinião. Como afirma Pretto (2001), é preciso também pensar na condição da escola e do professor, esse trabalhador que, muitas vezes, sem condições é empurrado para trabalhar e articular nesse universo de transformações.
            Neste sentido, torna-se importante, além de perceber a concepção dos professores sobre TIC e se estes utilizam ou não, entender também porque não utilizam, sem apresentar juízo de valor ou culpa por tal ação, mas buscar compreender o contexto e o ambiente de trabalho destes.

Considerações finais
A respeito da proposta de pesquisa deste trabalho que visou conhecer o que é apresentado nas Diretrizes Curriculares Nacionais do Ensino Fundamental e o que os professores pesquisados entendem como Tecnologias da Informação e Comunicação, conclui-se que, por vezes, as TIC são apresentadas em uma visão meramente técnica, tanto pelo documento como pelos professores que as utilizam no ambiente escolar.   
As professoras pesquisadas alegam conhecer o que as Diretrizes trazem sobre o uso das tecnologias no ambiente escolar, e consideram este uso importante para o processo de ensino aprendizagem. Embora algumas afirmem que falta formação aos docentes e equipamento para todos os alunos. Afirmam que com a ajuda da dinamizadora utilizam as tecnologias, principalmente no laboratório de informática. Na escola pesquisada há somente um laboratório de informática com vinte e dois computadores, nos quais são realizados a maior parte dos usos mencionados pelas pesquisadas, o que na fala das professoras dificulta o uso das TIC.
É importante destacar que as DCNEF consideram a escola e o professor como fundamentais no auxílio aos alunos com respeito ao uso das tecnologias. Os professores devem valer-se desses recursos sempre que possível na tentativa da formação de cidadãos que utilizem as tecnologias de forma crítica. As DCNEF observam que os professores devem receber formação qualificada e que tenham recursos adequados e suficientes a todos os alunos.
Nesse sentido, as professoras pesquisadas afirmam que estas são questões que têm sido esquecidas, que as formações quando acontecem não pensam no horário dos professores, são rasas e aligeiradas e não capacitam para o uso das TIC. Talvez, essa falta de formação adequada para a utilização das TIC leve o professor a uma visão fragmentada e apenas técnica das tecnologias que lhe são apresentadas. Apresentam também que os equipamentos são em número inferior ao necessário para os alunos e que, por isso, têm pouco tempo para utilizarem nas aulas.
É relevante salientar que as teorias encontradas sobre o tema, muitas vezes, apresentam inúmeras atribuições necessárias ao professor para o uso das tecnologias assim como as DCNEF. Essa questão é demonstrada na fala de uma professora, ao afirmar que as políticas não consideram o professor e exigem que faça formação além do seu horário de trabalho e que a formação devia partir da escola, no momento pedagógico. Ou seja, entende que deve ser um momento da escola e não responsabilizar somente o professor.
As DCN ainda afirmam e defendem a inclusão digital de todos, mas é preciso refletir no que este documento entende por inclusão digital, pois como defendido por Pretto (2001), a utilização de equipamentos tecnológicos não são suficientes para se considerar que as pessoas estão incluídas digitalmente, tornando-se um conceito muito pobre de inclusão digital. Assim, as considerações de inclusão digital devem ir além da mera aprendizagem técnica.
            Enquanto pesquisadores atentamos para o que representam estes documentos e suas reais finalidades na educação. Ao apresentarem esse caráter técnico, documentos oficiais levam aos sistemas escolares e às escolas essa visão de reconhecer as tecnologias como equipamentos e como recursos meramente técnicos. 

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