Algumas Reflexões Sobre a Obra do Escritor Abreu Paxe


Algumas Reflexões Sobre a Obra do Escritor Abreu Paxe

Introdução ..................................................................................... 4
Resenha sinóptico-diacrónica da evolução temática da literatura angolana ..................................................... 5
Geração dos escritores angolanos ...............................................10
Enquadramento do Prémio Literário António Jacinto .............................................................................11
A vida e a obra de Abreu Paxe ....................................................12
Algumas reflexões sobre a obra «A Chave no Repouso da Porta» e o seu autor ................................14
«A Chave no Repouso da Porta»..................................................17
Conclusão ...................................................................................21
Bibliografia ..................................................................................22
Introdução
Com este trabalho pretendemos dar uma perspectiva, embora resumida, da evolução da temática da literatura angolana, desde os primórdios até à actualidade. Um outro objectivo do trabalho tem como fundamento alargar os conhecimentos da literatura contemporânea em Angola. Para tal efeito, debruçámo-nos no estudo de um escritor Abreu Paxe, que tem uma carreira prometedora e já ganhou, entre outros, o Prémio Literário António Jacinto em 2003. Para compreender melhor o seu universo literário, partimos do estudo e análise da sua obra «A chave no Repouso da Porta».
Resenha sinóptico-diacrónica da evolução temática da Literatura Angolana
A evolução temática da literatura angolana, desde os primórdios até à actualidade, atravessou vários estádios que passaram pela construção de um ideal nacional. Segundo a periodização de José Luís Pires Laranjeira, podemos estabelecer duas épocas fundamentais na Literatura Angolana, correspondendo à Época colonial e à Época pós-colonial. Tendo por base estas duas divisões de carácter histórico e literário, constata-se a existência de algumas fases intermédias.
As balizas cronológicas da época colonial datam-se desde o aparecimento de esparsos e escassos textos antes de 1849, altura em que surge o livro de José da Silva Maia Ferreira, até à independência em 1975. A época pós-colonial surge após a independência, altura em que a poesia se vai libertando da lei da vida colonial, até à actualidade.
Não apontando datas para a delimitação das fases, uma vez que oscilam de autor para autor, consideramos a existência de uma primeira fase caracterizada por uma clara adopção portuguesa que abarca apetências populares, em formas e temas.
Apesar de ser uma época em que está provado ter havido alguma actividade escrita, mesmo antes da instalação da imprensa em 1844, considera-se um período extenso e de escassa produção.
Contudo, aponta-se para o início da literatura angolana com a publicação do livro de Maia Ferreira, em 1849, «Espontaneidades da minha alma».
A segunda fase caracteriza-se por uma produção remanescente do romantismo e com tentativas realistas, igualmente de inspiração portuguesa, dos quais se destaca a novela «Nga Mutúri» (1882) de Alfredo Troni.
O negro, que aparece nos textos, tratado sob o ponto de vista dum complexo de inferioridade, é um individuo com possibilidades de ascensão social.
Esta fase é coexistente com a «Imprensa Livre» onde o negro se assume como uma figura que aspira à integração social.
Surgem mais de cinquenta títulos de periódicos publicados com temas liberais e autonomistas, cuja expressão máxima são as colectâneas de «Voz d´Angola: clamando no deserto» (1901) e «Luz e Crença» (1902).
Segue-se a terceira fase em que sob o título «Voz d´Angola- clamando no deserto» se abriu uma frente de reivindicação da igualdade e fraternidade, precursora dos direitos humanos.
Vigoram as temáticas da colonização; o negro era figurante ou encarado como uma personagem irreal. Mas, com a ditadura do Estado Novo, Salazar marca o fim da «Imprensa Livre» e de 1926 a 1941 cria um lapso de tempo na actividade literária.
Outra figura emblemática nesta fase, para além de Alfredo Troni, é Cordeiro da Matta que se dedica à literatura, história, filologia, constituindo um magistério cultural de máxima importância, onde futuras gerações se inspiram. A fase que se segue é fulcral na formação da literatura enquanto consciência africana e nacional. Este período pode ser encarado como a procura da permanente herança dos povos, e é uma época decisiva que tem por base, por exemplo, movimentos como o MNIA (Movimento dos Novos Intelectuais de Angola-1948) , a CEI e a Revista Mensagem que surge em 1951 sob a responsabilidade do departamento da ANANGOLA.
Um outro movimento relevante é a Negritude que, segundo António Jacinto, apareceu em Luanda só em 1952, altura em que se entrou em contacto com a Negritude de Senghor e Césaire através da antologia de Poesia Negra e Malgache.
Estes escritores africanos de expressão portuguesa, da década de cinquenta assentam numa estética do retorno às origens, do reencontro com o passado glorioso, transformado numa utopia da felicidade, referindo-se com orgulho à raça e às culturas tradicionais.
No final desta década, membros do MPLA são presos em Luanda e através da luta armada de libertação nacional enveredar-se-á numa literatura comprometida com formas de nacionalismo anti-colonial, ou seja, a sua ideologia é anti-colonialista e engloba um corpus de guerrilha.
Este movimento de luta armada iniciou-se em 1961. As suas características assentam na base do posicionamento anti-imperialista, do nacionalismo e do exílio com recorrência ao panfletário. Com a Independência em 11 de Novembro de 1975, surge um novo período em que o patriotismo inflama um novo entusiasmo artístico.
Posteriormente, tornou-se possível publicar textos até aí considerados «proibidos», por exemplo : revista «Ngoma», «Caderno dum guerrilheiro» de João Maria Vilanova e «Nós, os do Makulusu» de José Luandino Vieira.
Nesta fase, depara-se com uma estética do orgulho pátrio visível em composições literárias como por exemplo : a poesia de Garcia Bires e no Romance «Geografia da Coragem» de Jorge Macedo.
Desembocou-se numa época literária de intensa exaltação nacional introduzindo nos textos os acontecimentos flamejantes, a tomada do poder político, a opção pelo socialismo, assim como a constituição do Estado e da Nação.
A última fase corresponde à Renovação, ou seja, referente ao momento actual. Assiste-se a um representar literário de antigos mitos, sonhos, realidades e utopias, verificando-se, ao mesmo tempo, uma autonomia estética, com uma fuga aos cânones literários, como se pode verificar com os seguintes exemplos de poesia apresentados na Revista Internacional «Dimensão nº30».
Geração de Escritores Angolanos
SÉCULO XIX Geração de 1880 José de Fontes Pereira Geração de 1890 Joaquim Dias Cordeiro da Matta António do Nascimento SÉCULO XX Geração de 1901 Pedro da Paixão Franco Augusto Tadeu Bastos Geração de 1930 Óscar Ribas António de Assis Júnior Geração de 1940 Agostinho Neto Aires Almeida Santos Alexandre Dáskalos António Jacinto Domingos Vam-Dúnem Mário Pinto de Andrade Raul David Viriato da Cruz Geração de 1950 Arnaldo Santos
Pepetela Jorge Macedo Geração de 1970 Paula Tavares José Mena Abrantes Boaventura Cardoso Rui Duarte de Carvalho Timótio Ulika Geração de 1980 Carmo Neto João Tala Rui Augusto Roderick Nehone Jacinto de Lemos Conceição Cristóvão António Panguila António Fonseca Fernando Kufukeno Lopito Feijoó Frederico Ningi José Luís Mendonça Amélia Dalomba João Melo João Maimona Costa Andrade Luandino Vieira Henrique Abranches Geração de 1960 Manuel Rui
Enquadramento do Prémio Literário António Jacinto
O prémio literário António Jacinto é instituído pelo Ministério da Cultura com o objectivo de incentivar o surgimento de novos escritores e a produção de novas ideias. O BPC (Banco de Poupança e Crédito) possui uma vertente de carácter social tornando-se no principal patrocinador oficial do Prémio Literário António Jacinto.
No que concerne a António Jacinto do Amaral Martins, é considerado um dos maiores escritores angolanos, talvez por esse facto, este Prémio tenha o seu nome. Nasceu em Luanda em 1924 e faleceu em 1991. Orlando Távora era o pseudónimo utilizado por António Jacinto como contista.
Militante do MPLA, foi co-fundador da União de Escritores Angolanos, membro do MNIA (Movimento Novos Intelectuais de Angola) e participou de forma activa na vida politica e cultural angolana. Por razões politicas, esteve preso entre 1960 e 1972.
Foi membro da revista Mensagem, para além de ter colaborado com as suas produções em diversos periódicos como o Jornal de Angola, Notícias do Bloqueio, Itinerário, Império e o Brado Africano.
O poeta laureado pelo Prémio Literário António Jacinto 2003 foi Abreu Castelo Vieira Paxe.
A Vida e a obra de Abreu Paxe
Abreu Castelo Vieira Paxe nasceu há 33 anos no Colonato do Vale-do-Lage, município de Bembe, província do Uíje. Filho de pai operário e de mãe doméstica, é finalista de especialidade de Português no Instituto Superior de ciências da Educação (ISCED) de Luanda, da Universidade Agostinho Neto. É técnico de comércio Externo pela Escola de Comércio e escreve aspirando à poesia há mais de 16 anos.
Foi animador do Cacimbo do Poeta na sua 3ª edição, actividade organizada pela Alliance Française de Luanda, em 2000. Abreu Paxe venceu o concurso «Um poema para África» em 2000, uma iniciativa do Ministério das Relações Exteriores, coadjuvado pela Rádio Nacional de Angola.
Este concurso visa saudar com dignidade o Dia de África que se comemora anualmente a 25 de Maio.
Abreu Paxe foi o vencedor incontestado, com o poema intitulado «Na ternura do cerco».
Figura na Revista Internacional de Poesia «Dimensão nº 30» de 2001, uma das mais prestigiadas revistas de difusão de poesia que é produzida a nível da globo. Este número divulga um conjunto de autores e a sua produção poética essencialmente produzida em Angola, contando com a presença da produção de vinte poetas angolanos de distintas gerações como por exemplo Abreu Paxe,
António Gonçalves, J.A.S. Lopito Feijóo K, João Maria Vilanova, Paula Tavares, entre outros.
Mantém colaboração com a revista «Urobó» especializada em critica, ensaio e divulgação de poesia, editada pelo Professor Anelito de Oliveira.
Em Setembro de 2001, participou na 22ª Bienal Internacional de Poesia em Liége-Reino da Bélgica.
Abreu Paxe movimenta-se no mundo da poesia há mais de 16 anos e tem vários textos publicados: no Jornal de Angola nº 8001 de 10 de Outubro de 1999; nº 8382 da 29 de Outubro de 2000; nº 8597 de 3 de Junho de 2001; nº 8730 de 14 de Outubro de 2001; no Angolense nº 134, da semana de 9 a 16 de Junho de 2001; Ensaio sobre a poesia angolana: na Revista «Mensagem»1.
De igual forma foram publicados textos nos jornais nº 2 de Janeiro, Fevereiro e Março de 2002, do Ministério da Educação e Cultura.
A sua mais recente publicação foi a obra «A Chave no Repouso da Porta» em 2003, uma compilação que reúne 42 poemas.
Algumas reflexões sobre a obra «A Chave no Repouso da Porta» e o seu autor.
Abreu Paxe caminha no mundo da poesia há mais de 16 anos, iniciando a sua carreira de escritor com um concurso literário que surgiu na escola, quando ele tinha aproximadamente 12 anos. A sua intenção em participar não era de ser vencedor ou não, mas de estimular e cultivar o gosto pela literatura.
Por outro lado, o que levou Abreu Paxe a entrar tão jovem para o mundo da literatura deveu-se também ao facto de entrar em contacto com os livros desde a sua tenra idade, começando com a literatura infantil.
Um dos primeiros textos que produziu foi o «Dirás Love», poema que marcou o autor.
Abreu Paxe escolheu por eleição a poesia em detrimento da prosa, uma vez que mantém o gosto pelo infinito, pelo inconclusivo, e a poesia torna-se, de certa forma, muito mais livre e mais aberta a outros espaços, a outros mundos do que a prosa.
Segundo o autor, «a poesia é a realização, o indefinido, o inconcluso, o sempre, sempre e o eterno, e então foi nesta perspectiva que eu abracei a poesia, porque eu gosto de sempre de fazer o que devo fazer sempre» (Entrevista de Aguinaldo Cristóvão).
No que concerne à obra «A Chave no Repouso da Porta» , os poemas pressagiam importantes alterações para o contexto politico angolano. O autor transmite a ideia de que tem na mão a chave da porta e sabe que esta não tardará a abrir, o sujeito lírico é um sonhador da harmonia.
Esta obra é um projecto amadurecido do autor, é o fruto de uma orientação cuidadosa e de uma escolha de 42 textos.
Para o júri que galardoou Abreu Paxe com o Prémio Literário António Jacinto, «A Chave no Repouso da Porta» pode ser considerada como poesia da desconstrução do verbo, ao recriar o mundo visível na dimensão desconcertante do sonho, onde tudo é lama/lava escorrendo o seu pulsar ontológico.
«Esta poesia é um canto de metal ultra-moderno, reluzente tecnologia da frase composta, átomo a átomo, num trabalho de engenharia cíclica da língua.»
O teor mensageiro é bastante relevante, pois, antes de mais, sabemos que estamos perante uma época de transição, de uma mudança repentina em todas as vertentes do mundo angolano. Desta forma, as conquistas que naturalmente agora anseiam são outras. À guisa de exemplo, temos a concentração da riqueza, a exacerbada exploração do homem, o absoluto domínio do poder económico, político e financeiro, entre outros. O humanismo e a justiça deixam de ter valor e prestígio social neste mundo global. Por isso, a actividade artística vai estar marcada por estas características sociais.
No que concerne à sua inspiração poética, Abreu Paxe não aponta nenhum autor de referência, no entanto prefere o termo motivação em vez de inspiração.
Segundo uma entrevista do autor dada ao Jornal de Angola em Agosto de 2003, Abreu Paxe mostra a razão da sua preferência afirmando que «não gosto deste termo «inspirar» pelo facto da poesia como obra de arte, repito, não ser um dado natural, mas uma exigência. Vista em qualquer perspectiva constitui-se num acto de confiança na liberdade dos homens».
A conquista do Prémio Literário António Jacinto (PLAJ) é um dos grandes passos para a consagração do mundo literário, contudo não foi o único passo importante, nem será, certamente o último.
«Com este prémio revelação acho que dei o disparo, ou melhor, me proponho a caminhar nesta senda movediça e escorregadia que é a literatura» .
Abreu Paxe é um escritor que se inicia já com um prémio literário, podendo este transmitir duas leituras, nomeadamente o facto de conquistar outros patamares, novos êxitos, ou, ao invés , de «cair no poço», pois como o refere o ditado popular «o nosso pior inimigo é o sucesso anterior».
Contudo, o autor afirma «se reflectirmos, e conseguirmos amadurecer o sucesso que temos, é um bom incentivo para os trabalhos subsequentes», e iniciar com um prémio é muito motivador para a carreira de escritor.
«A Chave no Repouso da Porta» «A Chave no Repouso da Porta», cujo autor é Abreu Castelo Vieira Paxe, tem como editor o Instituto Nacional das Industrias Culturais (INIC). A obra insere-se na colecção A Letra nº. 29, a execução gráfica é representada pela EAL, Edições de Angola, Lda, teve uma tiragem de 1000 exemplares, e a sua primeira edição foi em Luanda, 2003
Esta obra composta por 42 poemas, inicia-se com quatro dedicatórias, em particular, ao seu filho Jairo, aos seus pais e irmãos, aos seus sobrinhos e ainda ao João Maimona.
Numa perspectiva geral da obra, poder-se-á dizer que os poemas são compostos por uma única estrofe, na qual o número de versos varia. Estes oscilam entre os 3 versos por estrofe como é o caso dos poemas «talvez dobrado azul» (pág. 32) e «alicerces da luz» (pág. 36) e os 13 versos como se verifica em «dimensões ossificadas chaves» (pág. 13), «os demorados dias da orla» (pág. 28), «entre e uma virgula nossa numerosa idade» (pág. 30) e ainda «étoile muette» (pág. 39).
Outra característica peculiar da sua obra é a quase inexistência de pontuação e de rima.
À guisa de exemplo temos o poema «exactamente perdida margem» (pág. 11).
exactamente perdida margem a idade antes contudo aflora recomendo o mundo o mapa outros amores e rancores a paisagem apodrece como espelho o disfarce sombras de seiva ocidental se apaga aceso corpo meu leito pêlos e estações cartas tua erva pela manhã os cheiros licor em prefigurações deixa rasgado litoral nos salões da história ferramentas as cinzas tal mente por fora escombro cavernas antes que poesia tudo deixa atravessada paz exactamente perdida margem
Para além das características apontadas, referimos igualmente o facto de os versos serem longos assim como a ausência da letra maiúscula no início dos poemas.
Todos estes factores remetem não para o facto de Abreu Paxe ser um desconhecedor da língua, uma vez que estamos perante um especialista da Português, mas para o uso dos métodos surrealistas, os quais remetem para um regime de liberdade
absoluta, dando voz à realidade interior, aos sonhos, momentos em que atingimos a plenitude da liberdade.
O surrealismo é o movimento em que trazemos à superfície e à luz do dia aquela grande parte da nossa vida espiritual que permanece no inconsciente.
Sendo o surrealismo uma estética sem regras, amoral, em que mantém o carácter revolucionário, o facto de os poemas não apresentarem maiúscula, nem pontuação, nem rima são vectores de um discurso anti-racional, onde é fundamental retirar a organização do texto, deixando-o por vezes incompleto.
Contudo, por detrás de um poema surrealista também está um ser humano, com todas as suas ambições, angustias, emoções e, que de certa forma nos transmite essas ideias através de uma liberdade absoluta. É por isso que os poemas surrealistas têm uma interpretação muito aberta, não ficando a análise concluída, há sempre aspectos que ficam por explicar.
Tomemos como exemplo o poema atrás apresentado «exactamente perdida margem», uma das mensagens que o texto nos transmite é o facto de que a idade antes da colonização era aflorada, existiam outros amores e outros rancores.
Contudo, após a colonização, a paisagem apodreceu tal como o espelho quando projecta a sombra ocidental.
A idade onde tudo era verdadeiro, sem falsidade, onde eram livres, desapareceu com a invasão dos novos povos ocidentais.
Com esta «infiltração» ocidental, a paz, a união, o que era mais genuíno deixa de existir e a margem fica «exactamente perdida», não se reconhecendo após as modificações sofridas, alterações essas que deixaram «cinzas» na história.
Verifica-se também na sua obra várias alusões aos vocábulos que remetem para uma ideia de luminosidade e para a vontade de serem livres na transmissão dos seus ideais. O poema «o corpo do texto da chuva e do sol» (Pág 27) é um exemplo fulcral dessas vontades. Logo no primeiro verso «as lâmpadas vêem e fendem-se os templos constelações» remete para a ideia de luminosidade, onde nessa luz se anseia uma nova maneira de pensar. É uma nova aurora que está presente na vida de todos. Este poema mostra-nos ainda a ideia de que «o corpo dimensiona a garganta/ sem secar a vontade humana/ das horas dos dias das semanas dos meses e dos anos/ curvas da língua húmida»,ou seja, é através da garganta que se projecta a voz, a luta incessante do povo e não é o tempo que os vai fazer parar de dizer aquilo que têm em mente. A ideia de transparência também está presente no poema através do lexema «água»,onde nada é obscuro, tudo é límpido e transparente como a busca dos seus ideais libertários.
Este poema, tal como todos os outros, não apresenta um esquema rimático, os versos são longos , não têm o mesmo número de sílabas métricas e verifica-se igualmente a ausência de pontuação e de maiúscula.
Conclusão
Como conclusão do trabalho podemos dizer que a temática da literatura angolana foi evoluindo ao longo da sua história, mas está patente nela uma nítida construção de um ideal nacional.
No que concerne ao autor estudado Abreu Paxe, podemos dizer que apresenta uma escrita espontânea, que refuta a lógica, as leis gramaticais e os pressupostos semânticos, mas não deixa de ser uma poética menos criativa e estimulante para os leitores amantes do mistério, onde procuram o significado oculto das palavras.
Ao desmistificarmos a sua obra, verificamos uma construção temática fascinante e, ao mesmo tempo, criamos a partir dos poemas imaginários magníficos.
Bibliografia
Jornal de Angola: Vida Cultural, Jomo Fortunato, Angola, Domingo, 3 e Agosto de 2003
Laranjeira, Pires, Literaturas Africanas de expressão portuguesa, Universidade Aberta, Lisboa, 1995
Paxe, Abreu, «A Chave no repouso da Porta», Instituto Nacional das Indústrias culturais (INIC), Luanda, 2003
Bilharino, Guido, Revista Internacional de Poesia dimensão nº 30, Uberaba/ Brasil, 2000