Os Ovimbudus

INTRODUÇÃO
O ser humano é naturalmente um ser cultural, religioso, comunicativo, livre e está aberto ao diálogo.  Durante a sua vivência, vai assimilando experiências e conhecimentos e vai aprimorando o seu repertório cultural. Para melhor nos adestrarmos no conhecimento de um determinado povo, precisamos conhecer, antes de mais, a sua cultura. Este trabalho tem por objectivo principal saber como viveram os povos Umbundus e como foram capazes de sobreviver e manter as suas tradições como também hábitos e costumes.
OVIMBUNDUS
Os Ovimbundu (Ovi-mbundu, singular Oci-mbundu, adjectivo e idioma Umbundu) (em português frequentemente referidos como Ovimbundos, uma forma híbrida que expressa o plural pelo prefixo umbundu "ovi" e pelo sufixo português "-s")  são uma etnia bantu de Angola. Eles constituem 37% da população do país. Os seus subgrupos mais importantes são os Mbalundu ("Bailundos"), os Wambo (Huambo), os Bieno, os Sele, os Ndulu, os Sambo e os Kakonda (Caconda).
HISTÓRIA
Descendentes de populações bantu que chegaram à região no início do 2º milénio, os Ovimbundu ocupam hoje o planalto central de Angola e a faixa costeira adjacente, uma região que compreende as províncias do HuamboBié e Benguela.
São um povo que, até à fixação dos portugueses em Benguela, vivia da agricultura de subsistência, da caça e de alguma criação de gado bovino bem como de pequenos animais. Durante algum tempo, uma vertente importante teve o comércio das caravanas entre o Leste da Angola de hoje e os portugueses de Benguela. Este comércio entrou em colapso quando, no início do século XX, o sistema colonial português lhes exigia o pagamento de impostos, os Ovimbundus viraram-se sistematicamente para a agricultura de produtos comercializáveis, principalmente o milho.
No decorrer do século XX, e em especial no período da "ocupação efectiva" de Angola, implementada a partir de meados dos anos 1920, a maioria dos Ovimbundu tornou-se cristã, aderindo quer à Igreja Católica, quer a igrejas protestantes, principalmente à Igreja Evangélica Congregacional de Angola (IECA), promovida por missionários norte-americanos. Esta cristianização teve, entre outras, duas consequências incisivas. Uma, a constituição, em todo o Planalto Central, de aldeias católicas, protestantes e não-cristãs separadas. A outra, um grau relativamente alto de alfabetização e escolarização, e por conseguinte também do conhecimento do português, entre os Ovimbundus, com destaque para os protestantes.
Em simultâneo houve dois processos de certo modo interligados. Por um lado, formou-se lentamente uma identidade social (um sentido de pertença) abrangendo todos os Ovimbundu, e não apenas subgrupos como p.ex. os M'Balundu ou os M'Bieno. Por outro lado, verificou-se uma "umbundização" cultural, inclusive linguística, de alguns povos vizinhos que tinham tido (e em certa medida mantiveram) características algo distintas dos Ovimbundus.
Os Ovimbundu foram muito afectados tanto pela guerra anti-colonial em Angola como pela guerra civil angolana.
Durante a primeira, o Estado colonial impôs no Planalto Central (como também noutras partes do território), no fim dos anos 1960/início dos anos 1970, o sistema das “aldeias concentradas”. Este sistema consistiu em juntar num único lugar duas ou três diferentes aldeias, frequentemente de religiões diferentes. Os sítios destas “aldeias concentradas” eram escolhidos pelas autoridades coloniais de acordo com critérios considerados como estratégicos, do ponto de vista da segurança. Por desconhecimento, tais critérios raramente correspondiam às exigências da agricultura de adaptação praticada (por necessidade, não por opção) pelos Ovimbundu. O resultado foram sérios prejuízos económicos que forçaram muitos homens a aceitar a contratação como mão-de-obra assalariada (e mal paga) nas plantações de café, no Norte de Angola, ou nas plantações de europeus existentes na sua região. Estas circunstâncias tornaram-se fortes razões para uma adesão, naturalmente clandestina, de grande parte dos Ovimbundu à UNITA, movimento anti-colonial armado encabeçado por um Ocimbundu, Jonas Savimbi.
A segunda teve as suas raízes na concorrência pela tomada do poder, entre os movimentos anti-coloniais FNLAMPLA e UNITA, despoletada pela intenção, manifestada por Portugal em 1974, a seguir ao derrube do regime autoritário corporativista instaurado por Salazar, de retirar-se das suas então colónias. Tendo o MPLA saído vitorioso deste conflito, e assumido sozinho o poder político na Angola tornada independente, a UNITA optou em 1975 por uma oposição armada ao MPLA que apenas terminou com a morte de Jonas Savimbi, em 2002. Durante estes 17 anos, os Ovimbundu sofreram o impacto dos combates que se desenrolaram na sua região, e que levaram entre outros à quase destruição das cidades de Huambo e Kuito, mas também o da repressão por parte das tropas governamentais (MPLA). As consequências foram perturbações acentuadas no funcionamento económico da sociedade umbundu e um êxodo rural maciço para as cidades, em parte para as da própria região, com destaque para HuamboBenguela e Lobito, mas numa parte crescente para fora da região, principalmente Luanda e áreas adjacentes, e em segundo lugar para as capitais de província, de Malanje até Lubango e Ondjiva.
Os defensores da segunda hipótese afirmam que os Ovimbundu são uma síntese de vários grupos étnicos angolanos. E, consequentemente, não têm um carácter homogéneo. Estão à vista os aproveitamentos políticos que se podem fazer desta interpretação, uma vez que se pretende, com este ponto de vista, provar que os Ovimbundu não são um grupo étnico unitário, e muito menos têm uma especificidade cultural e etnolinguística próprias. Os estudiosos, defensores desta hipótese, apegando-se a aspectos linguísticos, afirmam que os Ovimbundu seriam descendentes dos Bakongo, uma vez que, segundo eles, a língua umbundu é uma síntese do Bantu-Kongo e do Bantu-Lunda. Na verdade, esta hipótese, possui uma certa evidência científica, pois os Ovimbundu pela posição que ocupam no planalto central teriam ligações com os Ambundu da baixa de Kasanji; com os Cokwe e os Lunda. E mesmo a sua grande versatilidade, a sua impressionante capacidade de adaptação aos diversos habitat, poderiam ser explicadas a partir desta simbiose, ou seja, desta miscigenação que não se cingiu apenas a aspectos linguísticos e biológicos, mas também à adopção de saberes, técnicas, formas colectivas de luta contra a adversidade da natureza.Esta hipótese, a mais aceite pelos vários historiadores, viria a levar um rude golpe, criando assim várias dúvidas com a descoberta da estação arqueológica de Kaniniguiri (Kaniñili). É de referir que esta se situa nas áreas do Mungo e do Bailundo e remonta a milhares de anos (9600 anos ou 9670 anos em idade absoluta). O que mostra que, paralelamente as comunidades pré-bantu (Bosquímanos, Vátuas e outras) existia na região do planalto central uma comunidade de onde saíram os autores das famosas e impressionantes pinturas rupestres de Kaninguiri. E se, para além das evidências arqueológicas, nos ativermos à tradição oral, que apresentaremos mais adiante quando falarmos da história de cada subgrupo étnico, podemos tirar a seguinte conclusão: existem evidências claras que apontam no sentido de os Ovimbundu serem descendentes directos dos autores das pinturas de Kaninguiri e que foram sofrendo, num processo de "osmose", influência dos grupos Bantu que se foram fixando nas proximidades. Saliente-se que, de acordo com alguns historiadores, as migrações dos Bantu, em Angola, devem ter iniciado no século XII com a entrada dos Kikongo; dos va-Nyaneka (séc XVI), dos Nganguela (século XVII), dos Ovambo e dos Cokwe (século XVIII) e dos Ovakwangali (século XIX).
AS DESCENDENCIAS DOS UMBUNDUS
O grupo linguístico Mbundo compreende 15 grupos principais: os mais significativos em número de habitantes dão os Bieno e os Bailundo. Embora as tradições Ovimbundu digam que este povo veio do nordeste, alguns especialistas creêm que provavelmente vieram do sudoeste do Congo.  
Destinguem-se, pelo menos, 18 grupos ovimbundu diferentes: Bailundos (va-mbalundu), Biés (va-vihé), Uambos (va-wambu), Galanguis (va-ngalangui), Quibulos (va-kimbulu), Adulos (va-ndulu), Quingolos (va-kingolo), Kalukembes (va-kaluquembe), Sambos (va-sambu)(va-ekekete), Cacondas (va-kakonda), Quitatos (va-kitatu), Seles (va-sele), Ambuis (va-mbui), Hanhas (va-hanha), Gandas (va-nganda), Chicumas (va-chikuma), Dombes (va-dombe) y Lumbos (va-lumbu).
Entre 1500 e 1700, o povo de Ovimbundu emigrou do norte e do este de Angola para a Meseta de Benguela. Eles não consolidaram osseus reinos nem seus reis afirmaram sua soberania em cima da Meseta, até ao século 18, quando surgiram 22 reinos. Treze dos reinos, incluso Bié, Bailundu, e Ciyaka surgiram como entidades poderosas e os Ovimbundu adquiriram reputação de serem os comerciantes mais exigentes do interior de Angola.
Depois que os portugueses conquistaram a maioria dos estados de Ovimbundu, em finais do século 19, as autoridades coloniais portuguesas prenderam os reis de Ovimbundu directa ou indirectamente.  
Depois de um século de uma certa estabilidade, a história Umbundu é marcada por uma série de guerras conhecidas por "as guerras dos Nanos". Estas guerras começaram em 1803 e duraram quase um século. As mais importantes aconteceram em 1848 quando os Huambo (um grupo Ovimbundu) tentou dominar politicamente os demais.
A agricultura é a fonte fundamental dos recursos económicos deste povo.
Ritos e costumes do Povo Ovimbundu
O povo Ovimbundu tem uma certa veneração pelos seus antepassados, daqueles que durante a sua vida terrena praticaram o bem e com galardão, merecem juntar-se ao coro dos seus antepassados (va sekulo).
É a estes a quem se devem construir  pequenas casotas que se chamam "atambo" no quintal da nossa casa, ou num dos quartos que fica privado apenas para o efeitoe, também  é a eles que se devem recorrer nos momentos de alegria, de tristeza , de calamidades naturais e de qualquer infortúnio na vida. 
Para tal recorrem alguns ritos e constumes,
·                     Ritual a ao local sagrado (Akokoto ou Etambo)
·                     Ritual da chuva
·                     Ritual do nascimento de bébes gémeos
Costumes
·                     A alimentação
·                     A dança
Ritual da chuva
A dança da chuva é um tipo de dança ritual que é habitualmente executada em certas comunidades com a finalidade de propiciar chuvas para a colheita.
Quando não chove na devida altura (nda Kuli ocitenya) os velhos da comunidade ficam preocupados, porque as plantações secam, tais como o milho e o feijão principal dieta  dos Ovimbundus.
Assim os velhos (sa Sekulo) decidem ir ao túmulo dos antepassados aos Akokoto para a realização do ritual.
O local é limpo para a ocasião  a comida é preparada pela Nassoma (mulher do soba). A comida é constituida por canjica de milho  e são sacrificados alguns animais (cabras e galinhas);
As bebidas tradicionais como Kachipembe, chissangua(ocimbmbo);
A comida e a bebida são oferecidos aos espiritos, tocam os batuques e as pessoas comem e bebem. Se os espiritos dos chefes receberem as oferendas, choverá no mesmo dia. Se não chover, significa que os espiritos não estão satisfeitos com a cerimónia e tem de ser feita outra vez segundo o soba Kavinganji
Ritual de nascimento de Bebés Gémeos
O nascimento de bebés gémeos, constitui alegria para a família e ao mesmo tempo uma preocupação.   Quando nascem gémeos, ao contrários de outros bebés, estes são saudados com insultos. São chamados por nomes abusivos, por exemplo: " Ove a Ngulu, ove ambua" que significa em português (tu  porco, tu cão) e outras palavras depreciativas pelas quais são tratados.
A mãe e os gémeos  depois de os umbigos caírem, são levados para fora de casa, envoltos em barro,  a mãe é arrastada no lodo passando com ela em volta da casa num alarido de insultos assobios e ao som de chifre de boi ou cabrito, com uma balaio cheio canjica não desfarelada na cabeça (ombulungu), que vai sendo consumida á medida que se vai arrastando a mãe no lodo.
Esta festa dura quase a manha toda. De seguida os umbigos são enterrados junto ao cruzamento dos caminhos, as roupas que serviram a parturiente são deitadas fora ou num rio. Quem faz isto é o curandeiro que acompanhou a parturiente e os bebés.
 Atribuição de nomes aos Bebés
Recebem o nome de animais selvagens  mais temidos na fauna Angolana tais como:
 Se forem dois rapazes
1º nascido = JAMBA ( ELEFANTE)
2º nascido = HOSSI (LEÃO)
Se forem um menino e uma menina
1º o menino =JAMBA
2ª a menina = NGUEVE ( HIPOPOTÁMO)
O tratamento dos bebés
Devem ser considerados  por igualdade de direitos. As roupas devem ser da mesma cor e tecido para evitar aborrecimentos entre eles.
 A morte de um bebé
Se falecer um deles não se deve Chorar. A mãe e o bebé vivo são escondidos  ao máximo, até terminar o óbito e em sua substituição cria-se uma estatua antropomórfica de pequenas dimensões que deverá trajar a mesma roupa que o vivo e que deverá sempre ser levada pela mãe. 
A dança
O povo ovimbundu aprecia muito a música acompanhada de dança diversificada de acordo ás circunstâncias dos rituais, pois através da música e da dança ele manifesta os seus sentimentos afectivos que podem ser de alegria ou tristeza.
O dançarino é uma figura pública dominadora da arte da dança e por isso tem um lugar de referência na sociedade.
Pode ser homem ou mulher. Ele/ela dançam em público em festas tradicionais como a entronização, de iniciação a puberdade, na morte de um Rei entre outras.
A dança dos mais velhos – Olundongo
Executa-se durante o dia. Os executantes vestem-se de panos amarrados com cintos e usam o batuque.
Esta dança usa-se tradicionalmente na entronização, em obitos,, despedidas de lutos das dançarinas, dos caçadores, circuncisores e soberanos.
Onyaca - Modalidade da dança tradicional,executada pelas mulheres. Geralmente usa-se na despedida de luto de quem em vida também usava tal dança
Okatita - Dança tradicional usada pelos ambos os sexos, em momentos de diversão
A Alimentação 
A base de alimentação do povo ovimbundu é o pirão feito de farinha de milho e por vezes de mandioca O pirão é acompanhado de diversos condimentos tais como:
Feijão, feijão frade, folhas de mandioqueira, folhas de abóbera,, folhas de  pepino, folhas de batata doce, bringeiras, quiabos, peixe salgado, carne de caça, ratos , gafanhotos.
Normalmente este povo come logo de manha, um prato substancial de pirão, batata doce ou canjica.
A noite come um prato de pirão. No intervalo destas duas refeições come fruta e bebe Quissangua.





CONCLUSÃO
O grupo étnico dos Ovimbundu é, actualmente, formado por vários subgrupos :Va-Mbalundu, Va-Vihé, Va-Wambu, Va-Ngalangui, Va-Kimbulu, Va-Ndulu, Va-Kingolo, Va-Kaluquembe, Va-Sambu, Va-Ekekete, Va-Kakonda, Va-kitatu, Va-Sele, Va-Mbui, Va-Hanha, Va-Nganda Va-Chikuma, Va-Dombe e Va-Lumbu). Estes subgrupos vivem na região que compreende o Huambo (zona de solo fértil e onde se podem cultivar cereais, horticultura, e com boas condições para o gado, especialmente bovino); a Huíla, sobretudo nos municípios de Caconda, Caluquembe e na própria cidade do Lubango, cuja população é maioritariamente Ovimbundu; o Bié, igualmente uma zona fértil e de clima saudável; Benguela, região igualmente com terrenos muito férteis e onde existem minérios de cobre, ferro, enxofre, sulfato de sal, etc. e numa parte do Cuanza Sul, Móxico e Kuando-Kubango.Por fim, resta-nos apenas acrescentar que os futuros estudos a efectuar, quer ao nível da linguística, quer da arqueologia, quer ainda da tradição oral, poderão aportar outros dados importantes para o conhecimento da origem dos Ovimbundu.



BIBLIOGRAFIA
Os Ovimbundus. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ovimbundos

O Povo Ovimbundu. Disponível em: http://culturaangolanaetniaovimbundo.blogspot.com/p/artigos-informativos.html