PSICOTERAPIA
PSICOTERAPIA
A psicoterapia é um tipo de terapia, cuja finalidade é tratar os problemas psicológicos, tais como depressão, ansiedade, dificuldades de relacionamento, entre outros problemas de saúde mental. É um processo dialéctico efectuado entre um profissional, o psicoterapeuta - que pode ser psicólogo ou psiquiatra -, e o cliente ou paciente.
Por ser uma área da saúde mental, a psicoterapia é a principal linha de tratamento para qualquer assunto referente ao psiquismo. Para isso, propõem intervenções psicológicas, cujos objectivos centrais são:
─ Restabelecer o funcionamento psíquico óptimo do paciente;
─ Permitir que o paciente compreenda as causas do que lhe acomete, para que possa encontrar recursos psíquicos para lidar com suas dificuldades, problemas, etc;
─ Desenvolver meios de agir no mundo, redefinindo seus traços de personalidade.
─ Solucionar problemas pontuais, que o afligem, bem como, observar questões de cunho mais existencial.
Os vários tipos de psicoterapia, em todas as suas diferentes formas e métodos, possuem uma série de características em comum. Somente tendo em mente tais características, se pode compreender o funcionamento da psicoterapia em geral e as qualidades que definem cada uma das diferentes escolas.
Primeiramente as condições da terapia são organizadas por determinadas circunstâncias sociais que determinam, por um lado, a oferta de terapeutas, as instituições que oferecem terapia, o acesso (físico e financeiro) da população (estrutura do sistema de saúde), e, por outro, a formação dos psicoterapeutas e a aceitação de terapia por parte da população (factores socioculturais).
Sobre esse pano de fundo, filtrado pela presença de outras partes interessadas (pais, família, supervisores etc.), se desenrola então o processo terapêutico: entre o terapeuta e o paciente (em determinadas escolas chamado cliente), cada um dos quais possuindo determinadas características profissionais e de personalidade, se fecha um contrato terapêutico, que define as regras do trabalho terapêutico para ambas as partes.
Dois elementos, a técnica terapêutica e o relacionamento terapêutico, representam a base de trabalho e são ambas influenciadas por atributos tanto do terapeuta como do paciente. O trabalho técnico do terapeuta, por outro lado, só poderá dar frutos se o paciente mostrar abertura a esse trabalho. Os efeitos da terapia se apresentam em diferentes níveis, tanto em relação aos padrões de funcionamento do indivíduo quanto em relação a seus relacionamentos interpessoais.
A disciplina que se dedica ao estudo - desenvolvimento, avaliação, melhoramento, explicação teórica – da psicoterapia é a pesquisa psicoterapêutica.
A pesquisa empírica, ou seja, usando métodos científicos, sobre a psicoterapia começou nos anos 1950, depois de o psicólogo britânico Hans Eysenk (1952) ter afirmado que psicoterapia não tinha efeito nenhum, ou seja, que era melhor ficar em casa do que buscar um terapeuta. Essa afirmação de Eysenk, de que ele próprio mais tarde (1993) se distanciou, foi o impulso necessário, para que a busca de uma compreensão mais aprofundada do processo terapêutico começasse.
A pesquisa dos efeitos da psicoterapia, baseada nos padrões da pesquisa farmacêutica, busca diferenciar o efeito da terapia em si, o efeito placebo, ou seja, a melhora nos sintomas devido à expectativa do paciente (e não à terapia em si), e a remissão espontânea, ou seja, a cura dos sintomas por si sós. Uma resposta à questão do efeito da psicoterapia não se dá no entanto, com apenas meia dúzia de estudos; pelo contrário, são necessários muitos deles, que são então reunidos em uma meta-análise, ou seja, um estudo que reúne e resume um grande número de estudos. Com base em várias meta análises pode-se afirmar hoje que a psicoterapia, pelo menos em suas formas tradicionais, é realmente efectiva - ou seja tem efeitos mais fortes sobre a saúde psíquica do que o efeito placebo e a remissão espontânea. Cabe no entanto observar com Klaus Grawe (1998) que a questão do efeito placebo se apresenta de maneira diferente em psicoterapia e em farmácia, pois enquanto nesta se trata de um efeito indesejável (se quer de fato que o medicamento funcione por si mesmo), em psicoterapia trata-se de um forte efeito psicológico, que deve ser compreendido e que pode ser utilizado como parte da própria terapia.
Uma vez confirmado o efeito positivo da psicoterapia sobre a saúde mental dos pacientes, a pesquisa empírica começou a voltar a sua atenção a uma pergunta muito mais difícil de ser respondida: como, com que mecanismos, é que ela funciona?
O processo terapêutico começa, para o paciente, antes da terapia em si e termina somente muito depois de sua conclusão formal. Prochaska, DiClemente e Norcross (1992) propuseram um modelo em seis fases que descreve esse processo:
1. Fase "pré-contemplativa" (precontemplation stage): é a fase da despreocupação. O paciente não tem consciência de seu problema e não tem a intenção de modificar o seu comportamento - apesar de as pessoas a sua volta estarem cientes do problema. Nesta fase os pacientes só procuram terapia se obrigados;
2. Fase "contemplativa" (contemplation stage): é a fase da tomada de consciência. O paciente se dá conta dos problemas existentes, mas não sabe ainda como reagir. Ele ainda não está preparado para uma terapia: está ainda pesando os prós e os contras;
3. Fase de preparação (preparation): é a fase da tomada de decisão. O paciente se decide pela terapia - nesta fase o meio social pode desempenhar um papel muito importante;
4. Fase da ação (action): o paciente investe - tempo, dinheiro, esforço - na mudança. É a fase do trabalho terapêutico propriamente dito;
5. Fase da manutenção (maintenance): é a fase imediatamente após o fim da terapia. O paciente investe na manutenção dos resultados obtidos por meio da terapia e introduz as mudanças no seu dia-a-dia;
6. Fase da estabilidade (termination): é a fase da cura. Nesta fase o paciente solucionou o seu problema e o risco de uma recaída não é maior do que o risco de outras pessoa para esse transtorno específico.
De acordo com o desenvolvimento do paciente através das diferentes fases se classificam quatro tipos de progressão: (1) o transcurso estável, em que o paciente se estagna em uma fase; (2) o transcurso progressivo, em que o paciente se movimenta de uma fase para a próxima; (3) o transcurso regressivo, em que o paciente se movimenta para uma fase em que já esteve, e (4) o transcurso circular (recycling), em que o paciente muda a direção do movimento pelo menos duas vezes.
A terapia em si se desenvolve em quatro fases consecutivas, cada qual com objectivos próprios:
1. Definição do diagnóstico, por médico ou psicólogo (Ambos têm habilitação para isto): decisão que define a prescrição terapêutica a ser desenvolvida (medicamentosa, psicoterápica, ambos os profissionais, médico ou psicólogo e psicodiagnóstico);
2. Estabelecimento de um contrato de trabalho verbal: Promoção de um relacionamento terapêutico e trabalho de clarificação do problema: a estruturação dos papéis (terapeuta e paciente), desenvolvimento de uma expectativa de sucesso, promoção do relacionamento entre paciente e terapeuta, transmissão de um modelo etiológico do problema;
3. Desenvolvimento do trabalho psicoterapêutico: no que se refere às abordagens teóricas: aquisição de novas competências (terapia cognitivo-comportamental), análise e experiência de padrões de relacionamento (psicanálise), reestruturação da autoimagem (terapia centrada na pessoa), mas é preciso observar que, particularmente, na Psicologia, existem as especialidades psicológicas, que se sobrepõem às abordagens, como Psicologia do Organizacional ou do Trabalho, Psicologia do Trânsito (inclui porte de armas), Psicologia Clínica, Neuropsicologia, Emergência e Urgência psicológicas, Psicologia Hospitalar, etc;
4. Avaliação: verificação da concretização dos objectivos propostos, estabilização dos resultados alcançados, fim formal da terapia e da relação paciente-terapeuta.
As decisões tomadas na fase não devem necessariamente permanecer imutáveis até o fim da terapia. Pelo contrário, o terapeuta deve estar atento a mudanças no paciente, a fim de adaptar seus métodos e suas decisões de trabalho à situação do paciente, que nem sempre é clara no começo da terapia. A isso se dá o nome de indicação adaptável.
Ainda sob um ponto de vista geral, ou seja, comum a todas as escolas psicoterapêuticas, os efeitos da psicoterapia podem ser analisados sob dois aspectos:
· O aspecto processual, isto é, que se refere ao trabalho terapêutico em si. Aqui podem se observar os seguintes efeitos: o fortalecimento do relacionamento terapêutico, a intensificação da expectativa de sucesso do paciente, sensibilização do paciente a factores que ameaçam sua estabilidade psíquica, um mais profundo conhecimento de si mesmo (autoexploração) e a possibilidade de novas experiências pessoais.
· O aspecto final, isto, que se refere às consequências da terapia na vida do paciente. Aqui se diferenciam os microefeitos dos macroefeitos. Os microefeitosreferem-se aos pequenos progressos que acontecem durante a terapia, entre as sessões: o paciente experiencia novas situações, emoções, novas facetas de si, novas formas de comportamento. Já os macroefeitos dizem respeito às consequências a longo prazo e às mudanças mais profundas, relacionadas às estruturas mais centrais da personalidade e do funcionamento psíquico: a pessoa adquire novas posturas em relação a si mesma e aos demais, adquire novas capacidades e competências. Sobretudo, uma terapia realizada com sucesso conduz a um aumento da autoeficácia (self-efficacy), ou seja, da convicção do paciente de ser capaz de lidar com os problemas que o faziam sofrer, que leva a um aumento da auto-estima. Outros efeitos são ainda uma compreensão maior dos problemas que afligem o paciente e da história de vida, que conduziu a eles.
Tanto os micros como os macros efeitos se podem dar em três níveis: (1) melhora do bem-estar, (2) modificação dos sintomas e (3) modificação da estrutura da personalidade. Mudanças na estrutura da personalidade só são possíveis depois de uma melhora do bem-estar e dos sintomas.
Apesar de terem tanto em comum, os diferentes tipos de psicoterapia se diferenciam na ênfase que dão em cada um desses aspectos comuns. Antes de serem concorrentes, os diferentes tipos de psicoterapia possibilitam uma maior adaptabilidade do tratamento às características individuais do paciente e podem ser classificados sob diversos pontos de vista:
· De acordo com a duração: terapias curtas (ca.6-15 sessões) e longas (até três ou mais anos);
· De acordo com o setting (contexto): online ou pessoalmente;
· De acordo com a delegação do "poder terapêutico": terapias directivas (power to the terapist), em que o terapeuta trabalha com apenas um paciente; terapias de mediação (power to the mediator), em que o auxílio não é direccionado ao paciente diretamente, mas a pessoas relevantes para ele (pais, parceiro, etc.); grupos de auto-ajuda (power to the person), em que pessoas os mesmos problemas procuram juntas se ajudar mutuamente na superação do problema;
· Alguns métodos têm por objectivo mudanças intrapessoais (nas funções psíquicas do indivíduo), outros têm por fim mudanças em sistemas interpessoais disfuncionais (pares, famílias, grupos de trabalho…);
· De acordo com o fim da terapia: alguns tipos de psicoterapia têm por fim a superação de um problema (problembewältigungsorientiert), outras objetivam umaclarificação dos motivos e objetivos pessoais do paciente (motivational-klärungsorientiert) e por fim outras buscam enfatizar as ressources do paciente, dando atenção mais às partes saudáveis da pessoa.
Apesar de toda a complementariedade das diferentes escolas e linhas da psicoterapia - e apesar de muitos psicoterapeutas fazerem usos de ideias e técnicas de diferentes linhas - a relação entre elas está longe de ser amigável. As escolas psicodinâmicas e existencial-humanistas são muitas vezes atacadas por não serem suficientemente empiricamente fundamentadas enquanto as cognitivo-comportamentais são acusadas de serem mecânicas, cansativas e superficiais. A tentativa de proporcionar à prática psicoterapêutica uma base comum é feita por diferentes autores de diferentes maneiras:
· Integração: é a busca de uma unificação da base teórica das diferentes escolas (Arkowitz, 1992).
· Ecletismo: é uma posição mais prática. O objetivo é reunir os elementos efetivos das diferentes escolas, sem levar em conta possíveis diferenças teóricas.
· A busca de variáveis transteóricas, que são os fatores comuns a todas as escolas, mas que recebem em cada uma delas um papel mais ou menos central. Ver acima "Mecanismos de mudança em psicoterapia".
· A busca de uma psicoterapia geral (allgemeine Psychotherapie, Grawe et al., 1997 ), que é a formação de uma estrutura teórica básica, que oferece uma possibilidade de localizar e descrever as diferentes escolas .
· No curso de graduação de medicina, existe uma cadeira que estuda a contribuição da Psicologia nas doenças, e nos processos de recuperação da saúde, a qual dá-se o nome de Psicologia Médica.
Ainda não existe uma teoria geral que abarque todas as formas de psicoterapia. A moderna psicoterapia é um sistema aberto que tem ainda muito a se desenvolver por meio da pesquisa científica. Um importante papel na pesquisa actual desempenham os tratamentos voltados para transtornos específicos e não terapias genéricas. Exemplos de trabalhos transteóricos podem ser encontrados em diferentes novas abordagens de terceira geração da terapia comportamental bem como em grupos de pesquisa em diferentes países europeus, entre eles a Suíça .
Com base à abordagem teórica apresenta neste trabalho podemos concluir que, no ponto de vista da saúde mental, a psicoterapia é a principal linha de tratamento para qualquer assunto referente ao psiquismo que tem como principais focos em permitir que o paciente compreenda as causas do que lhe acomete, para que possa encontrar recursos psíquicos para lidar com suas dificuldades e problemas, bem como solucionar problemas pontuais que afligem o paciente, desenvolver meios de agir no mundo, redefinindo seus traços de personalidade e, mais importante restabelecer o funcionamento psíquico óptimo do paciente.
Asendorpf, Jens B. (2004). Psychologie der Persönlichkeit (3. Aufl.). Berlin: Springer. ISBN 978-3-540-71684-6
Associazione svizzera degli psicoterapeuti (2010), Scienze psicoterapeutiche (SPT) - Rapporto sulle possibilità di sviluppo di un curriculum di studi indipendente in SPT e di un concetto integrale per la formazione professionale scientifica, Zurigo. Cfr. www.psychotherapie.ch.
Grawe, Klaus; Donati, Ruth & Bernauer, Friederike (1997). Psychotherapy in Transition: From Speculation to Science. Göttingen: Hogrefe. ISBN 0-88937-149-0(Original: Grawe et. al., 1994. Psychotherapie im Wandel. Von der Konfession zu der Profession. Göttingen: Hogrefe.)
Leahy, Robert L. (2007). Techniken kognitiver Therapie: ein Handbuch für Praktiker. Paderborn: Junfermann. ISBN 978-3-87387-661-3 (Original: Leahy, R. L. (2003). Cognitive therapy techniques - A practioner's guide. New York: Guilford Publications. ISBN 1-57230-905-9)
Perrez, Meinrad & Baumann, Urs (2005). Lehrbuch klinische Psychologie - Psychotherapie. Bern: Huber. ISBN 3-456-84241-4
Retirado do: https://vieiramiguelmanuel.blogspot.com/2016/04/psicoterapia-trabalho-de-enfermagem.html