O Impacto da Figura Paterna no Desenvolvimento Emocional e da Personalidade dos Filhos
O Impacto da
Figura Paterna no Desenvolvimento Emocional e da Personalidade dos Filhos
Autor: Diele
da Silva Santos | Publicado na Edição de: Junho de 2017
Categoria: Psicologia da
Saúde
Resumo: Para que uma criança
possa se desenvolver física e psicologicamente de maneira saudável, além de um
ambiente propício, a presença e atuação da família se tornam indispensáveis.
Não existe forma de falar sobre figura paterna sem relacionar todos os membros
da família, pai e mãe são e sempre serão distintos, mas a função de um
complementa a do outro. O presente artigo busca compreender qual a real
importância da figura paterna e qual seu impacto no desenvolvimento emocional e
de personalidade de um indivíduo, por meio de entrevista com 22 participantes,
divididos igualmente em dois grupos caracterizados pela presença ou ausência
paterna durante seu desenvolvimento. Também, foi aplicado aos mesmos o teste
psicológico Bateria Fatorial de Personalidade de Nunes, Hutz e Nunes (2010),
para verificar as características da personalidade dos participantes, dentro do
modelo dos Cinco Grandes Fatores. Percebeu-se como as diferentes configurações
familiares irão impactar emocionalmente no desenvolvimento dos filhos, possibilitando
o surgimento de algumas características como baixa autoestima, insegurança e
dependência, assim como relacionamentos sociais fragilizados. Ainda,
compreende-se que a separação dos pais não necessariamente precise ser sinônimo
de ausência paterna, já que muitas vezes a convivência entre pais e filhos
melhora após o divórcio.
Palavras-chaves: Desenvolvimento.
Personalidade. Figura paterna.
1. Introdução
O desenvolvimento
emocional da criança, assim como o desenvolvimento de sua personalidade, diante
da presença ou falta de um pai é o tema principal desta pesquisa, pois sabe-se
que para que uma criança possa se desenvolver física e psicologicamente de
maneira saudável, ela precisará da ajuda de um indivíduo mais experiente que a
instrua em suas necessidades, sejam elas das mais básicas até suas necessidades
superiores.
Para isso, os pais
entram com o papel principal nesta etapa. Para Bee e Boyd (2011, p. 309), o
“desenvolvimento da habilidade de interação é essencial para a formação de um
primeiro vinculo, é a oportunidade para o pai e o bebê desenvolverem um padrão
mútuo e entrelaçado de comportamentos de apego”. As autoras afirmam também que
deve haver uma sincronia entre os pais e os filhos, mas o que acontece com
essas crianças quando não se tem uma figura paterna para lhes guiar e orientar,
ou quando são rejeitadas por seus pais? De acordo com o indicado por Bee e Boyd
(2011, p.323) “após repetidas tentativas de obter aceitação de seus pares,
crianças desistem e tornam-se socialmente retraídas.” Esta constatação nos
instiga a investigar alguns aspectos da realidade dessas crianças.
Estes são alguns
aspectos do funcionamento infantil que geram problemas de comportamento e
emocionais que podem perdurar ao longo da adolescência e até mesmo durante a vida
adulta. Crianças que passam por conflitos familiares têm a probabilidade de ter
o desenvolvimento de sua personalidade comprometida, conforme Maciel e
Rosemburg (2006, p.100), que “uma criança pequena, que possui um aparelho
psíquico ainda em desenvolvimento, circunstâncias persistentes de extrema
frustração e estresse podem afetar mais marcadamente a constituição de sua
personalidade.” Portanto, a presença paterna mostra-se fundamental tanto quanto
a figura materna para um bom equilíbrio emocional.
Atualmente vemos em
nossa sociedade novas e variadas configurações familiares, afastando-se do
modelo tradicional familiar, constituído por pai, mãe e filhos, sendo cada vez
mais comum surgirem famílias constituídas e organizadas sem a presença da
figura paterna no dia-a-dia dos filhos. Deste modo, torna-se de fundamental
importância identificar qual o impacto que a presença (ou ausência) paterna tem
sobre o desenvolvimento emocional e da personalidade dos filhos.
Para tanto, nesta
pesquisa busca-se refletir sobre este impacto usando como objetivos
específicos, investigar a percepção dos filhos frente à separação dos pais;
verificar qual o impacto da ausência paterna no desenvolvimento emocional dos
filhos em idade adulta; bem como pesquisar qual a influência da ausência
paterna na constituição da personalidade dos filhos.
2. Fundamentação
Teórica
2.1 Desenvolvimento
Humano
O estudo do
desenvolvimento humano concentra-se no esforço de compreender o homem em todos
os seus aspectos, desde o nascimento até a fase adulta da maturidade e
estabilidade. Para Mota (2005, p.106) “o desenvolvimento humano envolve o
estudo de variáveis afetivas, cognitivas, sociais e biológicas em todo o ciclo
da vida.”
Muitas teorias surgiram
para ajudar a reconstituir as condições de representação de mundo. Influências
como hereditariedade, ambiente e maturação são interesses de pesquisadores
sobre o desenvolvimento, como citado por Papalia, Olds e Feldman (2010, p.14):
Os estudiosos do
desenvolvimento estão interessados em processos universais de desenvolvimento,
que são vivenciados por todos os seres humanos. Também se interessam por
influências normativas vivenciadas de modo semelhante pela maioria das pessoas
de um grupo. Finalmente, aqueles que estudam o desenvolvimento querem saber
sobre as diferenças individuais, tantos suas influências sobre o
desenvolvimento quanto sua consequência.
Dentre as teorias que
mais tem destaque na área do desenvolvimento humano está a teoria dos estágios
cognitivos de Piaget, o qual realizou uma série de pesquisas visando descrever
e compreender diversos aspectos do desenvolvimento infantil; a de Eric Erikson
e Freud com a teoria psicossexual. A teoria de Eric Erikson alega que “o ser
humano passa por oito estágios evolutivos caracterizados de eventos biológicos,
psicológicos e sociais universalmente experimentados” e a de Freud postula que
os impulsos inconscientes é que controlam o comportamento. (PAPALIA; OLDS;
FELDMAN, 2010, p.30).
Acredita-se que o
desenvolvimento infantil pode ocorre em estágios ou então de forma
contínua. Papalia, Olds e Feldman (2010, p.30) afirmam que “para os
teóricos mecanicistas, o desenvolvimento é continuo, como andar e escalar uma
rampa”. Alguns autores acreditam em mudança, sendo que o desenvolvimento da
criança aconteceria em uma série de diferentes etapas. Em cada uma delas, as
pessoas aprendem a lidar com diferentes tipos de problemas, bem como
desenvolvem diferentes habilidades.
2.2 Família
Para um crescimento e
desenvolvimento saudável do filho, a presença e atuação da família em suas
vidas mostra-se indispensável. Quando pensamos na socialização da criança, a
mesma “inicia e tem seu fundamento na família, cresce através da interação com
os companheiros, se desenvolve e cria corpo na escola, continua a se expandir
na adolescência e juventude, para culminar na vida adulta” (BRAGHIROLLI et al.
2007, p.156).
O papel do pai diante da
criação dos filhos mudou muito ao longo do tempo devido às transformações
sociais, culturais e familiares. Aquele rótulo posto de que um pai deveria ser
alguém autoritário, que tinha o papel apenas de trazer dinheiro para casa e
cuidar de tarefas mais difíceis já não se encaixa nos padrões vivenciado hoje.
Eles participam mais de tarefas familiares enquanto a mulher constrói seu
espaço no mercado de trabalho, mas não são todos que conseguem associar tais
mudanças.
O número de separação
nos tempos modernos está muito alto e os pais precisam entrar em acordo para
educar os filhos de um modo adequado para que o mesmo não seja prejudicado ou
para que não sofra tanto. Para se fornecer uma boa educação aos filhos, os pais
devem possuir um misto de qualidades, em momentos específicos serem rígidos,
autoritários e outros serem mais permissivos, pois conforme citado por Feldman
(2007, p. 348):
[...] rígidos e
punidores, os pais autoritários valorizam a obediência sem questionamento de
seus filhos. Possuem padrões estritos e desincentivam manifestações de
desacordo. Os pais permissivos dão a seus filhos orientação indulgente ou
inconsciente e, embora carinhosos, exigem pouco deles. Por outro lado, os pais
disciplinadores são firmes, determinam limites para seus filhos.
2.2.1 Figura Paterna
Na fase que se refere ao
período pré-operatório de Jean Piaget surgem os sentimentos interindividuais,
onde a criança passa a respeitar indivíduos que julgam ser superiores a ela. A
figura paterna na infância é tão importante quanto a presença da mãe. A forma
como eles interagem com seus filhos poderá fazer a diferença quando elas se
tornarem adultas, conforme citado:
Quando os pais
interagem com seus filhos, a atuação deles difere muitas vezes daquela das
mães. Os pais participam de brincadeiras mais físicas, de “agressividade”, ao
passo que as mães participam de jogos mais verbais e tradicionais, como o jogo
de esconde-esconde. Apesar dessas diferenças comportamentais, a natureza do
vínculo entre pais e filhos em comparação àquele entre mães e filhos pode ser
similar. Na realidade, as crianças podem formar vínculos múltiplos
simultaneamente. (FELDMAN, 2007, p. 347).
As brincadeiras mais
agressivas podem moldar a personalidade da criança, que precisa de uma figura
masculina para se “espelhar”, entender como os homens se comportam, o que uma
mãe não consegue passar para o seu filho. Winnicott (1979, p. 203) cita:
[...] As crianças
avançam e recuam em sua idade emocional. É grande a distância entre o bebê
recém-nascido e a criança de cinco anos, em termos de personalidade e
crescimento emocional. Essa distância não pode ser coberta se determinadas
condições não forem preenchidas. Essas condições só precisam ser
suficientemente boas, dado que a inteligência da criança se torna cada vez mais
apta para ter em conta a possibilidade de fracassos e para dominar a frustração
mediante uma prévia preparação.
Ter um pai presente na
família é fundamental, pois ele é “necessário para dar à mãe apoio moral, ser
um esteio para a sua autoridade, um ser humano que sustenta a lei e a ordem que
a mãe implanta na vida da criança” (WINNICOTT, 1979, p.56). É no Complexo de
Édipo, postulado por Freud, que os sentimentos de amor e ódio são despertados
para aqueles que lhes são mais próximos, os pais. A relação da criança com o
pai durante este período é apenas de identificação, o criança vê a mãe como um
objeto de desejo e passa a ver o pai como um obstáculo. A criança cria a ideia
de ocupar seu lugar junto à mãe, mas o pai a atrapalha no processo. O complexo
de Édipo positivo da criança se caracteriza por uma atitude em relação ao pai e
por uma relação objetal afetuosa com a mãe – o objeto desde cedo seria a
amamentação. (MIRANDA, 2015,
s/p).
2.3 Personalidade
Personalidade é o
conjunto das características marcantes de uma pessoa; o pensar,
sentir e agir. São todos os traços formados a partir dos genes particulares que
herdamos, das situações que vivenciamos e das percepções individuais e únicas
que temos. Características estas relativamente persistentes que dão
consistência ao comportamento das pessoas, que pode ter influência genética em
sua constituição, bem como ambiental, uma reforçando a outra (DAL-FARRA;
PRATES, 2004).
Saber que a genética
pode influenciar os comportamentos do ser humano muda a visão das pessoas sobre
questões simples do cotidiano. O lugar onde o indivíduo vive pode colaborar na
formação de determinada personalidade, assim como sua religião, os valores e
educação que recebe bem como os ambientes nos quais convive diariamente fará
com que a pessoa introduza para si determinados recursos. Conforme afirmam
Dal-Farra e Prates (2004), as principais características da personalidade
estabelecem-se na infância, isto é, as experiências, essencialmente no meio
familiar, são decisivas para o desenvolvimento da personalidade.
Dentre tantas teorias
sobre a personalidade, existe o modelo dos Cinco Grandes Fatores que propõe que
diferentes traços de personalidade se agrupam em cinco fatores principais: Extroversão
(sinaliza a forma como a pessoa interage com os demais e o quanto é
comunicativa), Socialização (indica qualidade das relações interpessoais dos
indivíduos), Realização (descreve o grau de organização, persistência, controle
e motivação das pessoas), Neuroticismo (fornece o nível de ajustamento e
instabilidade emocional do sujeito) e Abertura a Experiências (se refere aos
comportamentos exploratórios e ao reconhecimento da importância de se ter novas
experiências). (NUNES; HUTZ; NUNES, 2010).
3. Método
Para a realização deste
trabalho, utilizou-se o método qualitativo. A pesquisa qualitativa é uma
tentativa de buscar “explicar, apontar para um sentido da realidade, do
fenômeno ou do processo estudado”, sugerindo-se que conforme a ação vai sendo
construída, ela já pode ser interpretada (PINTO, 2004, p. 74).
Para tanto, na coleta de
dados, realizou-se três encontros com os participantes, que totalizaram vinte e
duas pessoas. No primeiro encontro, foi utilizada uma entrevista
semiestruturada com onze jovens adultos, todos matriculados em algum curso
superior, que puderam contar com a presença paterna durante o seu
desenvolvimento, bem como com outros onze jovens adultos, todos inscritos em
algum curso superior, que não puderam contar com a presença paterna em seu
desenvolvimento. Todos os participantes possuíam entre 17 e 33 anos de idade,
entre homens e mulheres, sendo que foram selecionados por conveniência. Após o
contato inicial, os mesmos assinaram o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido, que apresentava informações a respeito deste estudo e garantia o
sigilo e preservação de suas identidades, aceitando participar do mesmo. Todas
as entrevistas foram gravadas e posteriormente transcritas. Já no segundo
encontro, aplicou-se o instrumento psicológico de avaliação da personalidade,
Bateria Fatorial de Personalidade (BFP), desenvolvido por Carlos Henrique
Sancineto da Silva Nunes, Cláudio Simon Hutz e Mariana Farias Oliveira Nunes
(2010), de maneira coletiva, sendo que a correção dos mesmos foi realizada
individualmente, assim como a entrevista devolutiva dos resultados, no terceiro
encontro.
Utilizando-se da análise
de conteúdo para analisar os resultados desta pesquisa, seguiu-se os estudos de
Bardin (2009, p.31), que indicou que “a análise de conteúdo é um conjunto de
técnicas de análise das comunicações”, sendo que esta pode ser explorada na
amplitude de suas possibilidades. A autora afirma ainda que estas técnicas de
análise de conteúdo estão aptas a interpretarem qualquer forma de comunicação,
considerando que a mesma pode ser considerada uma análise dos significantes
presentes na comunicação (no caso desta pesquisa, a comunicação realizada nas
entrevistas e durante a aplicação do teste).
4. Apresentação e
Discussão dos Resultados
Para a apresentação dos
dados, optou-se em utilizar nomes fictícios, escolhidos pelos próprios
participantes desta pesquisa, para que suas identidades fossem preservadas. Os
jovens que tiveram a presença dos pais em seu desenvolvimento são: Robson,
Laiane, Julia, Sofia, Camila, Sara, Luana, Jonas, Alice, Bianca e Júnior. Já os
entrevistados que não contaram com a presença dos pais em seu crescimento
foram: Laura, Diego, Laís, Murilo, Luci, Alex, Igor, Alissa, André, Ana e Ayla.
A seguir apresentamos os
resultados da aplicação do teste Bateria Fatorial de Personalidade (BFP)
realizado pelos participantes, assim como seus significados principais,
referente às características da personalidade, de acordo com a teoria dos Cinco
Grandes Fatores. Os itens expostos abaixo são aqueles que se distanciaram dos
resultados referenciados utilizados pelo teste.
PRESENÇA PATERNA
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Fator
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Classificação
|
Significado
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N1 - Vulnerabilidade
|
Muito Alto
|
Pode representar baixa
autoestima significativa e grande medo de que pessoas importantes a deixe em
decorrência de seus erros. Com frequência, é capaz de ter atitudes que vão
contra a sua vontade, com o objetivo de agradar os outros. Relata
insegurança, muita dependência das pessoas próximas e muita dificuldade em
tomar decisões, mesmo em situações triviais do dia a dia.
|
N2 – Instabilidade
|
Médio e Alto
|
Médio: indica um padrão
comportamental dentro da média no que se refere a como cada pessoa se percebe
irritável e nervosa, apresentando poucas variações de humor em determinadas
situações.
Alto: tendência de agir
impulsivamente frente a algum desconforto psicológico e, pode levar a pessoa
a tomar algumas decisões de forma precipitada. Indivíduos com esse perfil
geralmente alternam de humor com mais facilidade, apresentando baixa
tolerância à frustração.
|
S1 – Amabilidade
|
Baixo e Médio
|
Baixo: sugere pessoas com
tendência a serem mais autocentradas e pouco sensíveis às necessidades dos
outros. Costuma se preocupar menos com o bem-estar das pessoas, podendo ser
um pouco inconveniente ao tratar de assuntos delicados.
Médio: indica um padrão
comportamental dentro da média no que se refere a quão atenciosa,
compreensiva e empática a pessoa procura ser com as demais. Além disso,
indica quão agradável a pessoa buscam ser com os outros, observando suas
opiniões, sendo educadas com elas e se importando com suas necessidades.
|
S2 – Pró-sociabilidade
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Baixo
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Indica uma pessoa com
tendência a se envolver em situações de risco, discordando de algumas leis e
regras sociais. Geralmente tem facilidade para manipular os outros, obtendo
deles o que deseja. Pode ser um pouco hostil.
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AUSÊNCIA PATERNA
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Fator
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Classificação
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Significado
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N4 - Depressão
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Alto
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Podem indicar baixa
autoestima e algum medo de que pessoas importantes venham a deixa-los em
decorrência dos seus erros. Podem mostrar-se capazes de atitudes que vão
contra a sua vontade, com o objetivo de agradar os outros. Tendem a relatar
insegurança, dependência de pessoas próximas e certa dificuldade ao tomar
algumas decisões, mesmo em situações triviais do dia a dia.
|
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E4 – Interações
Sociais
|
Médio e Muito Baixo
|
Médio: indica um padrão
comportamental dentro da média no que se refere ao desejo e à necessidade por
interações sociais, indicando o quanto as pessoas buscam ativamente situações
que permitam tais interações, como festas, atividades em grupo, etc.
Muito Baixo: geralmente prefere
ficar sozinho ou em grupos pequenos e demora mais para desenvolver novas
relações sociais. Tende a apresentar uma necessidade reduzida de viver
situações mais intensas, de frequentar lugares mais ricos em termos de
estímulos e possibilidades de contatos sociais.
|
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S1 – Amabilidade
|
Baixo
|
Sugere pessoas com
tendência a ser mais autocentrada e pouco sensível às necessidades dos
outros. Costuma se preocupar menos com o bem-estar das pessoas, podendo
ser um pouco inconvenientes ao tratar de assuntos delicados.
|
|
4.1 Configurações
Familiares
O conceito de casal e de
casamento foi mudando no decorrer da história e novas formas de configurações
familiares foram surgindo. Mesmo diante de tais mudanças é importante que se
tenha um ambiente estruturado, pois, um ambiente desestruturado pode impedir o
desenvolvimento de um sujeito a encontrar seu potencial, causando prejuízos
futuros devido aos acontecimentos do passado. Scherer (2009, p.139) elenca os
fatores ambientais que “incluem os desajustes familiares, a negligência, os
abusos físico, emocional e sexual, a pobreza extrema, a educação de má
qualidade, a falta de vínculos significativos e a história familiar de
transtorno psiquiátrico”, fatores estes que influenciam na constituição das
famílias. Pode ser observado esse ambiente desestruturado em alguns relatos dos
participantes:
“A gente já vinha
sofrendo com as brigas constantes do meu pai e da minha mãe e por qualquer
motivo, a gente já sentia que algo ia acontecer” (Laura).
“O pai não tinha
paciência, se ele tinha se estressado com alguma coisa ele descontava em nós
né?!” (Murilo).
“Nenhum dos sete dias
ele tava em casa, ele não tirava férias, feriado, até porque a firma de (...) é
dele entendeu, e ai sábado e domingo ele não tava igual, era como se fosse uma
segunda - feira um domingo. Era difícil”(Igor).
Além deste contexto
conturbado vivenciado pelos participantes, a separação pode ser um fator de
extremo estresse para todos que constituem a família, mas principalmente para
os filhos quando são omitidos de qualquer explicação. Stein (2014, p. 08)
afirma que o divórcio dos pais interfere psicologicamente no desenvolvimento
humano, contudo, “o sofrimento da criança ou adolescente não é visto como
prioritário, e muitas vezes, acaba sendo negado”. De acordo com os relatos dos
participantes, este momento delicado da família foi tratado apenas pelos
adultos, sendo deixados de lado, sem uma conversa clara e esclarecedora, o que
pode contribuir para os altos índices do fator Depressão, analisado no teste
aplicado, onde indica o forte medo de que pessoas importantes os abandonem em
decorrência dos seus erros, justamente pela falta de explicação no momento
devido. Este fato pode ser ilustrado pelas falas a seguir:
“Simplesmente um dia eu
acordei de manhã cedo, eu não estudava, era pequenininha, não lembro minha
idade bem certo, mas meu pai saiu, me deu um abraço e daquele dia em diante
minha avó disse que meu pai e minha mãe tinham se separado e aquilo não ficou
bem claro assim pra mim, porque eu imaginava que ele iria voltar alguma hora,
como se ele tivesse saído pra trabalhar, alguma coisa” (Alissa).
“Sempre fui uma criança
muito confiante, extrovertida, pois tinha muito apoio em casa. Aí um dia isso
tudo acabou. De repente me vi sozinha, perdida e confusa. De uma hora para a
outra eu não tinha mais uma família. Foi uma época que me marcou demais”
(Ayla).
Chalita (2001, p.20)
afirma que “a família tem a responsabilidade de formar o caráter, de educar
para os desafios da vida, de perpetuar valores éticos e morais”, sendo nela que
se observam os primeiros convívios e experiências, a construção do ser, constituindo-se
o lugar onde o sujeito tem capacidade de alcançar a sua maturidade emocional.
Portanto, a família deve ser um lugar de confiança, onde se possibilite a
existência do diálogo entre seus membros. De acordo com o depoimento da
participante Laura, podemos ver o quanto a falta da presença de seu pai no seu
crescimento, afetou inclusive outros relacionamentos, o que pode colaborar para
os índices muito baixos no fator Interação Sociais analisados pela Bateria
Fatorial de Personalidade, que indica uma demora maior para desenvolver novas
relações sociais. Também, conforme a colaboração de Diego, percebemos o quanto
a falta de contato com a figura paterna impacta na própria relação agora
estabelecida com este pai.
“Muitos dos meus
comportamentos que hoje eu tenho, alguns receios pode ser disso, que eu tenho
alguns medos ainda, em relacionamentos, em questão do meu pai também (...) A
gente tem muita coisa que não foi resolvida ainda, apesar de ter se passado
mais de praticamente 10 anos, até hoje a gente não se mantém contato, a gente
conversa, mas não é... não é contato de pai e filho.” (Laura)
“Eu culpo ele por muitas
coisas, considero ele como um tio, tio bem distante. Nunca nos falamos, quando
ele vem pra cá é como se nada tivesse acontecido, entendeu? Queria falar muitas
coisas, mas não, não tenho oportunidade (...).” (Diego)
Já a participante Sofia
nos ofereceu o contraponto de que ser pai nunca foi uma tarefa fácil, ao mesmo
tempo em que se tem o papel de demostrar segurança, amparo, atenção e afago,
também deve ser a representação da regra, estabelecer princípios e limites.
Este se mostra como um dos maiores desafios dos pais e responsáveis:
possibilitar o entendimento de seus filhos da necessidade do cuidado. Contudo,
pode também ser um fator que contribui para os altos índices no fator
Vulnerabilidade, que indica a insegurança e dependência das pessoas próximas,
demonstrando uma grande dificuldade em tomar algumas decisões, já que
possivelmente foram acostumadas a ter alguém que fizesse isso por elas.
“Minha educação sempre
foi muito rígida, regrada. Cresci com pais querendo me proteger o tempo todo,
até do que era positivo, como uma viagem da escola, por exemplo.” (Sofia).
Marinoff (2005) nos
alerta que o amor deve ser passado, mas não em demasia, uma quantidade grande
demais de uma coisa boa também faz mal para a formação do ser humano, como ser
supervalorizado, amado e querido, pois é na família que devemos encontrar os
primeiros obstáculos da vida, onde somos preparados para situações em que nem
sempre seremos agraciados com a realização de nossos desejos. Alguns
participantes relataram o que essa figura paterna representa para suas vidas:
“Representa segurança,
proteção, a lei, com certeza também o afeto” (Luana).
“Foi muito
importante essa figura, essa figura masculina na minha vida assim pra, pra
desenvolver as potencialidades, as capacidades que, que eu levo hoje, os
valores que sempre muito cedo minha família (...)” (Jonas).
“Ele sempre buscou tá
perto da gente, tá sempre presente, sempre dando conselhos para ser alguém na
vida, pra seguir a vida como uma pessoa honesta. Sempre era esse o lema dele e
eu tenho ele como um espelho hoje” (Bianca).
“Meu pai esteve presente
em toda minha vida, desde que planejou em ter filhos, esteve presente nos
momentos difíceis e nos momentos ruins, sempre fala que devemos ter respeito
com o próximo”(Laiane).
“No começo ele não
estava presente, depois ele teve um papel bem importante, né? (...). Por mais
que ele tenha sido um exemplo nessa questão de se esforçar pelo que tu quer,
ele não foi um exemplo de pai que tenho pra mim. (Camila)
“Ele é presente
né, mesmo estando distante ele é um pai presente. Eu sinto que ele se importa e
tal e é isso, só que eu gostaria de ter ele junto comigo.” (André.)
“O meu pai pra mim
é o meu herói, eles foram lá me criaram, me educaram, me deram amor, comida,
roupa, educação, então, eu tenho orgulho, tenho admiração” (Júnior).
4.2 Impacto Emocional
Goleman (2007, p.213)
afirma que todas as interações realizadas entre pais e filhos irá conter algum
“tema emocional, e com a repetição dessas mensagens através dos anos, as
crianças formam o núcleo de sua perspectiva e aptidões emocionais.” Ajudar em
um dever de casa ou em situações em que a criança tem necessidade, acompanhar o
dia-a-dia do filho, participar dos momentos de lazer, todos estes contatos
passam a se constituir em um padrão entre a criança e os pais, moldando a
expectativa emocional da criança a respeito de relacionamentos, perspectivas
que irão caracterizar o comportamento dela em todas as áreas da vida. Também,
estas influências podem contribuir para os índices baixos no fator Amabilidade
da BFP, que sugere uma tendência dos participantes serem mais autocentrados e
pouco sensíveis às necessidades dos outros, conforme podemos perceber na fala
de Robson:
“Eu me remeto a poucas
lembranças boas, foco mais nas ruins, e isso infelizmente me faz ser quem sou
hoje. Entendeu? Esse olhar um pouco mais cético, a ausência de empatia, uma
dificuldade muito grande pra isso, eu posso até sentir o que os outros sentem,
entende? Mas eu olho tudo com maior frieza, e ai tu vê, reflete em enes
situações né? Inclusive nos relacionamentos que constitui, comumente não são
muito longos”.
Para Oaklander (1980, p.
290), “a criança (ou adulto) que sente a necessidade de apegar-se fisicamente
aos outros, possui um senso tão vago de si própria que se sente bem apenas
quando pode fundir-se com outra pessoa.” A autora assegura ainda que, para a
criança, estar separada do outro é um conceito estranho que causa medo, pois
não tem sua identidade totalmente formada, ainda. Esta necessidade da
presença do outro, bem como da baixa autoestima, vem ao encontro do que já
afirmamos sobre os fatores analisados Depressão e Vulnerabilidade.
“Sou muito insegura em
minhas decisões e dependente no sentido de ter alguém passando a mão na cabeça
o tempo todo, alguém para dividir comigo as responsabilidades das minhas
escolhas.” (Sofia)
“Sei lá... mais tímida
ainda sabe, de não se desenvolver assim, né? Não saia e ficava sempre em casa.”(Lucy)
“Eu acredito que em
relação a minha personalidade, que influenciou muito [...]Tu sente falta de um
carinho, de um abraço masculino ou tipo assim ‘ah, eu vou com a minha filha,
vou pegar na mão da minha filha, vou em tal lugar, vou levar fazer isso e
aquilo’”(Laís).
“Hoje a gente perdeu
esse contato, não sei se foi porque eu comecei a namorar, não sei, mas a gente
assim dificilmente tem aquele contato de abraço” (Julia).
“O processo de separação
e a falta dessa figura influenciou muito, sou insegurança, desconfiada,
indiferente e insensível, em muitas ocasiões não deixo transparecer, mas eu sei
o que sinto e porque...” (Ana).
Se a saída do pai for
traumatizante, os filhos podem sentir-se abandonados, o que no futuro poderá
levar à perda de confiança nas pessoas e dificultar futuros relacionamentos
afetivos, como também pode ser visto nos resultados da análise dos fatores
Depressão, Vulnerabilidade e Interações Sociais, do teste aplicado nos
participantes. Para Bauman (2004, p. 18), “no caso da morte, o aprendizado se
restringe de fato à experiência de outras pessoas.” O autor comenta ainda que a
morte assim como o nascimento acontece somente uma vez e não se deve esperar
por uma próxima oportunidade que não existirá para fazer o certo. Percebemos no
relato de Alice como a perda de seu pai, há aproximadamente dois anos, ainda
está impactando emocionalmente no dia-a-dia familiar:
“A gente não percebe
que tem essas coisas até que não tem mais. Agora a gente briga pra tentar
manter esses dias assim legais, mas é muito difícil.”
Quando pensamos sobre
ser pai, sabemos que isso não quer dizer que não haverá falhas, nesse processo
aparecerão muitos obstáculos, aqueles que estiveram presentes e contribuíram
para a formação e educação são vistos como espelhos, mas todos já foram filhos
e sabem onde seus pais erraram e o que mais valorizaram. Em relação às
expectativas quanto ao futuro, muitos buscam não seguir os passos do pai quando
passam por situações de aperto em sua nova família para que a relação não
chegue a discrepâncias com danos permanentes:
“Pode-se dizer que o que
eu levo de bom do meu pai é os erros que ele fez pra eu tentar não imitar ele,
basicamente é isso” (Alex).
“Eu não, não, não sigo
ele de exemplo, sabe? [...] tudo o que eu vi de erro do meu pai, os exageros
dele, eu procuro não fazer hoje com meu filho” (Murilo).
Podemos notar que,
apesar de suas vivências (ou por causa delas), os participantes desta pesquisa
têm uma visão de buscar fazer diferente daquilo que vivenciaram, têm uma
abertura maior, aprenderam com aquilo que passaram a serem pessoas resilientes.
5. Considerações
Finais
É possível, com os
resultados desta pesquisa, compreender o quão importante é o sentimento, o
afeto de um pai para com seu filho e a importância para a criação e
desenvolvimento da personalidade. Através dos relatos dos participantes,
mostrou-se claro que presença não é sinônimo de convivência, pois dependendo
muito de como será a relação do sujeito com seu pai, em algumas situações será
como se não o tivesse. Assim como, não é porque os pais estão separados que a
figura paterna deixa de existir na vida dos filhos, ou pelo menos não deveria
ser assim. Muitos dos participantes conseguiram manter um contato com seus
pais, mesmo após o divórcio, o que colaborou para que sua personalidade não
sofresse um impacto tão grande com a mudança na constituição familiar.
As famílias hoje estão
mais ligadas a uma estrutura familiar socioeconômica do que efetivamente de
instrução familiar, instrução para que o sujeito repense suas atitudes. O que
se vê é a luta para oferecer condições melhores que àquelas que os próprios pais
não tiveram, aos seus filhos. Diante disso, parece-nos que a ideia que se tem
atualmente é que para tornar a vida o mais confortável possível, não se pode
mais ter tempo para se dedicar integralmente a família, uma instituição que
exige dedicação integral para que os filhos não cresçam tendo dificuldades
emocionais. Portanto, ao buscarem melhores condições financeiras, os pais não
conseguem fazer-se presente na vida de seus filhos.
A separação dos pais é
um evento que sempre deixará marcas nas pessoas envolvidas neste processo,
porém há separações que deixam os filhos mais próximos de seus pais, mesmo
estando separados fisicamente, com a convivência existindo e a relação se
tornando melhor do que era antes, desde que bem trabalhada e orientada para
todos os membros desta família.
Através das experiências
vivenciadas, que não podem mais ser reconstituídas ou modificadas, nossa
essência vai continuar sempre sendo moldada, assim como nossa personalidade que
constantemente está sendo influenciada por tudo aquilo que nos acontece. Cabe à
família possibilitar com que essas experiências se tornem emocionalmente
seguras para seus membros, procurando orientação e auxílio profissional quando
percebe ser necessário, evitando assim o surgimento de tantos sofrimentos psicológicos
desnecessários, causados, na maioria das vezes, pela falta de uma boa e franca
conversa elucidativa.
Sobre o Autor:
Diele da Silva Santos - Acadêmica do
curso de graduação em Psicologia. Bolsista do Programa de Iniciação Científica
da Universidade do Oeste de Santa Catarina (UNOESC), campus aproximado de
Pinhalzinho.
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