EDUCAÇÃO EM ANGOLA – ANTES, DURANTE E DEPOIS DA INDEPENDÊNCIA
EDUCAÇÃO EM ANGOLA – ANTES, DURANTE E
DEPOIS DA INDEPENDÊNCIA
Introdução
O
tema que aqui apresentamos, versa sobre a educação em angola antes, durante e depois
da independência. Ao abordarmos a problemática da educação em Angola, quer
partindo duma perspectiva histórica quer analisando-a duma perspectiva
sociológica, sentimo-nos quase “obrigados” a determo-nos no período colonial
por ser o marco de referência no surgimento do ensino em Angola, assim como em
muitos outros países do continente africano, durante a presença colonial
europeia, uma vez que, a educação desenvolvida pelos africanos antes da
presença colonial, ‘pem várias regiões de África, baseava-se num quadro não
formal.
Grande
parte desta educação era adquirida pelos pais através do exemplo e do
comportamento dos membros mais velhos da sociedade. Em circunstâncias normais
ela emerge naturalmente, eleva-se do ambiente social.
No
quadro desta observação, facilmente se constata que a educação não formal foi
utilizada durante muitos anos na África pré-colonial como um sistema de ensino
ligado ao modo de vida das populações para a sua sobrevivência.
Retomando
a educação como nosso campo de análise, gostaríamos de afirmar que o trabalho
que aqui apresentamos, abordará de uma maneira resumida a educação nos períodos
antes, durante e depois da independência bem como abordaremos a educação nos
nossos dias.
1.
Os Primórdios do Ensino em Angola
O
ensino escolar teve início em Angola nos séculos XVI e XVII, portanto muito
antes do actual território constituir uma unidade. No decorrer da sua presença
no Reino do Kongo, os padres católicos presentes na corte de M’Banza Kongo empenharam-se
em divulgar não apenas o cristianismo, mas também a língua portuguesa e a
correspondente escrita, bem como rudimentos de matemática.
Depois
da fundação das Praças Fortes de Luanda e de Benguela, estabeleceram-se lá
algumas escolas de nível básico, inicialmente apenas para filhos dos colonos
brancos, inclusive alguns que tiveram com mulheres africanas, depois também
para um pequeno número de crianças africanas. Nesta fase, as escolas não
constituíam um sistema de ensino e nem sequer tinham estruturas muito
definidas.
A
situação mudou no decorrer do século XIX, quando Portugal passou a ocupar
lentamente o território correspondente ao da Angola de hoje e, paralelamente à
acção militar, e muitas vezes a precedê-la, houve uma acção missionária cada
vez mais extensa, tanto católica como protestante. Os missionários ligavam
sempre a cristianização a uma escolarização mais ou menos desenvolvida. Esta
começou, inclusive, a abranger a população africana urbanizada que se
aglomerava em Luanda e Benguela bem como nas vilas que se foram fundando passo
a passo.
·
Angola – A educação antes da
independência
Antes
da ocupação e da expansão colonial em África no geral e em Angola em
particular, já se praticava a educação, baseada num quadro não formal. Grande
parte desta educação era adquirida pelos pais através do exemplo e do
comportamento dos membros mais velhos da sociedade. Em circunstâncias normais
ela emerge naturalmente, eleva-se do ambiente.
É
só nos lembrarmos em referências históricas que, quando a primeira delegação
chefiada por Diogo Cão em 1482 chegou a foz do rio Zaire, encontraram um povo
administrativamente organizado, com um rei, uma capital (Mbanza Congo), uma
população superior a 100 mil habitantes e com uma economia baseada na
agricultura. Todos este factos históricos demostram o quanto esta população era
educada; assim sendo, apesar de este povo não ter o domínio da escrita na
altura, é de uma certa maneira egoísta pensar-se que o povo que abitava Angola
não praticava a educação. Também não corresponde a uma verdade histórica
afirmar que a educação nesta parte do continente começou com o processo
colonial. (VIEIRA, 2007: 32).
·
Surgimento do ensino oficial em
Angola
Referências
históricas afirmam que, durante vários séculos da colonização portuguesa, o
ensino esteve sob a responsabilidade das Missões religiosas, sendo o ensino
laico muito reduzido e praticado por algumas instituições não oficiais»
(VIEIRA, 2007: 43). Segundo este autor, apesar da existência do ensino oficial
na Província de Angola, a situação da maioria da população africana em nada se
alterou, pois um grande número continuava sem escolarização, uma vez que (o
decreto de 1845 de Joaquim Falcão, procurou dar satisfação às exigências das
populações civilizadas) beneficiando assim a maioria da população colonizadora.
Alguns
dados apontam que o ensino missionário não era praticado apenas pelas Missões
Católicas, pois com o passar do tempo instalaram-se também no território
angolano, algumas Missões Protestantes[1] que
contribuíram para o ensino das primeiras letras às populações autóctones.
Até
os primeiros anos do século XIX, a educação laica em Angola era ainda muito
limitada e não estava por isso ao alcance de todos, só uma minoria de europeus
abastados e da burguesia africana radicada principalmente em Luanda, podia
frequentar algumas instruções de carácter privado que existiam no território,
principalmente nos aglomerados de população colonial.
Se
por um lado o decreto de 1845 de Joaquim Falcão, procurou dar satisfação às
exigências das populações civilizadas, beneficiando assim a maioria da
população colonizadora, Martins Santos citado por Laurindo Vieira, refere que
este decreto também marca o pronúncio da abertura dos primeiros alicerces da
escola pública no ultramar e, muito especialmente, em África. Com a legislação
o ensino oficial começou aos poucos a fazer parte da realidade angolana, mas se
tivermos em conta a data de chegada dos portugueses à foz do rio zaire (1482) e
a preocupação destes com a questão do ensino (1845), passaram-se mais de três
séculos para que se pensasse na implementação de um sistema de ensino público,
o que não deixa de ser chocante par um colonialismo que apregoava ter
civilizado os chamados “povos bárbaros”. (Ibid. 45)
Apesar
da existência de um ensino oficial em Angola, a situação da maioria da
população africana em nada se alterou, pois um grande número continuava sem
escolarização.
O
“liceal” só teve início nos primórdios do século XX, mais concretamente a
partir de Fevereiro de 1919, quando foi fundado o primeiro Liceu de Luanda e da
província, o Salvador Correia» (SANTOS, 1970: 185). Assim desde a assinatura do
decreto de José Falcão em 1845 até o surgimento do 1º liceu passaram-se 74 anos
para que surgisse em toda a província de Angola uma escola secundária oficial,
o que, por si só, demostra o atraso no desenvolvimento do campo educativo em
Angola e as dificuldades de muitos em prosseguirem os seus estudos secundários.
Contudo
é importante salientar que, embora o surgimento do ensino secundários fosse já
uma realidade em Angola, ou melhor em Luanda, a situação de escolarização da
maioria da população africana e outra desfavorecida não mudou
significativamente, tendo em atenção que o Liceu Salvador Correia era
frequentado maioritariamente por filhos de grandes proprietários europeus que
viviam em Angola, fazendeiros portugueses, elementos de ascendência portuguesa
e alguns africanos.
Para
outros angolanos restava-lhes as escolas profissionais onde faziam um curso de
artes e ofícios. O ensino profissional destinava-se fundamentalmente aos africanos,
então designados anteriormente por indígenas.
Em
1926 – 1933 Portugal implementa uma nova política com relação as colónias
ultramarinas e publica o Acto Colonial onde se reforçava o sentimento de um
novo regime ditatorial:
«É
da essência orgânica da nação portuguesa desempenhar a função histórica de
possuir e colonizar domínios ultramarinos e de civilizar as populações
indígenas que nele se compreendam, exercendo também a influência moral que lhe
é adstrita pelo Padroado do Oriente.
Como
se pode constatar as colónias estavam diante de um novo quadro político e as
suas populações iniciavam um novo ciclo de vida sob um regime ditatorial, que,
mais do que conceber direitos e dignidade aos povos africanos, se arrogava,
através do Acto Colonial, o direito de oprimir e subjugar sob a capa de
“civilizar” e “educar”.
Em
1932, Salazar assume o poder do governo Português e, em 1933, na Conferência
Imperial Colonial defendia que «o estado central deve organizar
com eficácia a protecção das raças inferiores (…) em benefício do ocidente».
Em
termos da educação e ensino, a política do estado novo continuava a encarar a
questão da escolarização dos africanos como sendo desnecessária (…) como
afirmava o Boletim do Ensino da Colónia de Angola:
«O
indígena tem de ser um indivíduo útil principalmente no seu meio de origem e só
poderá ser, uma vez preparado, uma vez educado nos costumes salutares do
trabalho. O indígena na escola primária estaria deslocado, tornando-se
altamente prejudicial a si e aos seus semelhantes. Devemos procurar evitar a
difusão de escolas primárias nos povoados selvagens» (VIEIRA, 2001, 49).
Aqui
se pode confirmar a exclusividade da escola par apenas os filhos dos colonos e
de uma minoria africana identificada como assimilada. Um assimilado era um
negro que vivia segundo a cultura portuguesa e beneficiava de alguns direitos
da sociedade colonial.
Apesar
de alguns africanos terem acesso à escola, menos de 5% de todas as crianças de
idade compreendida entre os 5 e os 14 anos frequentavam a escola em 1950,
enquanto 97% de todos os africanos de 15 anos e mais velhos eram classificados
analfabetos.
De
uma maneira geral podemos afirmar que o ensino colonial não era um ensino
virado para as populações angolanas, para a sua cultura e para a promoção dos
seus valores, era sim um instrumento ideológico do sistema colonial que tinha
como objectivo inculcar valores morais, éticos, políticos e religiosos acerca
da realidade portuguesa, incluindo ideias de servilismo na consciência do angolano,
enquanto a escola era uma forte instituição de expansão da língua portuguesa em
detrimento das línguas angolanas. É de salientar que nas colónias os programas
e conteúdos de ensino diziam respeito a realidade portuguesa. Estudava-se a
flora e fauna, a história, a geografia de Portugal, criando-se um vazio
cultural acerca de conhecimentos da realidade da própria colónia.
·
O período que antecedeu a
Independência: 1974 – 1975
Antes
de abordarmos qualquer aspecto de ordem política, gostaríamos de recuar um pouco
no tempo para analisarmos, ainda que de forma sucinta, o 25 de Abril de 1974
que culminou com a queda do regime ditatorial em Portugal. O 25 de Abril mais
do que um produto histórico dos nacionalistas portugueses, teve a sua génese na
luta armada que os nacionalistas africanos de Angola, Moçambique e Guiné
Bissau, impuseram ao colonialismo português, criando uma situação favorável
para a Independência das ex-colónias de África e o fim da ditadura em Portugal.
Assim, a guerra desencadeada nos territórios destes países, criou uma premissa
para que o 25 de Abril e com ele se abrissem as portas para a independência das
ex-colónias. Vale a pena nos lembrarmos o que nos diz Basil Davidson:
«Estas
guerras portuguesas foram extremamente dolorosas, mas por volta de 1970 a 1ª
resistência africana começou em geral a ganhar vantagem. Essa resistência levou
a grandes avanços políticos por parte dos africanos, assim como vitórias
militares. Finalmente o derrube da ditadura salazarista em Abril de 1974,
também veio pôr fim a estas guerras dolorosas e desastrosas para Portugal.
(citado por VIEIRA, 2007: 80)
Queremos
aqui mostrar o quão foi importante o sacrifício dos Movimentos Nacionalistas
africanos (em Angola o MPLA, FNLA e a UNITA), pois, com este esforço, surgiu a
independência que veio a favorecer os próprios africanos com relação a
acessibilidade ao processo de ensino.
Pouco
antes da proclamação da independência, o país envolve-se numa sangrenta guerra
pelo poder, envolvendo os três movimentos de libertação (MPLA, FNLA e UNITA).
Esta situação deixou o país economicamente debilitado, tendo destruído a maior
parte das comunicações terrestres, e em particular o caminho-de-ferro de
Benguela.
Estes
conflitos não beneficiaram em momento algum o processo do ensino no país, pois
que, passou-se a partir deste momento a direccionar todas as atenções na
implantação da paz bem como na estabilização do país.
1.
Angola – A Educação pós
Independência (1975 – 1980)
Com
a proclamação da Independência de Angola pelo MPLA, os objectivos imediatos do
novo regime consistiam na “destruição” dos marcos do regime colonial e na
construção imediata de um novo país, social, político, e economicamente
diferente de forma a servir os miliares de angolanos que tinham sidos
excluídos, discriminados e explorados pelo regime colonial. (VIEIRA, 2007: 91).
Tendo
em conta que a situação herdada do colonialismo, principalmente no campo da
educação não era das mais favoráveis, e consciente do alto nível de
analfabetismo existente na sociedade angolana na altura, uma das primeiras
medidas a ser implementada a nível nacional, foi o combate ao analfabetismo.
Indicadores do Ministério da Educação publicado na revista Novembro, apontavam
que cerca de 85% da população do nosso país (Angola), era analfabeta e mesmo
entre os alfabetizados muito poucos possuíam qualquer qualificação e só uma
maioria não significativa possuía uma qualificação profissional.
Considerando
a alfabetização uma tarefa prioritária, as autoridades angolanas criaram a
Comissão Nacional de Alfabetização, em 1976, sob a tutela do Ministério da
Educação, mas dependendo funcionalmente das estruturas do MPLA, que levou a
cabo uma Campanha Nacional de Alfabetização por forma a diminuir o número de
analfabetos.
A
campanha teve uma grande aderência por parte da população, quer no campo quer
nas fábricas, nos quarteis e, em muitos casos, as aulas decorriam debaixo das
árvores.
Esta
campanha visava colmatar algumas carências a nível da mão-de-obra qualificada e
iniciar uma forma de educação popular, baseada na experiência dos grandes
movimentos de educação popular (…) da América Latina ao mesmo tempo que tentava
fazer frente a situação económica do momento.
Recorde-se
que ao olhar das autoridades angolanas, a alfabetização era uma aposta de todo
o povo, por isso, aqueles que sabiam ler e escrever eram recrutados para
alfabetizadores que tinham a missão de ensinar os que não sabiam.
Anos
mais tarde, num balanço sobre esta actividade, o Ministério da Educação referia
que, «ao fim dos primeiros dez anos de Batalha de Alfabetização, foram
alfabetizados 1.048.000 cidadãos numa média calculada em 100.000 por ano»
(VIEIRA, 2007: 93). Mas este período, embora sendo áureo, rapidamente foi
acompanhado de constantes debilidades, uma vez que as dificuldades de ordem
económica e o agudizar da guerra em quase todo o país, contribuíram para o
decréscimo da campanha em muitas regiões.
·
Políticas do ensino em Angola
“experiência socialista”, (1975 a 1991)
Ao
conquistar o poder e declarar a independência do país em 1975, o MPLA optou ao
mesmo tempo por uma tentativa de combinar a construção nacional com a
construção de uma sociedade socialista, tal como definida pelo
Marxismo-leninismo. Nesta perspectiva adoptou uma política educacional
inteiramente subordinada a estes objectivos.
Durante
anos, uma alta prioridade foi dada a uma ampla campanha de alfabetização de
adultos que utilizou a técnica didáctica, mas não a metodologia de base do
educador brasileiro Paulo Freire. Para além da transmissão de conhecimentos
instrumentais básicos, a campanha teve por objectivo a promoção sistemática de
uma identidade social abrangente (“nacional”) e uma mentalização política
destinada a obter a aceitação do regime estabelecido. Não são conhecidas
estatísticas fiáveis quanto a esta campanha, mas pode ser dado como certo que
ela atingiu centenas de milhares de pessoas.
Paralelamente
procedeu-se a uma reestruturação e expansão do sistema do ensino geral,
concebido para, ao menos tendencialmente, abranger a totalidade da população.
Na sua versão regular, destinada à população em idade escolar, este sistema
passou a compreender oito anos: quatro de ensino primário, dois de ensino
pós-primário e dois de ensino complementar. Na sua versão para adolescentes e
adultos que não frequentaram a escola enquanto crianças, um programa comprimido
era ministrado em seis anos. Este sistema chegou a ser implantado na quase totalidade
do território, sendo para o efeito essencial a cooperação cubana que, de certo
modo, substituía os luso-angolanos que, durante o período colonial, tinham sido
o suporte indispensável de todo o ensino, mas que haviam deixado o país na
altura da independência.
Na
continuação deste ensino básico, foi estabelecido um ensino médio de quatro
anos (9ª a 12ª classes). Boa parte das respectivas escolas tinham como
objectivo uma formação técnico-profissional nos mais diversos ramos, inclusive
no da formação de professores. A conclusão da 12ª classe dava acesso ao ensino
superior. Criaram-se também a nível médio escolas de ensino pré-universitário
(PUNIVs), especialmente desenhadas para, em menos tempo, levar ao acesso a
estudos superiores em letras e ciências naturais.
Para
o estudo superior existia apenas a Universidade de Angola. Esta era a sucessora
da Universidade de Luanda e passou em 1979 a chamar-se Universidade Agostinho
Neto. Embora ela compreendesse várias faculdades, situadas em Luanda e no
Huambo, esta universidade não tinha condições para corresponder à procura
gerada pela expansão do ensino, antes e depois da independência – tanto menos
como o seu corpo docente ficou drasticamente reduzido com a saída dos
professores luso-angolanos, só parcialmente substituídos por “cooperantes”
cubanos, alemães (da RDA) e Russos. Por esta razão, o MPLA estabeleceu um
sistema de bolsas que permitiu, no decorrer dos anos, a vários milhares de
alunos de realizar estudos universitários em diferentes “países socialistas” –
principalmente em Cuba, mas também na União Soviética, na República Democrática
Alemã e na Polónia.
·
O novo sistema de Educação e
Ensino
Tendo
o governo da República Popular de Angola compreendido a importância do sector
no desenvolvimento do país bem como da sua população, ocupou-se em um novo
sistema de Educação e do Ensino que não englobasse nos seus objectivos e
princípios os signos da política educacional colonial. É neste quadro que foi
promulgada a Lei nº 4/75 de 09 de Dezembro de 1975, um mês à seguir a
Independência, que consagrava a nacionalização do ensino.
A
nacionalização do ensino tinha como objectivos imediatos fazer do sistema de
educação um instrumento do estado e substituir todo o aparelho colonial da
educação e ensino, promovendo no seio da sociedade angolana uma educação virada
para o povo (escola para todos), uma vez que as autoridades coloniais
não a tinham implementado devido a sua política de exclusão e descriminação da
maioria dos angolanos.
É
importante aqui salientar que, em função da influência dos seus aliados, o
primeiro sistema de ensino traçado pelo 1º Congresso do MPLA, tinha fortes
influências de países do bloco socialista. (VIEIRA, 2007:107).
Tendo
em conta as orientações fundamentais para o desenvolvimento económico-social da
República Popular de Angola no período de 1978/1980, as decisões saídas do 1º
Congresso sobre a política educativa definiram como objectivos do sistema de
educação e ensino o seguinte:
·
Formar as novas gerações e todo o povo trabalhador sob
a base da ideologia marxista-leninista;
·
Desenvolver as capa idades físicas e intelectuais de
formas a que todo o povo possa participar na construção da nova sociedade;
·
Desenvolver a consciência nacional e o respeito pelos
valores tradicionais;
·
Desenvolver o amor ao estudo e o trabalho colectivo e
o respeito pelos bens que constituem a propriedade do povo angolano;
·
Desenvolver a unidade nacional;
·
Garantir o desenvolvimento económico e social e a
elevação do nível de vida da população.
De
acordo com as decisões saídas desse Congresso que decorreu de 04 a 10 de
Dezembro de 1977, redefiniu o novo sistema de educação e ensino de seguinte
forma:
·
Um subsistema do Ensino de Base;
·
Um subsistema do Ensino Técnico-profissional; e
·
Um subsistema do Ensino Superior.
De
acordo com esta estruturação, o sistema de ensino contava com a seguinte
componente:
Um
Ensino geral de Base – constituído por 8 classes subdividido em 3
níveis; o primeiro de quatro classes, começava na 1ª até a 4ª classe; o segundo
duas classes, incluía 5ª e a 6ª classe; e o terceiro, da 7ª à 8ª classe.
Um
Ensino pré-universitário – estruturado em quatro semestres com a duração de 2
anos vigorava como um sistema transitório para o ensino universitário.
Um
ensino médio – com a duração de quatro anos, possuía dois ramos: o técnico que
visava a formação de mão-de-obra para a indústria; e normal para
a formação de professores para o ensino de base.
Por
último, um ensino superior – estruturado em faculdades e institutos
superiores; tinha a duração de 4 a 5 anos.
Quanto
a questão da exploração escolar que atrás já nos referimos, verificamos que o
número de crianças que frequenta a escola nos primeiros anos de independência é
bastante significativo e em muitas zonas do país improvisavam-se escolas,
muitas em armazéns abandonados, igrejas, sobre as árvores etc. Segundo
referências do Ministério da Educação, em termos quantitativos, o sistema
educativo da época colonial absorvia, em 1973, 608.607 alunos em todos os
níveis e subsistemas de ensino e possuía 17.978 docentes» (MED, 1997: 2).
Comparando com o período de 1976/77, segundo referencias deste ministério, os
alunos inscritos eram 1.032.854 em todos os níveis do ensino básico, superando
significativamente o período colonial. Veja-se o quadro a seguir:
Quadro
1. Relatório de escolarização nos primeiros cinco anos de
Independência
Ano
|
Iniciação
|
Iº
Nível
|
IIº
Nível
|
IIIº
Nível
|
Total
|
1976/77
|
361.446
|
592.450
|
70.933
|
8.025
|
1.032.854
|
1977/78
|
416.937
|
958.676
|
94.317
|
19.010
|
1.488.940
|
1978/79
|
746.328
|
1.420.739
|
113.884
|
24.663
|
2.305.614
|
1979/80
|
664.500
|
1.713.817
|
176.687
|
40.272
|
2.596.276
|
1980/81
|
404.255
|
1.332.297
|
150.204
|
36.433
|
1.923.189
|
Tal
como o quadro mostra, com a independência o número de escolarização cresceu
significativamente contrastando com os 608.607 alunos matriculados em 1973
pouco antes da conquista de independência. Esta situação, evidencia o esforço
das autoridades angolanas no sentido de escolarizarem todas as crianças em
idade escolar, mas demostra fundamentalmente e exclusão a que muitos tinham
sido sujeitos no regime colonial que lhe vedava o direito de à escola.
1.
Primeira Reforma do Sistema
Educativo em Angola (1976 – 2000)
A
organização do sistema educacional (1976), partiu da necessidade de mudança do
sistema de educação que Angola herdara do colonialismo português, classificado
como ineficiente, limitado, e em termos culturais, mais voltado ao domínio
cultural de Portugal. O sistema educativo português exaltava seus valores em
detrimento dos valores nativos de Angola. (NGULUVE, 2010: 55).
Este
facto encontrava-se ainda patente nos manuais usados nas escolas, até a década
de 1970, o que dificultou a reorganização do sistema educacional uma vez que
esta exigia ruptura em termo de hábitos, costume e pensamento (libertar a
mente. Ora, os professores de que Angola dispunha para a sua educação eram
frutos da Educação Colonial.
Como
já nos referimos anteriormente, a educação colonial não privilegiou o nativo
angolano, ou seja, não existia uma educação para negros escravos. Com o alcance
da Independência à 11 Novembro de 1975, o novo governo, teve como desafio
definir a partir de 1976, políticas concretas que pudessem permitir a correcção
dos altos índices de analfabetismo apresentado pelo país, resultante da fraca
infra-estrutura, bem como dos materiais de apoio ao ensino, herdado do
colonialismo português.
Em
vista destas situações, em 1977se cria e aprova o Plano Nacional de Acção
para a Educação de Todos, que visava fundamentalmente ampliar a
oportunidade de acesso a educação fundamental sobretudo aos primeiros quatro
anos de ensino qua incluía a 1ª, 2ª, 3ª e 4ª classe.
·
Organização do sistema
educacional
Segundo
Francisca do Espírito Santo citado por Alberto Nguluve (2010: 66), o sistema
educacional desenvolvido na primeira reforma (1976), baseou-se fundamentalmente
pelo aumento de oportunidades educativas, gratuitidade do ensino de base (da 1ª
à 4ª classe), obrigatoriedade de frequentar o primeiro nível e o
aperfeiçoamento pedagógico do seu corpo.
De
acordo com o Decreto nº 40/80 de 14 de Maio, o sistema educacional em vigor
desde 1978constituía-se em subsistemas que compreendiam as seguintes etapas:
Educação pré-escolar; Ensino Básio (de três níveis – o primeiro, da 1ª à 4ª
classe; o segundo, da 5ª à 6ª classe; e o terceiro, da 7ª à 8ª classe); Ensino
Médio (dividido em Técnico e Normal); Ensino Superior (que inclui o Bacharela,
até ao terceiro ano e a licenciatura até ao quarto ano ou quino ano, dependendo
do curso); Ensino e Alfabetização de Adultos. (Veja o quadro a seguir)
Quadro
2 – estrutura do ensino na primeira reforma (1978)
Educação
Pré-Escolar
|
Ensino de Base
(Regular,
Adultos e Especial)
|
Ensino Médio ou
Pré-Universitário
|
Ensino Superior
|
Creche
|
1º nível – 1ª à 4ª classe
(Obrigatório)
|
Médio Normal
(9ª
à 12ª classe
|
==============
|
Jardim
de Infância
|
2º nível – 5ª à 6ª classe
(formação
profissional)
|
Médio Técnico
(9ª
à 12ª classe)
|
1º Nível (do1º ao 3º ano)
Bacharelado
|
Iniciação
|
3º nível – 7ª à 8ª classe
(formação
profissional) *
|
Pré-Universitário
(9ª
à 11ª classe)
|
2º Nível (do 4º ao 5º ano)
Licenciatura
|
*
Junto do ensino normal, segundo o terceiro nível, havia a formação profissional
de (adultos e jovens), direccionado à aprendizagem de conhecimentos com
aplicação prática ao trabalho.
Para
além da ordem normal de que estava estruturado o sistema de ensino,
havia, paralelo a este, o ensino de adultos, voltado basicamente para a
alfabetização e ensino geral básico. Mediante o desenvolvimento, os adultos
poderiam chegar a formação profissional técnica.
Conclusão
Depois
de uma breve incursão sobre a educação em Angola antes, durante, e
depois da Independência, podemos concluir que a educação nem sempre
foi distribuída de modo equitativo em todos os momentos da construção da
história de Angola. Durante vários séculos que caracterizou a colonização de
Angola, a educação esteve à responsabilidade das Igrejas Cristãs, e que as
poucas instituições de ensino estatal que vieram a existir, em pouco ou nada
beneficiaram os nativos angolanos.
Até
os primeiros anos do século XIX, a educação laica em Angola era ainda muito
limitada e não estava por isso ao alcance de todos, só uma minoria de europeus
abastados e da burguesia africana radicada principalmente em Luanda, podia
frequentar algumas instruções de carácter privado que existiam no território,
principalmente nos aglomerados de população colonial.
Contudo
é importante salientar que, embora o surgimento do ensino secundários fosse já
uma realidade em Angola, ou melhor em Luanda, a situação de escolarização da
maioria da população africana e outra desfavorecida não mudou
significativamente, tendo em atenção que o Liceu Salvador Correia era
frequentado maioritariamente por filhos de grandes proprietários europeus que
viviam em Angola, fazendeiros portugueses, elementos de ascendência portuguesa
e alguns africanos.
Vale
aqui concluir que a luta de libertação nacional levada a cabo pelos
nacionalistas angolanos militantes dos movimentos de libertação nacional (MPLA,
FENLA e UNITA), abriu também aquilo que podemos considerar o caminho para a
nacionalização do Ensino e Educação em Angola. Com a independência, se tornou
preocupação do governo em expandir a educação por todo o país, tornado assim,
aquilo que antes foi inacessível, acessível a todos sem excepção.
Bibliografia
NGULUVE,
Alberto Kapitango. Educação Angolana: Políticas de Reformas do Sistema
Educacional. S. Paulo 1ª Ed. Biscalchin Editora, 2010.
PRELÓT,
Marcel (1974) As Doutrinas Políticas, Lisboa: Presença.
SANTOS,
Fernando Barciela (1975) Angola na Hora Dramática da Descolonização
Portugal-Angola.
VIEIRA,
Laurindo. Angola: A Dimensão Ideológica da Educação 1075 – 1992. Luanda, 1ª Ed.
Editora Nzila, 2007.
[1] Segundo HANDERSON citado por Laurindo VIEIRA, a
primeira Missão Protestante chegou em São Salvador em 1879 e quando a
hierarquia Católica teve conhecimento de que os protestantes estavam a
instalar-se em S. Salvador, no ano seguinte o Bispo D. José Neto enviou três
padres seculares – António José de Sousa Barroso, Sebastião José Pereira e
Joaquim de Anunciação Folga, com o objectivo de erigirem uma missão permanente
na capital do Reino do Congo.
Trabalho
retirado do site: https://balgidoquiage.wordpress.com/2014/09/17/educacao-em-angola-antes-durante-e-depois-da-independencia/