ANGOLA: O ALAMBAMENTO E OS RITUAIS DO CASAMENTO
ÍNDICE
INTRODUÇÃO
O
ALAMBAMENTO
ANGOLA: O
ALAMBAMENTO E OS RITUAIS DO CASAMENTO
Nkama Longo
(Alambamento)
ALAMBAMENTO HOJE
EM DIA, CULTURA OU EXTORSÃO E OPORTUNISMO
E como
se formou a palavra alambamento entre os angolanos
Como acontece
o alambamento
Alambamento em
Luanda
O
alambamento na actualidade
CONCLUSÃO
BIBLIOGRAFIA
INTRODUÇÃO
A grande maioria da
sociedade tradicional angolana, tem como figura principal a mulher. É ela que
trabalha a terra para sustento da família e gera os filhos que dão continuidade
e poder ao clã. Ou seja eles são uns lambões e elas é que andam na labuta de
sol a sol com as crianças às costas. Por este motivo a saída da mulher da casa
dos pais para a casa do marido, constitui para aqueles a perda de um precioso
elemento de trabalho e, como tal eles merecem ser compensados por tal perda. Na
realidade o Alambamento é a cerimónia para marcar a data do Casamento, o pedido
à família da noiva. Na altura em que o noivo pretende pedir a mão da noiva em
casamento, a família da noiva, geralmente os tios e tias, juntam-se e elaboram
a carta do pedido.
O ALAMBAMENTO
O
alambamento é uma cerimónia tradicional na cultura angolana e necessário quando
os jovens se amam e pretendem viver juntos. Ele é o segundo passo depois da
apresentação do noivo à família da mulher, sendo o momento em que se entrega os
dotes exigidos pela família da futura esposa, acompanhado de comida, bebida,
música e conselho de ambas as partes dirigidas aos noivos.
Alambamento
ou Pedido é um acontecimento muito mais importante do que o casamento civil ou
religioso e consiste em pedir a mão da namorada à família, mais propriamente ao
tio, que tem um papel fundamental para que o casamento se concretize.
Quando
o jovem casal de namorados decide casar, é necessário ter a autorização da
família da noiva e isso só é possível se, durante o pedido, toda a gente
estiver de acordo em que o casamento se concretize. O jovem casal solicita o
dia do pedido, mas a data é marcada pelos tios da noiva, pois é necessário
reunir toda a família. É entregue uma lista contendo o que o noivo tem de
conseguir reunir até ao dia do pedido.
Depois
da marcação do dia do alambamento o noivo parte em busca de todo o material
para que no dia não falte nada. O que é que pode constar nessa lista? Primeiro
um envelope com dinheiro, à volta de 300, 400, 500 USD, depende do que o tio da
noiva estipular. A lista prossegue com a altura da noiva em grades de cerveja,
a altura da noiva em paletes de sumo ou colas, 1 cabrito, um fio de ouro, um
fato, sapatos e panos tradicionais para a mãe.
Quando
chega o dia, a família do noivo (Pai, Mãe, Tio, Tia, Irmãos) vai a casa da
noiva e o tio da mesma, como se de um juiz se tratasse, apresenta todos e
informa de que se vai dar início ao pedido de casamento. Os pais da noiva
convidam os pais do noivo a entrar e o tio dá início à leitura do pedido
apresentado pelo noivo. Se o pai da noiva concordar com o pedido, o noivo terá
de ir buscar o alambamento, ou seja, aquela lista de coisas que reuniu. O
alambamento é apresentado e se tudo for cumprido é feita uma reunião para
acertar a data do casamento e outros detalhes de natureza logística. Posto isto
tudo, canta-se e dança-se (não é por acaso que aparecem as grades de cerveja e
de coca-colas na lista). A partir deste dia, se tudo correr bem, o casal de
namorados passam a ser marido e mulher.
Há
casos em que o noivo é colocado diante de três mulheres totalmente forradas de
panos para descobrir quem é a sua mulher, se errar vai pagando valores
monetários ate que acerte.
O
alambamento não é mais do que o pagamento da mão da noiva. O papel dos tios é
tanto ou mais importante do que o dos pais, pois os tios são também
responsáveis pela educação da noiva.
ANGOLA: O ALAMBAMENTO E OS RITUAIS DO CASAMENTO
Em
Angola, o alambamento ou pedido (da mão da noiva) é ainda uma tradição cultural
bastante forte e segundo consta, mais importante do que o casamento civil ou
religioso. O alambamento consiste numa série de rituais, como por exemplo a
entrega de uma carta com o pedido da mão da noiva, ofertas em bens e por vezes
até mesmo dinheiro.
Como
a tradição já não é o que era e apesar do alambamento ser ainda uma forte
característica da cultura Angolana, a verdade é que este hábito vai caindo em
desuso.
Nkama Longo
(Alambamento)
Para
muitos, mesmo jovens descedentes bakongos, acham estranho, quando são obrigados
pelos pais,o respeito da tradição, antes de fundar uma família.
Com
a evolução das mentalidades, a observação de rituais para NKAMA LONGO,
tornou-se absoleta mesmo inútil. Como na maioria dos casos, são os noivados que
possuem o orçamento (ao contrário da sociedade antiga), para suportar a
cerimónia matrimonial, estes ditam a sua vontade, e preferem muitas vezes
ignorar as etapas propostas pelos familiares até chegar ao casamento propriamente
dito, casam-se directamente. Para muitos bakongos radicais, o não respeito da
tradição significa a perda da identidade, neste caso, boicotam a cerimónia. Isto
tem originado conflitos da geração, em que muitas vezes os recêm-casados são
amaldiçoados que nos tempos a seguir, o casal vai observar uma sucessão de
infelicidades que pode terminar num divórcio prematuro. O que é triste.
Antigamente
são os parentes que procuravam os futuros cônjugues para os seus filhos,
obrigavam ou sugeriam aos seus filhos a aceitar as propostas. Neste caso os
noivos não tinha nada que dizer, porque são os pais que possuiam e organizavam
tudo. Mesmo a situação económica nos primeiros dias do casal, dependia dos
fundos e presentes angariados no casamento. Era impossível a não observar
ritual preparatório até chegar à cerimónia central, quer dizer a entrega do
dote (Nkama Longo) da família do noivo a da noiva. Não esquecemos o último
ritual, que há muito, não se pratica mais. O rito consistia a provar a virgindade
da noiva, o primeiro dia do acto sexual, a tia paterna do noivo, vai estender
um lençol branco no leito nupcial e vai assistir discretamente. Terminando o
acto sexual, a referida tia é autorizada a entrar no quarto e tirar o tecido
branco da cama e vai observar atentivamente e se haver as manchas de sangue,
isto era a prova suficiente que a noiva era virgem. Assim estava consumida
oficialmente a união. Caso o contrário, anulava-se o casamento.
ALAMBAMENTO HOJE EM DIA, CULTURA OU EXTORSÃO E
OPORTUNISMO
Até
pouco depois dos anos 80, o pedido ou alambamento consistia apenas em pedir a
mão da namorada à família, mais propriamente ao tio, que tem um papel
fundamental para que o casamento de concretize. Pedia-se geralmente uma muda de
pano para a mãe ou tia da rapariga, um garrafão de vinho para os pais e os tios
e alguns valores na carta do pedido. Nos dias de hoje, o alambamento é uma
“fortuna”. Algumas famílias exigem ao noivo valores exorbitantes.
O
alambamento é um ritual praticado em dois terços dos países africanos e alguns
asiáticos, em que na maior parte dos países, é mais importante que o casamento
civil ou religioso.
E como se formou
a palavra alambamento entre os angolanos
Alambamento
é um neologismo que os angolanos criaram para preencher a lacuna verificada na
língua portuguesa para designar ovilombo (pedido de casamento) em umbundu;
ovilombo vem do verbo umbundu okulomba (pedir). Há quem refira ainda que
alambamento vem da palavra umbundu okulemba (alegrar para consolar), por isso
alguns pronunciam alembamento em vez de alambamento, porque a retirada da filha
para o seu novo lar pode causar alguma tristeza aos pais, e há que consolá-los
(com um presente) _ explicam assim, alguns filólogos a etimologia da palavra
alambamento.
Mas,
acima de tudo, o alambamento é visto pelos africanos como um prémio à noiva
pelo seu bom comportamento pessoal e pelo de seus pais que a criaram, porque
não é muito fácil educar uma filha em virtudes, dadas as muitas tentações na
vida que a espreitam. O bom comportamento dela pressupõe o bom comportamento
dos seus pais, pelo que todos devem ser premiados: a filha e os seus pais! Esse
prémio é que é o alambamento!
Como acontece
o alambamento
Quando
o jovem casal de namorados decide casar, é necessário ter a autorização da
família da noiva e isso só é possível se, durante o pedido, toda a gente
estiver de acordo em que o casamento se concretize. O jovem casal solicita o
dia do pedido, mas a data é marcada pelos tios da noiva, pois é necessário
reunir toda a família. É entregue uma lista contendo o que o noivo tem de
conseguir reunir até ao dia do pedido.
Depois
da marcação do dia do alambamento o noivo parte em busca de todo o material
para que no dia não falte nada.
Quando
chega o dia, a família do noivo vai a casa da noiva e o tio da mesma, como se
de um juiz se tratasse, apresenta todos e informa de que se vai dar início ao
pedido de casamento. O tio dá início à leitura do pedido apresentado pelo
noivo. Se o pai da noiva concordar com o pedido, o noivo terá de ir buscar o
alambamento, ou seja, aquela lista de coisas que reuniu. O alambamento é
apresentado e se tudo for cumprido é feita uma reunião para acertar a data do
casamento e outros detalhes de natureza logística. Posto isto tudo, canta-se e
dança-se. A partir deste dia, se tudo correr bem, o casal de namorados passam a
ser marido e mulher.
Há
casos em que o noivo é colocado diante de três mulheres totalmente forradas de
panos para descobrir quem é a sua mulher, se errar vai pagando valor monetários
ate que acerte.
O
alambamento não é mais do que o pagamento da mão da noiva. O papel dos tios é
tanto ou mais importante do que o dos pais, pois os tios são também
responsáveis pela educação da noiva.
Actualmente
esta tradição está em declínio, mas ainda há famílias conservadoras que fazem
cumprir a tradição e não cedem a mão da filha sem que seja tudo cumprido à
risca. Há também aquelas que se aproveitam do ritual para tirar vantagem e
fazer exigências imperceptíveis pela mão de sua filha. Há cartas de pedidos que
exigem gerador, pacote de parabólica televisiva, terrenos com medidas exactas,
motas e outros itens absurdos que fazem do ritual um vandalismo.
A
nossa tradição é a nossa identidade. É ela que nos define, por isso deve ser
cumprida inquestionavelmente e passada de geração em geração. Só não vale usar
este facto como argumento para fazer exigências exorbitantes e no fim de tudo o
ritual perder o seu real significado e valor.
Alambamento em Luanda
Na
província de Luanda o pedido depende exclusivamente da rapariga. Para a
composição da lista ela também participa na discussão da família. Francisca Pinha
tem 69 anos, é natural de Luanda e contou ao Jornal de Angola, que a tradição
de Luanda é mais simples do que nas outras províncias.
Francisca
Pinha conta que antigamente apesar do pedido ser um acto de valorização da
mulher, muitas famílias acabavam por rejeitar o acto. “Havia homens que
desrespeitavam e batiam na mulher. E quando a mulher reivindicava ele obrigava
os pais da moça a devolver as coisas”, disse.
Esta
situação fez com que muitas famílias deixassem de realizar o acto de pedido com
bens: “na minha família durante muito tempo nós não realizávamos pedido devido
a estes abusos”, explicou.
Na
tradição de Luanda, ao homem são exigidos três pares de panos, dez grades de
cerveja e gasosa, um garrafão de vinho, um fato para o pai da moça, um par de
sapatos, uma camisa branca com gravata, whisky, amarula, aguardente, martini,
chinelas ou sandálias para a mãe, dois lenços, o anel de noivado e um dote no
valor de 500 dólares.
O alambamento na actualidade
Em
Angola o casamento é celebrado de três maneiras: o tradicional (alambamento), o
religioso e o civil. O alembamento pode ser entendido como uma forma
tradicional de união conjugal existente nalgumas regiões de África,
principalmente entre os povos Bantu. Este refere-se a um conjunto de preparativos
e entregas que a família do noivo faz à da noiva, com o intento de legalizar o
casamento e estabelecer novos laços de parentesco (também chamados laços de
afinidade ou aliança). Consiste na entrega de certas quantias em dinheiro,
roupas, calçados, bebidas, animais e determinados objectos.
CONCLUSÃO
Conclui-se que o alambamento não é
mais do que o pagamento da mão da noiva. O papel dos tios é tanto ou mais
importante do que o dos pais...pois os tios são também responsáveis pela
criação da noiva. Actualmente esta tradição está em declínio, mas as famílias
mais conservadoras não cedem a mão da filha sem que seja tudo cumprido à risca.
Depois da dança, as mulheres deixam tudo no chão e voltam para os seus lugares.
Item por item é apresentado aos convidados e os pais vão checando tudo a partir
de uma lista. Quando esta parte acaba os líderes das famílias fazem um pequeno
discurso e depois é servido o almoço. Não há fila para se comer e é difícil
alcançar a comida. O dj coloca o ritmo em alto som e as pessoas dançam a união
do casal.
Mas o ritual, não
fica por aqui. Já depois do casamento, e em caso de divórcio forçado e com
as culpas para a noiva, ela terá de devolver as ofertas constantes na carta,
completas ou parciais caso existam filhos. Se as culpas pertencerem
integralmente ao rapaz ou à sua família, a exigência da restituição do dote
torna-se impossível.
Só para perceberem
a importância que este ritual tem na sociedade angolana, uma das marcas mais
famosas de vinho em Angola está a usar o ritual do Alambamento num filme
publicitário. Vai ser um sucesso de vendas, só pode.
BIBLIOGRAFIA