Kant (1724-1804)


VIDA E OBRAS: Kant caracterizou suas obras como uma ponte entre as tradições racionalista e empirista do século XVIII, e sua revolução na teoria do conhecimento e metafísica talvez seja o desenvolvimento filosófico mais importante dos tempos modernos. Mas sua influência nas áreas da filosofia da religião, ética e estética foi igualmente profunda.
Kant passou toda a sua vida em sua cidade natal, Königsberg, sem jamais se afastar de casa por um dia. Em 1740 ingressou na Universidade de Königsberg. Após se formar foi preceptor particular antes de se tornar docente na universidade, em 1755, ensinando diversas matérias, como física, antropologia e geografia, além de filosofia. Aos 45 anos foi nomeado professor de lógica e metafísica. Ele foi um dos mais influentes filósofos europeus desde os gregos antigos. Sua reputação foi crescendo aos poucos, chegou ao ponto em que ele passou a se preocupar com a direção assumida pelos que se diziam influenciados por sua filosofia, a saber, os primeiros proponentes do que veio a ser conhecido como Idealismo Alemão. Embora nunca fizesse viagens longas e tivesse uma rotina tão sistemática que as pessoas podiam acertar seus relógios por ele, não era uma figura solene. Na verdade, gozava de uma vida rica social e era conhecido por suas brilhantes palestras. Textos essenciais: Crítica da razão pura; Fundamentos da metafísica dos costumes; Crítica da razão prática; Crítica do juízo. 

PRINCIPAIS IDEIAS: O primeiro problema que Kant enfrentou foi descobrir como fazer descobertas positivas sobre o que se situa além da experiência humana. Foi estimulado pela insistência cética de Hume de que o conhecimentos sobre o mundo requer experiência sensorial - que é impossível estender nosso conhecimento apenas usando a razão. Se correta, essa teoria restringe os limites do conhecimento humano. Em particular, torna impossível o conhecimento da existência de substâncias materiais, de causa e efeito e do eu.
Para superar essa dificuldade, Kant tentou mostrar que podemos descobrir verdades significativas sobre a realidade "a priori" examinando as condições de possibilidade de nossa experiência. Em vez de fazer a pergunta tradicional - nosso conhecimento reflete precisamente a realidade? - Kant pergunta como a realidade reflete a nossa cognição. Ele admitiu que o que conhecemos é determinado pela natureza do nosso aparelho sensorial e cognitivo. Em outras palavras, embora se inicie com a experiência, o conhecimento requer ordenação pela mente humana. E é possível usando a razão, descrever a estrutura que a experiência deve assumir e assim descobrir verdades universais sobre nosso mundo.
Então, o que é essa estrutura? Kant observou que toda nossa experiência do mundo é espaço-temporal: espaço e tempo são condições a priori da experiência sensorial e são a estrutura necessária que impomos à nossa experiência. Tentou também isolar as categorias de pensamento que nos permitem organizar o material dos sentidos. Essas categorias são condições necessárias para a possibilidade do conhecimento. Como espaço e tempo, estas são características do mundo tal como aparece para as mentes, não como é em si. Desse modo, Kant supera o ceticismo de Hume, mostrando que podemos adquirir conhecimento do mundo tal como aparece para nós. Mas isso significa que não podemos ter conhecimento do mundo além das aparências. E, como podemos apenas aplicar a razão ao Universo tal como aparece (fenômeno) não podemos usá-la para discutir o Universo como um todo ou o que reside além dele. Isso levou Kant a condenar muita especulação metafísica tradicional - a existência de Deus, a causa do Universo e se ele tem limites no espaço e no tempo, a imortalidade da alma -, já que estas questões não podem ser resolvidas por apelo à experiência real.
Ética: Se a ciência trata do mundo aparente que obedece a leis causais, o que dizer do ser humano? Nossas ações são determinadas por leis físicas? Kant acreditava que era evidente pela experiência que somos livres, e assim devemos ser mais do que seres fenômenicos. Nosso eu numênico é que deve ser a fonte do livre-arbítrio, dando lugar à ação moral. Para Kant, só agentes capazes de deliberar racionalmente sobre suas escolhas podem ser ditos livres. Não podemos esperar que nossos deveres sejam prescritos por nenhuma autoridade mais elevada, nem impostos por nossas emoções: devemos descobri-los por nós mesmos, mediante o uso autônomo da razão.
Um dever moral é uma exigência incondicional ou "categórica" ao nosso comportamento. Não requer que façamos algo pelo que podemos ganhar; diz que devemos fazê-lo só porque é nossa obrigação. Kant compara esses imperativos categóricos, que são genuinamente morais, com os imperativos hipotéticos que não o são. Estes exigem que façamos algo para alcançar alguma outra meta. Para Kant, só um imperativo que tenha realmente alguma aplicação universal (que seja em todas as circunstâncias equivalentes) pode ser moral. Nossa obrigação deve ser sempre agir como desejaríamos que todos os outros agissem. Para Kant, isto equivale a dizer que devemos sempre tratar os outros como fins em si mesmos, e nunca como meios para nossos fins, isto é, devemos respeitar os objetivos dos outros, em vez de usá-los como meios para alcançar os nossos próprios fins.

Bibliografia:
CHAUI, Marilena – Iniciação à Filosofia; Ed. Ática, 2009
LAW, Stephen – Guia Ilustrado Zahar de Filosofia; Ed. Zahar, 2008