avaliação de uma criança de 2 anos de idade

INTRODUÇÃO


No primeiro ano de vida, as aquisições nas áreas sensoriomotoras e psicoafetivas, são as bases da relação da criança com o mundo e ocorrem de forma intensa neste período. A partir do nascimento, o recém-nascido é exposto a uma serie de estímulos novos, como o roçar das roupas na pele, o frio e o calor, o desconforto da fome, das cólicas e a necessidade de manter uma postura vencendo a forca da gravidade. Isto leva o indivíduo a uma superação constante das dificuldades que se apresentam e a uma adaptação, possibilitada pela maturação do sistema nervoso central.













AVALIAÇÃO DO DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA DE 2 ANOS


O desenvolvimento é o resultado da interacção contínua entre os potenciais biológico e genético e as condições ambientais com seus aspectos psicossociais, culturais e económicos.
As etapas do desenvolvimento não são estáticas, e a sequência das aquisições motoras são encadeadas; sendo cada etapa preparatória das subsequentes. As idades em que são alcançados os marcos do desenvolvimento são dadas estatísticos e servem como guias para o reconhecimento dos desvios da normalidade. Numa avaliação porém é importante considerar não só as aquisições motoras mas a qualidade com questão realizadas.
O desenvolvimento normal é caracterizado pela maturação gradual do controle postural, pelo desaparecimento dos reflexos primitivos em torno de 4 a 6 meses de idade (Moro, RTCA, Galant, reflexos plantares, reflexos orais); e pela evolução das reações posturais (retificação e equilíbrio). Na avaliação dos reflexos primitivos cabe lembrar que mesmo quando presentes na idade esperada, deve-se observar se a sua intensidade é adequada para aquela fase.
Para o pediatra o conhecimento do desenvolvimento motor normal, vai permitir a detecção dos seus desvios e o encaminhamento da criança para uma equipe onde será feita uma avaliação especializada e o diagnostico funcional. Cabe lembrar que toda avaliação deve ser sequencial e que um exame motor normal, na nossa população de alto-risco, não exclui a possibilidade de um outro problema futuro (distúrbio de linguagem, distúrbio de aprendizado.
Os factores causais de anormalidades atuam de forma variada, tanto em intensidade quanto em localização no SNC, levando a alterações nas varias fases do processo de desenvolvimento; resultando em quadros clínicos de grande diversidade, do ponto de vista funcional.
O diagnóstico de um distúrbio de desenvolvimento, muitas vezes é feito pela avaliação funcional e nem sempre os exames complementares contribuem para a determinação de sua etiologia.
Independente da idade da criança, ao ser avaliada, esta deve ser observada em tantas situações diferentes quanto possíveis: no colo da mãe ou livremente, ainda vestida, quando esta sendo alimentada, entre outras.
Além disso a criança deve ser avaliada nas posturas abaixo assim como nas mudanças de uma postura para outra:
  • SUPINO (decúbito dorsal)
  • PRONO (decúbito ventral)
  • LATERAL
  • SUSPENSÃO VENTRAL
  • PUXADO PARA SENTAR
  • SENTADO
  • DE PÉ
  • NAS MUDANÇAS DE POSTURA

DESENVOLVIMENTO FÍSICO: ENERGIA E INDEPENDÊNCIA


Com o andar firme e os passos mais equilibrados, seu filho já tem o caminhar mais parecido com o dos adultos, fazendo um movimento com os pés apoiados primeiro no calcanhar e depois nos dedos. Isso possibilita que ele tenha mais habilidade para correr, pular e jogar bola -- óptimas maneiras de gastar um pouco daquela aparentemente inesgotável energia.

Procure reservar um tempinho todos os dias para que ele realmente possa brincar fora de casa (ou do apartamento), em actividades ao ar livre que envolvam esforço físico. A movimentação do corpo ajuda a criar força e a melhorar a coordenação motora.

Essa coordenação também é essencial para os cuidados com a higiene que a criança começa a querer tomar conta por si só, como a escovarão dos dentes e a lavagem das mãos. Por mais molharão que aqueles poucos minutinhos no banheiro causem, tente se conter e deixar que ela pratique um pouco, já que estes são importantes marcos de independência.

COMPORTAMENTO: MEDO DO MÉDICO


A capacidade de formar imagens mentais que vão além do que vêem de concreto ao redor é terreno fértil para crianças de 2 anos desenvolverem todo tipo de medos. Junte a isso um desconforto natural com estranhos e a habilidade de lembrar de experiências passadas e é fácil de entender por que muitas delas acabam tendo pavor de ir ao médico.

Cabe a você tentar "desmistificar" a experiência, explicando sempre com antecedência o que vai acontecer no consultório ("Primeiro ele vai perguntar como você está, depois vai pedir para ouvir o seu coração, colocar aquela luzinha no ouvid).  

Nunca minta dizendo que a vacina não vai doer ou que nenhuma injeção vai ser aplicada desta vez. Melhor explicar que dói só um pouco, mas é rápido. Procure também se manter calma, porque elas são especialistas em decifrar expressões faciais e linguagem corporal.  

DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM: SINAIS DE ALERTA


Nem toda criança de 2 anos conversa de forma clara, usando frases completas. Algumas se valem de gestos ou de palavras bem básicas por meses a fio, enquanto outras até que falam, mas de um jeito que só mamãe e papai conseguem entender. A princípio não há motivo de alarme em ambos os casos, apenas mantenha a atenção para ajudar ao longo deste complexo processo.  

Problemas de pronúncia são bastante normais (sendo a troca do r pelo l um dos mais comuns), assim como a troca de palavras na pressa de falar rápido e até 
gagueira, e geralmente nem requerem a intervenção de fonoaudiólogos.

Consideram-se três grandes áreas de desenvolvimento infantil: motor, cognitivo e emocional.  Estas três grandes áreas de desenvolvimento interligam-se, influenciam-se e acontecem simultaneamente.
Contudo, em determinados momentos, uma área pode ter mais protagonismo do que as outras, sem deixar de coabitar, a toda a hora, de noite ou de dia. E, em cada uma delas, pais, bebé e genética têm o seu papel.
·         Desenvolvimento físico ou motor

O desenvolvimento motor decorre, maioritariamente, no primeiro ano de vida e acontece de forma sequencial. Cada competência ou capacidade adquirida precede e é fundamental para a aquisição da próxima, ou exploração de uma nova área do desenvolvimento. Ser capaz de ver, antecede o desenvolvimento do sentido de perspectiva ou profundidade.
Um bebé que nasce saudável já nasce com os sentidos prontos, contudo ainda não completamente desenvolvidos. Eles são parte da caixa de ferramentas da sobrevivência.
O mundo exterior é adverso e o nascimento, um choque. Da proteção do interior da barriga da mãe sai para uma explosão sensorial!
À medida que o bebé cresce e desenvolve a sua musculatura, vai ganhando controlo sobre o próprio corpo, passando de gestos bruscos a movimentos refinados, controlados e com uma determinada intenção. Grande parte deste processo de maturação acontece nos primeiros 6 meses de vida. O bebé tem proporções diferentes das de um adulto. As dimensões da cabeça, tronco e membros têm uma proporção própria onde a cabeça é maior do que os braços e os braços e pernas mais pequenos do que o tronco.
O desenvolvimento físico dos aparelhos sensorial e motor são importantes para que comece a explorar o mundo e as suas gradações, guiado pelo seu instinto natural de curiosidade e interesse em explorar tudo o que o rodeia.

 

 

 

 

 

 

 

 

 




 

CONCLUSÃO

É importante que o pediatra conheça o desenvolvimento normal para que identifique as crianças com desvios. Porém algumas anormalidades encontradas no exame são muitas vezes transitórias e não podem ser usadas para um prognóstico definitivo; o que reforça a necessidade de avaliação por uma equipe especializada.
Mesmo em crianças com patologias definidas, o prognóstico varia muito em função de factores familiares, cooperação da criança, recursos financeiros, qualidade do tratamento de reabilitação e o potencial intrínseco de cada criança; justificando sempre a intervenção o mais precoce possível. Ainda que a criança tenha um comprometimento motor severo o deficit intelectual pode não existir primariamente, vindo a se instalar muitas vezes posteriormente devido a falta de vivência corporal, de estímulos sensoriais, de oportunidades de descobrir o meio que o cerca, falta essa que seria evitada com um tratamento adequado iniciado em tempo hábil.










BIBLIOGRAFIA

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3- BARRERA, M.E.; ROSENBAUM, P.L.; CUNNINGHAM, E.:"Corrected and Uncorrected Bayley Scores: longitudinal developmental patterns in low and high birth weigth infants". Infant Behav. Dev. 1987; 10: 337-46.
4- BOBATH, B.: "Atividade Postural Reflexa Anormal Causada por Lesões Cerebrais". Sao Paulo: Ed. Manole. 1978.
5- BRANDAO, J.S.; "Desenvolvimento psicomotor da mão", Rio de Janeiro; Enelivros, 1984.












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