Impactos ambientais e sanitários causados por descarte inadequado de pilhas e baterias usadas
Impactos ambientais e sanitários causados por descarte
inadequado de pilhas e baterias usadas
Nívea Maria Vega Longo
Reidler
Consultora
em Eng. Sanitária e Ambiental da ENGEMAC – Engenharia, Ind. e Com. Ltda. Mestre
em Saúde Pública - (FSP-USP); Especialista em: Engenharia Ambiental e de Saúde
Pública (FSP-USP); Controle Sanitário e Ambiental (Stockholms Universitet);
Tecnologia Ambiental (Kungl Tekniska Högskolan – Stockholm); Bacharel e
Licenciada em Química.
E-mail: nreidler@yahoo.com
Wanda Maria Risso Günther
Engenheira
Civil e Socióloga, Especialista em Engenharia de Saúde Pública, Mestre e
Doutora em Saúde Pública. Professora e pesquisadora da Faculdade de Saúde
Pública da Universidade de São Paulo. Consultora na área ambiental. E-mail: wgunther@usp.br
Resumo
O artigo versa sobre a investigação dos impactos ambientais e
sanitários causados pelo descarte inadequado de pilhas e baterias usadas junto
com o resíduo sólido comum. O estudo abrange as pilhas e baterias portáteis que
contêm metais pesados e outras substâncias tóxicas que, após o uso, são
consideradas como resíduos perigosos. Não foram contempladas as baterias
industriais e veiculares. A legislação vigente no Brasil sobre o tema é
avaliada, verificando-se sua adequação e aplicabilidade, concluindo-se que,
embora recente (de 1999), há a necessidade de atualização da referida
legislação. Embora nem todos os tipos de pilhas e baterias apresentem o mesmo
grau de periculosidade do ponto de vista sanitário e ambiental, o estudo recomenda, para o Brasil e para
todos os países em desenvolvimento, a coleta, tratamento e disposição final
adequada de todos os tipos de pilhas e baterias usadas, eliminando, assim, a
dificuldade apresentada pela segregação das mesmas por tipo.
Palavras Chave: pilhas e baterias usadas;
resíduos perigosos; resíduos especiais.
Abstract
The article treats of the
environmental and sanitary impacts caused by inadequate disposal of spent cells
and batteries among the urban solid waste. The study embraces portable cells
and batteries that contain heavy metals and other toxic substances which, after
use, are considered as hazardous waste. The study doesn’t include vehicular and
industrial batteries. The current Brazilian controlling legislation in this
area is evaluated and an verification, in terms of its applicability and
adequacy is made. The article concludes that, although the Resolution is new,
there is a need for upgrades in the reported Brazilian legislation. Even though
not all of such product types feature the same degree of hazardousness, from
the point of view of sanitation and the environment, the study recommends for
Brazil and all developing countries as well, the collection and adequate
treatment and/or final disposal of all types of spent cells and batteries,
which should eliminate the difficulties arose by the segregation of them by
type.
Key Words: spent cells and batteries;
hazardous waste; special waste.
1. INTRODUÇÃO
|
No final da década de 1970, surgiram os primeiros sinais de alerta
sobre os perigos de se descartar baterias e pilhas usadas junto com o resíduo
comum. Até a década de 1980, normalmente eram utilizadas para uso doméstico as
baterias em forma de bastonetes, principalmente de Zn-C, as quais, quando
exauridas, eram descartadas junto com o resíduo domiciliar. No final dessa década, em alguns países da
Europa, surgiu a preocupação em relação aos riscos que representa a disposição inadequada desses
resíduos, o que motivou a busca de mecanismos para seu gerenciamento, visando
minimizar os riscos sanitários e ambientais. Até 1985, todas
as pilhas, exceto as de lítio, continham mercúrio metálico - um metal pesado,
não biodegradável, extremamente tóxico à saúde e ao ambiente - em proporções
variadas (de 0,01% a 30%). Após o advento do transistor e do conseqüente
surgimento de inúmeros equipamentos movidos à bateria, foram sendo
desenvolvidos novos tipos de pilhas e baterias. A alta potência de alguns tipos
deve-se à presença em sua composição, além de metais pesados, de outros
aditivos potencialmente perigosos à saúde e ao ambiente. As novas tecnologias
trouxeram consigo novas questões ambientais e sanitárias a serem estudadas que,
atualmente, encontram-se
amplamente debatidas e estudadas no mundo industrializado.
No Brasil, as pilhas e baterias exauridas são descartadas no lixo comum
por falta de conhecimento dos riscos que representam à saúde humana e ao
ambiente, ou por carência de outra alternativa de descarte. Esses produtos
contêm metais pesados como mercúrio, chumbo, cádmio, níquel, entre outros,
potencialmente perigosos à saúde. Esses metais, sendo bioacumulativos depositam-se no organismo, afetando
suas funções orgânicas. Outras substâncias tóxicas presentes nesses produtos
podem atingir e contaminar os aqüíferos freáticos, comprometendo a qualidade
desses meios e seu uso posterior como fontes de abastecimento de água e de
produção de alimentos.
No Brasil, até a década de 1990, não se cogitava sobre a questão da
contaminação ambiental por pilhas e baterias usadas. No entanto, desde 1999, o
país possui legislação específica que dispõe sobre pilhas e baterias que contêm
mercúrio, chumbo e cádmio (Resoluções CONAMA: n.º 257, de 30/06/99; e no 263,
de 12/11/99). Mas, essa medida legal, embora necessária e em vigor, mostra-se
insuficiente para solucionar, na prática, o problema do descarte inadequado
desses resíduos. Desde sua publicação, muita informação desencontrada tem sido
gerada. A origem de toda a polêmica está na generalização de que todas as
pilhas e baterias usadas devem ser classificadas como resíduos perigosos. Na
verdade, ainda não há estudos suficientes que comprovem a necessidade de se
recolher outros tipos de pilhas e baterias, além dos especificados na referida legislação,
embora já haja, nos países da União Européia entre outros, forte pressão para
que todos os tipos sejam coletados, tratados e dispostos adequadamente, em
função da constante evolução da tecnologia, com utilização de novos materiais e
do aumento progressivo do consumo desses produtos. Além disso, no caso
brasileiro, deve-se alertar para a questão de outros tipos de pilhas e
baterias, que mesmo não contendo os metais (cádmio, mercúrio e chumbo)
referidos nas Resoluções CONAMA em vigor, em função do volume e da velocidade
de geração de seus resíduos, como também da composição desconhecida de alguns
tipos, representam atualmente problemas ambientais, tornando-se tão prejudiciais como os resíduos das pilhas e baterias
regulamentadas, fato que merece um estudo com maior profundidade.
2. METODOLOGIA
Partindo-se das questões: “Seria
a proibição do descarte no resíduo sólido comum de pilhas e baterias contendo
cádmio, mercúrio e chumbo suficiente para assegurar a ausência de riscos ao
ambiente e à saúde pública? Seria necessária a inclusão de outros tipos de
pilhas e baterias na regulamentação?" optou-se por um estudo de
caráter exploratório. Foi executado um levantamento dos tipos de pilhas e
baterias destinadas ao consumidor, existentes no mercado da cidade de São
Paulo, visando identificar o gerenciamento dado a cada tipo específico. Após
identificação dos principais componentes de cada sistema químico, selecionou-se
dez dos metais, considerados potencialmente perigosos: Cd; Pb; Co; Cr; Li; Mn;
Hg; Ni; Ag; e Zn para avaliação dos impactos desses resíduos quando descartados
inadequadamente, abordando-se: os efeitos e riscos ambientais à saúde, as vias
de introdução no organismo e a toxicidade, para cada um deles.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
As pilhas e baterias podem
ser classificadas de várias maneiras de acordo com seu formato, tamanho,
sistema químico, se são abertas ou fechadas, removíveis ou montadas fixa no
aparelho, entre outros. Podem ser divididas em primárias (“one way” ou pilhas descartáveis) e secundárias (baterias recarregáveis ou acumuladores). As baterias
recarregáveis, montadas fixas em alguns aparelhos, são utilizadas para
“armazenar” memória em computadores portáteis, entre outras aplicações. Outra
classificação refere-se à finalidade a que se destinam: para propósitos: de uso doméstico
e geral em muitos equipamentos portáteis, domésticos e profissionais,
correspondendo a 90% do mercado mundial; pilhas tipo botão: utilizadas em relógios, câmeras fotográficas,
aparelhos de surdez, e outros, respondendo por 2% do mercado mundial; e recarregáveis: utilizadas em
computadores portáteis, telefones celulares e sem fio, câmeras de
vídeo, brinquedos, ferramentas elétricas,
além de equipamentos
que possuem bateria fixa em sua estrutura; correspondendo a 8% do mercado
mundial (Reidler 2002). O Quadro 1 apresenta os tipos de pilhas e baterias portáteis
estudados, disponíveis no mercado.
QUADRO 1: Tipos de pilhas e baterias
portáteis estudados, disponíveis no mercado.
PRIMÁRIAS
(descartáveis)
|
Sistema químico
|
Espécie Reduzida
(cátodo)
|
Espécie Oxidada
(ânodo)
|
Eletrólito
·
(Condutor de corrente elétrica)
|
Zinco-carbono
|
MnO2
|
Zn
|
NH4Cl
|
|
Zinco-cloreto
|
MnO2
|
Zn
|
Zn Cl2
|
|
Manganês (Alcalino)
|
MnO2
|
Zn em pó
|
KOH
|
|
Óxido de mercúrio
|
HgO
|
Zn em pó
|
NaOH ou KOH
|
|
Óxido de prata
|
Ag2O
|
Zn em pó
|
NaOH ou KOH
|
|
Zinco-ar
|
O2 (do ar)
|
Zn em pó
|
KOH
|
|
Lítio
|
MnO2
|
Li
|
Alcalino ou solvente orgânico
|
|
SECUNDÁRIAS
(recarregáveis)
|
Níquel-Cádmio
|
NiO2
|
Cd
|
NaOH ou KOH
|
Chumbo-ácido
|
PbO2
|
Pb
|
H2 SO4
|
|
Níquel - Metal Hidreto
|
Ni (OH)2
|
M (liga absorvente de H)
|
Solução constituída principalmente de
KOH
|
|
Lítio-íon
|
LiCoO2
|
Carbono cristalizado
|
Solvente orgânico otimizado por carbono
|
Fontes: CEMPRE
(1995); CETEM (1999); ABINEE (2000); CFETEQ -RJ (2000); BYD (2001).
Principais Características e Aplicações dos Tipos de Pilhas e Baterias
Estudadas
·
Pilhas & Baterias não regulamentadas
pela legislação brasileira, sendo seu descarte permitido junto ao resíduo
sólido comum:
Zinco-carbono (Zn-C) (pilhas comuns ou de Leclanché):
Formato cilíndrico, de diversos tamanhos. Contêm, em média, 0,01% de Hg, sob a
forma de HgCl2, que reage com a superfície interna do invólucro de
Zn e também 0,01% de Cd (em peso), além de MnO2, NH4Cl e
ZnCl2, que são um tanto ácidos, portanto corrosivos. Se a reação de
oxidação durante a descarga não for uniforme, ocorre corrosão excessiva, com
perfuração do invólucro e vazamento do eletrodo corrosivo.
Zinco-cloreto (Zn-Cl) (pilhas “Heavy
Duty”, ou de alto
desempenho): Formato cilíndrico, de diversos tamanhos. São similares às
anteriores na construção, mas possuem maior durabilidade (40% a mais), maior
resistência a vazamentos e suportam maiores variações de temperatura. Contêm em
média 0,01% de Hg e 0,01% de Cd (em peso).
Alcalinas de manganês (Mn) (pilhas de longa duração): Formatos cilíndrico,
retangular e botão, de diversos tamanhos. Possuem alto desempenho, qualidade
elétrica superior, são mais resistentes a altas temperaturas e oferecem maior
segurança contra vazamentos. Uma única pilha alcalina pode substituir 3,5
pilhas comuns, ou 2,5 pilhas do tipo “Heavy Duty”, mas são muito mais caras.
Necessitam de maior quantidade de Hg que as pilhas de Zn-C e de Zn-Cl (0,5 a 1,0% em peso). Dependendo dos padrões
estabelecidos pelo país, as pilhas alcalinas contêm de 0,5 a 1% em peso de Hg.
Em alguns países,
praticamente quase todo o mercúrio foi eliminado das pilhas de Zn-C e Zn-Cl e
das alcalinas, restando apenas 0,025% de Hg metálico, mas, as alcalinas contêm significativas quantidades de Hg
amalgamado com o Zn em pó.
Óxido de prata (Ag2O) (baterias primárias de prata): Parecidas
com as de HgO, possuem cerca de 1% (em peso) de Hg. Apesar do alto teor de
oxigênio, oferecem apenas uma modesta vantagem sobre as de HgO, podendo
prolongar sua vida útil de 10% a 15%. Produzem voltagens mais altas que as dos
sistemas de HgO, de Zn-C e de Zn-Cl, mas seu sistema é menos estável,
acarretando uma diminuição de sua vida útil. São mais caras e só existem na forma de botão. Deveriam ser coletadas, tratadas e dispostas adequadamente, devido
ao seu teor de mercúrio.
Zinco-ar (Zn-ar): Seu desenvolvimento é recente e vêm,
gradativamente, substituindo as baterias primárias de HgO, só
existindo na forma de botão. Possuem
maior capacidade energética e são menos
poluentes, mas o sistema apresenta uma série de problemas: as impurezas
presentes no ar, de acordo com as condições climáticas e o local, podem
interferir em seu funcionamento; deve permanecer lacrada até sua utilização,
para não descarregar prematuramente. Contém cerca de 1% (em peso) de Hg. Deveriam
ser coletadas, tratadas e dispostas adequadamente, devido ao teor de mercúrio.
Lítio (Li): Formatos cilíndrico ou botão. Isentas de Hg e de Cd,
apresentando longa durabilidade. Oferecem o dobro de voltagem em relação aos
demais tipos. O Li tem alto potencial eletroquímico e baixo peso (30 vezes <
que o do Pb). Essas pilhas deveriam ser coletadas, tratadas e dispostas
adequadamente, devido a várias substâncias tóxicas presentes em seu sistema.
Níquel-Metal Hidreto (Ni-MH): De
formato cilíndrico e prismático, as baterias recarregáveis de Ni-MH tiveram
grande penetração no mercado em pouco tempo, principalmente na telefonia
celular. Possuem aproximadamente o dobro da densidade de energia e uma voltagem
de operação similar às baterias de Ni-Cd (proporcionando capacidade cerca de
30% maior). O eletrodo de níquel é bem mais volumoso. Sabe-se,
extra-oficialmente, que a liga de MH é composta basicamente por quatro metais:
níquel; vanádio; titânio; e nióbio, os quais formam hidretos superficiais
transitórios, que fazem o papel do cádmio na tradicional bateria de Ni-Cd.
Outras baterias utilizam como componentes da liga MH, metais extremamente
tóxicos como: cromo; estanho; antimônio; alumínio; cobalto; zircônio; germânio,
lantânio e seus compostos; entre outros, tornando-as muito mais caras do que as
de Ni-Cd. Têm longa vida útil e são isentas de cádmio e, praticamente, isentas
de mercúrio. Teoricamente, são consideradas menos agressivas ao ambiente que as
baterias de Ni-Cd, mas devido à sua crescente produção constituem problema para
o gerenciamento dos resíduos sólidos, devido à alta concentração de níquel que
apresentam. Quando exauridas, deveriam ser segregadas, armazenadas, tratadas e
dispostas adequadamente, apesar de a legislação brasileira não exigir tais procedimentos.
.
Lítio-íon (Li-íon): Nova bateria recarregável para proporcionar maior densidade de
energia e suprir as necessidades de equipamentos cada vez menores e mais leves,
com produtos menos agressivos, logo são menos poluentes. Apresentam quatro formatos:
cilíndrica, concha prismática, prismática de alumínio com cantos arredondados e
prismática de concha de aço. São largamente utilizadas para aplicações
trifásicas como: computadores pessoais, telefones celulares, equipamentos
eletrônicos portáteis, câmeras de vídeo, etc. Deve-se evitar: altas
temperaturas; vazamentos de líquidos; ondas eletromagnéticas; impactos
mecânicos; incineração; e outras condições anormais de segurança, pois correm
riscos de explosão ou de vazamento. Deveriam ser coletadas, armazenadas,
tratadas e dispostas adequadamente, mesmo quando exauridas, apesar de a
legislação brasileira não exigir tais
procedimentos.
·
Pilhas & Baterias regulamentadas pela
legislação brasileira:
Óxido de mercúrio (HgO) (“Ruben-Mallory”): Diversos tamanhos, nos formatos:
cilíndrico, retangular e, principalmente, botão. Contém alto teor energético
por unidade de peso ou volume, devido ao [i]alto teor de oxigênio. Pesam cerca de
2,5g, sendo 30% do seu peso total constituído por Hg inorgânico. Apresentam vantagens
como: vida longa; alta densidade de energia; boa estabilidade; e liberação
instantânea de grande intensidade de energia. Basta a presença de uma única
pilha de HgO, em 6 toneladas de resíduos, para ultrapassar o limite do teor
de Hg no resíduo sólido urbano permitido pela Legislação Federal dos EUA (U.S. EPA, 2002). Parte do Hg contido nessas baterias apresenta-se sob
sua forma mais tóxica, o metilmercúrio. Devem ser coletadas, tratadas e
dispostas adequadamente. Porém, não existe no país nenhum controle, ou alguma
ação prática a esse respeito.
Níquel-cádmio (Ni-Cd): Com largo campo de aplicação, são de dois
tipos: baterias abertas - grandes
unidades (não contempladas nesta pesquisa); e baterias de Ni-Cd recarregáveis, portáteis, lacradas, de gás comprimido,
fabricadas nos formatos botão e cilíndrico. A porcentagem de Cd é menor do que
a do Ni e representa cerca de 15% do peso total. Possuem excelentes
características técnicas e funcionam mesmo em condições extremas de
temperatura. Eficientes e seguras, não necessitam de manutenção. São mais
baratas do que as de Ni-MH e que as de Li-íon, mas são afetadas por: corrente;
tempo de carga; temperatura; tempo de uso e outros fatores. Para carregá-la
deve-se antes descarregá-la completamente para não reduzir sua vida útil,
devido ao efeito memória que apresentam. Têm longa vida útil,
sendo extremamente econômicas. Podem explodir, se houver aumento de pressão em
seu interior, resultando em sobrecarga, curto-circuito ou carga reversa, devido
ao uso inadequado. Quando exauridas, se transformam em resíduos perigosos,
devendo ser segregadas, armazenadas, tratadas e dispostas adequadamente, mas
apenas parte das baterias de celular é coletada.
Chumbo-ácido (Pb-ácido): Formato cilíndrico e prismático. Os
materiais ativos são o Pb metálico e o PbO. Têm aplicações semelhantes às de
Ni-Cd e, apesar de menor eficiência, apresentam a vantagem do baixo custo. Do
ponto de vista sanitário e ambiental, o Pb é tão prejudicial quanto o Cd.
Quando esgotadas, devem ser segregadas, armazenadas, tratadas e dispostas
adequadamente, mas atualmente, nem são coletadas.
Todos os tipos de pilhas e
baterias encontrados contêm Hg, com exceção das de Li. O Hg está presente em
quantidades variadas, dependendo das necessidades do sistema. A função do Hg, nas pilhas que não o utilizam como
eletrodo, é de armazenar as impurezas contidas em suas matérias primas, as
quais geram gases que podem prejudicar seu desempenho e segurança. Este metal
funciona como elemento
passivo de inibição, controlando reações indesejáveis e aumentando seu
desempenho. Sem o Hg,
a pilha enche-se de ar, podendo causar vazamento ou, até mesmo, explosão. De um modo geral, a possibilidade de
substituição de um tipo de bateria por outro está limitada por suas aplicações,
em função de vários fatores como: econômicos, tecnológicos, climáticos entre
outros (ABINEE, 1994; BYD, 2001; NEMA, 1996; ATSDR,
2002; Environment Canadá, 1991; Barandas, 2000; U.S. EPA, 2002; CONAMA, 1999).
Comportamento dos metais
pesados nos ecossistemas
Dos 112 elementos conhecidos
atualmente, 84 são metais. Isto leva a crer que as possibilidades de
contaminação ambiental por metais sejam numerosas. Sua ocorrência natural,
porém, não deve ser considerada como perigosa, pois faz parte do equilíbrio dos
ecossistemas. Alguns metais, apesar de sua toxicidade, ocorrem na natureza de
maneira escassa ou são insolúveis, não oferecendo ameaça real à saúde pública e
ao ambiente. Entretanto, atualmente,
devido a fontes antropogênicas, verifica-se um grande aumento na circulação de
metais no solo, água e ar e seu acúmulo na cadeia alimentar. A mobilidade de um
metal varia com o grau de turbulência do meio aéreo e aquático. Os metais
pesados, quando no ar ou na água, são sujeitos ao fenômeno de deposição, ou
seja: sedimentação gravitacional; precipitação; impactação; adsorção; e troca
química. Seu comportamento
em águas naturais é diretamente influenciado pela quantidade e qualidade do
material em suspensão presente. Uma parte dos metais é adsorvida aos sólidos em
suspensão, originando-se uma fase particulada e uma fase dissolvida do metal. A
afinidade entre essas duas fases pode ser de natureza iônica, física ou
química, ocorrendo normalmente uma combinação destas três formas. A relação
entre as fases dissolvida e particulada do sistema é, basicamente, determinada
por fatores como: tipo de partícula; pH; grau de solubilidade da substância
química; e presença de outros compostos.
Introduzidos no meio aquático por lixiviação e no
meio aéreo por gases resultantes de incineração, os metais pesados são
redistribuídos através dos ciclos geológico e biológico. Nas águas os
contaminantes são expostos a diversas transformações químicas e bioquímicas,
podendo afetar sua disponibilidade biológica ou toxicidade, de modo a aumentá-las
ou diminuí-las. Produtos de degradação ou de transformação, muito mais tóxicos,
podem resultar a partir do contaminante original. O ciclo biológico inclui a
bioconcentração em plantas e animais e a incorporação na cadeia alimentar,
principalmente, por meio da água e do solo. A destruição de espécies naturais
do ecossistema pode ser causada por determinados compostos metálicos, podendo
ocorrer uma seleção dos organismos capazes de sobreviver à ação dessas
substâncias. Muitas plantas e animais desenvolvem tolerância para um particular
metal em excesso, que acaba sendo utilizado para seu desenvolvimento normal,
podendo causar um problema ambiental ao transferir o metal acumulado a
organismos mais suscetíveis ao seu efeito, através da cadeia alimentar (FIRJAN,
2000; Günther, 1998).
Toxicologia
dos metais pesados
O interesse no comportamento
dos metais pesados no ambiente é motivado, principalmente, pelos efeitos
biológicos que podem causar. A maioria desses elementos é essencial ao bom
funcionamento dos organismos vivos, na forma de traços, mas potencialmente
tóxicos a todo tipo de vida, quando em concentrações elevadas ou em
determinadas combinações químicas. Por suas características de toxicidade e
bioacumulação, os metais pesados merecem atenção especial, pois os danos
acarretados ao ambiente e aos seres vivos são graves e muitas vezes
irreversíveis. Sinergismo e antagonismo dos efeitos tóxicos são mecanismos que
podem ocorrer entre os metais. Quando um elemento potencialmente tóxico é
absorvido pelo organismo humano, em concentrações elevadas, pode causar danos à
sua estrutura, penetrando nas células e alterando seu funcionamento normal, com
inibição das atividades enzimáticas. Em alguns casos, os sintomas da
intoxicação só serão observados em longo prazo, pois vários serão os fatores
interferentes nos efeitos negativos causados por esses elementos (SNAM, 1992;
FIRJAN, 2000).
A toxicidade de um metal,
assim como sua disponibilidade (capacidade de interação de um contaminante com
um sistema biológico), está relacionada a vários fatores, tais como: forma
química em que o metal encontra-se no ambiente; sua capacidade de
biotransformação em subprodutos mais ou menos tóxicos; vias de introdução do
metal no organismo humano; etc. As principais vias de introdução no organismo
são: através do ar inalado; por via oral (água e alimentos); ou por via
dérmica. A maioria dos metais pesados afeta múltiplos sistemas orgânicos, sendo
que os alvos da toxicidade são os processos bioquímicos específicos (enzimas)
e/ou membranas de células e organelas. O efeito tóxico do metal envolve,
geralmente, uma interação entre o íon metálico livre e o alvo toxicológico.
Fatores exógenos como: interação e exposição concorrente com outros metais
tóxicos; idade; hábitos alimentares; estilo de vida; consumo de álcool e fumo;
entre outros, podem influenciar, direta ou indiretamente, a toxicidade dos
metais para o indivíduo. Por outro lado, os metais essenciais ao organismo
podem alterar metabolicamente a toxicidade, por interação ao nível celular
(FIRJAN, 2000; Goyer, 1986).
Riscos dos principais metais
presentes nas pilhas e baterias disponíveis no mercado
O número de elementos
metálicos que oferecem risco de contaminação é relativamente pequeno. Entre
outros, estão os metais pesados presentes como componentes dos sistemas
químicos das pilhas e baterias estudadas nesta pesquisa:
Cádmio: é incompatível com agentes oxidantes fortes, nitratos e HNO3.
O contato com agentes oxidantes provoca incêndio ou explosão. Dividido em
fragmentos finos, o Cd é moderadamente inflamável e explosivo. Sob esta forma,
reage vivamente com certos produtos oxidantes. Determinados compostos do Cd,
principalmente o clorato e o bromato, podem explodir sob a ação do calor por
choque ou por contato com produtos redutores (MERCK, 2002).
Chumbo:
O
chumbo é uma massa sólida, não apresentando riscos se armazenado e estocado
adequadamente. Entretanto, o dano está baseado na inalação do pó ou emissões de
gases, possíveis durante a obtenção de chumbo metálico ou de reações químicas.
Por outro lado, certos compostos de chumbo, como o clorato e o bicromato, podem
explodir sob a ação de calor, de choque, ou por contato com produtos redutores
(MERCK, 2002).
Cobalto:
é
um metal estável; não há riscos se armazenado adequadamente (MERCK, 2002).
Cromo: o metal finamente
dividido oferece perigo de incêndio. Apresenta incompatibilidade química com
carbonatos, bases fortes e ácidos minerais. Todos os compostos
de cromo devem ser considerados como altamente tóxicos e poluentes. (MERCK,
2002).
Lítio: reage
violentamente com a água, liberando gás H2. Altamente
inflamável, causa queimaduras em contato com a pele e os olhos. O lítio deve
ser manuseado em condições especiais, por ser um metal muito corrosivo. O
armazenamento do lítio metálico deve ser feito em frasco de vidro contendo
líquido inerte, em ausência de água e de oxigênio (MERCK, 2002).
Manganês:
No
manuseio e armazenamento, devem ser evitadas as seguintes condições: calor,
chama e fontes de centelha. Apresenta
incompatibilidade com água, ácidos fortes, fósforo e agentes oxidantes fortes
(MERCK, 2002).
Mercúrio: Envenenamento por vapores
tóxicos, especialmente quando aquecido. Incompatível com ácidos fortes (MERCK,
2002).
Níquel:
Estável
na forma compacta. O metal pulverizado e os fumos de Ni podem inflamar-se
espontaneamente. Incompatível com alumínio, cloreto de alumínio, p-dioxinas,
hidrogênio, metanol, não metais, oxidantes e compostos de enxofre. Reage
violenta ou explosivamente com anilina, sulfeto de hidrogênio, solventes
inflamáveis, hidrazina e pós metálicos (especialmente zinco, alumínio e
magnésio) (MERCK, 2002).
Prata:
Os
sais de prata são incompatíveis com ácidos fortes e bases fortes (MERCK, 2002).
Zinco:
O
zinco puro é atóxico, mas os gases liberados pelo aquecimento do metal, ou por
reações químicas podem irritar as vias respiratórias, se inalados (MERCK,
2002).
O
Quadro 2 apresenta os principais efeitos à saúde devido a alguns metais
presentes nas pilhas e baterias estudadas.
QUADRO 2. Principais efeitos à saúde devido a alguns
metais presentes nas pilhas e baterias estudadas.
|
PRINCIPAIS EFEITOS À SAÚDE
|
|
PRINCIPAIS EFEITOS À SAÚDE
|
Cd
(*)
|
§
Câncer
§ Disfunções digestivas
§ Problemas
pulmonares e no Sistema Respiratório
|
Mn
|
§
Disfunção cerebral e do Sistema
Neurológico
§ Disfunções
renais, hepáticas e respiratórias.
§ Teratogênico
|
Pb
(*)
|
§
Anemia
§ Disfunção renal
§ Dores abdominais
(cólica, espasmo, rigidez).
§ Encefalopatia (sonolência,
distúrbios metais,
convulsão, coma).
§ Neurite
periférica (paralisia)
§ Problemas
pulmonares
§ Teratogênico
|
Hg
(*)
|
§
Congestão, inapetência,
indigestão.
§ Dermatite
§ Distúrbios
gastrintestinais (com hemorragia)
§ Elevação da
pressão arterial
§ Inflamações na
boca e lesões no aparelho digestivo
§ Lesões renais
§ Distúrbios
neurológicos e lesões cerebrais
§ Teratogênico,
mutagênico e possível carcinogênico.
|
Co
|
§
Lesões pulmonares e no Sistema
Respiratório
§ Distúrbios
hematológicos
§ Possível
carcinogênico humano
§ Lesões e
irritações na pele
§ Distúrbios
gastrintestinais
§ Efeitos
cardíacos
|
Ni
|
§
Câncer
§ Lesões no
Sistema Respiratório
§ Distúrbios
gastrintestinais
§ Alterações no
Sistema Imunológico
§ Dermatites
§ Teratogênico,
genotóxico e mutagênico.
|
Cr
(*)
|
§
Câncer do aparelho respiratório
§ Lesões nasais e
perfuração do septo e na pele
§ Distúrbios no
fígado e rins, podendo ser letal.
·
Distúrbios gastrintestinais
|
Ag
|
§
Argíria (descoloração da pele e
outros tecidos)
§ Dores estomacais
e distúrbios digestivos
§ Problemas no
Sistema Respiratório
§ Necrose da
medula óssea, fígado, rins e lesões oculares.
|
Li
|
§
Disfunções renais e
respiratórias
§ Disfunções do
Sistema Neurológico
§ Cáustico sobre a
pele e mucosas
§ Teratogênico
|
Zn
|
§
Alterações hematológicas
§ Lesões pulmonares
e no Sistema Respiratório
§ Distúrbios
gastrintestinais
§ Lesões no
pâncreas
|
Fontes: ASTDR (2002); U.S. EPA
(2002); WHO (2002).
* Esses metais estão incluídos na Lista “TOP 20” da USEPA, entre as 20
substâncias mais perigosas à saúde e ao ambiente: Cd, Cr, Hg, Pb (CERCLA 2002).
4. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
Todas
as pilhas e baterias recarregáveis de Ni-Cd, de uso doméstico e geral, quase
todas as baterias do tipo botão e as do tipo fixo, embutidas no equipamento,
quando exauridas são consideradas como resíduos
perigosos (ABNT; 1987) do ponto de vista sanitário e ambiental, devido a
sua composição, à concentração dos metais pesados presentes e ao volume de
resíduos gerados por esses produtos. Nem todos os tipos de pilhas e baterias
apresentam o mesmo grau de periculosidade. No entanto, do ponto de vista
químico, mesmo os metais que representam menores riscos em sua forma elementar,
quando descartados sem controle junto com o resíduo sólido comum podem se
transformar em substâncias extremamente perigosas e tóxicas à saúde e ao
ambiente, pela possibilidade de reação, interação ou sinergismo com outras
substâncias presentes no resíduo sólido urbano, ou no ecossistema, devido a
inúmeros fatores, tais como: condições climáticas e geológicas; características
físicas, químicas e bioquímicas do ambiente; presença de substâncias
incompatíveis; entre outros. Além disso, é necessário considerar que os efeitos
não são observados em curto prazo, mas quando isso ocorrer, podem ser
irreversíveis, destacando-se o caráter de risco.
A
legislação brasileira determina que todas as pilhas e baterias, que contenham
em sua composição: cádmio, mercúrio e chumbo sejam coletadas, tratadas e
dispostas adequadamente. Entretanto, não dispõe sobre outros tipos, que
contenham em sua composição outros metais ou substâncias tão prejudiciais à
saúde e ao ambiente quanto às referidas no texto das Resoluções em vigência.
Pelo menos todas as baterias do tipo recarregável deveriam ser incluídas nessa
regulamentação: as de Ni-MH, pelo fato de conter grande quantidade de níquel,
substância comprovadamente tóxica e cancerígena, além dos componentes
indefinidos das ligas de MH; e as de Li-íon, por conterem também substâncias
tóxicas em sua composição, incluindo o cobalto e lantanídeos. Os fabricantes de
telefone celular têm coletado todos os tipos de baterias utilizadas nos
aparelhos de telefonia móvel que contenham sua marca, mesmo os não
regulamentados, em ação pró-ativa e para seguir a política internacional de
suas empresas. Esse fato mostra que os riscos existem e que, a preocupação com
o gerenciamento adequado desses resíduos procedem.
No
Brasil, a coleta, a segregação, o tratamento e a disposição final adequada de
todos os tipos de pilhas e baterias, independente de marca ou conteúdo, é
recomendável devido a diversos fatores importantes como: o crescente consumo de
pilhas e baterias e o conseqüente aumento do volume de descarte, com a
possibilidade de vir a ultrapassar a concentração de metais tóxicos considerada
segura, permitida em cada pilha ou bateria, de maneira individual; a
insuficiência de estudos realizados e de dados conclusivos sobre os riscos
ambientais e sanitários que as baterias dos tipos Ni-MH e Li-íon representam; a
grande quantidade de baterias de celular falsificadas ou contrabandeadas
comercializadas no país (mais de 50%), o mesmo ocorrendo com todos os outros
tipos de pilhas e baterias; a grande dificuldade no processo de conscientização
da população, no sentido de uma coleta seletiva diferenciada, para apenas
determinados tipos de pilhas e baterias, devido aos inúmeros tipos e marcas
existentes; à ausência de identificação no rótulo de grande parte desses
produtos; à falta de fiscalização; e à desinformação e à baixa escolaridade de
grande parte da população consumidora.
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Elétricas e Eletrônicas. A evolução da
indústria de Pilhas no Brasil. ABINEE; 1994.
Associação
Brasileira de Normas Técnicas. NBR 1004
– Resíduos Sólidos. São Paulo: ABNT;
1987.
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2000.
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Interno. CETEM. Rio de Janeiro; 1999.
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Química. Pilhas e Baterias. Arquivo. CFETEQ –RJ: Rio de Janeiro; 2000.
CERCLA.
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