Resumo sobre o pensamento economico
Economia
Clássica
O início da
Economia como ciência se dá pelo fim do Mercantilismo (quando predominava o
comércio) e com o advento do Capitalismo -- época da Revolução Francesa -- com
a publicação de "A Riqueza das Nações", de Adam Smith, em 1776, a
primeira obra de vulto jamais escrita sobre o assunto, o que lhe valeu o título
de Fundador da Ciência Econômica. Seus mestres foram John Locke († 1704) e
David Hume († 1776). Este foi um defensor das "Leis Naturais" e
crítico do Mercantilismo, enquanto que aquele defendia o "Individualismo
Econômico", ou seja, o combate a qualquer tipo de centralização, que traz
poder, abuso e corrupção.
As idéias de
Smith foram revolucionárias para a época, pois contrariavam os conceitos
mercantilistas, segundo os quais a riqueza de uma nação dependia do acúmulo de
reservas em ouro, o que devia ser conseguido através do superávit no comércio
exterior (exportar mais e importar menos). Ele defendia a tese de que a
riqueza estava não no ouro, mas no trabalho produtivo das indústrias que, para
se expandirem, necessitavam de mercados livres e competitivos, livre comércio
internacional (sem barreiras alfandegárias) e livre câmbio, os quais, através
de uma "Mão Invisível", trariam o bem-estar e a felicidade a todos.
Era o "lassez faire" ("deixe fazer") ou liberalismo
econômico: Cada um por si, Deus por todos.
Ao Estado,
Smith reservava unicamente três funções:
- Construção pública de estradas e portos, que
eram atividades não-lucrativas;
- Manutenção da ordem e da justiça, através do
poder de polícia;
- Defesa da nação contra os ataques inimigos,
por meio das forças armadas.
Economia
Marxista
A nova
sociedade industrial de Adam Smith, que surgiu após a Revolução Francesa
(1789), não conseguiu, no entanto, melhorar sensivelmente o nível de vida da
população. Ao contrário, com a eliminação dos artesãos e dos servos da gleba
medievais, todos se transformaram em operários fabris, sujeitos a condições
subumanas e totalmente dependentes de seus míseros salários, apenas para
sobreviver. Não tinham mais um pedaço de terra para plantar, nem casa para
fabricar seus objetos. Todos trabalhavam nas indústrias até 18 horas por dia,
inclusive crianças e mulheres, sem direito a qualquer tipo de proteção
trabalhista. O único objetivo era o máximo de produção para vencer a
concorrência. As mulheres grávidas só podiam se ausentar do serviço para terem
o filho, voltando em seguida. Com as máquinas substituindo os operários e o
desemprego se alastrado, várias rebeliões contra elas começaram a surgir. A
insatisfação geral se instalou. Entre 1800 e 1850 mais de 1.000 casos de
destruição de máquinas foram registrados na Europa. Era o desemprego
tecnológico.
Foi nesse
ambiente que surgiu um economista que iria causar uma segunda revolução no
pensamento econômico: Karl Marx, alemão, e sua principal obra, "O
Capital" (1867).
Marx, que foi
buscar em David Ricardo várias de suas idéias, viu na propriedade privada -- no
fato de as fábricas pertencerem a uns poucos capitalistas -- a origem de todos
os males. Propôs, como solução, a socialização dos meios de produção, que
passariam então a pertencer ao Estado. Seria a propriedade coletiva. Os lucros,
juros, aluguéis e rendas (a "mais-valia") seriam abolidos e o próprio
trabalho se tornaria a única fonte de renda para cada um (isto é, seria abolida
a "exploração do homem pelo homem").
Assim como
Einstein desenvolveu uma ferramenta especial para a elaboração de suas teorias
-- o Cálculo Tensorial -- também Marx criou uma nova lógica -- a Dialética
Marxista -- para demonstrar suas teses, tendo para isso se inspirado na Lógica
Dialética de Hegel, um padre e teólogo seu contemporâneo.
As três leis
básicas dessa nova maneira de analisar a Natureza -- tanto o mundo físico
quanto o social -- são as seguintes:
Lei da união e
luta dos contrários: (também conhecida como "Lei da Interpenetração dos
Contrários") Existem elementos que, embora convivendo entre si, se excluem
mutuamente, criando uma contradição. É o caso da classe dos
capitalistas e dos trabalhadores, ou a dos senhores feudais e dos servos da
gleba, que viviam lutando entre si ("Luta de Classes"). Essa
contradição é o motor gerador das transformações sociais. Essa lei explica porque a
natureza se transforma.
Lei da mudança
quantitativa em qualitativa: Quando a água vai sendo aquecida, vai sofrendo uma evolução (mudança
quantitativa) até atingir um limite (100oC), quando então muda
abruptamente de qualidade, se transformando em vapor ao sofrer uma revolução. A
contradição (1ª Lei) corresponde ao choque entre às bolhas que se formam e o
líquido. Na sociedade, quando a luta de classes fica acirrada, também chega a
um ponto de ruptura: É a Revolução ou "Salto Qualitativo". Esta lei
explica como a natureza se transforma.
Lei da negação
da negação: É a
superação do velho pelo novo, e deste pelo novíssimo, embora cada estágio
conserve muitas das características anteriores. É o mesmo que sucessão.
Quando o capitalismonegou o feudalismo, este já tinha, por sua vez, negado o
escravagismo. Mas cada novo sistema econômico conservou muitas das
características de seus predecessores. Esta lei mostra a tendência do
desenvolvimento natural.
Através dessa
nova maneira de raciocinar, Marx inferiu que o capitalismo iria se superar a si
mesmo, dando origem ao socialismo e este, por sua vez, ao comunismo, onde
desapareceria o dinheiro e o Estado e cada um trabalharia quanto pode e
receberia aquilo que precisa. Para tanto, bastaria que os operários e
camponeses se unissem e derrubassem os capitalistas. Aliás, é por isso que na
bandeira da ex-URSS constavam os dizeres: "Proletários de todos os países,
uni-vos".
Do ponto de
vista da análise econômica, Marx desenvolveu três leis básicas:
Lei do
valor-trabalho: O preço de uma
mercadoria é composto de um capital constante (matéria-prima + depreciação), de
um capital variável (salários) e da mais-valia (juros, lucros, aluguéis e
rendas). O trabalho (salários) seria a única fonte de valor (preço), enquanto
que a mais-valia seria o resultado da "exploração do homem pelo
homem", a parte do trabalho dos operários embolsada (expropriada) pelos
capitalistas (patrões). Ou seja, o empregado trabalharia uma pequena parte do
tempo para o seu sustento (salário) e outra parte para o do patrão
(mais-valia). [ Note-se que em 2006 se trabalha quase seis meses gratuitamente
para o Governo Brasileiro, devido aos impostos diretos e indiretos. ]
Lei férrea dos
salários: Os
salários seriam sempre mantidos ao nível de subsistência (algo como o
salário-mínimo), graças à manutenção de um desemprego crônico ("Exército
Industrial de Reserva"), fruto de desenvolvimento tecnológico,
economizador de mão-de-obra. [ Os computadores e a Internet deram mais um
grande impulso ao desemprego tecnológico ]
Lei das crises
periódicas do capitalismo: O processo de acumulação capitalista gera crises periódicas, que
vão concentrando o capital nas mãos de um número cada vez menor de
proprietários (monopólios), aumentando constantemente o número de assalariados.
Marx dizia que "Em cada crise, os grandes capitalistas devoram os
pequenos, aumentando ainda mais o seu poder". Mas, em contrapartida, a
taxa de lucro também iria declinando, como resultado da livre concorrência
(este resultado também será obtido pelos neoclássicos, como veremos). Este
processo conduz a uma tal concentração de renda, que as massas miseráveis se
amotinam e, através de uma revolução, se apoderam dos meios de produção
(fábricas, equipamentos etc.) e instauram o socialismo ("A ditadura do proletariado"),
com a abolição da mais-valia.
As idéias de
Marx logo tiveram aceitação geral entre os operários, pois, embora sua teoria
fosse discutível em vários pontos, e em outros extremamente confusa, tinha
certas características atrativas:
- Doutrina coerente;
- Uma galeria de heróis e de vilões;
- Código moral;
- E, especialmente, alimentava uma esperança de
libertação da situação em que se encontravam.
Os resultados
práticos da aplicação da economia marxista, menos visíveis para os que vivem no
sistema capitalista, têm sido, em linhas gerais, os seguintes:
Aspectos
positivos:
O socialismo
conseguiu eliminar o analfabetismo (embora com doutrinação), o desemprego e os
conflitos entre patrões e empregados (pela instalação de uma ditadura).
Aspectos
negativos:
Em troca de uma
relativa melhoria das condições materiais de vida, o socialismo retirou, no
entanto, muitas liberdades individuais: proibiu a livre locomoção no país e as
viagens ao exterior, a livre manifestação de pensamento (exceto para apoiar o
governo), a criação de partidos políticos e associações outras que não o
Partido Comunista (ao qual apenas 20% da população se achava
filiada), a privacidade individual (onde, sob qualquer pretexto, a polícia
política pode vasculhar a vida particular de qualquer cidadão ou mesmo
prendê-lo), além de várias outras restrições.
Os recursos
econômicos, por outro lado, foram dirigidos para o desenvolvimento da indústria
da guerra (para se protegerem contra uma invasão capitalista), em detrimento
dos bens de consumo, que são escassos e de baixa qualidade
Entre os dois
extremos, desemprego com liberdade (capitalismo) e emprego sem ela
(socialismo), não haveria um meio termo ? De fato, foi essa a alternativa
escolhida pelos países da social-democracia (Suécia, Suíça, Dinamarca, Áustria,
Noruega, Alemanha e outros), considerados hoje os países mais adiantados do
mundo.
Economia
neoclássica
O sucesso de
Marx, suplantando Adam Smith, colocou o capitalismo em apuros, o qual, para a
sua defesa, precisava de uma teoria mais poderosa para fazer frente ao
marxismo, sem a qual ficaria em posição desvantajosa e vulnerável.
Foi aí então
que, quase independentemente, surgiram as obras de W. Jevons (economista
inglês), em 1871, de C. Menger (economista austríaco), em 1874, e de M. Walras
(engenheiro francês), em 1874.
Partindo dos
ensinamentos de A. Smith e de seus sucessores, desenvolveram uma série de teoremas
-- um verdadeiro modelo matemático -- através dos quais seria
possível entender e prever todo o comportamento da economia capitalista. Este
modelo, posteriormente aprimorado por Wieser (austríaco,1889), Marshall
(inglês, 1890), Wicksell (sueco 1898), Pareto (italiano, 1907), e Pigou
(inglês, 1920), veio a ser chamado deMicroeconomia, hoje ensinada
em quase todas as escolas de administração e economia do mundo.
Suas idéias
básicas (ou teoremas) são as seguintes:
Teoria do
Consumidor: Os consumidores procuram comprar os produtos
de forma a obter o máximo de satisfação ("Utilidade") com eles. É a
chamada "Maximização da Utilidade", um principio hedonista. No
entanto, embora essa "utilidade" seja somada, multiplicada, derivada
e integrada, ninguém, em realidade, sabe como pode ser medida na prática e
muito menos que tipo de função é (linear, diferenciável etc.). Trata-se assim
de um conceito metafísico, impossível de ser testado cientificamente.
Teoria da Firma: As empresas procuram estabelecer um preço para suas
mercadorias, de modo a obter o maior lucro possível com a sua venda. É o
principio da "Maximização do Lucro".
Teoria dos
Mercados Competitivos: A interação entre a oferta de produtos pelas firmas e a sua procura
pelos consumidores, dadas pelas duas teorias anteriores, fará com que um
mercado impessoal e livre estabeleça os preços dos produtos. A esse preço, a
oferta e a procura se igualam, as firmas maximizam seus lucros e os
consumidores as suas satisfações. É o resultado da "Livre Concorrência".
A teoria
microeconômica parte de uma série de hipóteses, válidas a seu tempo (séc. 19),
mas totalmente irreais no mundo de hoje. São elas:
- Todos os produtos concorrentes são idênticos
(um Volkswagen é idêntico a um Monza, os programas da TV Globo são idênticos
aos da TV Record etc.);
- Só existem microempresas e compradores
individuais no mercado (a Nestlé e a Wal-Mart não existiriam);
- Não há sindicatos, cartéis, empresas estatais,
barreiras alfandegárias (o contrabando é legal), tabelamento de preços,
salário-mínimo, patentes, racionamento, propaganda, dumping, lockout,
greves, reserva de mercadoetc., nem quaisquer mecanismos que impeçam o
livre funcionamento dos mercados;
- Livre iniciativa: qualquer firma pode ser
aberta para concorrer com uma Petrobrás, um Banco Itaú ou uma Philips;
- Todas as informações sobre o mercado estão
disponíveis e o futuro é plenamente previsível (isto é, todos possuem
"bolas de cristal");
- Não existe inflação
Não obstante a irrealidade dessa
Microeconomia, suas conclusões poderiam, pelo menos, servir de respaldo e
incentivo à iniciativa privada. Mas nem mesmo isso sempre ocorre. Com efeito,
uma das decorrências do modelo matemático -- geralmente despistada -- é que a
longo prazo, nenhuma firma terá lucro (embora também não
venha a apresentar prejuízo). Um resultado desconcertante, depois de tanta matemática
avançada.
Economia
Keynesiana
A economia
neoclássica imperou soberana por mais de meio século, embora cada vez mais
distante do mundo real, que se transformava rapidamente.
Em 1929, no
entanto, uma nova e profunda crise atingiu o sistema capitalista, pondo a
perder boa parte do progresso até então conseguido. Com efeito, houve uma queda
de um terço na produção, milhares de firmas faliram, o suicídio virou rotina e
o desemprego chegou a 30% da força de trabalho.
Essa crise foi
fatal para as teorias vigentes, pois demonstrou cabalmente sua incompetência
para prever e evitar a bancarrota do sistema que pretendia defender.
Mas, como
felizmente os problemas geram as suas próprias soluções, apareceu logo um
salvador: Keynes (aluno predileto de Marshall) com sua "Teoria Geral do
Emprego, do Juro e da Moeda" (1936), dando assim nascimento à Teoria
Macroeconômica, hoje ensinada em quase todas as escolas de economia e
administração do mundo.
Os remédios
preconizados para salvar o capitalismo da depressão e do fracasso, que
contrariavam frontalmente as teses liberais e neoclássicas em voga, foram,
basicamente, as seguintes:
- Intervir diretamente na economia, procurando
reorientar os mercados competitivos, que haviam entrado em colapso;
- Fazer com que o Estado aumentasse seus gastos
e investimentos (impulsionando a criação de empresas estatais), gerando
muitos empregos públicos e aumentando, em conseqüência, a procura por
mercadorias e serviços, já que a retração nas vendas tinha sido enorme. O
déficit público e o aumento de emissão de moeda daí decorrentes poderiam
ser reequilibrados após a crise;
- Incentivar a população a aumentar os seus
gastos com consumo -- essencial e supérfluo -- que, posteriormente, deu
origem ao que se chama "Sociedade de Consumo" ou
"Consumismo" (Keynes afirmava que "O consumo é a única
finalidade e o único objetivo de toda a atividade econômica");
- Baixar os impostos e a taxa de juros e
aumentar a oferta de empréstimos baratos às empresas (mesmo à custa de
novas emissões de moeda), promovendo assim os investimentos privados;
- Combater os especuladores e o desemprego
(Keynes chegou mesmo a propor a "socialização dos
investimentos", que ele acabou por nao explicar direito o que queria
dizer com isso).
Essas teses de
Keynes revolucionaram profundamente a economia, pois contrariaram vários dogmas
liberais já estabelecidos, tais como a intocabilidade dos mercados
competitivos, a necessidade de um orçamento equilibrado, a não emissão
excessiva de moeda etc.
Por não haver
outra alternativa para a depressão que assolava o mundo, suas idéias acabaram
sendo postas em prática rapidamente. Aliás, já em 1933, o presidente Hoover,
nos EUA, havia decidido intervir na economia através do Estado, acabando com a
passividade dos liberais diante da crise e antecipando as teses de Keynes.
O acerto de
suas medidas logo se fizeram sentir e, dez anos depois, com o inicio da guerra,
a economia voltava a atingir os níveis de produção de antes da crise.
Com o fim da
guerra, o keynesianismo se impõe definitivamente como a teoria oficial dos
economistas do governo.
A Economia
Institucionalista
Tudo ia bem no
melhor dos mundos, com um desenvolvimento nunca dantes observado na história da
humanidade. Porém, a partir de 1965, um fenômeno novo começou a se manifestar,
para o qual a teoria de Keynes não estava bem preparada: Uma inflação
persistente, que não estava respondendo bem aos
remédios disponíveis.
Principalmente
após o primeiro choque do petróleo, em 1973, iniciou ela uma fase ascendente em
quase todos os países, o que levou os economistas a porem em dúvida a eficácia
do keynesianismo. Ato contínuo, a teoria neoclássica, com as novas roupagens do
monetarismo (baseado na equação de Fisher MV=PQ, de 1912), começou a se
sobressair, já que abordava a inflação diretamente, ao contrário de Keynes, que
não se preocupava com ela.
Os remédios
monetaristas e neoclássicos eram amargos, pois propunham a recessão e o
desemprego como terapia, lembrando 1929.
Com o segundo
choque do petróleo em 1979 e a ampliação de uma nova e grave crise no
capitalismo, o monetarismo entrou de vez em ação. Mas, para a decepção geral,
não surtiu os efeitos desejados, embora tivesse funcionado em alguns países,
como nos EUA. No Brasil e nos subdesenvolvidos em geral, ao contrário, apenas
ajudou a acirrar a inflação que, junto com a recessão, deram origem a mais um
novo e inesperado fenômeno econômico: a Estagflação (estagnação
com inflação simultaneamente), para a qual nenhuma teoria convencional estava
preparada.
Novas idéias,
no entanto, já estavam há algum tempo em gestação. De fato, já nos primórdios
da crise, em 1967, surge uma obra que iria revolucionar outra vez o pensamento
econômico: "O Novo Estado Industrial", de John Kenneth
Galbraith, economista de Harvard e um dos criadores da Escola
Institucionalista.
A tese de que
os mercados competitivos -- idéia-chave em Smith, Marx, Walras e Keynes --
estavam desaparecendo começou a ganhar corpo com um estudo de Berle &
Means, "A Moderna Sociedade Anônima e a Propriedade Privada", publicado
em 1929. Retomada por Galbraith e enriquecido com as análises de
Veblen († 1929) e Schumpeter († 1950), acabou por abalar profundamente os
alicerces nos quais se sustentavam as teorias tradicionais.
Segundo
Galbraith, as grandes empresas multinacionais e estatais haviam submetido o
mercado aos seus interesses, os preços haviam sido por elas tabelados e
a livre competição substituída pelas colaborações, acordos e cartéis. Isso
explicava a estagflação: A recessão diminuía os lucros, que eram restaurados
pelo aumento dos preços. Se as vendas caíssem ainda mais, novo aumento haveria.
Como o consumidor não poderia procurar um preço menor pelo mesmo produto, pois estavam
todos tabelados pelos cartéis, acabava por ter que pagar o preço estabelecido.
O remédio
institucionalista era o governo contra-tabelar os preços e as
rendas (impostos, juros, salários, lucros e aluguéis), através de uma Política
de Rendas.
Galbraith
também defende outras idéias igualmente revolucionárias, entre as quais citamos
as seguintes:
- O que define um sistema econômico é a tecnologia e
não a ideologia;
- O ensino da micro e da macroeconomia deve ser
abolido das escolas, por estarem ultrapassadas;
- A causa básica da inflação é a espiral
inflacionária, a luta entre as empresas e os empregados pela distribuição
da renda;
- A tecnologia e o conhecimento são
o quarto fator de produção (além da "terra, trabalho e
capital"), que separa os subdesenvolvidos -- que não os possuem --
dos desenvolvidos;
- O poder saiu das mãos dos capitalistas e foi
para as dos tecnocratas (executivos e especialistas),
devido à dispersão da propriedade privada através de milhares de
acionistas inexpressivos;
- As pequenas e médias empresas ou desaparecem ou
são absorvidas pelas grandes;
- A maximização dos lucros é substituída pela
consecução de um complexo de interesses da organização, tais como expansão
dos mercados, controle dos governos e dos consumidores, liderança na inovação
tecnológica etc. Os lucros, ao invés de maximizados, são mantidos apenas
em níveis satisfatórios para os acionistas;
- O consumidor deixa de ser o "soberano dos
mercados" e passa a ser controlado pela propaganda;
- Os grandes avanços tecnológicos só são viáveis
em empresas multinacionais;
- As grandes empresas têm a sua própria
fonte de capital, não dependendo dos Bancos e das Políticas
Monetárias;
- Nos setores onde o capitalismo funciona bem e
eficientemente, não se mexe. Os demais setores -- educação,
transportes, saúde e habitação -- devem ser socializados;
- O uso da matemática na economia é praticamente
dispensável (Galbraith chama os modelos matemáticos de
"aeromodelismos"); o mundo real é complexo demais para ser
reduzido a algumas equações apenas.
- O complexo industrial-militar é
o resultado da simbiose entre as multinacionais e as forças armadas e, por
ser incentivado por ambas -- pois gera grandes receitas e ajuda a ampliar
e conservar os mercados para as multinacionais -- põe o mundo em constante
perigo de uma guerra;
- O planejamento urbano, saúde pública e defesa
do meio ambiente não devem ser relegados a segundo plano;
- Os sistemas socialista e capitalista convergem para
um terceiro sistema (o Brasil tem sua economia socializada em mais de 50% devido
às estatais; a China socialista adotou recentes reformas capitalistas);
- As multinacionais se constituem em repúblicas
independentes com administração própria.
A
revolucionária análise de Galbraith, como era de se esperar, desagradou tanto à
direita conservadora quanto à esquerda marxista. De fato, ao constatar o fim
dos mercados competitivos e sua substituição pelo "Sistema de
Planejamento" (multinacionais e estatais), atacou de frente o monetarismo,
o neoclassicismo e o keynesianismo. Ao negar a substituição do capitalismo pelo
socialismo e prever a interpenetração ou convergência dos dois em um terceiro
tipo, abalou as bases dos marxistas, que defendiam -- e lutavam -- justamente
por essa substituição (neste aspecto, um dos grandes críticos de Galbraith tem
sido o neomarxista P. Sweezy, em "Capitalismo Monopolista", Zahar
Ed.).
A Economia
Virtual, ou a "Nova Economia"
O mundo real,
sempre caminhando à frente do conhecimento cientifico, sofreu uma enorme
mudança a partir de 1995, com a criação da Internet e a grande expansão da
Globalização, num processo simbiótico quase perfeito. Neste século 21, uma
empresa como a Google, quase sem ativos ou propriedades, vale mais de 100
bilhões de dólares. A Amazon, que nasceu em uma sala com alguns computadores,
vale US$ 18 bilhões e a eBay, com leilões virtuais, vale US$ 60 bilhões.
A Teoria
Econômica novamente foi pega de surpresa com essa nova realidade, e nada no
momento sugere haver uma nova explicação e um novo modo de se lidar com esse
mundo globalizado.
Como sempre, os
empregos, a fome, o desenvolvimento e as ansiedades individuais continuarão a
ser administrados por crenças, tentativas e erros. E com as velhas ferramentas
disponiveis.