Sofistas e método socrático


INTRODUÇÃO
Neste trabalho com o tema “Sofistas e métodos Socráticos” poderemos abordar sobre questões relacionadas a esses dois movimentos e por sua vez podemos dizer que o método Socrático consiste numa prática muito famosa de Sócrates, o filósofo, em que, utilizando um discurso caracterizado pela maiêutica (levar ou induzir uma pessoa, por ela própria, ou seja, por seu próprio raciocínio, ao conhecimento ou à solução de sua dúvida) e pela ironia, levava o seu interlocutor a entrar em contradição, tentando depois levá-lo a chegar à conclusão de que o seu conhecimento é limitado. O método dos sofistas fazem a experiência de como a linguagem entendida enquanto convenção humana se constitui como o terreno do relativo, do instável, do variável, da impossibilidade de consenso universal sobre o que quer que seja. A sua tese fundamental é justamente a de uma impossibilidade do universal. O relativo é uma dimensão própria do humano. Daí a frase: "Não há verdade absoluta e universal, mas uma diversidade de opiniões". Assim, se não há verdade absoluta (no sentido em que todos concordam), então "nada é verdadeiro" ou  também "tudo é verdadeiro"; neste sentido, tudo é defensável.



1.      OS SOFISTAS E MÉTODO SOCRÁTICO
1.1.            Os sofistas
Etimologicamente, o termo sofista significa sábio, entretanto, com o decorrer do tempo, ganhou o sentido de impostor, devido, sobretudo, às críticas de Platão.
Os sofistas eram professores viajantes que, por determinado preço, vendiam ensinamentos práticos de filosofia. Levando em consideração os interesses dos alunos, davam aulas de eloqüência e sagacidade mental, ou seja, tinham fácil oratória e eram astuciosos. Ensinavam conhecimentos úteis para o sucesso dos negócios públicos e privados.
As lições sofísticas tinham como objetivo o desenvolvimento do poder de argumentação, da habilidade de discursos primorosos, porém, vazios de conteúdo. Eles transmitiam todo um jogo de palavras, raciocínios e concepções que seria utilizado na arte de convencer as pessoas, driblando as teses dos adversários. O momento histórico vivido pela civilização grega favoreceu o desenvolvimento desse tipo de atividade praticada pelos sofistas. Era uma época de lutas políticas e intenso conflito de opiniões nas assembléias democráticas. Por isso, os cidadãos mais ambiciosos sentiam a necessidade de aprender a arte de argumentar em público para, manipulando as assembléias, fazerem prevalecer seus interesses individuais e de classe.
Entre os sofistas, destacamos Protágoras e Górgias, que pareciam mais preocupados com a distinção entre natureza e convenção, de uma forma geral. Por essa razão, tinham como um de seus principais objetivos depreciar o estudo da natureza e, desta maneira, toda a linha filosófica existente até essa época.
Protágoras alegou que o homem é a medida de todas as coisas, tanto das coisas que são o que são como das coisas que não são, o que não são. Isto significa que tudo é como parece ao homem – não apenas aos homens em geral, mas a cada indivíduo em particular. Esta tese, leva a um relativismo total, sem possibilidade alguma de verdade absoluta.
Górgias foi ainda, mais radicalmente oposto à natureza e a seu estudo. Escreveu um livro no qual formulou uma tripla alegação: 1) nada há; 2) mesmo que houvesse alguma coisa, não poderíamos conhecê-la; e 3) mesmo que pudéssemos conhecê-la não poderíamos comunicá-la aos demais. Poderíamos descrever isto como um argumento mediante “retirada estratégica”: caso a posição mais radical não seja julgada convincente, volta-se para outra, menos radical. Mas até mesmo esta última elimina a possibilidade de estudo da natureza.
Górgias ensinava retórica, enquanto que Pródico, especializava-se em linguagem e gramática em geral, ao passo que Hípias ensinava o treinamento da memória. Todas estas aquisições eram úteis em uma sociedade que tanto dependia da capacidade de influenciar a opinião pública na assembléia.
De qualquer modo, na opinião de Sócrates, eles fracassaram em ensinar excelência moral ou virtude. A alegação deles de ensinar arete (excelência) não apenas, na opinião de Sócrates, induzia em erro, mas corrompia também, porque sugeria que podiam produzir excelência moral, ao passo que nada faziam neste particular.
1.2.            Método socrático
Nossa interpretação do pensamento de Sócrates enfrenta por um lado uma dificuldade ainda maior da que temos em relação aos pré-socráticos e aos sofistas, já que Sócrates efetivamente nada escreveu, valorizando sobretudo o debate e o ensinamento oral. Por outro lado, conhecemos extensamente suas ideias através de Platão, seu principal discípulo, que, sob o impacto de sua condenação e morte, resolveu registrar seus ensinamentos, tal como os conhecera, para evitar que se perdessem. Entretanto, trata-se, é claro, da visão de Platão sobre a filosofia de Sócrates e não do pensamento original do próprio filósofo – muito embora supõe-se que os diálogos escritos por Platão refletem bem a prática filosófica de Sócrates de discussão nas praças de Atenas com seus discípulos e concidadãos, bem como com seus adversários teóricos e políticos, os sofistas.
A filosofia de Sócrates pode ser caracterizada como um método de análise conceitual, ilustrado pela célebre questão socrática “o que é…?”, através da qual se busca a definição de uma determinada coisa, geralmente uma virtude ou qualidade moral. A discussão parte da necessidade de se entender melhor alguma coisa, através da tentativa de se encontrar uma definição satisfatória. Nos diálogos, a definição inicial dada pelos companheiros reflete sempre a visão corrente, o entendimento comum que temos sobre o tema em questão, nossa opinião (doxa), o que é considerado insatisfatório por Sócrates. O método socrático envolve, portanto, um questionamento do senso comum, das crenças e opiniões que temos, consideradas vagas, imprecisas, derivadas da nossa experiência, e portanto parciais, incompletas. É exatamente neste sentido que a reflexão filosófica vai mostrar que, com frequência, não sabemos de fato aquilo que, a princípio, pensamos saber. Temos, quando muito, um entendimento prático, intuitivo, imediato, que contudo se revela inadequado no momento em que deve ser tornado explícito. O método socrático revela a fragilidade desse entendimento e aponta para a necessidade e a possibilidade de aperfeiçoá-lo através da reflexão. Ou seja, partindo de um entendimento já existente, ir além dele em busca de algo mais perfeito, mais completo.
É importante notar que, na concepção socrática, essa melhor compreensão só pode ser resultado de um processo de reflexão do próprio indivíduo, que descobrirá, a partir de sua experiência pessoal, o sentido daquilo que busca. Não há substituto para esse processo de reflexão individual. Portanto, Sócrates jamais responde às questões que formula, apenas indica quando as respostas de seu interlocutor são insatisfatórias e por que o são. Procura apenas indicar o caminho a ser percorrido pelo próprio indivíduo: é este o sentido originário da palavra “método” (“através de um caminho”). A definição correta nunca é dada pelo próprio Sócrates, mas é através do diálogo e da discussão que Sócrates fará com que seu interlocutor – ao cair em contradição, ao hesitar quando parecia seguro – passe por todo um processo de revisão de suas crenças e opiniões, transformando sua maneira de ver as coisas e chegando, por si mesmo, ao verdadeiro e autêntico conhecimento. É por esse motivo que os diálogos socráticos são conhecidos como “aporéticos” (de “aporia“, nó, dificuldade, impasse) ou inconclusivos.
Sócrates caracterizou seu método como “maiêutica”, que significa literalmente a arte de fazer o parto – uma analogia com o ofício de sua mãe, que era parteira. Ele também se considerava um parteiro, mas de ideias. O papel do filósofo não seria, portanto, transmitir um saber pronto e acabado, mas fazer com que o outro indivíduo, seu interlocutor, através da dialética, da discussão no diálogo, dê à luz as suas próprias ideias (Teeteto, 149a – 150c). A dialética socrática opera inicialmente através de um questionamento das crenças habituais de um interlocutor, interrogando-o, provocando-o a dar respostas e a explicar o conteúdo e o sentido dessas crenças. Em seguida, frequentemente utilizando-se de ironia, problematiza essas crenças, fazendo com que o interlocutor caia em contradição, perceba a insuficiência delas, sinta-se perplexo e reconheça sua ignorância.
É este o sentido da célebre fórmula socrática: “Só sei que nada sei” – a ideia de que o reconhecimento da ignorância é o princípio da sabedoria. Só então o indivíduo tem o caminho aberto para encontrar o verdadeiro conhecimento (episteme), afastando-se de domínio da opinião (doxa). As palavras de Sócrates na conclusão do diálogo Teeteto (210c) podem ser citadas a esse respeito: “Mas, Teeteto, se você voltar a conceber, estará mais preparado após esta investigação, ou ao menos terá uma atitude mais sóbria, humilde e tolerante em relação aos outros homens, e será suficientemente modesto para não supor que sabe aquilo que não sabe”.
2.      DIFERENÇAS ENTRE SÓCRATES E OS SOFISTAS
- O sofista é um professor ambulante. Sócrates é alguém ligado aos destinos de sua cidade;
- O sofista cobra para ensinar. Sócrates vive sua vida e essa confunde-se com a vida filosófica: “ Filosofar não é profissão, é atividade do homem livre”
- O sofista “sabe tudo” e transmite um saber pronto, sem crítica (que Platão identifica com uma mercadoria, que o sofista exibe e vende). Sócrates diz nada saber e, colocando-se no nível de seu interlocutor, dirige uma aventura dialética em busca da verdade, que está no interior de cada um.
- O sofista faz retórica (discurso de forma primorosa, porém vazio de conteúdo). Sócrates faz dialética (bons argumentos). Na retórica o ouvinte é levado por uma enxurrada de palavras que, se adequadamente compostas, persuadem sem transmitir conhecimento algum. Na dialética, que opera por perguntas e respostas, a pesquisa procede passo a passo e não é possível ir adiante sem deixar esclarecido o que ficou para trás.
- O sofista refuta por refutar, para ganhar a disputa verbal. Sócrates refuta para purificar a alma de sua ignorância.



CONCLUSÃO
Portanto, Sócrates criticava duramente as práticas sofistas, mas, paradoxalmente, foi incluído neste grupo por muitos de seus contemporâneos. Talvez porque ambas as partes comungassem certos valores da aristocracia, que significa o governo dos melhores. O pensamento político dos sofistas, tal como a moralidade uma invenção dos fracos para deter os fortes, e o poder como o desejo e a virtude suprema do homem. Por outro lado, Sócrates defendia que o bem era o conhecimento, e a ignorância, a fonte de todos os males. E sonhava com uma moralidade independente das doutrinas religiosas que amedrontavam os cidadãos. Para ele, o conhecimento era a fonte da moral, e uma sociedade é forte e justa se tiver em seu comando os homens mais sábios. Os Sofistas eram intelectuais, pensadores, e cientistas. Eles não permaneciam em um local fixo, e abrangiam vários temas não ensinados na escola comum: como exemplo medicina, física e química. Dominavam técnicas particulares de discurso, que atraia muitos aprendizes, primeiramente, os sofistas se preocupavam em realizar com muita cautela as técnicas de discurso, do modo que o ouvinte se convencesse rapidamente da informação na qual estava sendo transmitida. Para eles não era tão de suma importância se aquilo que estavam dizendo era ou não verdadeiro, em essência o importante era conquistar a adesão do ouvinte.




REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. MARTINS, Maria Helena Pires.Temas de Filosofia. SãoPaulo: Ed. Moderna, 1992;
CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. SãoPaulo: Ed. Ática, 1995;
COTRIM, Gilberto.Fundamentos da Filosofia – Ser, Saber e Fazer. São Paulo: Ed. Saraiva, 1997;
MARCONDES, Danilo Iniciação à História da Filosofia; “capítulo 3: Sócrates e os sofistas”.
O método Sofista. Disponível em: http://lucidez.over-blog.net/article-sofistas-notas-88170327.html. Acessado aos 17 de Abril de 2015.
O método Socrático. Disponível em: http://www.psicoloucos.com/pensadores/socrates/metodo-socratico. Acessado aos 17 de Abril de 2015.