Factores condicionantes na saúde mental
INTRODUÇÃO
O presente trabalho
tende a falar sobre factores condicionantes da saúde mental que por sua vez tem
como objectivo principal Identificar os factores de risco associados a problemas
de saúde mental. Neste contexto
a saúde mental resulta de um conjunto de factores biológicos, psicológicos,
sociais; e na evidência empírica sugere que aspectos do ambiente podem
influenciar a saúde mental para além das características individuais, e o
efeito da vizinhança ou lugar. O ambiente
social é influenciado
pelas dimensões de estabilidade residencial (alojamento permanente e migração),
estrutura familiar (isolamento), capital e coesão social, qualidade do ambiente construído e composição étnica. Por outro lado,
as mudanças sociais constituem-se como poderosos “determinantes” da saúde. As
atividades e intervenções no contexto da assistência em Saúde Mental, tanto no
âmbito hospitalar como na atenção básica à saúde, são permeadas de “estórias”
que refletem a dinâmica do sujeito e das famílias que precisam aprender a lidar
com a situação da doença mental. Tais atividades junto a estas famílias nos
apresentam cotidianamente os nossos limites profissionais e os desafios para a
superação de obstáculos rumo a uma atenção qualificada em saúde mental.
FACTORES CONDICIONANTES DA SAÚDE MENTAL
Em geral, entende-se ter
saúde mental como o oposto de doença mental ou a ausência de psicopatologia, ou
seja, um estado de saúde normal. No entanto, a ausência de sintomas psiquiátricos é
apenas a parte visível de uma normalidade objectiva mas não revela outros
aspectos importantes da saúde mental, como resiliência, capacidade mental, etc.
Assim, para ter saúde mental não basta a
ausência de sintomas psiquiátricos, mas é necessária a presença de capacidades
e recursos para enfrentar as dificuldades da vida, não adoecendo, e viver em
bem estar psíquico, ou seja, ter robustez mental. Algumas capacidades indicadoras de saúde mental e que
podem ser melhoradas são: a de adaptação ao trabalho, a de estabelecer relações
afectivas estáveis e duradouras, a resiliência, a inteligência emocional, a
maturidade, a autonomia, capacidade para estar só, etc.
A pessoa com saúde mental
sente-se bem, feliz, com alegria. Estes sentimentos subjectivos advêm do
bem-estar conseguido, por exemplo, com o autocontrolo, auto-eficácia, amar e
ser amado e não o obtido através do uso de drogas, comportamentos de risco ou
satisfação imediata de necessidades primitivas. Também temos de
distinguir que o facto de vivenciarmos emoções negativas não significa ausência
de saúde mental. No caso de perda, luto, tragédia, etc., a capacidade de
reconhecer e lidar com as próprias emoções negativas e as dos outros é um sinal
de saúde mental. Se tivermos como exemplo
as capacidades intelectuais das pessoas, dizemos que é doente quem tem défice
intelectual, mas um não doente pode ter vários níveis intelectuais,
nomeadamente, médio, superior e muito superior. A pessoa com um elevado nível de saúde mental tem capacidades que a
tornam adequada, estável, capaz, equilibrada, mesmo em situações adversas.
Portanto, podemos ter mais ou menos saúde
mental, mesmo sem estarmos doentes. Tal como uma pessoa pode não ter uma doença
cardíaca, mas tem uma capacidade de resistência ao exercício físico maior ou
menor. Do mesmo modo que, através de medidas de saúde, alimentação, prática
regular de exercício físico, a pessoa pode melhorar a sua saúde cardiovascular
e condição física, também é possível intervir no sentido de se aumentar o
estado de saúde mental.
A exigência de robustez
mental é maior conforme determinadas profissões ou desempenhos. São exemplo
disso, a aviação comercial e, no extremo, a aviação espacial, mas também outras
áreas, como a educação e a saúde são exemplo da importante necessidade de saúde
mental. Para se
atingir um bom estado de saúde mental a pessoa deverá aumentar o seu nível de
auto-conhecimento, aumentar a capacidade para lidar com as diferentes emoções e
elaborar os conflitos internos. Para tal, pode necessitar de intervenção
psicológica especializada. Para além
disso, uma vida equilibrada, com baixos níveis de stress, relacionamentos
familiares e sociais estáveis, prática de actividade física, respeito pelos
ritmos sono/vigília, respeito pelos limites físicos e psíquicos individuais,
equilíbrio entre as actividades profissionais e os tempos de lazer, constituem
alguns factores que podem contribuir para uma melhor saúde mental. O estado de saúde mental depende também do estado
biológico global e cerebral, sendo muito importante o uso de fármacos para o
alcançar ou manter, apesar de outras medidas de saúde mental. As intervenções terapêuticas psiquiátricas e
psicológicas, neste sentido, não se limitam ao patológico, mas promovem os
mecanismos de defesa e adaptação mais saudáveis quando a pessoa está em risco,
conflito, indefesa ou simplesmente quer melhorar a sua qualidade de vida.
Os fármacos constituíram um
grande avanço e contribuíram significativamente para a melhoria da saúde
mental, mas não constituem a única resposta. Muitas outras intervenções são
importantes. Por exemplo, no âmbito da prevenção do aparecimento da doença
mental e na recuperação psicossocial das pessoas afectadas pela doença mental. A saúde
mental, apesar de avaliada pela psiquiatria e psicologia, diz respeito a muitas
outras áreas do conhecimento humano e social, como a filosofia, a sociologia, o
direito, a política, etc. A pobreza, a
negligência, o abuso, a violência familiar, são exemplos de situações que podem
provocar a perda de saúde mental. Deste modo, para se promover a saúde mental,
em termos sociais, é necessário intervir nestas condições preventivamente,
através de uma intervenção multidisciplinar.
Em termos individuais, para
tratar a doença mental, pode bastar o uso de fármacos, mas para alcançarmos o
objectivo de promover um melhor estado de saúde mental, há necessidade de um
investimento terapêutico relativo aos aspectos psicológicos. Na realidade
pensamos que um modelo de promoção da saúde mental é o que, também no tratamento,
se traduz numa avaliação e objectivos mais produtivos. Na prática clínica, ao longo de anos, temos comprovado
empiricamente que o sucesso da intervenção clínica é maior e mais duradouro
quando o objectivo é dotar a pessoa de maiores recursos psicológicos para
enfrentar as situações internas e externas. Este modelo de saúde mental implica também que, mesmo as pessoas que não
tenham sintomatologia psiquiátrica ou doença mental beneficiem de intervenções
ou ajuda que promova as suas capacidades mentais. Portanto também os “normais”,
isto é, sem sintomas, podem melhorar a sua saúde mental e, consequentemente,
aumentar a qualidade de vida.
Vida familiar equilibrada
A história nos revela que em vários momentos
a família saiu do cenário de cuidado do portador de transtorno mental. Ou ela
foi excluída por ser considerada causadora do problema e, consequentemente,
nociva ao tratamento, principalmente pelas teorias de culpabilização da família
na etiologia da doença mental, como por exemplo a teoria da mãe esquizofrenogênica
e a teoria do duplo vínculo, ou ela acabou delegando esse cuidado por não saber
como agir frente às manifestações do familiar doente, ou pela sobrecarga física
e emocional sofrida no processo. Ao discutirmos a família como foco de atenção
em saúde e saúde mental é necessário antes de tudo a compreensão do seu
conceito. Esta deve ser entendida como historicamente configurada e
influenciada pelo contexto sociocultural em que se insere. A família representa
o sistema nucleador das experiências do ser humano e está sujeita a mudanças no
sistema familiar, mudanças essas que podem provocar a ruptura do seu equilíbrio.
Um problema de saúde com qualquer membro da família provoca a vivência de um
momento de crise ou até de luto, e activa uma série de respostas nas pessoas de
seu grupo social diante das incertezas provocadas pelas evidências de doenças
agudas ou crónicas ou ainda de possíveis sequelas, sejam elas temporárias ou
permanentes. Essa situação leva a busca de meios para lidar com as adversidades
que quebram o equilíbrio e a dinâmica familiar. Na nossa prática, é comum
diante desses contextos encontrarmos familiares resistentes e temerosos frente
a qualquer proposta dos profissionais.
A superação desse movimento crítico está
directamente relacionada ao modo como cada família lida com os problemas, dos
recursos próprios e comunitários que dispõe para seu enfrentamento e ainda como
a forma que ela se organiza para construir ou restabelecer seu equilíbrio. No
que diz respeito especificamente à constatação de transtornos mentais na
família, vários estudos sinalizam um impacto de grandes proporções que atinge
as dimensões sócio-emocionais, sendo que o prognóstico da doença pode ser
influenciado pela capacidade de enfrentamento da família diante da situação e
pela qualidade da interacção familiar. Na atenção à família que experimenta a
convivência com transtornos mentais é fundamental ao profissional de saúde o
entendimento de que sua concepção de família nem sempre condiz com a das
famílias, o que pode dificultar sua compreensão da dinâmica de cada uma delas.
É essencial ao profissional não atender a família tendo como base suas ideias
pré-concebidas sobre o que é o ideal de família. Considerando as
particularidades de cada grupo familiar, o profissional pode melhor dimensionar
os seus cuidados, que não serão dispensados apenas à pessoa acometida pelo
transtorno mental, mas também à sua família, alvo de cuidados com toda a
complexidade e subjectividade que comporta a experiência da doença na família.
A interface saúde mental e o Programa Saúde da Família, mais uma vez mostra a
importância de abordarmos a família convivendo com o transtorno mental dentro
do contexto da complexidade do cuidado que vai além do estabelecimento do
diagnóstico e indicação terapêutica, medicamentosa ou não. No entanto, a
literatura aponta que essa relação nem sempre é harmoniosa e eficiente.
Aparentemente a rede de serviços comunitários, preconizada pelo processo de
desinstitucionalização e disponível com efectividade aos portadores de
transtorno mental e seus familiares, ainda é insuficiente para responder às
demandas das mais variadas ordens, como, por exemplo, deficiência no suporte
social, ambulatorial, grupos de apoio e outros.
Vida socioeconómica
As classes sociais nos diferentes
modos de produção determinam simultaneamente as condições de vida e a inserção
na estrutura ocupacional, não causando doenças diretamente. Portanto, é necessária uma síntese
teórica, interligando as partes submetidas ao processo analítico, para compreender
a complexidade da produção da saúde mental.
A educação reflete as circunstâncias
sociais e materiais do início da vida que são reproduzidas de uma geração para
outra. A classe de origem determina o comportamento dos pais e influencia a
permanência dos filhos na escola. Uma das razões para a evasão escolar em
alguns países é a necessidade precoce de trabalhar. Por sua vez, o grau de
escolaridade, ao qualificar os indivíduos para certas ocupações, influencia
condições socioeconômicas futuras e sua inserção na estrutura ocupacional.
Enfim, baixa escolaridade, baixa renda e exclusão do mercado de trabalho,
expressões da estrutura das classes sociais, proporcionam situações de estresse
contribuindo para a produção no contexto da saúde mental.
Situações de guerra
Diversamente do que se pensava a
princípio, fica cada vez mais comprovada a existência de maior complexidade no
inter-relacionamento entre a violência e a saúde da população.
Nas últimas décadas, o número de
pessoas expostas a acontecimentos traumáticos aumentou de maneira significativa
à medida que várias formas de violência, inclusive guerras e convulsões
políticas, engolfam as populações civis no mundo inteiro; contribuindo, assim,
para um ônus adicional persistente de doenças, mortes e casos de
invalidez1-4.
O impacto da violência política (conflitos
armados, operações de guerrilha, combates, encarceramentos, torturas, estupros
e outras atrocidades de guerra) na saúde coletiva e no bem-estar das
populações, seja dentro do país ou no exílio, vai muito além da perda da vida e
da destruição da infra-estrutura física. A aceitação geral é de que a
devastação no tecido social e cultural, o declínio econômico e o
empobrecimento, o deslocamento das trajetórias de vida das pessoas, juntamente
com a depreciação da identidade e dos sistemas de valores (vitais, de várias
maneiras, para a sobrevivência), tudo possivelmente tem implicações
significativas para a saúde e o bem-estar dos sobreviventes. No entanto, parece
haver desacordo especificamente no tocante àquilo que impacta
a saúde da população e, em particular, sua saúde mental, e ao
grau de importância do
impacto.
Alguns indícios parecem sugerir que as
guerras não só agravam o risco de morte e invalidez, pela ruptura da ordem
social, como, o que é mais importante, também levam ao aumento significativo de
violência interpessoal (i.e., homicídios, agressões a mulheres e crianças),
suicídio, acidentes e lesões por causas externas, consumo excessivo de álcool e
substâncias químicas, bem como a taxas mais elevadas de doenças infecciosas
(i.e., malária e tuberculose), câncer cervical e doenças sexualmente
transmissíveis, como HIV/Aids5, 6. Estes problemas se compõem do
deslocamento forçado de grandes segmentos da população, não só expostos à
contínua violência política, como também a várias formas de agressão, como o
estupro, exploração e abuso sexual, em geral nas condições impiedosas das
zonas-abrigo ou dos campos de refugiados. Segundo a Unicef, em Ruanda, grande
parte das adolescentes do sexo feminino que sobreviveram ao genocídio de 1994
foram subseqüentemente estupradas7.
É ser preciso maior cautela para
evitar atribuições falsas quando se ignora a presença de variáveis confundíveis
na cadeia de eventos que levam à doença mental ou aos estados emocionais
acompanhados de nítidas e dolorosas lembranças do passado. Em termos fenomenológicos,
no confronto da perda e da violência extrema, as reações emocionais resultantes
não são necessariamente psicopatológicas; pelo contrário, ilustram aspectos de
funcionamento cognitivo regular e ficam dentro da gama de reações psicológicas "normais"
à adversidade.
Embora várias formas de intervenção de
saúde mental possam ter um papel a desempenhar na recuperação do pós-conflito
ou pós-desastre (se bem que a base de sua comprovação esteja longe de ser
satisfatória), a medicalização dos programas de intervenção psicossocial, em
termos de transtorno de estresse pós-traumático e construtos correlatos, em
geral leva à aplicação imprópria de listas de verificação de sintomas, seguida
da oferta dos serviços de terapia de traumas. Essa abordagem reflete, em parte,
nosso entendimento limitado a respeito do relacionamento de uma série de
possíveis efeitos na saúde, após a exposição a acontecimentos catastróficos e
traumáticos. Além disto, em termos clínicos, sabemos pouco sobre quem deve (ou
não) receber tratamento, e ainda menos acerca da razão de o tratamento
funcionar em alguns casos, enquanto em outros, os resultados serem precários ou
simplesmente ineficazes.
Deslocações internas refugiados
O deslocamento
forçado de pessoas é um dos fenômenos que podem ser relacionados a conflitos
políticos e sociais, guerras e catástrofes naturais. Essas partidas
não-planejadas são frequentemente acompanhadas de sofrimento psicológico
diretamente ligado às perdas e ao traumatismo ao qual foram submetidas.
Ao se pensar no refugiado, no
migrante, faz-se necessária a realização de uma breve reflexão acerca da função
exercida pela cultura - principalmente em relação à saúde mental - na vida
dessas pessoas. A definição de "cultura" varia de acordo com as
disciplinas, as abordagens. O objetivo desse artigo não consiste em realizar
uma discussão sobre a cultura, mas em compreender a relação entre cultura,
mundo psíquico e saúde mental, a partir de uma perspectiva cultural vinculada à
psicologia. A cultura corresponderia ao "mapa mental" que permite a
cada membro de uma sociedade movimentar-se, pensar e trabalhar; enfim, viver
evitando medo e perplexidade. Desse modo, o mundo interno (mundo psíquico) e o
mundo externo (cultura) podem se comunicar, encontrar mutuamente um sentido,
uma vez que possuem uma mesma linguagem. Compreende-se a cultura como lugar de
construção da linguagem simbólica do sujeito - o que inclui também a língua - e
como parte integrante de seu desenvolvimento psíquico.
O migrante é aquele sujeito que se
encontra fora da zona geográfica cultural na qual se constituiu. A comunicação
entre o mundo externo e o mundo interno se encontra – pelo menos
temporariamente – abalada. Essa ausência de comunicação pode gerar
vulnerabilidade psíquica para o migrante - e principalmente para os refugiados
- que se deparam com a experiência da falta de compreensão, de defesa/proteção
que poderia lhe proporcionar sua cultura de origem - por mais destruidora que
tenha sido. O propósito dessa observação não é o de isolar, de reduzir o
sujeito exclusivamente ao mundo cultural que o constituiu, mas sim assinalar a
importância da cultura e de sua lógica na constituição psíquica de todo o
sujeito, e, por conseguinte, da sua relação com a saúde mental –
sintomatologia, etiologia, tratamento – dessas pessoas.
Choques Emocionais
Nos dias que decorrem ainda é um pouco
estranho, para muitas pessoas, aceitar que as doenças
e as emoções podem
de alguma forma estar ligadas. Aceitar que uma doença possa ser causada
por distúrbios emocionais faz cada vez mais sentido e tem-se
verificado que a mudança desses padrões emocionais, atenuam a doença e podem
mesmo abolir a doença se esses padrões emocionais desequilibrados deixarem de
existir. Óbvio que à degenerações podem depois ter difícil retrocesso,
no entanto são conhecidos casos de sucesso.
É muito comum ouvirmos falar em
doenças herdadas genéticamente, o certo é que quando estamos no ventre materno
estamos já expostos aos padrões emocionais vividos no ambiente familiar. Estes
padrões emocionais vão ser parte integrante também da educação da criança e
mais tarde manifestar-se fisicamente se não forem transformados em
potencialidades e sabedoria.
Perdas bruscas de parentes e amigos
Os factores
individuais como a idade, sexo, tipo de personalidade, história pessoal e
familiar e antecedentes culturais, estarão relacionados com a natureza dos
acontecimentos traumáticos, designadamente, a frequência e duração a que esteve
sujeita. A pessoa que sofrem de stress apresentam um vasto conjunto de
sintomas, nomeadamente, maior ansiedade de separação e atrasos no
desenvolvimento, perturbações no sono e pesadelos, falta de apetite,
comportamento tendente ao isolamento, falta de interesse pelas brincadeiras e,
nas crianças mais pequenas, dificuldades na aprendizagem. Nas pessoas mais
velhas, as reacções ao stress podem incluir comportamentos agressivos e
ansiosos e a depressão.
A perda dos pais e
de outros parentes próximos deixa marcas para o resto da vida e pode alterar
dramaticamente o rumo da pessoa.
Desamparo familiar e orfanato
Neste contexto a doença
mental surge como uma barreira que dificulta o contacto do indivíduo com o
ambiente em que está inserido, tornando-o alienado e na maioria das vezes
privando-o de sua liberdade e da possibilidade do convívio com as pessoas.
A família pode ser considerada como
uma unidade grupal, que tem por objetivos a preservação da espécie, nutrir e
proteger a descendência e ainda fornecer- lhes condições para aquisição de suas
identidades pessoais, transmissão de valores éticos, estéticos, religiosos e
culturais.
Ela é reconhecida como a instituição
que auxilia a vivência do indivíduo em sociedade, pois nela se formarão as
novas gerações de cidadãos e se darão as primeiras experiências de
relacionamentos. Diante disso é preciso estimular uma vivência saudável entre
pais e filhos mediante o diálogo, a troca de experiência, de afeto, e a
convivência entre seus membros.
O entendimento e a aceitação da doença
mental por parte da família se tornam um elemento de extrema importância na
reabilitação do individuo com doença mental.
Entende-se que essa angústia é
passível ate mesmo de inconformidade, uma vez que muitas das famílias não se
sentem preparadas para cuidar de seus entes portadores de alguma doença mental
e necessitam de auxilio para desempenhar o papel de cuidador, visando conseguir
atender os cuidados integrais do mesmo.
A família pode ser entendida de uma
forma mais tradicional do que é considerada na atualidade, dessa maneira as
transformações ocorreram devido a maior intimidade entre seus membros, assim
nas relações entres as gerações e nas variáveis externas incorporadas à
família.
Em relação à concepção que a família
tem sobre a doença mental pode-se perceber que algumas dificuldades de
entendimento da doença mental, bem como da instabilidade afetiva, fatores estes
que entendem que o sofrimento mental possui como característica a cronicidade e
incurabilidade desta doença, tais situações mostram que o familiar tem pouca
compreensão sobre a sintomatologia e as mudanças de comportamento do sujeito em
sofrimento mental, o que se deve, talvez pela falta de esclarecimento acerca da
doença.
Deficiência física
Apresenta-se as várias
modalidades das deficiências físicas e amplia-se a abordagem do tema,
ressaltando o panorama bio-psicossocial sempre determinante para a saúde
mental dos pacientes portadores de deficiência e na abordagem psicológica de
seus pais e familiares. Discute-se à luz da Psicologia Social e da Psicologia
da Saúde as diversas interfaces que o tema exige, propondo uma reflexão a
respeito das dificuldades emocionais vividas pelos pais quando do nascimento do
filho com deficiência, do desenvolvimento da personalidade deste sujeito, do
difícil processo para integração social destas pessoas, das vivências
emocionais dos protagonistas, e das dinâmicas sociais que se estabelecem à
partir das diferenças.
Um outro aspecto relevante na
abordagem do tema Deficiências Físicas é o fato de que culturalmente, somos
ensinados a esperar e a planejar o futuro de um filho-sonho. Desde o início
imaginamos um futuro brilhante para nossos filhos. A gestação, o parto, os
primeiros dias em casa, tudo se transforma em apreensão e ansiedade.
Porém, alguns recém-nascidos são bem diferentes daqueles acalentados em
nossos sonhos. Mas, o que acontece quando o bebê real é muito diferente
do bebê desejado? Incentivados por toda a vida para receber filhos perfeitos, é
natural que os pais sintam dificuldade em lidar com este filho real que
apresenta diferenças e que frustram seus desejos mais íntimos de normalidade, além de terem que lidar com o olhar social.
Os profissionais de saúde envolvidos
neste contexto, com freqüência também costumam ser pouco hábeis diante do
deficiente que não corresponde à expectativa dos familiares e da equipe médica.
Em vez de fortalecerem os vínculos afetivos entre pais e filho, que se inicia
naquele instante, muitos profissionais da área de saúde (os primeiros a ter
contato com a família), por falta de informação, de conhecimento técnico, por
preconceito ou por não terem consciência sobre a importância de seu papel, agem
com constrangimento, dando àquele bebê o lugar de "doente", do
"diferente".
O que muito frequentemente e
lamentavelmente ocorre, é que o meio familiar baixa imediatamente suas
expectativas em relação ao seu recém-nascido real por não conseguir adequá-lo à
imagem do seu recém-nascido desejado. Inabilidade esta que tende a se
replicar no relacionamento familiar, e se multiplicar pelas vias sociais,
contagiando de forma discriminatória todo o meio social.
Ao indivíduo com deficiência
cabe explorar-se em busca de maior autonomia, transformar suas crenças
internas, para que desta forma possa mudar os aspectos externos de sua vida.
Como que num movimento contínuo, a sociedade integra os protagonistas da
deficiência, se aprimora, se humaniza, liberta-se dos preconceitos e aprende
com a diversidade humana. Melhoramos todos e transformamos os caminhos da
desigualdade.
Carência de bens de primeira necessidade
O conceito de "Saúde Mental"
(SM) é amplo, pelo que nem sempre é fácil a sua definição, e muito menos a
identificação daquilo que a determina. No entanto, da mesma forma que o
conceito de "saúde" se refere a "um estado de completo bem-estar
físico, psíquico e social, e não apenas a ausência de doença ou
enfermidade", também a SM se refere a algo mais do que apenas a ausência
de perturbação mental 3.
Neste sentido, tem sido cada vez mais entendida como o produto de múltiplas e
complexas interacções, que incluem factores biológicos, psicológicos e sociais.
As evidências sobre os determinantes
sociais e económicos da SM, obtidas a partir de diversos estudos realizados
para avaliar o impacto das perturbações mentais numa perspectiva abrangente, têm
sido importantes para explicitar a relevância da SM na saúde física, e também
para evidenciar a relação entre várias doenças orgânicas e a SM. Por outro
lado, estes estudos têm demonstrado a carga global que as doenças mentais
acarretam, constituindo uma importante causa de morbilidade e mortalidade .
Também têm sido conduzidos vários
estudos em países com diferentes níveis de desenvolvimento, mostrando que uma
grande parte dos determinantes da SM é comum, independentemente do nível de
desenvolvimento.
De entre os factores sociais e
económicos que influenciam a SM, salientam-se os seguintes determinantes:
— Emprego
— Educação
— Pobreza
— Habitação
— Urbanização
— Discriminação
sexual
— Experiências
precoces/ambiente familiar
— Exclusão
social e estigma
— Cultura
— Acontecimentos
de vida stressantes
Medo de participar nos combates
O medo faz parte da vida. Ao longo da vida vamo-nos
confrontando com situações novas, exigências às quais temos ou queremos
responder e, por vezes, para as quais não nos sentimos capazes de dar uma
resposta satisfatória automática. Nessas condições todo o nosso corpo, físico e
mente, se mobiliza na busca de uma melhor resposta. Para tal, são produzidas
importantes alterações fisiológicas, como o aumento de ritmo cardíaco ou a tensão
muscular. E, diríamos assim que nessas condições estamos com medo.
O medo é assim, uma resposta necessária para fazer frente
a exigências e desafios não habituais e que, em certa medida, não possibilita o
nosso melhor desempenho. No entanto, quando esta reacção é exagerada, pode
tornar-se prejudicial.
Medo de morte
Desde o início dos tempos, a questão da morte
e da finitude muitas vezes acaba por alterar a tranquilidade e o prazer de
existir, frequentemente sendo substituída por fluxos de pavor e mesmo de
desorganização psíquica. Ao longo de
nossas vidas, inúmeras são as vezes na qual vivenciamos ciclos emocionais
repetitivos. Isso se deve ao fato de que "lá", quando ainda éramos
crianças e com os recursos e conhecimentos limitados que pode ter uma criança,
entendíamos que nos manifestando com determinados padrões de comportamento na
certa seria o melhor para sobrevivermos a situações conflituantes. Ocorre que com o desenvolvimento que
vem através da linha do tempo e com as novas oportunidades que a vida nos
oferece, gradativamente podemos perceber que o que foi entendido pela nossa
criança daquele tempo, pode ser totalmente redimensionado, abrindo espaço para
novos conhecimentos sobre nós mesmos, bem como sobre as nossas relações para
com a vida. Infelizmente, porém, não é sempre que este tipo de transformação
saudável acontece. Infinitas são as
vezes quando caminhamos rumo a novas experiências, porém ainda fixados em
referências antigas que de nada nos servem para as dinâmicas das nossas actualidades
individuais e únicas. Talvez por questões traumáticas, pelo medo excessivo ou
pelo grau de fixação de prazer distorcido, advindo de respostas da infância,
torna-se possível a indefinida perpetuação numa situação de realidade onde já
não há mais validade alguma para a actual consciência evoluída. Neste sentido,
existe uma emergência silenciosa de se sair desta espécie de conflito mental,
optando numa forma eficaz com a mente mais abrangente de que as coisas acontecem.
CONCLUSÃO
Para uma atenção adequada a esses
problemas, é fundamental o desenvolvimento de ações que focalizem as
características de resiliência e saúde individual, familiar e coletiva,
norteadas pela compreensão e identificação dos quadros clínicos. Essas ações
são essenciais à intervenção sobre as situações identificadas e à elaboração de
diretrizes políticas. Assim, o profissional de saúde, em especial o/a
enfermeiro/a, a partir de conhecimentos, deve contribuir para a efetivação de
serviços comunitários, subsidiados por diretrizes, legislação e políticas
públicas em saúde mental. Em visitas agendadas a famílias de alto risco,
visando identificar seus problemas e orientá-las, o profissional deve estimular
a boa relação intrafamiliar por meio de mudanças culturais e sociais que rompam
com a naturalização da violência física. Essa ação contribui para a prevenção
de todos os tipos de violência sofrida pelo ser humano. É importante frisar que
a proteção à saúde mental do ser humano inicia-se com os pais e os demais
familiares, as escolas e a comunidade. Faz-se necessário que os profissionais
de saúde e de educação estejam sensibilizados e preparados para adotar
estratégias preventivas e promotoras de saúde que levem em consideração os
aspectos biopsicossociais e culturais dos adolescentes. Espero que o
crescimento do interesse dos profissionais de saúde mental por estes
interessantes e difíceis temas, possa trazer novas pesquisas e conhecimentos
que beneficiem os pacientes com Transtornos Mentais, seus familiares e a
comunidade.
BIBLIOGRAFIA
Ø Factores
condicionantes da saúde mental.
Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0080-62342014000300555&script=sci_arttext&tlng=pt. Acessado aos 31 de Março de 2015.
Ø Maneiras
de eficácia para uma vida familiar saudável. Disponível em: https://www.lds.org/youth/article/keeping-your-life-in-balance?lang=por. Acessado aos 31 de Março de 2015.
Ø Os
constrangimentos mentais da guerra.
Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1413-81232006000500009&script=sci_arttext. Acessado aos 31 de Março de 2015.
Ø Saúde
mental no contexto familiar.
Disponível em: http://repositorio.bc.ufg.br/bitstream/ri/72/1/saude%20mental%20_progra_saude_familia_v10n3a24.pdf. Acessado aos 3 de Abril de 2015.
Ø Deficiência física e saúde mental. Disponível
em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-08582008000200011. Acessado aos 04 de Abril de 2015.
Ø Determinantes socioeconómicas na saúde
mental. Disponível: http://www.scielo.oces.mctes.pt/scielo.php?pid=S0870-90252010000200003&script=sci_arttext. Acessado aos 04 de Abril de 2015.
Ø Saúde mental do trabalhador. Disponível em: http://www.uel.br/ccb/psicologia/revista/textov2n15.htm. Acessado aos 04 de Abril de 2015.
ÍNDICE