Concepções pedagógicas
Retirado: http://www.unasus.unifesp.br/biblioteca_virtual/esf/1/modulo_pedagogico/Unidade_1.pdf
Introdução
Introdução
Você provavelmente já deve ter notado como a educação está presente em quase todas as instâncias de atividade humana, além do contexto da educação formal. Na família, na escola, na universidade, na saúde, nas mídias, nas atividades culturais... E sempre com uma gama diversa de significados e interpretações, não é verdade?
Na família, por exemplo, educar pode significar a transmissão de princípios morais, principalmente por meio do “bom exemplo” de conduta dos pais. Nas mídias, como na televisão, pode significar sensibilizar um grande número de pessoas para questões de saúde, cidadania ou ética, ou também para, implicitamente, definir padrões estéticos e de consumo, que podem refletir diretamente no comportamento social de crianças, adolescentes e adultos. No ambiente profissional, educar pode ter o sentido de capacitar indivíduos para atividades profissionais específicas, ou de atualizar conhecimentos. A gestão do conhecimento (ERDMANN et al., 2006) é hoje uma área de atuação importante em corporações de médio e grande porte, que percebem que muito do conhecimento da equipe profissional nem sempre é tornado explícito e compartilhado. Na educação formal, ou seja, nas escolas, educar corresponde a formar um indivíduo integralmente, em seus aspectos cognitivos, psicomotores, procedimentais, afetivos e sociais.
Talvez o que você ainda não saiba é que, embora atividades educativas possam ser identificadas
em várias esferas de atuação humana e com diferentes finalidades, a Educação, enquanto área de
conhecimento, desenvolve seus estudos e pesquisas apoiada na investigação da realidade e nos
fundamentos epistemológicos e gnosiológicos advindos da Filosofia, da História, da Psicologia, da
Sociologia, entre outras áreas do conhecimento. Em decorrência desses estudos, são identificadas
diferentes concepções de Educação, organizadas e aceitas por pesquisadores, ao longo do tempo,
que detalharemos a seguir. Tais concepções permitem sistematizar teorias e práticas pedagógicas
a partir de concepções filosóficas, consideradas em um contexto sócio-histórico, e que instituem
formas de compreender a ação educativa, em suas variações e componentes (LEITE, 2008).
Esse desconhecimento se deve, na maioria das vezes, ao fato de que, no Brasil, a formação
pedagógica para a docência em nível superior não é exigida, prevalecendo a ideia de que “quem
sabe, sabe ensinar”, o que pode determinar a reprodução dos mesmos conteúdos e procedimentos
de ensino utilizados na formação profissional por décadas (MASETTO, 2003). Entretanto,
mesmo que não explicitadas, as concepções de educação presentes e continuamente reiteradas na
prática educativa aparecem subjacentes às atitudes, à forma como se estabelece ou não a relação
professor-aluno e às formas de ensinar e de avaliar escolhidas pelo professor (ZABALA, 1998).
Concepções de Educação
Uma das referências mais respeitadas e consolidadas nessa área, no Brasil, é Maria da
Graça Nicoletti Mizukami (MIZUKAMI,1986), professora titular pela Universidade Federal
de São Carlos, que classifica as concepções de educação com base nas teorias psicológicas como:
Tradicional, Comportamentalista, Humanista, Cognitivista e Sociocultural, compiladas e
brevemente descritas a seguir.
Concepção Tradicional
O modelo tradicional, embora sem fundamentação teórica empiricamente validada e
consolidada, predomina no contexto educacional brasileiro desde o Império, tendo sido inspirado
pelo modelo francês-napoleônico da época, e influencia fortemente, até hoje, o ensino superior.
Nessa concepção, o aluno é considerado receptor passivo de informações preestabelecidas pelo
sistema ou instituição educacional, que deve criteriosamente selecionar e preparar os conteúdos
a serem transmitidos às novas gerações. A avaliação da aprendizagem baseia-se na capacidade
de reprodução fiel das informações ensinadas. A relação professor-aluno é marcada por forte
hierarquização e autoritarismo. O professor toma todas as decisões relativas ao processo ensinoaprendizagem, e exerce a função de conduzir seus alunos a adaptarem-se ao contexto cultural
vigente, tido como referência do modelo. Não se verifica incentivo ao pensamento crítico e
criativo, à autonomia do aluno, à colaboração entre pares, e à democracia nas tomadas de decisões.
Essa concepção pode ser identificada no ensino superior, mesmo quando associada à
utilização das tecnologias da informação e comunicação (TIC), em cursos presenciais, semipresenciais ou a distância (EaD). Evidencia-se, pela ênfase na produção e na transmissão de
conteúdos, que ganham sofisticação em formatos multi ou hipermidiáticos, como em certos
tutoriais virtuais ou aulas em vídeos, com suporte em CD-ROM ou via internet. No entanto,
em sua essência permanecem associados ao modelo pedagógico tradicional, por supor que o
aluno deve ser o receptor passivo e o reprodutor das informações veiculadas.
Concepção Comportamentalista
Na abordagem comportamentalista ou behaviorista, o conhecimento é externo ao indivíduo
e deve ser por ele descoberto como resultado direto de sua experiência. Cabe à Educação o papel
de estabelecer um roteiro de ações rigorosamente controlado, que conduza o aluno a atingir
objetivos de ensino pré-determinados. A transmissão dos conteúdos deve levar ao desenvolvimento
de habilidades e competências.
Encontra respaldo teórico na corrente filosófica conhecida como Positivismo, fundada por
Auguste Comte no século XVIII, que postula, entre outras coisas, que todos os eventos humanos
podem ser sistematizados e mensurados por meio dos mesmos critérios adotados para a pesquisa
em ciências naturais.
A abordagem comportamentalista tem como grandes nomes Watson, Skinner e
Pavlov. De modo bastante simplificado, o Behaviorismo situa-se como ramo objetivo
e experimental da Psicologia voltado ao estudo do comportamento. Ao desenvolver
seus estudos, em meio à análise experimental do comportamento, Skinner salienta
o reforço como condição para o controle do comportamento humano (PESCE, 2010).
O papel do professor, nessa concepção, é o de planejador e estrategista do processo ensinoaprendizagem, e ainda o responsável por manter, sobre ele um rigoroso controle. O professor
deve reforçar os aspectos positivos ao aluno e evitar castigos e punições, práticas toleradas no
ensino tradicional. O Comportamentalismo, como o nome indica, postula que o comportamento
humano é ordenado e determinado, não havendo lugar para o livre-arbítrio.
Nos anos 1960, sob a influência dessa concepção de educação, popularizaram-se
os estudos dirigidos, precursores do que se conhece hoje como tutoriais interativos para
aprendizado a distância, usualmente em CD-ROM e com recursos da hipermídia, que
preveem um detalhado roteiro de estudos, com exercícios de resposta automática, que o
estudante trilha sozinho, sem o apoio de um professor. A ênfase dirige-se à elaboração do
material didático e à formulação do roteiro a ser seguido. Alguns autores a reconhecem como
Tecnicismo (LIBÂNEO, 1986).
Concepção Humanista
A abordagem Humanista privilegia os aspectos da personalidade do sujeito que aprende.
Corresponde ao “ensino centrado no aluno”. O conhecimento, para essa concepção, existe no âmbito da percepção individual e não se reconhece objetividade nos fatos. A aprendizagem se
constrói por meio da re-significação das experiências pessoais. O aluno é o autor de seu processo
de aprendizagem e deve realizar suas potencialidades. A educação assume um caráter mais amplo,
e organiza-se no sentido da formação total do homem e não apenas do estudante.
Valoriza a democracia nas relações, de tal forma que o professor atua como um facilitador
da aprendizagem e das relações interpessoais, e deve ser compreensivo com os sentimentos e
características de personalidade de seus alunos, criando um clima favorável à aprendizagem.
Os procedimentos ou estratégias de ensino assumem um papel secundário, na medida
em que se valoriza a pesquisa de conteúdos feita pelos alunos, de forma crítica e pessoal.
Por decorrência, defende o processo de auto-avaliação do aluno. Seus representantes mais
significativos foram C. Rogers (ROGERS; FREIBERG, 1969) e A. Neill (NEILL; FROMM, 1960),
cujas ideias marcaram mundialmente os anos 60, revolucionando o pensamento pedagógico.
No ensino superior, esta abordagem é pouco difundida. Pode ser identificada em
atividades específicas, como o portfólio do estudante, que valoriza a expressão subjetiva como
parte da proposta pedagógica. (ANASTASIOU; ALVES, 2004). Nele devem ser registradas
não só as informações relativas aos conteúdos de ensino, mas também as impressões da
trajetória pessoal no processo de aprendizagem. Nos cursos desenvolvidos na modalidade
a distância, o suporte à autonomia e os portfólios de estudantes podem ser viabilizados em
diversos ambientes virtuais de aprendizagem (FILATRO, 2004).
Concepção Cognitivista
A abordagem cognitivista investiga os caminhos percorridos pela inteligência (cognição)
no processo de construção do conhecimento. Diferentes autores, adeptos dessa compreensão da
ação educativa, atribuem maior ou menor influência à cultura, à personalidade, à afetividade,
ao momento histórico e ao meio social no processo de aprendizagem. Essa característica os
distingue, em seus aspectos teóricos e práticos. Nesse conjunto ainda são encontradas as bases
teóricas das teorias construtivistas.
Os representantes mais significativos dessa concepção são o suíço Jean Piaget (PIAGET,
1999), que a partir dos anos 1920 mapeou o desenvolvimento cognitivo de crianças, e o norteamericano Jerome Bruner (BRUNER, 1977), que nos anos 1960 organizou uma teoria de
instrução baseada no estudo da cognição.
Piaget, pai da Epistemologia Genética, buscou compreender a relação entre construção do
conhecimento e desenvolvimento da inteligência. O teórico destaca que o conhecimento não
pode ser concebido como algo predeterminado desde o nascimento e tampouco como mero
resultado de percepções e informações, mas como fruto das ações e interações do sujeito com
seu ambiente (PIAGET, 1999). Os estágios de desenvolvimento descritos pela Epistemologia
Genética – sensório-motor, pré-operatório e operatório (concreto e formal) – tornam clara a
ideia de que a inteligência desenvolve-se a partir de um movimento interacionista e ocorre por
saltos qualitativos (PESCE, 2010).
As teorias cognitivistas entendem o ser humano como um sistema aberto, ou seja,
consideram sua capacidade de processar novas informações, integrando-as a seu repertório
individual, reconstruindo-as de forma única e subjetiva continuamente ao longo da vida, em
direção à constante auto-superação, e incorporando estruturas mentais cada vez mais complexas.
Nessa abordagem, o professor é entendido como mediador entre o aluno e o conhecimento.
Cabe a ele problematizar os conteúdos de ensino, criando condições favoráveis à aprendizagem,
e desafiar os alunos para que cheguem às soluções por meio de um processo investigativo.
Embora o cognitivismo esteja originalmente relacionado ao desenvolvimento cognitivo
de crianças, essas teorias têm sido re-significadas para responder a demandas da
aprendizagem de adultos associada a recursos tecnológicos de ensino, como na EaD.
Um exemplo são os sistemas projetados para identificar estilos de aprendizagem
e para propor formas de navegação no conteúdo em hipermídia personalizadas.
Concepção Sociocultural
A abordagem Sociocultural difere das anteriores, por colocar no centro do processo ensinoaprendizagem os contextos político, econômico, social e cultural onde ocorre a ação educativa.
Um importante representante dessa concepção é Lev Semenovitch Vygotsky, que pauta
seus estudos sobre as origens e a evolução da consciência do homem no Materialismo Histórico
(VYGOTSKY, 1989). À luz de tal concepção, o autor revela a relação entre linguagem,
consciência e constituição da identidade. Ao conceber a aprendizagem como processo sóciohistórico mediado pela cultura, o estudioso aponta a íntima articulação da aprendizagem com
os esquemas de significação e com os quatro planos de desenvolvimento: Filogenético (história
da espécie), Ontogenético (desenvolvimento histórico do indivíduo), Sociogenético (história
da cultura) e Microgenético (história de cada fenômeno psicológico). Ao fazê-lo, evidencia o
papel social da aprendizagem e sua relevante contribuição para tornar a consciência (estruturas
psicológicas superiores) mais complexa. Ao destacar que a aprendizagem mobiliza os processos
de desenvolvimento, pois a mediação constitui a atividade mental, Vygotsky sublinha que a
atividade interpessoal desencadeia processos intrapsicológicos. A partir de uma visão dialética
dos processos de construção do conhecimento, Vygotsky concebe a linguagem como o principal
instrumento de representação simbólica e, por conseguinte, como condição mais importante
do desenvolvimento da consciência do sujeito social em formação. Para o erudito, o conteúdo
da experiência histórica do homem vê-se refletido nas formas verbais de comunicação (PESCE,
2010).
No Brasil, Paulo Freire é o representante mais significativo da abordagem Sociocultural
(FREIRE, 1987). Nessa perspectiva, o ser humano não pode ser compreendido fora de seu
contexto; ele é o sujeito de sua própria formação e se desenvolve por meio da contínua reflexão
sobre seu lugar no mundo, sobre sua realidade. Essa conscientização é pré-requisito para
o processo de construção individual de conhecimento ao longo de toda a vida, na relação
pensamento-prática. Visa à consciência crítica, que é a transcendência do nível de assimilação
dos dados do mundo concreto e imediato, para o nível de percepção subjetiva da realidade,
como um processo de relações complexas e flexíveis ao longo da história.
Para os autores adeptos dessa concepção, toda atividade educacional deve ser pautada por
essa visão de mundo e sociedade e permitir amplas possibilidades de reflexão. A educação deve
ser sempre problematizadora e proporcionar ao aluno uma compreensão ampla dos contextos
nos quais o problema se insere, mobilizando-o para perceber-se como parte integrante desse
conjunto complexo que é a sociedade. A relação professor-aluno é igualitária e democrática, o
professor deve ser crítico, questionar os valores da cultura dominante, instigando os alunos para
que eles mesmos se tornem produtores de cultura.
Sob esta perspectiva e tendo em comum a preocupação de contextualizar os conteúdos de
ensino no ambiente real da prática profissional, podem ser descritos diversos tipos de procedimentos
de ensino adotados no ensino superior, nas modalidades presencial ou a distância, tais como:
projetos colaborativos, estudos de caso, problematização, aprendizagem baseada em problemas
(PBL), entre outros.
Novas Tendências: concepções de educação na sociedade do conhecimento
Atualmente, a Pedagogia e a Psicologia constroem novas teorias sobre o conhecimento
denominadas como Via da Complexidade (GIUSTA; FRANCO, 2003). Busca-se alargar
os horizontes das discussões sobre o conhecimento, ao levar em conta outros determinantes
circunstanciais, incorporando, por exemplo, reflexões sobre o impacto das tecnologias digitais
na sociedade, no ser humano e em suas práticas (ZUIN, 2010).
Nesse contexto, faz-se importante citar, além das concepções decorrentes de teorias da
Educação, pesquisadores contemporâneos, que vêm observando as formas de educar com apoio
das tecnologias, como no caso da Educação a Distância ou da incorporação desses recursos ao
ensino presencial.
Por exemplo, José Armando Valente distingue três abordagens na EAD. Na abordagem
broadcast, o professor apenas transmite a informação, via aparato tecnológico; daí sua proximidade
com a concepção tradicional como descrita por Mzukami. Na abordagem “virtualização da
sala de aula presencial”, o professor transfere para o espaço virtual a mesma dinâmica da aula
presencial. Já a abordagem “estar junto virtual” contempla a dinâmica comunicacional, que
privilegia a mediação do professor junto ao aluno, por meio da tecnologia, para que se realize
o ciclo construcionista “descrição-execução-reflexão-depuração-descrição” (VALENTE, 2000).
Como se pode perceber, dentre as distintas abordagens educacionais, as acepções Cognitivista,
Sociocultural e a Via da Complexidade enfatizam o valor dos intertextos, a construção de sentidos
e a constituição da identidade dos sujeitos sociais em formação. A relevância dos aspectos sociais
na constituição do sujeito que aprende deve situar-se como atitude primordial aos programas de
formação desenvolvidos na EaD e veiculados nos ambientes digitais (PESCE, 2010).
Andragogia ou teorias sobre a aprendizagem de adultos
Você já reparou que adultos, em geral, têm uma relação diferente de crianças com a
aprendizagem? Vamos aprender sobre isso? Você já ouviu falar de Andragogia?
O termo Andragogia é utilizado para referir-se aos estudos sobre a aprendizagem de adultos,
em oposição à Pedagogia, que se dedica a pesquisar os processos de ensino e aprendizagem
em crianças. O pesquisador mais influente nessa área é o norte-americano Malcolm Knowles
(KNOWLES, 1970), que acreditava que o mais importante era ensinar os adultos a aprender.
Esse autor relacionou alguns aspectos que influenciam a aprendizagem de adultos:
• Auto-conceito - O conceito de um adulto em relação a sua própria aprendizagem
costuma estar relacionado com a experiência que teve como estudante na infância e
adolescência. Muitas vezes, como o professor trata seus alunos como dependentes, essa
imagem tende a se cristalizar e influenciar o aprendizado do adulto, que segue com um
comportamento dependente de quem o ensina.
• Experiência - Durante a vida escolar, a experiência do aluno geralmente não é considerada.
Na vida adulta, a constante conexão entre vida prática e novos conteúdos é essencial
à aprendizagem.
• Orientação à aprendizagem - Crianças e adolescentes são dirigidos a aprender conteúdos
pré-definidos. O adulto possui outra orientação para a aprendizagem, e pode não se
satisfazer com organizações curriculares fechadas.
• Motivação - Enquanto o desenvolvimento escolar da criança e do adolescente passa por
motivação externa (notas, aprovação, castigos, pressões da família), o adulto depende
de motivação interior para prosseguir nos estudos.
Outros pesquisadores se seguiram a Knowles, reforçando ou contestando suas ideias. Um
exemplo brasileiro é o professor Ari Oliveira, que elenca quatorze princípios que devem nortear
o relacionamento com adultos, no processo educativo (OLIVEIRA, 2005). Esses princípios
expressam a essência da Andragogia. Destacamos aqui alguns deles:CONCEPÇÕES PEDAGÓGICAS
Especialização em Saúde da Família 15
• O centro das atividades educacionais do adulto é na aprendizagem e jamais no
ensino.
Exemplo: Muitos adultos têm dificuldade para se concentrarem em uma aula expositiva.
No entanto, podem ficar horas pesquisando ou trabalhando sem nenhum tipo de
instrução.
• Compartilhar experiências é fundamental para o adulto, tanto para reforçar suas
crenças, como para influenciar as atitudes dos outros.
Exemplo: É muito comum que adultos passem muito tempo conversando e trocando
ideias. Podemos facilmente verificar que aprendemos muito nessas trocas, muitas vezes
mais do que em situações formais de ensino.
• O adulto é o agente de sua aprendizagem e por isso é ele quem deve decidir sobre o
que aprender. A experiência é o melhor elemento motivador do adulto. Portanto, o
ambiente de aprendizagem com pessoas adultas deve ser permeado de liberdade e
incentivo para cada indivíduo falar de sua história, ideias, opiniões, compreensão
e conclusões sobre os temas trabalhados.
Exemplo: A experiência de um curso on-line, onde há maior flexibilidade nas escolhas
sobre a navegação, evidencia este princípio.
• Oprocesso de aprendizagemdo adulto se desenvolve na seguinte ordem: Sensibilização
(motivação) - Pesquisa (estudo) - Discussão (esclarecimento) - Experimentação
(prática) - Conclusão (convergência) - Compartilhamento (sedimentação).
Comentário: Essa sequência não se assemelha às etapas do método científico? Note que
o compartilhamento pode ser comparado à etapa de publicação.
• O professor tradicional prejudica o desenvolvimento do adulto, pois o coloca num
plano inferior de dependência,reforçando,com isso, seu indesejávelcomportamento
reativo próprio da fase infantil.
Comentário: Este último princípio nos leva a refletir sobre o papel do educador, em
especial no mundo contemporâneo, onde a autonomia na busca do conhecimento, a
atitude investigativa e ao mesmo tempo colaborativa se tornam mandatórias.
Então, o que achou desses princípios, com quantos deles você se identificou ou identificou
antigos professores?
Educação Continuada
Talvez você se lembre ou já tenha ouvido dizer que, a atualização profissional de profissionais
da saúde, no Brasil, sempre aconteceu muito mais frequentemente fora do contexto da educação
formal, como por meio de participações em congressos e seminários, e até mesmo pela ação dos
propagandistas de laboratórios farmacêuticos. A oferta de cursos de atualização pelas universidades
já foi bastante limitada.
Felizmente, isso não representa mais a realidade. Com os avanços tecnológicos, o volume
e a rapidez de produção e de circulação de informações científicas alcançaram tal dimensão, que
se torna impossível para um profissional de saúde manter-se atualizado empregando apenas os
mesmos recursos utilizados no passado. Faz-se necessário aprender a selecionar a informação
relevante, reconhecer as fontes fidedignas e desenvolver habilidades de busca e pesquisa no
universo virtual. Assim, a aprendizagem não se encerra na graduação, mas continua por toda a
vida (KENSKI, 2004).
Para além da esfera do desenvolvimento intelectual individual, na Sociedade do Conhecimento
experimentam-se mudanças importantes também na vida coletiva. A aceleração dos processos
de produção e veiculação de informações estimula significativamente a busca por aprendizagem
constante, ou, educação continuada, o que gera por sua vez um impacto na vida social como
um todo (WERTHEIN, 2000).
Esse cenário pode gerar insegurança nos profissionais, não só para acompanhar as mudanças,
mas também para selecionar as fontes confiáveis e as informações relevantes para efetivamente
incorporá-las à sua prática, de acordo com o contexto socioeconômico e cultural no qual trabalham.
A necessidade de um processo de educação continuada, regulado por organismos oficiais,
como associações profissionais e universidades, impõe-se agora, mais do que nunca. E isso, de
certo modo, já começa a acontecer.
A título de exemplo, a Educação Médica Continuada, apesar de não encontrar correspondente
exato no sistema educacional brasileiro oficial, tem se tornado cada vez mais familiar aos
profissionais de Medicina. Deriva do conceito norte-americano de Continuing Medical Education
(CME), um sistema de atualização profissional médica que oferece certificação oficial a partir de
um número determinado de créditos, que podem ser obtidos por meio de atividades educacionais
variadas. No Brasil, a Comissão Nacional de Acreditação (CNA), por meio da resolução nº
1.772/2005, instituiu o Certificado de Atualização Profissional para os portadores dos títulos
de especialista e certificados de áreas de atuação. Esse certificado tem validade de 5 anos, após
os quais os médicos deverão submeter-se obrigatoriamente a um processo de certificação de
atualização profissional (LEITE, 2009).
Dicas
M a i s i n f o r m a ç õ e s n o
Portal do MEC em http://
p o r t a l .me c . g o v. b r / i n d e x .
php?option=com_content&
view=article&id=387&Ite
mid=349
Para o Ministério da Educação (MEC), a modalidade que mais se
aproxima da educação continuada, em qualquer área do conhecimento,
são os cursos de extensão, como a pós-graduação lato-sensu - muito
procurados por profissionais de diversas áreas. Esses cursos qualificam
em nível de especialização, e possuem caráter de educação continuada,
por destinarem-se a profissionais com graduação completa. Têm
carga horária mínima de 360 horas e são oferecidos por instituições
de ensino superior ou por instituições especialmente credenciadas
junto ao MEC para atuarem nesse nível educacional. Diferente dos
cursos de pós-graduação stricto sensu, que dependem de autorização
e reconhecimento por parte da Coordenação de Aperfeiçoamento de
Pessoal de Nível Superior (CAPES), os cursos de especialização (latosensu) não obedecem a regulamentações específicas e pré-determinadas,
sendo apenas sujeitos a avaliações quantitativas promovidas pelo
Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), no
processo de avaliação das instituições de ensino superior (IES) (LEITE,
2008).
A educação continuada, seja presencial ou a distância, corresponde
a ações educacionais, que devem se caracterizar por:
• Dirigir-se à atualização e desenvolvimento profissional, em
resposta às necessidades impostas na sociedade;
• Utilizar o apoio de recursos para criar situações em favor
da auto-aprendizagem e/ou da aprendizagem colaborativa;
• Considerar as peculiaridades do aprendizado de adultos, ou
Andragogia.
No Brasil, o impacto da educação continuada ainda é limitado,
mas com grande potencial, especialmente se considerado o grande
crescimento da internet no país, que oferece condições de oferta de
cursos on-line. Nos últimos anos, uma cifra que hoje ultrapassa os 21
milhões de usuários, tendo superado o recorde de uso da internet em
residências, segundo pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de
Opinião Pública e Estatística (IBOPE), em 2006.
Saiba MaiS...
Este uso ainda está concentrado nas camadas socioeconômicas mais favorecidas,
residentes nos grandes centros urbanos, onde se registram altos índices de
problemas de trânsito e de violência que, de certo modo, impulsionam as formas
de entretenimento e cultura domésticas, como a internet. Cabe ressaltar que apenas
29% desses usuários acessam sites de Educação e carreiras, segundo o IBOPE.
Atualmente, várias instituições públicas e privadas já oferecem educação continuada a
distância na área da saúde. Por exemplo, as associações profissionais e sociedades de especialidades
oferecem programas de atualização profissional a distância. Esses cursos são geralmente produzidos
com o apoio de instituições de ensino e de pesquisa e utilizam diversas tecnologias, como
internet e televisão via satélite. Vale mencionar também a relevância de iniciativas das chamadas
universidades corporativas ou centros de educação continuada, sediadas em grandes hospitais
de referência, que também oferecem programas de atualização e especialização.
Além dessas, cabe ressaltar as iniciativas governamentais, nas esferas federal e estaduais,
como a Universidade Aberta do Brasil (UAB) criada pelo Ministério da Educação em 2005,
e a própria Universidade Aberta do Sistema Único de Saúde (UnA-SUS) criada em 2008 pelo
Ministério da Saúde.
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