A antropologia
INTRODUÇÃO
Partindo
do pressuposto de que a antropologia e a educação tomam o homem como base comum
de reflexão, o texto propõe uma abordagem sobre a antropologia, considerando a
escolha do lugar teórico a partir do qual uma proposta investigativa é
conduzida como o aspecto decisivo da questão. Argumenta-se que sem abrir da
característica que dirige o trabalho dos antropólogos, qual seja, o profundo
conhecimento de objectos singulares, não se pode furtar ao compromisso
científico de inseri-los num contexto mais amplo de compreensão, numa
perspectiva passível de encontrar ressonância entre outros pesquisadores
sociais. A articulação dos valores universais e das especificidades culturais
enquanto dimensões de uma mesma realidade, além de ser uma exigência teórica,
impõe-se praticamente na medida em que a democracia passa a ser desafiada pelo
movimento global da pobreza, exclusão social e surgimento de particularismos
absolutos.
A ORIGEM DA ANTROPOLOGIA
Antropologia (do grego ἄνθρωπος, transl. anthropos, "homem", e λόγος, logos,
"razão"/"pensamento"/"discurso"/"estudo")
é a ciência que tem como objeto o estudo sobre
o homem e a humanidade de maneira totalizante, ou seja,
abrangendo todas as suas dimensões.1 A divisão clássica da Antropologia
distingue a Antropologia
Cultural da Antropologia
Biológica. Cada uma
destas, em sua construção, abrigou diversas correntes de pensamento.
Pode-se afirmar que há poucas décadas a antropologia
conquistou seu lugar entre as ciências. Primeiramente, foi considerada como a
história natural e física do homem e do seu processo evolutivo, no espaço e no
tempo. Se por um lado essa concepção vinha satisfazer o significado literal da
palavra, por outro restringia o seu campo de estudo às características do homem
físico. Essa postura marcou e limitou os estudos antropológicos por largo
tempo, privilegiando a antropometria, ciência que trata das mensurações
do homem fóssil e do homem vivo.
Divisões e campo
A Antropologia, sendo a ciência da humanidade e da
cultura, tem um campo de investigação extremamente vasto: abrange, no espaço,
toda a terra habitada; no tempo, pelo menos dois milhões de anos e todas as
populações socialmente e devidamente organizadas. Divide-se em duas grandes
áreas de estudo, com objetivos definidos e interesses teóricos próprios: a
Antropologia Física (ou Biológica) e a Antropologia Cultural, para alguns
autores sinônimo de antropologia social, que focaliza, talvez, o principal
conceito desta ciência, a cultura. Segundo o Museu de Antropologia
Cultural da Universidade de Minnesota, a antropologia cultural abrange três
tópicos gerais que por sua vez subdivide-se e constituem-se como
especialidades: Etnografia / Etnologia, Linguística aplicada à antropologia e Arqueologia. A cultura e a mitologia
correspondem ao desejo do homem de conhecer a sua origem, ou produzem um modo
de autoconhecimento que é a identidade, diferenciando os grupos em função de
suas idiossincrasias e adaptação em ambientes distintos.
Considerações
Para pensar as sociedades humanas, a antropologia
preocupa-se em detalhar, tanto quanto possível, os seres humanos que as compõem
e com elas se relacionam, seja nos seus aspectos físicos, na sua relação com a natureza, seja na sua especificidade
cultural. Para o saber antropológico o conceito de cultura abarca diversas dimensões: universo
psíquico, os mitos, os costumes e rituais, suas histórias peculiares, a linguagem, valores, crenças, leis, relações de parentesco, entre outros tópicos.
Embora o estudo das sociedades humanas remonte à Antiguidade
Clássica, a
antropologia nasceu, como ciência, efetivamente, da grande revolução
cultural iniciada com o Iluminismo.
História da Antropologia
Embora a grande maioria dos autores concorde que a
antropologia se tenha definido enquanto disciplina só depois da revolução Iluminista, a partir de um debate mais claro
acerca de objeto e método, as origens do saber antropológico remontam à Antiguidade
Clássica,
atravessando séculos. Enquanto o ser humano pensou sobre si mesmo e sobre sua
relação com o "outro", pensou antropologicamente. A
Antropologia é o estudo do homem como ser biológico, social e cultural. Sendo
cada uma destas dimensões por si só muito ampla, o conhecimento antropológico
geralmente é organizado em áreas que indicam uma escolha prévia de certos aspectos
a serem privilegiados como a “Antropologia Física ou Biológica” (aspectos
genéticos e biológicos do homem), “Antropologia Social” (organização social e
política, parentesco, instituições sociais), “Antropologia Cultural” (sistemas
simbólicos, religião, comportamento) e “Arqueologia” (condições de existência
dos grupos humanos desaparecidos). Além disso podemos utilizar termos como
Antropologia, Etnologia e Etnografia para distinguir diferentes níveis de
análise ou tradições acadêmicas.
Para o antropólogo Claude Lévi-Strauss (1970:377), a
etnografia corresponde “aos primeiros estágios da pesquisa: observação e
descrição, trabalho de campo”. A etnologia, com relação à etnografia, seria “um
primeiro passo em direção à síntese” e a antropologia, “uma segunda e última
etapa da síntese, tomando por base as conclusões da etnografia e da etnologia”.
Qualquer que seja a definição adotada, é possível
entender a antropologia como uma forma de conhecimento sobre a diversidade
cultural, isto é, a busca de respostas para entendermos o que somos a partir do
espelho fornecido pelo “outro”; uma maneira de se situar na fronteira de vários
mundos sociais e culturais, abrindo janelas entre eles, através das quais
podemos alargar nossas possibilidades de sentir, agir e refletir sobre o que,
afinal de contas, nos torna seres singulares, humanos.
Primórdios
Homero, Hesíodo e os filósofos pré-socráticos já se questionavam a respeito do
impacto das relações sociais sobre o comportamento humano; ou vendo este
impacto como consequência dos caprichos dos deuses, como enumera a Odisseia de Homero e a Teogonia de Hesíodo, ou como construções racionais,
valorizando muito mais a apreensão da realidade no dia a dia da experiência
humana, como preferiam os filósofos pré-socráticos. Foi, sem dúvida, na Antiguidade
Clássica que a
"medida Humana" se evidenciou como centro da discussão acerca
do mundo. Os gregos deixaram inúmeros registros e relatos acerca de culturas
diferentes das suas, assim como os chineses e os romanos. Nestes textos nascia,
por assim dizer, a Antropologia, e no século V a.C. um exemplo disto se revela na obra
de Heródoto, que descreveu minuciosamente as
culturas com as quais seu povo se relacionava. Da contribuição grega fazem
parte também as obras de Aristóteles (acerca das cidades gregas) e as de
Xenofonte (a respeito da Índia).
Entre os romanos merece destaque o poeta Lucrécio, que tentou investigar as origens
da religião, das artes e se ocupou da discurso. Outro romano, Tácito analisou a vida das tribos
germânicas, baseando-se nos relatos dos soldados e viajantes. Salienta o vigor
dos germanos em contraste com os romanos da sua
época. Agostinho, um dos pilares teológicos do Catolicismo, descreveu as civilizações
greco-romanas "pagãs", vistas como moralmente inferiores às
sociedades cristianizadas. Em sua obra já discutia, de maneira pouco elaborada,
a possibilidade do "tabu do
incesto"
funcionar como norma social, garantia da coesão da sociedade. É
importante salientar que Agostinho, no entanto, privilegiou
explicações sobrenaturais para a vida sociocultural.
Embora não existisse como disciplina específica, o
saber antropológico participou das discussões da Filosofia, ao longo dos séculos. Durante a Idade Média muitos escritos contribuíram para a
formação de um pensamento racional, aplicado ao estudo da experiência humana,
como fez o administrador francês Jean Bodin, estudioso dos costumes dos povos
conquistados, que buscava, em sua análise, explicações para as dificuldades que
os franceses tinham em administrar esses povos. Com o advento do movimento iluminista, este saber foi estruturado em dois
núcleos analíticos: a Antropologia
Biológica (ou Física), de modo
geral considerada ciência natural, e a Antropologia
Cultural,
classificada como ciência social.
O século XVIII
Até o século XVIII, o saber antropológico esteve
presente na contribuição dos cronistas, viajantes, soldados, missionários e comerciantes que discutiam, em
relação aos povos que conheciam, a maneira como estes viviam a sua condição
humana, cultivavam seus hábitos, normas, características, interpretavam os seus
mitos, os seus rituais, a sua linguagem. Só no século XVIII, a Antropologia adquire a categoria
de ciência, partindo das classificações de Carlos Lineu e tendo como objeto a análise das
"raças humanas".
O legado desta época foram os textos que descreviam as
terras, a (Fauna, a Flora, a Topografia) e os povos "descobertos"
(Hábitos e Crenças). Algumas obras que falavam dos indígenas brasileiros, por
exemplo, foram: a carta de Pero Vaz de
Caminha ("Carta do Descobrimento do Brasil"), os relatos de Hans Staden, "Duas Viagens
ao Brasil", os
registros de Jean de Léry, a "Viagem a Terra do Brasil", e a obra de Jean
Baptiste Debret, a "Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil. Além destas, outras obras falavam
ainda das terras recém-descobertas, como a carta de Colombo aos Reis Católicos. Toda esta produção escrita
levantou uma grande polémica acerca dos indígenas. A contribuição dos
missionários jesuítas na América (como Bartolomeu
de Las Casas e Padre Acosta) ajudaram a desenvolver a denominada "teoria do bom selvagem", que via os índios como
detentores de uma natureza moral pura, modelo que devia ser assimilado pelos
ocidentais. Esta teoria defendia a ideia de que cultura mais próxima do estado
"natural" serviria de remédio aos males da civilização.
O século XIX
No Século XIX, por volta de 1840, Boucher de Perthes utiliza o termo homem
pré-histórico para
discutir como seria sua vida cotidiana, a partir de achados arqueológicos, como
utensílios de pedra, cuja idade se estimava bastante remota. Posteriormente, em
1865, John Lubock reavaliou numerosos
dados acerca da Cultura da Idade da Pedra e compilou uma classificação em que
enumerava as diferenças culturais entre o Paleolítico e Neolítico.
Com a publicação de dois livros, A Origem das
Espécies, em 1859, e A descendência do homem, em 1871, Charles Darwin principia a sistematização da teoria evolucionista. Partindo da discussão trazida à
tona por estes pesquisadores, nascia a Antropologia
Biológica ou Antropologia Física
A antropologia evolucionista
Marcada pela discussão evolucionista, a antropologia do Século XIX privilegiou o Darwinismo Social, que considerava a sociedade
europeia da época como o apogeu de um processo evolucionário, em que as
sociedades aborígines eram tidas como exemplares "mais primitivos".
Esta visão usava o conceito de "civilização" para classificar, julgar
e, posteriormente, justificar o domínio de outros povos. Esta maneira de
ver o mundo a partir do conceito civilizacional de superior, ignorando as
diferenças em relação aos povos tidos como inferiores, recebe o nome de etnocentrismo. É a Visão Etnocêntrica, o conceito europeu do homem que se
atribui o valor de "civilizado", fazendo crer que os outros povos
como os das Ilhas da Oceania, estavam "situados fora da
história e da cultura". Esta afirmação está muito presente nos
escritos de Pauw e Hegel.
Teoria
Com fundamento nestas concepções, as primeiras grandes
obras da antropologia consideravam, por exemplo, o indígena das sociedades não
europeias como o primitivo, o antecessor do homem civilizado: afirmando e
qualificando o saber antropológico como disciplina, centrando o debate no modo
como as formas mais simples de organização social teriam evoluído, de acordo
com essa linha teórica essas sociedades caminhariam para formas mais complexas
como as da sociedade europeia.
Nesta forma de apreender a experiência humana, todas
as sociedades, mesmo as desconhecidas, progrediriam em ritmos diferentes, seguindo
uma linha evolutiva. Isso balizou a ideia de que a demanda colonial seria "civilizatória",
pois levaria os povos ditos "primitivos" ao "progresso
tecnológico-científico" das sociedades tidas como "civilizadas".
Há que ver estes equívocos como parte da visão de mundo que pretendiam estabelecer as diretrizes de uma lei
universal de desenvolvimento.
Mas não se pode generalizar e atribuir as
características acima a todos os autores que se aparentaram a essa corrente.
Cada autor tem suas próprias nuances. Durkheim, por exemplo, procurou nas manifestações totêmicas dos nativos australianos a forma
mais simples e elementar de religiosidade, mas não com o pensamento enquadrado
numa linha evolutiva cega: se nossa sociedade era dita mais complexa, ele
atribuía isso às diversas tendências da modernidade de que somos fruto, e a
dificuldade de determinar uma tendência pura na nossa religião, escamoteada por
milhares de anos de teologia.
Método
O método concentrava-se numa incansável comparação de
dados, retirados das sociedades e de seus contextos sociais, classificados de
acordo com o tipo (religioso, de parentesco, etc), determinado pelo
pesquisador, dados que lhe serviriam para comparar as sociedades entre si,
fixando-as num estágio específico, inscrevendo estas experiências numa abordagem linear, diacrônica, de modo a que todo costume
representasse uma etapa numa escala evolutiva, como se o próprio costume
tivesse a finalidade de auxiliar esta evolução. Entendiam os evolucionistas que
os costumes se demarcavam como substância, como finalidade, origem,
individualidade e não como um elemento do tecido social, interdependente de seu
contexto.
Pensadores
Vale ressaltar que apesar da maior parte dos
evolucionistas terem trabalhado em gabinetes, um dos mais conhecidos pensadores
dessa corrente, Lewis Henry
Morgan, tinha
contato com diversas tribos do norte dos Estados Unidos. É absurdo creditar a
autores dessa corrente compilações cega das culturas humanas, isso seria uma
simplificação enorme, ao mesmo tempo que se deixaria de aproveitar esses
estudos clássicos da antropologia. e separado por muito tempo.
A antropologia difusionista
A Antropologia Difusionista reagiu ao evolucionismo e foi sua contemporânea.
Valorizava a compreensão natural da cultura, em termos de origem e extensão, de
uma sociedade a outra. Para os difusionistas, o empréstimo cultural seria um
mecanismo fundamental de evolução cultural. O difusionismo acreditava que as
diferenças e semelhanças culturais eram consequência da tendência humana para
imitar e a absorver traços culturais, como se a humanidade possuísse uma
"unidade psíquica", tal como defendia Bastian.
O surgimento da "linhagem
francesa"
Com Émile Durkheim começam os fenómenos sociais a
serem definidos como objetos de investigação sócio-antropológica e, a partir da
análise da publicação de Regras do "Método Sociológico", em 1895,
começa-se a pensar que os fatos sociais seriam muito mais complexos do que
se pretendia até então. No final do século XIX, juntamente com Marcel Mauss, Durkheim se debruça nas
representações primitivas, estudo que culminará na obra "Algumas formas
primitivas de classificação", publicada em 1901. Inaugura-se então a denominada "linhagem francesa" na
Antropologia.
O século XX
Com a publicação de "As formas elementares da
vida religiosa" em 1912, Durkheim, ainda apegado ao debate
evolucionista, discute a temática da religião. Marcel Mauss publica com Henri Hubert, em 1903, a obra Esboço de uma teoria geral da magia, onde forja o conceito de mana. Inicialmente centrada na denominada "Etnologia", a Antropologia Francesa, arranca, como disciplina de
ensino, no "Institut
d´Ethnologie du Musée de l´Homme" em Paris, a partir de 1927. No
início, a disciplina se vinculara ao Museu de História Natural, porque se
considerava a antropologia como uma subdisciplina da história natural. Ainda
existia um determinismo biológico, segundo o qual se considerava que as
diferenças culturais eram fruto das diferenças biológicas entre os homens.
Nos Estados Unidos, Franz Boas desenvolve a ideia de que cada
cultura tem uma história particular e considerava que a difusão de traços
culturais acontecia em toda parte. Nasce o relativismo
cultural, e a
antropologia estende a investigação ao trabalho de campo. Para Boas, cada cultura estaria associada à
sua própria história. Para compreender a cultura é preciso reconstruir a sua
própria história. Surgia o Culturalismo, também conhecido como
Particularismo Histórico. Deste movimento surgiria posteriormente a escola
antropológica da Cultura e Personalidade.
Paralelamente a estes movimentos, na Inglaterra, nasce o Funcionalismo, que
enfatiza o trabalho de campo (observação participante). Para sistematizar o
conhecimento acerca de uma cultura é preciso apreendê-la na sua totalidade.
Para elaborar esta produção intelectual surge a etnografia. As instituições sociais
centralizam o debate, a partir das funções que exercem na manutenção da
totalidade cultural.
A antropologia funcionalista
O Funcionalismo inspirava-se na obra de Durkheim. Advogava um estreito paralelismo
entre as sociedades humanas e os organismos biológicos (na forma de evolução e
conservação) porque em ambos os casos a harmonia dependeria da
inter-dependência funcional das partes. As funções eram analisadas como
obrigações, nas relações sociais. A função sustentaria a estrutura social, permitindo a coesão, fundamental,
dentro de um sistema de relações sociais.
A antropologia estrutural
A Antropologia
estrutural nasce na
década de 1940. O seu grande teórico é Claude
Lévi-Strauss. Centraliza
o debate na ideia de que existem regras estruturantes das culturas na mente
humana, e assume que estas regras constroem pares de oposição para organizar o
sentido.
Para fundamentar o debate teórico, Lévi-Strauss recorre a duas fontes principais: a
corrente psicológica criada por Wilhelm Wundt e o trabalho realizado no campo da linguística, por Ferdinand de
Saussure, denominado
Estruturalismo. Influenciaram-no, ainda, Durkheim, Jakobson (teoria linguística), Kant (idealismo) e Marcel Mauss.
Ideias centrais
Para a Antropologia
estrutural, as
culturas definem-se como sistemas de signos partilhados e estruturados por
princípios que estabelecem o funcionamento do intelecto. Em 1949, Lévi-Strauss
publica "As estruturas elementares de parentesco", obra em que
analisa os aborígines australianos e, em particular, os seus sistemas de
matrimônio e parentesco. Nesta análise, Lévi-Strauss demonstra que as alianças são mais importantes para a estrutura social que os laços de sangue. Termos como
exogamia, endogamia, aliança, consanguinidade passam a fazer parte das
preocupações etnográficas.
O particularismo histórico
Também conhecida como Culturalismo, esta escola estadunidense,
defendida por Franz Boas, rejeita, de maneira marcante, o
evolucionismo que dominou a antropologia durante a primeira metade do século
XX.
Principais ideias
A discussão desta corrente gira em torno da ideia de
que cada cultura tem uma história particular e de que a difusão cultural se
processa em várias direções. Cria-se o conceito de relativismo
cultural, vendo
também a evolução como fenômeno que pode decorrer do estado mais simples para o
mais complexo.
A escola de cultura e personalidade
Criada por estudiosas estadunidenses, discípulos de Franz Boas, influenciadas pela Psicanálise e pela obra de Nietzsche, esta escola concebe a cultura como
detentora de uma "Personalidade de base", partilhada por todos os
membros. Estabelece uma tipologia cultural. Haveria culturas: dionisíacas
(centradas no êxtase) e apolíneas (estruturadas no desejo de moderação);
pré-figurativas, pós-figurativas, co-figurativas.
A antropologia interpretativa
Com cerca de vinte livros publicados, Clifford Geertz é provavelmente, depois de Claude
Lévi-Strauss, o antropólogo cujas ideias causaram maior impacto na segunda
metade do século XX, não apenas no que se refere à
própria teoria e à prática antropológica, mas também fora de sua área, em
disciplinas como a psicologia, a história e a teoria
literária.
Considerado o fundador de uma das vertentes da antropologia contemporânea - a
chamada Antropologia Hermenêutica ou Interpretativa.
Geertz, graduado em filosofia, inglês, antes de migrar para o
debate antropológico, obteve seu PhD em Antropologia em 1956 e desde então conduziu extensas pesquisas de campo,
nas quais se fundamentam seus livros, escritos essencialmente sob a forma de
ensaio. As suas principais pesquisas foram feitas na Indonésia e em Marrocos. Desiludiu-se com a metodologia antropológica, para Geertz excessivamente abstrata e de certa
forma distanciada da realidade encontrada no campo, o que o levou a elaborar um
método novo de análise das informações obtidas entre as sociedades que
estudava. Seu primeiro estudo tinha por objetivo entender a religião em Java.
Por fim, foi incapaz de se restringir a apenas um
aspecto daquela sociedade, que ele achava não poder ser extirpado e analisado
separadamente do resto, desconsiderando, entre outras coisas, a própria
passagem do tempo. Foi assim que ele chegou ao que depois foi apelidada de
antropologia hermenêutica. Sua tese começa defendendo o estudo de "quem as
pessoas de determinada formação cultural acham que são, o que elas fazem e por
que razões elas creem que fazem o que fazem".
Uma das metáforas preferidas de Geertz, para definir o que fará a Antropologia Interpretativa, é a leitura das sociedades
enquanto textos ou como análogas a textos. A interpretação ocorre em todos os
momentos do estudo, da leitura do "texto", pleno de significado, que
é a sociedade na escrita do texto/ensaio do antropólogo, por sua vez
interpretado por aqueles que não passaram pelas experiências do autor do texto
escrito. Todos os elementos da cultura analisada devem portanto ser entendidos
à luz desta textualidade, imanente à realidade cultural.
Ideias centrais
A Antropologia Interpretativa analisa a cultura como hierarquia
de significados, pretendendo que a etnografia seja uma "descrição
densa", de
interpretação escrita e cuja análise é possível por meio de uma inspiração hermenêutica. É crucial a leitura da leitura que os "nativos" fazem
de sua própria cultura.
Outros movimentos
Outros movimentos significativos, na história do
século XX, para a teoria Antropológica foram as escolas Cognitiva, Simbólica e
Marxista.
Debates pós-modernos
Na década de 1980, o debate teórico na Antropologia
ganhou novas dimensões. Muitas críticas a todas as escolas surgiram,
questionando o método e as concepções antropológicas. No geral, este debate privilegiou
algumas ideias: a primeira delas é que a realidade é sempre interpretada, ou
seja, vista sob uma perspectiva subjetiva do autor, portanto a antropologia
seria uma interpretação de interpretações. Da crítica das retóricas de
autoridade clássicas, fortemente influenciada pelos estudos de Michel Foucault, surgem metaetnografias, ou seja, a análise antropológica da própria produção etnográfica. Contribuiu muito para esta
discussão a formação de antropólogos nos países que então eram analisados
apenas pelos grandes centros antropológicos.
Ideias centrais
- Privilegia a discussão acerca do discurso antropológico, mediado pelos recursos retóricos presentes no modelo das etnografias.
- Politiza a relação observador-observado na pesquisa antropológica, questionando a utilização do "poder" do etnógrafo sobre o "nativo".
- Crítica dos paradigmas teóricos e da "autoridade etnográfica" do antropólogo. A pergunta essencial é:'quem realmente fala em etnografia? O nativo? Ou o nativo visto pelo prisma do etnógrafo?
- A etnografia passa a ser desenvolvida como uma representação polifónica da polissemia cultural, e nela deveriam estar claramente presentes as vozes dos vários informantes.
CONCLUSÃO
Assim
sendo, embora a perspectiva tradicional da ciência antropológica intente
sinalizar para as diferenças, é preciso não menosprezar uma dimensão
fundamental: o movimento histórico que tende a liquidá-las, mesmo que
conjuntural e aparentemente tenhamos uma impressão contrária. Dessa implicação
decorre a responsabilidade de os antropológos serem mediadores na relação
teoria-prática, apontando para formas de organização política que forjem a
construção de uma contra-ideologia homogênea e não de resistências circunstanciais
e localizadas. Decretar o "fim da história", não admitindo que
inclusive as diferenças estão sujeitas à transformação e que, portanto, não
podem ser mantidas, é um dos passos para se produzir um conhecimento míope.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Nunes, Rossano Carvalho (2007) "Anthopology"
Instituto Grupo Veritas de Pesquisa
em História e Antropologia
A antropologia. Disponível
em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0101-32621997000200006&script=sci_arttext.
Acessado aos 10 de Abril de 2015 pelas 09 e 48 min.