Taylor e Fayol
A administração é uma arte e uma
técnica que remonta aos primórdios da civilização e vai crescendo em escopo e
complexidade na medida em que crescem as cidades, se organizam os Governos e
surgem as grandes empresas fabris, a partir da 1ª Revolução Industrial.
Tal como o conhecemos hoje, elevado
ao status de ciência, a Administração é o resultado da contribuição de inúmeros
engenheiros, psicólogos, sociólogos, economistas, matemáticos e estatísticos,
contadores, advogados.
A ciência da Administração e a
Teoria Geral da Administração representam, hoje, as conquistas de uma longa
história, no campo do conhecimento humano que despontou no início do século X,
no quadro da 2ª Revolução Industrial.
A chamada 1ª Revolução Industrial
começa, praticamente, com a mecanização da indústria têxtil, na Inglaterra
(1769) e ganha um extraordinário vigor e extensão a partir da descoberta da
máquina a vapor (1776) que vai produzir um espantoso desenvolvimento nos
transportes terrestres e marítimos, e uma verdadeira “revolução” nas fábricas,
substituindo mão-de-obra por máquinas, mas, ao mesmo tempo, multiplicando o
tamanho e o número das fábricas, assim como a quantidade dos produtos.
Com a 2ª Revolução Industrial,
principalmente com o surgimento da energia elétrica e o uso dos combustíveis de
petróleo, há um novo surto de progresso, acompanhado da expansão do capitalismo
financeiro, que viria permitir a criação e o funcionamento de grandes
organizações empresariais.
Em 1776, o pai da Economia
Clássica, Adam Smith, já havia enfatizado a necessidade de racionalizar a
produção, desenvolvendo os princípios da especialização e as vantagens da
divisão do trabalho, enquanto outro economista, também liberal, James Mill
sugeria uma série de medidas relacionadas com o estudo de tempos e movimentos,
como meio de obter o incremento da produção nas indústrias da época.
No campo específico da
administração das empresas, coube a dois engenheiros o lançamento dos
fundamentos de uma Teoria Geral da Administração, dando origem à chamada Escola
Clássica da Administração.
O primeiro deles foi o
norte-americano Frederick Taylor (1856-11915), com sua obra “Shop Management”
(Gerência de Fábrica), lançada em 1903, que teve uma repercussão enorme nos
meios acadêmicos e empresariais. O segundo - grego de nascimento, porém educado
na França - foi o também conhecido engenheiro Henri Fayol (1841/1925), com seu
trabalho “Administracion Industrielle et Generale”, publicado em 1916, e que,
como o livro de Taylor, ganhou um prestígio extraordinário.
Do ponto de vista didático,
costuma-se dividir a Escola Clássica ou Teoria Clássica da Administração em
dois grupos: o primeiro grupo encabeçado por F. Taylor chamado “Administração
Científica”; e o segundo liderado por H. Fayol, denominado “Teoria Clássica da Administração”.
Assim, a abordagem clássica da
Administração cobre duas áreas distintas: a operacional, de Taylor, com ênfase
nas tarefas; e a administrativa, de Fayol, com ênfase na estrutura
organizacional.
A abordagem típica dessa Escola é a
ênfase nas tarefas e seu nome deriva da aplicação de métodos científicos
(observação, experiência, registro, análise) aos problemas da administração,
com vistas a alcançar maior eficiência industrial, produzir mais, a custos mais
baixos.
O objetivo inicial de F. Taylor
estava voltado para eliminar os desperdícios nas indústrias americanas,
comprovadamente um dos elementos importantes na formação dos preços dos
produtos. Dessa forma, visava-se alcançar maior produtividade e, como menores
custos e melhores margens de lucro, enfrentar a crescente concorrência em todos
os mercados.
Para Taylor, a organização e a
administração das empresas devem ser estudadas e tratadas cientificamente e não
empiricamente. A improvisação deve ceder lugar ao planejamento e o empirismo à
ciência. Assim, a obra de Taylor se reveste de especial importância pela
aplicação de uma metodologia sistemática na análise e na solução dos problemas
da organização, no sentido de baixo para cima.
Taylor foi o primeiro a fazer uma
análise completa do trabalho na fábrica, inclusive dos tempos e movimentos,
estabelecendo padrões de execução. Ele treinou os operários, especializou-os de
acordos com as fases do trabalho, inclusive o pessoal de supervisão e direção;
instalou salas de planejamento e organizou cada unidade, dentro do conjunto.
Taylor teve muitos seguidores de
alto valor, geralmente todos eles engenheiros norte-americanos, entre os quais
se destacam: Carl Barth (1860-1939), Henry Gautt (1861-1919), Harrington
Emerson (1853-1931), Frank Gilberth (1868-1924) e Lilian Gilbreth (1878-1961),
psicóloga.
Em resumo, assim se descreve a
contribuição de cada um desses seguidores:
• Henry Gautt trabalhou como
auxiliar de Taylor até 1902, quando passou a desenvolver estudos individuais
sobre o papel do trabalhador na produção. Enquanto Taylor concentrava-se no
estudo da tarefa em si, Gautt passou a preocupar-se mais com os trabalhadores.
• Frank Gilbreth foi o colaborador
de Taylor que estudou com maior profundidade as técnicas para medir os tempos e
movimentos em que se decompõe cada tarefa.
• Harrington Emerson foi um dos
principais colaboradores de Taylor, tendo procurado simplificar a metodologia
de aplicação da Administração Científica, com o propósito de torná-la acessível
a um número maior de organizações. Algumas de suas propostas o colocam entre os
precursores da Administração por Objetivos, como, por exemplo, a ênfase que dá
ao desenvolvimento de um plano - especificamente voltado para alcançar maior
eficiência.
•Henry Ford foi o fundador da Ford,
empresa que, hoje, se situa entre as maiores do mundo. Ele foi o idealizador da
produção através de linhas de montagem, que permitiu enorme expansão na escala
da produção industrial.
Os princípios básicos por ele
defendidos para alcançar maior eficiência e produtividade foram:
- Intensificação: diminuir o tempo
da fabricação e da comercialização - Economicidade: manter estoques reduzidos
de matérias primas
- Produtividade: aumentar a
capacidade de produção dos trabalhadores, através da especialização e do
trabalho conjugado.
• Lilian Gilbreth, esposa de Frank
Gilbreth, foi a precursora da psicologia aplicada ao trabalho. Defendeu que o
aumento da produtividade depende, fundamentalmente, da atitude dos empregados,
das oportunidades a eles oferecidas e ao ambiente físico do local de trabalho.
Realizou, também, estudos sobre micromovimentos, concluindo que qualquer tarefa
na produção industrial pode ser dividida nos seguintes movimentos básicos: 1)
procurar; 2) escolher; 3) pegar; 4) transportar vazio; 5) transportar cheio; 6)
pré-posicionar; 7) posicionar; 8) unir; 9) separar; 10) utilizar; 1) soltar a
carga; 12) inspecionar; 13) segurar; 14) esperar; 15) repousar e 16) planejar.
Frederick Taylor nasceu de uma
família “quaker”, de princípios rígidos de disciplina, devoção ao trabalho e
poupança. Durante seus estudos, foi muito influenciado pelos problemas sociais
e empresariais decorrentes da Revolução Industrial, na época mais aguda do
então denominado “capitalismo selvagem”. Iniciou sua vida como operário, em
1878, passando a capataz, contramestre, chefe de oficina e engenheiro, em 1885.
Naquela época, o sistema de
pagamento era por peça ou tarefa, o que muitas vezes levava o patrão a forçar
demasiado o ritmo de produção, criando conflitos com os empregados, ou levando
esses a reações que terminavam por afetar negativamente a produção. Isso levou
Taylor a examinar o problema da produção em seus mínimos detalhes. Iniciou suas
observações e estudos pelo trabalho do operário, no “chão da fábrica”, tendo
posteriormente estendido suas conclusões também aos níveis de administração.
Taylor registrou cerca de 50 patentes de invenções sobre máquinas, ferramentas
e processos de trabalho.
Trabalhando junto aos operários, no
nível de execução, Taylor realizou um paciente trabalho da análise das tarefas
de cada operário, decompondo seus movimentos e processos de trabalho,
aperfeiçoando-os e racionalizando-os gradativamente. Chegou à conclusão de que
o operário médio produzia potencialmente muito menos do que era capaz, com o
equipamento disponível. Daí, a idéia mecanicista de fazer com que o trabalhador
se ajustasse à máquina. Observou, igualmente, que o trabalhador mais diligente
perdia o estímulo e o interesse ao receber remuneração igual ao que produzia
menos e concluiu pela necessidade de criar condições para pagar mais ao
operário que produzisse mais.
Em seu livro “Gerência de Fábrica”,
Taylor expõe as seguintes conclusões:
1) O objetivo de uma boa
administração é pagar salários altos e ter baixos custos unitários de produção.
2) A administração deve aplicar métodos científicos de pesquisa e
experimentação, a fim de formular princípios e estabelecer processos
padronizados que permitam o controle das operações fabris. 3) Os empregados
devem ser cientificamente colocados em serviços ou postos em que os materiais e
as condições de trabalho sejam cientificamente selecionados, para que as normas
possam ser cumpridas. 4) Os empregados devem ser cientificamente adestrados
para aperfeiçoar suas aptidões e, portanto, executar um serviço ou tarefa de
modo que a produção normal seja cumprida. 5) Uma atmosfera de cooperação deve
ser cultivada entre a Administração e os trabalhadores, para garantir a
continuidade dessa ambiente psicológico que possibilite a aplicação dos
princípios mencionados.
Posteriormente, em uma fase que se
costuma caracterizar com o 2º período de Taylor, este chegou à conclusão de que
não basta a racionalização do trabalho operário, mas, que necessariamente, essa
racionalização deve abranger toda a empresa, a estruturação geral da empresa.
Assim, em seu livro “Administração
Científica”, Taylor concluiu que a baixa produtividade do trabalho – que
chegava a um terço do que seria normal – decorre não apenas do operário, mas,
também de um sistema defeituoso de administração, aos métodos ineficientes de
organização e falta de uniformidade das técnicas e métodos de trabalho. Nesse
livro, Taylor enumera as bases da administração científica:
1 – o estudo do tempo e padrões de
produção; 2 – a supervisão funcional; 3 – a padronização de ferramentas e
instrumentos; 4 – o planejamento de tarefas e cargos; 5 – o princípio da
exceção; 6 – a utilização de instrumentos para economizar tempo; 7 – fichas de
instrução de serviço; 8 – a idéia de tarefa, associada a prêmios de produção; 9
– um sistema de classificação dos produtos e dos insumos (matéria prima, etc);
10- um sistema de delineamento das rotinas de trabalho.
Ao abordar a questão dos tempos e
movimentos, a idéia de Taylor era a de eliminar os desperdícios do esforço
humano, substituindo movimentos inúteis por outros mais eficazes, treinar os
operários com vistas á maior especialização, de acordo com as tarefas e
estabelecimento de normas de atuação. Paralelamente, procurava melhorar a
eficiência do operário e o rendimento da produção, permitindo maior remuneração
(prêmios) pelo aumento da produção.
Dos seguidores auxiliares de
Taylor, destaca-se Frank Gilberth, na área dos estudos sobre tempos e
movimentos e sobre a fadiga. Outro importante colaborador foi Harrington
Emerson, que não só popularizou a Administração Científica, como desenvolveu os
primeiros trabalhos sobre seleção e treinamento de empregados. É o autor dos
“Doze Princípios da Eficiência”.
Ainda dentro da escola Clássica,
temos Henry Ford que, como Taylor, iniciou sua vida como simples mecânico,
chegando a engenheiro chefe de fábrica. Em 1899, fundou sua primeira fábrica de
automóveis, com sérias dificuldades, mas, em 1913 já fabricava 800 carros por
dia, modelos populares, com planos financiados de vendas e de assistência técnica,
que revolucionaram a estratégia comercial da época.
Ford estabeleceu o salário mínimo
de 5 dólares por dia, para seus empregados e a jornada de 8 horas de trabalho,
quando, na Europa, a jornada ainda variava de 10 a 12 horas.
Através da racionalização da
produção, idealizou a linha de montagem, que permitiu a produção em série e em
massa. Ford adotou três princípios básicos:
- Princípio da intensificação
(diminuir o tempo de produção) - Princípio da economicidade (estoque mínimo e
alta velocidade de vendas)
- Princípio da produtividade
Conforme assinalamos antes, ao lado
da Administração Científica de F. Taylor, desenvolvida nos Estados Unidos,
surgiu na França o outro pilar da Escola Clássica, comandado por Henry Fayol -
também engenheiro -, nascido na Grécia e educado no França, onde trabalhou e
desenvolveu seus estudos.
Enquanto na Administração
Científica a ênfase está colocada na tarefa que realiza cada operário, na
Teoria Clássica de Fayol e seus seguidores a ênfase é posta na estrutura da
organização. No fundo, o objetivo das duas correntes é o mesmo: maior
produtividade do trabalho, maior eficiência do trabalhador e da empresa.
A Teoria Clássica da Administração
partiu de uma abordagem sintética, global e universal da empresa, com uma visão
anatômica e estrutural, enquanto na Administração Científica a abordagem era,
fundamentalmente operacional (homem/máquina).
A experiência administrativa de
Fayol começa como gerente de minas, aos 25 anos e prossegue na Compagnie
Comantry Fourchambault et Decazeville, aos 47 anos, uma empresa em difícil
situação, que ele administra com grande eficiência e, em 1918, entrega ao seu
sucessor em situação de notável estabilidade. Fayol sempre afirmou que seu
êxito se devia não só às suas qualidades pessoais, mas aos métodos que
empregara. Exatamente como Taylor, Fayol procurou demonstrar que, com previsão
científica e métodos adequados de gerência, os resultados desejados podem ser
alcançados.
Sua teoria da Administração está
exposta em seu famoso livro “Administração Industrial e Geral”, publicado em
1916 e, basicamente, está contida na proposição de que toda empresa pode ser
dividida em seis grupos de funções, a saber:
1) Funções técnicas, relacionadas
com a produção de bens e serviços da empresa. 2) Funções comerciais,
relacionadas com a compra e venda. 3) Funções financeiras, relacionadas com a
procura e gerência de capitais. 4) Funções de segurança, relacionadas com a
proteção e preservação dos bens e das pessoas. 5) Funções contábeis,
relacionadas com os inventários, registros, balanços e estatísticas. 6) Funções
administrativas, relacionadas com a integração de cúpula das outras cinco
funções. As funções administrativas coordenam e sincronizam as demais funções
da empresa, pairando sempre acima delas.
Nenhuma das cinco funções
essenciais tem o encargo de formular o programa geral da empresa. Essa
atribuição compete à 6ª função, a função administrativa que constitui,
propriamente, a Administração.
Para deixar claro essa função
coordenadora, Fayol assim define o ato de administrar:
1) Prever: visualizar o futuro e
traçar o programa de ação. 2) Organizar: constituir o duplo organismo da
empresa, material e social. 3) Comandar: dirigir e orientar o pessoal 4)
Coordenar: ligar, unir, harmonizar todos os atos e todos os esforços coletivos.
5) Controlar: verificar que tudo ocorra de acordo com as regras estabelecidas e
as ordens dadas.
Segundo Fayol, a Administração não
se refere apenas ao topo da organização: existe uma proporcionalidade da função
administrativa, que não é privativa da alta cúpula, mas, ao contrário, se
distribui por todos os níveis hierárquicos. Segundo ele, tudo em Administração
é questão de medida, de ponderação e de bom senso. Os princípios que regulam a
empresa devem ser flexíveis e maleáveis, e não rígidos.