CULTURA E ETNIA, HÁBITOS E COSTUME DA PROVÍNCIA DO CUNENE

INTRODUÇÃO

O presente trabalho insere-se na investigação científica sobre a cultura e etnia – hábitos e costume na província do Cunene, da disciplina de Língua Portuguesa, orientado pelo Camarada Professor Faustino Kariqui, no ano lectivo de 2016. Sendo assim é evidente que se saiba que a cultura  é o complexo que inclui o conhecimento, a arte, as crenças, a lei, a moral, os costumes e todos os hábitos e aptidões adquiridos pelo ser humano não somente em família, como também por fazer parte de uma sociedade da qual é membro. O conceito etnia deriva do grego ethnos, cujo significado é povo. A etnia representa a consciência de um grupo de pessoas que se diferencia dos outros. Esta diferenciação ocorre em função de aspectos culturais, históricos, linguísticos, raciais, artísticos e religiosos. Costume são Práticas habituais ou modos de proceder. Hábitos são comportamentos que alguém aprende e repete frequentemente.






CULTURA E ETNIA, HÁBITOS E COSTUME DA PROVÍNCIA DO CUNENE

Cunene é uma província no sul de Angola, com uma área de 87.342 km² e com uma população estimada de 700 mil habitantes. A sua capital é Ondjiva  (antiga Vila Pereira d’Eça), dista a 1424 km de Luanda e a 415 km do Lubango.
A província compreende os municípios de Cahama,  Cuanhama,  Curoca,  Cuvelai,  Namacunde e Ombadja. É nesta província que o Rio Cunene ganha o seu nome.
A população cabindese, na sua grande maioria, é constituída por agro-pastores, ou seja, grupos étnicos que vivem essencialmente do seu gado bovino, mas complementarmente por uma (limitada) agricultura de subsistência. Em virtude da escassez do pasto, as manadas são criadas e mantidas num regime de transumância que implica migrações regulares.
O grosso da população faz parte de diferentes grupos do povo Ovambo, entre os quais os Kwanyama (Cuanhama) se destacam pelo seu peso demográfico. Pequenas minorias da população pertencem a diferentes outras etnias. Os Hinga são considerados como inserindo-se na categoria Nyaneka-Nkhumbi e têm um modo de vida semelhante ao dos Ovambo. Grupos dispersos de Chokwe distinguem-se pelo facto de serem exclusivamente agricultores, e grupos residuais de Khoisan continuam a sobreviver pela caça e recoleção. Com a excepção destes últimos, todas as etnias são bantu.
Ondjiva, a única cidade da província, está a sair lentamente de um longo período de estagnação. A sua actividade concentra-se nos sectores do comércio e dos serviços. Ela é desde os tempos coloniais sede de uma diocese católica. Desde 2009 é também sede de um pólo da Universidade Mandume de Lubango.
Na província existe um parque nacional que, em princípio, seria de interesse turístico, mas que até hoje pouco serve para este objectivo, devido às perturbações pós-coloniais.

Cultura e etnia

A província do Cunene conta com uma população de 965.288 habitantes (dados de 2014), e contrariamente à maioria da população de Angola, os povos desta província não são de origem Bantu.
Existem 4 grupos étnicos:
  • Koysan (nómadas que vivem da recolha de frutos silvestres e da caça)
  • Ovambos (que se subdividem em Kwanyamas, Cuamatos e Muvales)
  • Nyanecas Humbes
  • Hereros (que se subdividem em Mucahones e Mutuas)
Povos do Sul de Angola. Humbe, Cunene. Foto de Cavaleiro Torre.
A língua mais falada no Cunene é o Kwanyama.
A sua população dedica-se sobretudo à agricultura de subsistência, à pesca artesanal e à pecuária.  
Milho, massango, massambala e feijão são os principais cereais.
O ferro e o cobre são os minerais mais abundantes.
A província próspera actualmente graças à sua situação sobre a principal rota comercial entre Namíbia e Angola.

Hábitos e costumes

A cultura dos mushimbas resiste à civilização do penteado de uma trança, chamada "ndombi” para os rapazes, que simboliza o estado solteiro.
Segundo o ritual, o rapaz depois de ter sido circuncidado começa a criar cabelo até fazer trança. Esta trança é desfeita quando estiver prestes a contrair o matrimónio.
Para tal, a tradição atribui uma importância essencial ao costume do penteado, embora haja grande variedade de formas e de estilos, cultivo dos cabelos e dos penteados.
Em geral, seguem os qualificativos de género (cortes e penteados infantis, femininos e masculinos), idade (segundo ritos de passagem da infância, puberdade, vida adulta) e de acordo com determinado papel social, em que desempenha uma função identitária.
Os meninos Chimba ou Muhimba, tradicionalmente aos 9 ou 14 anos, utilizam trança única que, em geral, é desfeita por um especialista assim que atingem 20 e 25 anos, altura em que ela é repartida em duas tranças (semelhante aos chifres dos gados).
O cabelo do adolescente é untado pelo seu pai com manteiga e bosta de boi no ritual de passagem, indicando-lhe em voz alta que agora está apto para “tomar uma mulher”.
Porém, na chegada desse período, seu cabelo é raspado e seis meses depois, aproximadamente, é-lhe feito outro penteado “pequena trunfa”, no qual se aplica uma unção com manteiga e folhas aromáticas. Recebe adornos e colares e fica, por fim, recluso por três dias, para possibilitar a passagem à vida adulta.
Segundo o soba grande da etnia Mushimba no Curoca, Baptista Kamukuva, actualmente existe tendência da aculturação da comunidade, uma vez que hoje se verifica o uso de tecidos por parte de alguns jovens, bem como os doentes já recorrem às unidades hospitalares em construção de betão, ao contrário da anterior prática em que os doentes eram acamados por baixo de árvores e os enfermeiros se dirigiam ao encontro deles para o tratamento.
Por outro lado, disse, os jovens que vão trabalhar nas cidades acabam por “se render” a outros modelos de civilização.

Cerimónia de circuncisão

Outro ritual para o sexo masculino prende-se com a festa da circuncisão, considerada tradição fundamental, pois o respeito social, a consideração a um homem e até o futuro casamento dele dependem. Essencialmente, a circuncisão dos meninos pode ser levada a cabo a partir dos sete meses de idade até cerca de 12anos, mas nunca depois dos 18, pois aquele que não se submeter à prática é considerado marginal.
As características principais da cerimónia de circuncisão dos Muhimba decorrem ainda hoje numa festa de final de ano. Colocam-se sobre pedras chamadas Coluo, nas quais se faz reverência aos antepassados. Diz-se na ocasião que a circuncisão será feita fora da aldeia (é um tabu fazê-la nas cercarias de dentro).
A criança é então levada para fora e faz-se um pequeno corte ao redor da pele que cobre a glande do pênis (o prepúcio), deixando-a descoberta.

Casamento

A relação matrimonial da tribo Mushimba é do estilo polígamo, podendo ter três ou mais esposas, dependendo da situação financeira do esposo, na qual quem negocia a primeira noiva é o pai do rapaz, que pode muito bem ser uma criança de 5 anos, e a medida que a menina vai crescendo é sensibilizada de que já está comprometida até o dia em que assume o papel de esposa. Já na segunda ou terceira mulher, quem deve negociar a escolha é a primeira esposa.
O filho não deve negar a oferta do pai, pois segundo os hábitos e costumes o noivo nunca mais poderá vir a se casar.
Outro mito tem a ver com o tratamento entre esposo (a) ou filhos, pois pelos costumes não se pode chamar o nome do primeiro filho, bem como a mulher também não pode tratar o marido pelo seu nome, mas são chamados apenas pelos adjectivos (o pai chama filho e a mulher chama marido) e se chamar pelo nome tem um significado ofensivo.
Quanto à fidelidade conjugal, os mushimbas preservam ainda a cultura antiga, na qual quando um amigo visita outro o dono da casa cede uma das suas esposas ao visitante para lhe fazer companhia durante a noite; um gesto que se espera ser retribuído.
Os costumes indicam que os homens das etnias mushimbas não devem entrar em sua própria casa depois das 19 horas. O homem é obrigado a passar a noite na casa de um amigo ou familiar e na manhã do dia seguinte quando for para casa tem de anunciar a chegada para dar espaço de manobra ao amante.

Ritos de óbito

Falando do ritual de morte, a tradição dos mushimbas indica que quando morre o chefe de família tem que se matar vinte ou mais cabeças de gado bovino, dependendo da situação económica, cuja carne não é consumida, mas sim levada até ao cemitério e posta ao ar livre, enquanto os chifres são colocados em volta de um tronco de árvore, símbolo de alguém que foi rico e possuidor de gado. Esta carne é posteriormente furtada pelos povos Vátuas (considerada a tribo dos pobres e que não pode ser sepultado neste cemitério).
Em caso da morte de um filho do sexo masculino procede-se da mesma forma, só que a transladação do corpo é feita pelos tios mais velhos, que invocam aos antecessores ao entrar no cemitério, com uma palavra-chave: “Ontueya”, que significa “chegamos e estamos a trazer o filho de alguém que morreu”.
Depois, são retiradas folhas de uma árvore (omufiaity), como sinal de permissão para entrar no local para realização do funeral, um acto que se for violado origina inflamação dos membros inferiores das pessoas.
Já na morte de uma mulher não se deve proceder o ritual da matança de gado, mesmo que ela possua gado. O boi não é considerado dela, mas sim da família.



CONCLUSÃO

Depois da pesquisa feita chegou-se a conclusão de que a província do cunene preserva os seus hábitos e costumes de acordo as suas etnias e culturas. O tipo humano dos mushimbas revela traços que provam a sua interligação com os povos Cushiticos, através de algumas notórias características, nomeadamente a coloração da pele, influência linguística, traços faciais finos, hábitos de vida e de comportamento, e grande semelhança de costumes e tradições.




BIBLIOGRAFIA






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