CURRÍCULO (ÉTICA, DIVERSIDADE DE GÉNERO, CULTURA)
RESUMO
Esta pesquisa aborda sobre o
currículo na ética, diversidade de género e cultura através de conteúdos que
despertem a prática reflexiva para a construção social e moral, juntamente com
os demais conteúdos didácticos leccionados no âmbito escolar. Diante das
dificuldades que professores encontram em todos os níveis escolares, de
ensinarem valores éticos, moral, diversidade de género e cultura, isto devido à
crescente desestruturação social e moral da actualidade, surgiu a necessidade
de realizar esta pesquisa, objectivando apresentar a importância destes ensino
na sala de aula como um conteúdo capaz de auxiliar além do aprendizado
intelectual, também na formação moral e valores dos alunos, e assim procurar-se
novos caminhos e estratégias que possam atender as necessidades dos educadores
frente a este desafio. O desenvolver deste trabalho é com base nas teorias e
opiniões de autores da área educacional, para solidificar assim, os pensamentos
sobre esta temática exposta.
Palavras-chave: Valores Éticos, Moral, Transversalidade, Ensino e
Aprendizagem.
INTRODUÇÃO
A visão de conjunto dos
componentes curriculares do ensino obrigatório parte do âmbito legal, passando
pelas finalidades do sistema educacional, definidas com o objectivo de definir
as unidades de tempo do currículo (ciclos) e as áreas nas quais esse currículo
está organizado. A escola moderna está muito acostumada com a ideia de que deve
se ocupar da transmissão/ assimilação/ construção do conhecimento. Isso é
verdade, na medida em que a especificidade da escola é o trato com o
conhecimento escolar. No entanto, o conhecimento é apenas uma das facetas da
cultura construída e reconstruída no ambiente escolar.
Ainda que a ênfase dos
currículos escolares tenda a recair constantemente sobre os conteúdos
escolares, esses conteúdos fazem parte de um padrão cultural influenciado pelo
currículo oculto. A escolha de um determinado padrão cultural na selecção de
conteúdos para um dado currículo expressa uma valorização desse padrão em detrimento
de outros.
Todo currículo é um processo
de selecção, de decisões acerca do que será e do que não será legitimado pela
escola. A existência um conjunto de culturas negadas pelo currículo cria nos
alunos pertencentes a essas culturas um sentimento de alijamento do que é
socialmente aceito.
CURRÍCULO (ÉTICA, DIVERSIDADE DE GÉNERO, CULTURA)
Conceitos sobre o currículo
Na Educação, o currículo não se esgota em si mesmo,
deixando antever um fenómeno inacabado e sempre dinâmico. É no sentido da
análise, da relevância do seu âmbito, que a seguir se desenvolvem algumas
perspectivas.
As primeiras definições de currículo apontam para um
conceito que corresponde “a um plano de estudos, ou a um programa, muito
estruturado e organizado na base de objectivos, conteúdos e actividades e de
acordo com a natureza das disciplinas”, o que demonstra uma noção restrita de
currículo, mas ainda recorrente nas concepções de muitos docentes.
A palavra currículo, de origem latina, regressou à nossa
linguística por mediação anglo-saxónica, vem do latim curriculum, significa
«pista de corrida». Podemos dizer que no curso dessa «corrida», o currículo,
acabamos por nos tornar quem somos.
Nas discussões quotidianas, quando pensamos em currículo,
pensamos apenas em conhecimento esquecendo-nos que o conhecimento que constitui
o currículo está inextricável central e vitalmente envolvido naquilo que somos,
naquilo que nos tornamos: na nossa identidade e na nossa subjectividade.
O currículo e as várias acepções que comporta abriram
novo espaço de debate, proporcionando aos professores e investigadores de
educação uma nova tomada de consciência, de complexidade e de multiplicidade
das situações.
Características do Currículo
Na verdade, o currículo não pode entender-se como algo
predeterminado, isto é, como um “produto” a ser disponibilizado segundo regras
e normas específicas. Uma vez que se trata de um processo que resulta das
múltiplas relações que se estabelecem entre diferentes actores, em contextos
diversos, é um processo complexo, não sendo por isso possível predeterminá-lo à
partida. Daí a importância que o conceito de currículo como projecto tem vindo
a assumir nos tempos mais recentes. É neste sentido que afirma-se que o
currículo:
Um projecto, cujo processo de construção e desenvolvimento
é interactivo, que implica unidade, continuidade e interdependência entre o que
se decide a nível do plano normativo, ou oficial, e ao nível do plano real, ou
do processo de ensino-aprendizagem. Mais ainda, o currículo é uma prática
pedagógica que resulta na interacção e confluência de várias estruturas
(políticas, administrativas, económicas, culturais, sociais, escolares) na base
das quais existem interesses concretos e responsabilidades partilhadas.
Também, Beane (1998)
identifica no fenómeno curricular algumas características, sendo
elas:
(1) centradas em contexto com significado para a
informação e para as destrezas dos alunos;
(2) tomadas de decisão a nível político no âmbito
curricular;
(3) confronto de uma variedade de perspectivas sobre temas
e objectivos que reconheçam a diversidade e a ambiguidade.
Teoria Curricular
Uma teoria é fundamentada em decisões baseadas em
pressupostos epistemológicos encerrando em si ambiguidades e conotações. A
função da teoria curricular é descrever, explicar e compreender os fenómenos
curriculares para a orientação das actividades resultantes da prática e sua
melhoria. A teoria curricular, tal como qualquer teoria, tem origem no
pensamento, na curiosidade, na actividade e nos problemas humanos.
Ao percorrer as diferentes e diversas teorias do
currículo, o essencial é perceber que a questão que serve de pano de fundo a
qualquer teoria do currículo é a de saber que conhecimento deve ser ensinado
qual o conhecimento ou saber que é considerado importante, válido ou essencial
para merecer ser considerado parte do currículo.
A teoria técnica é, ainda hoje, a teoria que tem maior
influência e tradição nos estudos curriculares. Os modelos tradicionais do
currículo restringem-se à actividade técnica de como fazer o currículo, isto é,
a desenvolver técnicas estabelecendo-se na relação teórica/prática uma
hierarquia.
Face a este processo organizativo, estamos perante uma
lógica burocrática do desenvolvimento curricular com predomínio na mentalidade
técnica ligada a especialistas curriculares que salvaguardam a legitimidade
normativa da construção do currículo.
A esta teoria estão associadas três concepções de
currículo propostas por Gimeno que Pacheco (2001) descreve: uma como súmula das
exigências académicas, outra como base de experiências e a última como
tecnologia e eficiência.
A visão global da teoria prática centra os problemas
curriculares no âmbito de uma solução prática dado que o currículo é um
conjunto de factos que buscam aplicação num método deliberativo.
Para Zabalza (2000), o desenvolvimento da ideia
curricular apresenta princípios básicos, designadamente:
(1) Principio da realidade – dar lugar à programação
curricular feita na escola de acordo com a realidade da mesma;
(2) Princípio da racionalidade – o currículo desenvolvido
de forma empenhada por parte do docente de forma a promover experiências
significativas por parte do aluno;
(3) Princípio da sociabilidade – o currículo
fundamenta-se na medição da diversidade privilegiando a integração social dos
alunos;
(4) Princípio da publicidade – o currículo torna as
intenções, as acções convertendo a educação em algo público, comunicável e
controlável;
(5) Princípio da intencionalidade – para que o currículo
seja desejado analisando-se dados e adoptam-se decisões no sentido de
corresponder às propostas anunciadas;
(6) Princípio da organização ou sistematicidade – baseado
na congruência entre componentes do currículo de modo a que este funcione como
um todo integrado;
(7) Princípio da selectividade – o currículo é um
processo de selecção que deve corresponder a critérios de valor, oportunidade,
congruência e funcionalidade situacional;
(8) Princípio da decisionalidade.
Na temática curricular centram-se questões diversas e com
frequência participam nela pessoas com características profissionais também
diferentes (Zabalza, 2000). Como tal, esta temática é diferenciada, pelo autor,
em pelo menos cinco níveis:
1º nível – a cultura vigente. Centra-se no debate da
relação escola/cultura. De acordo com a selecção dos conteúdos formativos que
são úteis na actualidade assim o currículo os deve incluir. Contudo, o problema
reside no equilíbrio do peso da cultura escolar, como algo imposto de fora, e o
peso das necessidades internas individuais de cada indivíduo;
2º nível – preparação da cultura para ser ensinada. A
cultura na escola tem um sentido diferente da cultura considerada em abstracto;
3º nível – técnicas de desenho instrutivo das propostas
curriculares anteriores;
4º nível – melhoria e fundamentação das práticas
formativas. O desenho curricular levado a cabo forma parte substantiva do
currículo como acção:
5º nível – componente axiológica do currículo. Este nível
é caracterizado pela transversalidade dado que quando se fala de currículo
escolar não se exige conhecimentos técnicos para desenhar os processos e
capacidade política para os implementar:
A ideia fundamental dos valores é a de assumirem cada vez
mais uma importância fulcral na educação. O currículo escolar transcende o
mundo dos conhecimentos a transmitir, as destrezas a desenvolver e os modos de
conduta a reforçar. O conteúdo dos valores só pode ser parcialmente transmitido
de forma explícita.
A ética
Priorizar e intensificar o ensino da Ética como um tema
transversal na sala de aula, melhor dizendo, no sistema de ensino esclarece a
importância da ética e da moral dentro das actividades de ensino, que se
buscará estudar melhores métodos e orientações para a efectivação deste
trabalho. a ética é um conteúdo capaz de
auxiliar na formação do indivíduo como ser social, para isto será necessário
como atitude inicial, rever os actuais currículos escolares que regem nossa
educação, e buscar de forma mais relevante abrir espaço para que o ensino de
valores e moral, através do ensino transversal da ética, possa aparecer com
mais intensidade, saindo do diálogo, do abstracto para a prática de ensino e
aprendizagem.
Neste aspecto é notório que o sistema educacional
angolano entende que ensinar ética e seus conceitos de valores, moral,
civilidade, carácter, entre outros, podem, somados aos demais conteúdos didácticos
escolares, produzir efeitos positivamente para a Educação do povo, e de
qualquer outra nação, no sentido da formação intelectual, social e moral do
indivíduo.
Este é, portanto um desafio para as escolas actuais,
assim como para educadores e gestores que estão à frente do processo de ensino
e aprendizagem, sendo assim inserir o ensino da ética no currículo escolar é
confrontar directamente com os princípios e regras que regulam os diversos
comportamentos dos indivíduos, sabendo-se que estes comportamentos são reflexos
do meio social e resultado das relações interpessoais, cada ser humano
posiciona-se diante de um conjunto de valores que não foram criados por ele
isoladamente, mas no contexto das relações com outros seres humanos.
Trazer ética para o espaço escolar significa enfrentar o
desafio de instalar, no processo de ensino e aprendizagem que se realiza em
cada uma das áreas de conhecimentos, uma constante atitude crítica, de
reconhecimento dos limites e possibilidades do sujeito e das circunstâncias, de
problematizarão das acções e dos valores e regras que os norteiam.
Contudo, mesmo com a existência destes desafios, não se
deve permitir que a falta de estímulo ou o medo de enfrentar algo novo,
torne-se um empecilho para que este ensino aconteça na sala de aula de forma
real e eficaz, tornando-se algo concreto na vida dos aprendizes. O ensino da
ética e sua grande contribuição para a escola, como formadora de indivíduos
demonstra a importância desta disciplina como uma actividade indispensável e
justificável.
Diversidade de género
Ao pensarmos no
conceito de género cabe esclarecer duas características principais:
1) O género só
tem sentido se pensado em termos relacionais, ou seja, só é possível conceber o
feminino em relação ao masculino, e vice-versa;
2) A construção
do género é cultural, só tendo sentido quando relacionada ao contexto
sócio-cultural no qual se manifesta.
É necessário
esclarecer que a família e a escola têm um papel fundamental na luta contra o
preconceito e a reprodução de desigualdades na sociedade. Precisamos ter um
olhar atento para as questões da diversidade sexual e das construções de género
para que possamos interferir nos processos de preconceito e de discriminação.
Entender que existem corpos marcados por diferenças biológicas, mas que também,
são marcados pela socialização. Desde que nascemos somos ensinados a ser
meninos ou meninas, conforme a decoração do quarto, as cores das roupas, os
brinquedos e as brincadeiras.
Tudo isso
constitui modos de pensar e de agir correspondente a cada género. É importante
que os professores e professoras estimulem outras formas de constituição de
identidade nas crianças e adolescentes e não só, que não venha somente ao
encontro do que é esperado em termos de papéis de género. Podemos estimular nos
meninos que sejam carinhosos, gentis, curtam balé e dança. As meninas, podem
ser motivadas a gostar de carros e de futebol, sem que isso interfira na sua
vivência da sexualidade, por exemplo. Se quisermos educar para um mundo mais
justo, é preciso que atentemos para não educar meninos e meninas de uma forma
radicalmente distinta. Quando as crianças adentram as escolas, elas já passaram
por uma socialização inicial da construção dos géneros na família.
Entretanto, a
escola deve estar atenta para não permitir a reprodução do preconceito contra
as mulheres e contra todos aqueles que fogem a masculinidade hegemónica. Se o género
é construído por relações sociais, pela família, pela escola, pelos processos
de socialização e pela média, podemos partir do pressuposto de que ele também
pode ser reconstruído, desconstruído, questionado, modificado em busca de uma
igualdade social entre homens e mulheres, do ponto de vista do acesso à
direitos sociais, políticos e civis. Qual é a responsabilidade da escola nesse
caso? Como educar meninos e meninas para a equidade de género? Na constituição
deste texto mostra-se que o género tem uma história voltada para processos de socialização e aprendizado.
A cultura
A inclusão da temática parte do princípio de que não é
possível fazer com que membros de uma minoria cultural sejam incluídos nos
conteúdos e práticas dos currículos escolares se a cultura escolar, de forma
geral, não tratar através de uma discussão profunda o currículo multicultural
incluindo nele a questão da diversidade. Para tanto, é necessário colocar em
prática uma cultura escolar diferente do modelo dominante, com engajamento de
professores, pais, alunos, administradores e demais agentes que confeccionam os
materiais escolares.
É necessário compreender que a cultura escolar deve ter
um sentido a mais do que ser simplesmente uma
discussão de conteúdos na elaboração do currículo escolar. O currículo real
trata de todas as práticas quotidianas vivenciadas em sala de aula e se torna
claro através daquilo que os alunos aprendem ou deixam de aprender, enquanto
que o currículo documentado serve apenas para se reflectir os objectivos e
planos que se possam formular para determinado período.
Materiais pedagógicos
utilizados por professores e alunos são os artistas que apresentam a maneira
como determinada cultura se apresenta aos mesmos. Neste contexto, é importante
ficar atento à maneira como os conteúdos, os exemplos e as ilustrações são
apresentados, pois se corre o risco de serem demasiadamente etnocêntricos e
desvalorizadores de experiências culturais de outros grupos.
A cultura transmitida pela
escola cai em mentes que já possuem outros significados prévios. A escola deve
trabalhar, portanto, ressaltando a força de um currículo extra-escolar, que
servirá para que os educadores exerçam o papel de mediadores fazendo com que a
perspectiva multicultural seja retratada a partir de coordenadas mais amplas do
que as do currículo escolar.
Existe, no entanto, um
empecilho a ser enfrentado ao se aplicar no currículo a questão da diversidade
cultural: fazer com que não se torne uma ameaça à preservação da própria
identidade seja da cultura dominante ou das minorias segregadas. Logo, a junção
de diversas culturas deve levar em consideração as condições sociais e
económicas concretas de cada sociedade.
Coloca-se como
estratégia, quatro pontos fundamentais para obtenção de sucesso na elaboração
de um currículo que contemple a diversidade cultural: 1) formação de
professores; 2) planeamento de currículos; 3) desenvolvimento de materiais
apropriados e, 4) a análise e revisão crítica das práticas vigentes.
CONCLUSÃO
Os modelos curriculares
técnicos sempre buscaram definir parâmetros científicos através dos quais se
deveria realizar a selecção e a organização dos conteúdos e dos procedimentos
escolares. Embora alguns parâmetros científicos existam, eles não são neutros e
desinteressados. Ao contrário, embutem em si uma compreensão política do mundo
e são, também eles, negociados pelas comunidades que os definem. Assim, os
professores partilham crenças e atitudes que direccionam a selecção dos
conteúdos e dos procedimentos escolares. Tais crenças e atitudes originam-se no
processo histórico do qual participam esses atores. Em síntese, ao propor
determinada organização curricular, a sociedade está realizando uma selecção
histórica, problemática que reflecte, em alguma medida, a distribuição de poder
que se dá em seu interior.
BIBLIOGRAFIA
APPLE, Michael. Ideologia
e Currículo. São Paulo: Brasiliense, 1982.
BEANE, James. A. Integração
Curricular: a concepção do núcleo
da educação democrática. Lisboa: Didática Editora, 1997.
SILVA, Carlos Manuel Ribeiro
da: Desenvolvimento
Curricular
e Construção do Conhecimento Profissional. Vol. II, Brasil 2011.
ZABALZA, Miguel. Como
educar em valores na escola. Revista Pátio Pedagógica. Ano 4, nº 13,
mai/jul. 2000.
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