o curdistão
1. INTRODUÇÃO
No período da pré-história os
curdos se localizavam entre o planalto do Irã e o Rio Eufrates. Atualmente
cerca de 30 milhões de curdos vivem numa região montanhosa que compreende parte
dos territórios da Turquia, Síria, Irã, Iraque e Armênia. Esse grupo apresenta
diferentes religiões e línguas e representa o quarto maior grupo presente no
Oriente Médio. Os curdos se organizam num sistema de tribos que muitas vezes
lutam entre si e não se unem por uma causa comum.
No início do século XX, os curdos
começaram a considerar a criação de um Estado próprio. O Tratado de Sévres, de
1920, entre os países vencedores da Primeira Guerra Mundial, considerou essa
possibilidade. Porém, com a fundação da Turquia em 1923, a situação dos curdos
passou a ser negligenciada.
1.1. A
NAÇÃO SEM ESTADO
Com mais de 26 milhões de pessoas,
os curdos formam a maior nação do mundo sem Estado. Esse povo está distribuído
nos territórios da Armênia, Azerbaijão, Irã, Iraque, Síria e Turquia. Nesse
sentido, esse grupo étnico reivindica a criação de um Estado próprio,
denominado Curdistão. A organização social desse povo baseia-se na formação de
clãs, sendo que, em várias regiões, o idioma utilizado é o curdo. A maioria é
mulçumana sunita, cuja principal actividade econômica é o pastoreio e a
produção de tapetes artesanais.
O movimento separatista curdo é
reprimido com bastante violência, sobretudo no Iraque e na Turquia. Durante a
década de 1970, o então presidente do Iraque, Saddan Hussein, iniciou uma
campanha de perseguição ao povo curdo. Esse período foi marcado pela destruição
de cidades e vilas, além de assassinatos com a utilização de armas químicas.
Estima-se que 3 mil curdos foram mortos no Iraque por envenenamento por tálio
(metal pesado utilizado para matar ratos). Saddan Hussein, em 1988, ordenou um
ataque com armas químicas na cidade curda de Halabja. Nessa ocasião, foi
utilizado gás sarin (afeta o sistema nervoso) e gás mostarda (desencadeia
lesões na pele), provocando a morte de mais de 5 mil curdos.
Na Turquia, que abriga mais de 14
milhões de curdos, é proibido o estudo da língua curda nas instituições de
ensino. As perseguições se intensificaram a partir do século XX, pois o
principal grupo separatista, o Partido dos Trabalhadores do Curdistão, passou a
reagir às repressões do governo turco, dando início a uma luta armada. Esse
conflito resultou na morte de mais de 40 mil pessoas, sendo a maioria da etnia
curda. Mesmo com “pressões” da comunidade internacional, persistem os ataques
ao povo curdo em vários países. Portanto, torna-se difícil uma solução eficaz
para os curdos, visto que nenhuma nação quer ceder parte do território para a
formação do Curdistão.[2]
Aparentemente, os curdos estão longe de
constituir o seu próprio Estado. Primeiramente, a atuação do grupo PKK,
considerado terrorista por muitos países, dificulta o reconhecimento da luta
desse povo no contexto internacional. Em segundo lugar, cabe destacar que o
território reivindicado, além de fazer parte de seis Estados, contém uma série
de recursos naturais e nascentes de águas, isso em uma região onde esse recurso
é extremamente escasso, o que faz com que os Estados apresentem uma forte
resistência. Por fim, a falta de influência política dos curdos e o
desinteresse das potências ocidentais colocam a luta curda em um plano
secundário na Geopolítica do Médio Oriente.
2.1. GEOGRAFIA FÍSICA
O território a que se pode chamar
curdistão, isto é, terra de povo curdo, situa-se bem no centro do Médio
Oriente, na confluência de zonas tão sensiveis como são a Ásia Menor turca, o
Cáucaso, a fechada leste do Méditerraneo e o Golfo persico. Porém, mais do que
de um curdistão que não existe politicamente dada a inexistência de um estado
curdo, deve falar-se de varios curdistões que são os territórios de vários
Estados da região que historicamente são berço das comunidades curdas e onde
estas são maioritárias na Turquia, Irão, Iraque, Síria e com menor significado
na Arménia.
Estamos perante uma área extensa,
cerca de 500.000 km2 de terras interiores, o que se traduz numa das suas
principais caracteristicas e porventura, maior fragilidade. Implantada num
conjunto geografico com profusão de mares interiores, o curistão não tem acesso
a nenhum deles. Como região interior é uma área onde se cruzam passagem
terrestres obrigatórias, entre o Golfo persíco e o Méditerraneo, a Ásia Menor e
o Cáucaso e isto constituí um dos seus maiores trunfos.
Zona planaltica, com áreas de
dificil acesso entre as montanhas do Taurus turco e do Zagros iraniano, desce
para sul para as planícies do Tigre e Eufrates na Mesopôtamia iraquiana. Desta
variedade morfologica resulta uma grande amplitude termica que chega a variar
entre os 40º positivos e 40º negativos. É na zona do curdistão ti«urco que se
encontram as nascentes dos rios Tigre e Eufrates, as grandes e quase exclusívas
fontes aquíferas da região e cujos cursos superiores se extendem pelo curdistão
sírio e iraquiano, o que confere a toda região curda um enorme valor
geoestratégico.[3]
2. GEOGRAFIA HUMANA
De
origem indo-europeia o povo curdo não é nem turco, nem árabe, nem persa, se bem
que seja com este último que tem maiores afinidades por ser, presumivelmente,
descendente dos medos. Está fixado na sua região há cerca de cinco mil anos
tendo desenvolvido a sua cultura própria, com língua e costumes diferenciados
dos seus vizinhos. Constituindo essa identidade cultural uma das fontes do seu
nacionalismo tem sido objecto de forte repressão, marcadamente na Turquia, onde
a sua língua está proibida e o próprio termo curdistão banido, bem como
qualquer manifestação de identidade nacional.
Esta
repressão a que os curdos têm estado sujeitos tem forçado a sua dispersão,
havendo hoje vastas regiões da Anatólia, o Curdistão turco, quase
desertificadas e fortes comunidades curdas dispersas por outras zonas do Médio
Oriente e mesmo em diáspora no centro da Europa.
Esta
instabilidade reflecte-se negativamente na escolaridade. Associada á proibição
da língua curda nas escolas do Curdistão turco, os curdos evitam a matrícula
das suas crianças nas escolas oficiais o que está na origem de uma forte taxa
de analfabetismo estimada em erca de 50%. Esta política de desidentificação
cultura forçada rem motivado uma resposta dos curdos nomeadamente através de
uma campanha informativa com sede na diáspora europeia, que tem tido sucesso e
na qual os turcos têm perdido terreno.[4]
2.3. GEOGRAFIA POLÍTICA
O curdistão não existe enquanto
Estado próprio. Porém, os curdos encontram-se divididos por cinco Estados
nomeadamente: A Turquia, Irão, Iraque, Síria e Arménia, neste apenas um franja
com pequeno significado. As comunidades curdas nos vários Estados têm
importância nos respectivos contextos políticos.
Acresce que onde há comunidade
curda existem problemas internos e perssistem situações conflictuas entre os
vários Estados, apresentando-se a questão curda como um factor importante e
contraditório dessa conflitualidade inter-estatal. Por um lado, tosdos os
Estados utilizam a questão curda nos vizinhos como forma de pressão. Apoiando-a
na cas alheia, mas repreemindo-a em casa própria. Por outro lado, unem-se ou,
pelo menos, concordam quando se trata de recusar a hipótese de reconhecimento
de uma entidade política curda denr«tro das próprias fronteiras, e por maioria
de rezão, transfronteiriça.
A inexistência de um Estado do
curdistão é, em parte uma traição do ocidente, nas vésperas do desmembramento
do império turco-otomano e os curdos sentem isso. Foi a única entidade nacional
que não viu satisfeita a sua reivindicação do direito a constitituir um Estado
dentro de fronteiras definidas, enquanto outros Estados foram artificialmento
constituídos porque tal interessava as potências europeias que ficaram
mandatadas pela SDN para administrar os novos países. Eric Hobsbawm refere «
(...) a região de fornteiras contra a Túrquia. “Irão, Iraque e Síria, onde os
curdos tentaram em vão conquistar a independência que o presidente Wilson
incautamente os exortara a exigir em 1918» (p, 354).
O trado de Sévres de 1920 que
definiu o novo mapa do médio oriente previa um Estado independente do
curdistão, mas quando em 1923 o RU e a França negociaram em Lausane com a nova
Túrquia de Ataturk, este conseguiu inviabilizar esse projecto.
Em 1944
verificava-se, no curdistão persa, a primeira tentaviva para a constituíção de
uma entidade curda com a declação da república curda do Mahabad, nome de uma
importante cidade no norte, desta região. Era um projecto que tinha o apoio da
URSS mas que só duraria até 1945, pós a monarquia persa pôs-lhe rapidamente
termo. Foi no curdistão iraquiano que a autonomia curda consegui maior sucesso
o que é encarado com alguma desconfiança pelos Estados vizinhos.
O Irão, por exemplo, receia uma
tentativa de reedição da republica curda do Mahabad que deve ser rejeitada. A
experiência autonômica do curdistão iraquiano vem desde 1974 mas conseguiu maior
implantação desde 1991 depois da primeira guerra do Golfo, quando o Iraque viu
a sua capacidade de intervanção regional condicionada com a formação das ZEA.
Esta autonomia permitiu um relativo desenvolvimento político em relação aos das
outras parcelas curdas. Com a gurra em curso no Iraque em 2003 a administração
norte-americana procura atrair os curdos a uma maior participação na política
iraquiana atenuando as aspirações separatistas.
No Irão, desde a revolução islâmica
também têm sido reconhecidos alguns direitos da comunidade curda cuja
identidade cultural é promovida mas sem que chegue a qualquer modadlidade de
audonomia política.
Os próprios curdos têm contribuído
para a inviabilização da unificação, uma vez que não têm dado passos concretos
para uma unidade política. Não há um partido político transversal unindo a
naçõa curda, e pelo contrário, têm formado partidos dentro de vários Estados
por onde estão dispersos, formalizando o reconhecimento da sua divisão. E tal
tem costituído um importante factor de fragilização de um projecto político
unificado porque os próprios partidos se têm deixado instrumentalizar em lutas
internas e inter-estatais.[5]
3.
CARACTERIZAÇÃO POLEMOLÓGICA
As revoltas nacionalistas curdas
datam praticamente desde o Acordo de Lausane em 1923, mas travaram-se sempre dentro das fronteiras dos
Estados, sem um movimento unificador da luta comum e, muitas vezes, até opondo
entre si os vários partidos curdos. Isto tem constituído uma das suas maiores
fragilidades e dela os respectivos Estados têm sabido tirar o conveniente
proveito
A Turquia, onde existe a mais forte
e organizada comunidade curda, desde 1921 que se confronta com a sua luta
nacionalista contra a qual conduz uma sistemática política de repressão,
policial e militar. O governo recorreu frequentemente a uma estratégia de terra
queimada forçando as polpulações à fuga e concentrando-se em aldeias
estratégicas, controladas por milícias curdas fiéis a Ancara, forma clássica de
retirar apoio às guerrilhas e evitar contágio que a dispersão dos curdos
facilitaria. É a chamada estratégia da detenção vigiada.
Os militares turcos, a instituição mais
intransigente contra a autonomia curda, desempenham um papel determinante em
todas as decisões políticas na Anatólia. O PKK intensificou a luta armada em
1984 combinando acções de guerrilhas e sabotagem- o partido chama-se a si
próprio guerrilho-, pretendendo-se líder de um amplo movimento curdo na luta
por um grande Curdistão independente, papel que nunca lhe foi reconhecido. Foi
apoiado inicialmente pela Síria, URSS e Grécia, mas hostilizado pela
generalidade dos parceiros da Turquia na OTAN, nomeadamente os EUA que o
apodavam de terrorista.
O PKK mantém boas relações com a
OLP o que contribui para a aproximação
entre a Turquia e Israel. Os primeiros guerrilheros do PKK terão sido
treinados pela OLp nos campos de Líbano. O PKK procura alargar a sua área de
influência e de intervenção a toda a Anatólia, até à fronteira norte coma
Arménia, onde se encontram as minorias curdas neste país do Cáucaso.
A partir de 1993 o líder do PKK
Oçalan começou a moderar as suas reivindicações, afirmando-se disposto a depor
as armas se a Trquia reconhecesse a existência de uma questão curda e estivesse
disposta a abrir-se ao diálogo. Mas a Turquia não fez qualquer cedência e
continuou com acções militares de grande envergadura no Curdistão iraquiano
para onde o PKK transferira grande parte das suas bases, beneficiando da ZEA
imposta ao Iraque depois da Primeira Guerra do Golfo. O Pkk contava aí com o
apoio do UPK mas com a hostilidade do PDK, sempre pronto a apoiar a Turquia e
que controla a região fronteiriça. Por tudo isso a posição do PKK era
nitidamente desfavorável.[6]
3.1.
DESAFIOS E PERSPECTIVAS
Quanto a situação actual e sugestão
para uma solução, é evidente que as relações entre curdos e turcos na Turquia
exerce um papel decisivo na busca por uma solução à questão curda. Neste
aspecto, as comunidades curdas no Iraque, Irã e Síria não poderiam senão apoiar
alguma possível solução, sem maior potencial de participação. Os curdos do
Iraque ilustram bem esta última afirmação.
A autonomia de um quasi-estado curdo
é um resultado indireto de esforços internacionais entre a Turquia, os Estados
Unidos e seus aliados em sua tentativa de denunciar o PKK como uma organização
terrorista. Sem o consentimento de Ankara, esta “solução” nunca teria sido
possível. O caos causado por esta solução é evidente, assim como seus
resultados são inimagináveis. Tampouco está clara a direcção que pretende tomar
a autoridade nacional feudal-liberal de curdos no Iraque, assim como as
possíveis consequências de sua existência na actual situação no Irã, na Síria e
na Turquia. O perigo de uma intensificação regional do conflito, similar ao
ocorrido no conflito Israel-Palestina é real. Uma inflamação de nacionalismo
curdo poderia radicalizar ainda mais nacionalistas persas, árabes e turcos,
dificultando todavia mais a procura por uma solução.
Este panorama deve ser confrontado
por meio de uma solução isenta de aspirações nacionalistas e que reconheça as
fronteiras nacionais existentes. No entanto, o status do povo curdo deve ser
contemplado nas respectivas constituições, garantindo assim seus direitos
culturais, lingüísticos e políticos. Um modelo assim estaria amplamente de acordo
com as realidades históricas e sociais da região.
Desta maneira, fazer a paz com o
povo curdo parece inevitável. É improvável que esta guerra, seja no presente ou
no futuro, leve a algo mais que uma vitória de Pirro. Por isso, esta guerra
deve ser terminada. Ela tem se arrastado por demasiado tempo. É do interesse de
todos os países da região começar a tomar as medidas necessárias.
O povo curdo somente exige que sua
existência seja respeitada; eles exigem liberdade para preservar sua cultura e
um sistema integralmente democrático. Almejar uma solução mais humana e modesta
é impossível. Os exemplos da África do Sul, Palestina, País de Gales, Irlanda
do Norte, Escócia e Córsega são exemplos dos métodos aplicados por diferentes países
modernos para resolver ou administrar problemas similares, no curso da
história. Tais comparações nos ajudam a encontrar a abordagem mais objetiva
possível para nosso próprio problema. Dar as costas à violência para resolver a
questão curda e superar, ao menos em parte, a repressiva política de negação
são conceitos intimamente ligados ao fato que nós apoiamos a opção democrática.
A proibição da língua, cultura,
educação e comunicação do povo curdo é em sua essência um ato terrorista e praticamente
convida a uma retaliação violenta. A violência, no entanto, tem sido usada por
ambos os lados até um ponto claramente além da legítima defesa. Vários
movimentos atuais tomam medidas muito mais extremadas. Nós temos declarado, no
entanto, vários cessar-fogo, temos retirado grandes quantidades de nossos
guerrilheiros do territorio turco, refutando assim as acusações de terrorismo.
Nossos esforços pela paz tem sido, contudo, sistematicamente ignorados ano após
ano.
4. CONCLUSÃO
Aparentemente, os curdos estão
longe de constituir o seu próprio Estado. Primeiramente, actuação do grupo PKK
que é considerado terrorista por muitos países, dificulta o reconhecimento da
luta desse povo no contexto da rede internacional.
É importante realçar que o
território reivindicado, além de fazer parte dos 6 países, contem uma serie de
recursos naturais e nascentes de água, isso em uma região onde esse recurso é
extremamente escasso, o que faz com que os países apresentem uma certa
resistência.
A falta de influência política
dos curdos e os desinteresses das potências dos ocidentais colocam a luta curda
em um plano secundário na Geopolítica do Oriente Médio.
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
A
GUERRA que os curdos vencem. El país. 2016. Disponível em:<http://brasil.
elpais.com/brasil/ 2016/03/14/internacional/1457956519_674106.html> Acesso
em: 25 jul. 2016
Disponível em
<http://www.dipublico.org/3680/tratado-de-sevres-1920/> Acesso em: 25
fev. 201
http://alunosonline.uol.com.br/geografia/oscurdos.html
CORREIA, Pedro de Pezarat, p.213 à 226.
www.freedom-for-ocalan.com
[1] O Tratado de Sèvres foi um tratado de paz entre a Turquia e os países
aliados da Primeira Guerra Mundial (exceto Rússia e os Estados Unidos),
assinado em 10 de agosto de 1920. O Tratado deixou o Império Otomano sem a
maioria de suas antigas possessões, limitando-se a Constantinopla e Ásia Menor.
Com o tratado, no leste da Anatólia foi criado um Estado autônomo curdo. DIPUBLICO.org.
2010.
Disponível em <http://www.dipublico.org/3680/tratado-de-sevres-1920/>
Acesso em: 25 fev. 201
[2]
http://alunosonline.uol.com.br/geografia/oscurdos.html
[3] CORREIA, Pedro de Pezarat, p.213.
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