Historiografia
A Historiografia
As informações, de origem mitológica, não eram sujeitas a qualquer tipo de investigação ou explicação causal. Era uma história que não se preocupava com a verdade nem com a objectividade. Não obstante, a produção desta literatura revelou-se um grande contributo para o conhecimento da história do oriente antigo, visto terem surgido neste processo importantes materiais sobre a história daquela região, nomeadamente anais, listas de dinastias ou de soberanos, listas dos sacerdotes, inscrições comemorativas e biografias importantes.
1,4. Historiografia
Pode ser definida como o conjunto de obras concernentes a um assunto histórico, como por exemplo a produção histórica de uma época. Quando se diz historiografia moçambicana refere-se as obras escritas sobre a história de Moçambique, por autores nacionais ou estrangeiros. A historiografia inclui tudo quanto foi escrito para proporcionar informações sobre o passado humano como testemunho. Integram esta literatura os relatos autobiográficos e memoristas desde que sejam referentes a aspectos da vida social mais amplos do que os estritamente pessoais. A história oral também ocupa um lugar, tanto quando este conceito designa as tradições históricas transmitidas oralmente, nos povos sem escrita, como quando se refere ao registo escrito ou por gravação de depoimentos orais de autores ou testemunhas de acontecimentos históricos.
No sentido mais amplo a história da historiografia não se reduz ao estudo das principais obras históricas de cada época ou civilização, compreende também trabalhos de metodologia, publicação de documentos, ensino de história e apreciação de obras literárias de teor histórico. A história da historiografia está também ligada a história das ideias, pois os historiadores estão sempre ligados às correntes de pensamento do seu tempo.
1.5. Historiografia judaica
A historiografia judaica baseia-se na Bíblia, velho Testamento. A Bíblia é uma grandiosa obra que pela natureza e variedade de géneros literários nela contidos constitui literatura nacional do povo judaico e portanto importante fonte de informação da história judaica e dos povos com quem os judeus estavam em contacto.
1.5.1. A importância da Bíblia na historiografia judaica
Escrita e conservada pelos sacerdotes, a Bíblia constituiu para os judeus um instrumento de unidade, que era posta em causa pelo contacto com outros povos, a que os judeus eram sujeitos por ser um povo nómada.
Existiam duas formas de poder entre os judeus: o poder espiritual, dos sacerdotes, e o poder temporal, dos reis, sempre em aliança ou em rivalidade ou em luta. O desentendimento entre estes dois poderes resultava do facto de os sacerdotes pretenderem a unidade do povo judaico, recusando, por isso o contacto com outros povos, enquanto os reis priorizavam o alargamento do território, integrando as populações vencidas o que significava a admissão no mesmo panteão nacional dos deuses dos vencidos.
A Bíblia funcionou portanto como instrumento dos objectivos da classe sacerdotal, conservando um carácter exclusivista de defesa da tradição judaica e de ataque a tudo o que lhe fosse estranho. Baseada na bíblia, a historiografia judaica teve como principal característica a incapacidade de aceder a uma concepção universalista do homem, ou seja a limitação do homem ao homem judeu. Assim, para os judeus, a história da humanidade passava a confundir-se com a história judaica contada na Bíblia. Os outros povos apenas eram referenciados na medida em que tivessem algum relacionamento com os judeus.
Como livro sagrado dos católicos, protestantes e cristãos ortodoxos, a Bíblia teve uma credibilidade quase universal e até ao século XIX constituiu a única fonte de história dos judeus e dos povos do médio oriente, com quem estiveram em contacto. Só no século XIX, com a decifração dos escritos egípcios e sumérios surgiu uma alternativa para as fontes da história judaica. A Bíblia passaria a ocupar um lugar secundário como fonte histórica.
LIÇÃO Nº 2 – A HISTORIOGRAFIA GRECO-ROMANA
2.1. A Historiografia Grega – os Primórdios da Cientificação da História
“A história nasceu na Grécia” é frequente ouvir-se dizer. Bem para nós que falamos na aula anterior de História sem fazer referencia a Grécia pode parecer algo estranho. Mas existe uma explicação para esta aparente confusão.
Na Grécia também existiu a abordagem mítica e teocrática da evolução da humanidade como no oriente antigo. Dos vários mitos destacou-se o mito das cinco idades que considerava que a humanidade tinha passado por cinco etapas de evolução nomeadamente a idade do ouro da prata, do bronze, dos heróis e do ferro. Entre estas, a etapa do ouro era a melhor porque nela não havia preocupações, sofrimento, velhice, etc.
Entretanto, de acordo com o conceito de ciência não podemos ainda falar nesta altura de uma ciência histórica. A cientificação da história só terá início na Grécia Clássica. É o que nos leva a falar do surgimento da história na Grécia. Este logro dos gregos tem explicação no facto de a Grécia desse tempo ter conseguido avançar em muitas áreas de desenvolvimento social, a partir do século V a.n.e. Nesse século vivia-se na Grécia, uma sociedade democrática, fruto de cerca de três séculos de reformas, iniciadas por Dracon e que atingiram o seu pico no reinado de Péricles.
Na democracia ateniense o poder era exercido pela Bule, assembleia, que reunia quarenta vezes por ano e exprimia directamente, não através de deputados, a vontade nacional. Decidia sobre a guerra ou a paz, as finanças, votava leis e decretos, julgava certos crimes, etc. cada pessoa podia tomar a palavra, propor uma decisão ou emenda. Os magistrados não eram mais do que servidores do povo. A justiça estava igualmente nas mãos do povo. A origem nobre do indivíduo já não era condição para se ocupar de questões importantes da vida do país. O importante agora era a competência e a capacidade individual.
Portanto a Atenas do século V destaca-se dos restantes estados da época pois pode conceber e aplicar os princípios de igualdade perante a lei, da liberdade individual e da fraternidade, embora com algumas reservas, principalmente ligadas com o alcance das referidas reformas democráticas. Este contexto, de abertura da vida nacional a todos os cidadãos, levou a Grécia antiga a se destacar em vários domínios da vida incluindo o do pensamento. É assim que o pensamento grego da época revelava já uma maturidade que se reflectia no desenvolvimento de varias ciências entre as quais a história.
Na obra “História” Heródoto tentou para além de escrever sobre os gregos, falar dos bárbaros, reconstituir os factos e apresentar a razão deles. A ele também se deve uma abordagem universalista dos homens pois, como cidadão oriundo da nobreza, Heródoto teve facilidades de viajar e escrever sobre varias regiões (Egipto, Mesopotâmia, etc.) incutindo desse modo uma visão mais global do Homem e do universo. Era a passagem da historiografia gentílica a historiográfica ecuménica (universal).
Numa das passagens do livro de Heródoto “Historias” pode se ler: “Eis a exposição do inquérito empreendido por Heródoto de Thouriori para impedir que as acções cometidas pelos homens se apague da memória com o tempo e que grandes e admiráveis factos, levados a cabo tanto do lado dos gregos como do lado dos bárbaros, cessem de ser nomeados, finalmente e sobretudo, o que foi causa de entrarem em guerra uns contra os outros (…) Até aqui, falei segundo a minha observação, reflexão e informação; mas a partir de agoira passarei a referir a tradição egípcia, tal como a ouvi; acresce ainda um pouco do que vi (…). O meu dever é referir a tradição mas de modo algum sou obrigado a acreditar nela”.
A história de Heródoto é feita com base em testemunhos fidedignos, ou seja dignos de crédito. Assim, ele preferiu servir-se da tradição oral, mas sempre aquela prestada por protagonistas ou testemunhas dos acontecimentos, bem como o seu testemunho ocular.
No caminho de Heródoto esteve também Tucídides, cujo grande contributo para a História foi o início do questionamento das fontes, procurando apurar a sua veracidade e credibilidade. Foi o que ele fez na sua obra “História da Guerra do Peloponeso” que escreveu servindo-se do seu próprio testemunho de participante. Tucídides revelou-se superior a Heródoto na inteligência crítica, na arte e na solidez do saber. As ideias de Tucídides sobre a História estão bem expressas na seguinte afirmação contida no seu livro História da Guerra do Peloponeso: “(…) Só falo como testemunha ocular, ou depois duma crítica das minhas informações, tão completa quanto possível (…).
Outros historiadores deram corpo à história como foram os casos de Xenofonte, Plutarco, Eforo, etc.
Observando os trabalhos de Heródoto e Tucidides verificamos que os gregos começam a caminhar para a cientificação da história. A sua história tem um objecto de estudo, uma metodologia própria e um objectivo bem definido. Senão vejamos.
● Estuda-se, o passado e o presente dos homens ou simplesmente o homem;
● Alarga-se a noção de fonte histórica que para além da tradição oral passa a considerar testemunhos oculares;
● Cria-se uma metodologia que integra a recolha de dados através da observação e da informação, a reflexão, análise crítica e a comparação das fontes e finalmente a síntese.
● A sua finalidade é sobretudo a verdade histórica pelo que defende a objectividade e neutralidade de análise.
Portanto na Grécia clássica temos uma historia humanista (seu objecto de estudo é o homem), científica (inicia-se nesse caminho), auto reveladora (procura a projecção do presente no futuro, ensinar aos homens o seu passado e a relação entre o passado e o presente, para revelar o sentido da acção humana) e pragmática, porque tenta tirar do ocorrido uma lição aproveitável para o futuro.
Embora dando notáveis passos a nível da história os gregos revelaram ainda algumas insuficiências. Os historiadores gregos viram-se confrontados e até encurralados pela contradição entre o ideal de história universal baseada em fontes fidedignas e a incapacidade de falar de regiões relativamente afastadas pois o nível de desenvolvimento dos transportes não os permitia ir para longe e são praticamente inexistentes informações sobre essas regiões. Deste modo eles vem-se condenados a ter que fazer a história que negam, a história de alguns povos, de algumas regiões, a história regional e não a universal que defendem.
Por outro lado as fontes orais e os testemunhos oculares não permitiam abarcar períodos de tempo relativamente longos mantendo a fidelidade numa história que busca de facto a verdade, pelo que ficam também a este nível limitados.
2.2. A Historiografia Romana
A constituição do império romano incluiu entre outros processos a conquista de vários estados na Europa, Ásia e norte de África. Ora, este facto sugere uma miscelânea de povos, costumes, formas de vida, etc. num só estado que é o império romano. Desta situação resulta em Roma um desenvolvimento social, do qual se inclui o âmbito do pensamento, bastante influenciado pelas outras civilizações.
Temos assim que a nível da história os romanos recorrem, a princípio, à língua e aos moldes de outros povos, em particular os gregos que, como dissemos atrás tinham avançado bastante neste campo. Os romanos não copiaram mecanicamente dos gregos, procuraram dar forma própria, moldaram os ensinamentos gregos atribuindo-lhes forma própria. Deste processo resultou a produção de uma história tipicamente romana, assente na íntima relação com o passado.
Outro elemento historiográfico exclusivamente romano é o carácter político ou seja a prática da historiografia feita pelos homens políticos, em estreita relação com a política prática que conduz a historiografia política, orientada para fins políticos e não encarada como conhecimento. Portanto a história é em geral, para os romanos, uma exaltação da cidade e do império, adquirindo um carácter nacional e patriótico. É uma história apologética e pragmática. O predomínio, entre as produções historiográficas da Roma antiga, dos anais (anotações dos principais acontecimentos políticos) demonstra bem o seu carácter nacional.
2.3. Os Principais Historiadores Romanos
Políbio – é um historiador de origem grega que viveu, como prisioneiro, em Roma e lá produziu quase toda a sua obra histórica e, naturalmente, sobre o império romano. Foi o responsável pela transmissão das tendências racionalistas da historiografia grega a Roma, sendo por isso contrário a história “oficial” defendida por muitos historiadores romanos com destaque para Tito Lívio que por vezes recorria a mitologia para sustentar as suas ideias.
Polibio aplicou à história o modelo de ciclo, conduzindo à concepção segundo a qual a história é o conhecimento do geral, daquilo que se repete, que obedece a leis e por isso susceptível de previsão.
Tito Lívio – diferentemente de Polibio, esteve mais virado para o passado, tido, pelos romanos, como fonte de virtudes nacionais. Foi um intelectual ao serviço da política imperial, cuja preocupação maior foi elevar bem alto o rei e o império romanos não hesitando quando a defesa passasse pela deturpação da verdade, ou impusesse o recurso à mitologia.
Tácito – Politico e homem das letras, foi autor de uma importante obra histórica com o senão de ter misturado, por vezes, indevidamente a história com o género literário. O seu maior defeito terá sido fazer uma comparação unilateral dos romanos com os bárbaros, os bretões e os germanos revelando-se percursor da teoria do “bom selvagem”, ao apresentar uns como os de costumes mais puros e outros mais corruptos.
Outros historiadores romanos foram Flávio Josefo, Salústio, Plutarco e Suetónio.
LIÇÃO Nº 3 – A HISTORIOGRAFIA CRISTÃ ANTIGA
3.1. O Surgimento e Evolução do Cristianismo
O Cristianismo surgiu na Palestina no contexto da conquista daquele território pelos romanos. Foi de lá que se propagou para as restantes partes do mundo o que em grande parte foi facilitado pelo facto de transportar uma mensagem social e ecuménica, assumindo-se anti-escravagista.
Existiam, no seio da igreja, duas facções: uma mística e outra gnóstica que, pretendia racionalizar o pensamento religioso, ou seja, sujeitar à razão as ideias religiosas. Estas divisões que constituem uma ameaça à estabilidade do cristianismo levaram à imposição da unidade doutrinária e ao fim da livre discussão no seio da igreja, determinada no Concilio de Niceia em 325.
3.2. A Concepção Cristã de História
Desde o princípio o cristianismo assumiu-se como religião universalista e histórica, ou seja, teve a sua concepção do universo e de evolução da humanidade. Para os cristãos a historia é um combate permanente entre Lúcifer (o mal) e Deus (o bem) e a sua trajectória, irreversível e oposta à concepção cíclica defendida pelos gregos e romanos, começa com o pecado original, passa pela redenção e termina com o juízo final. A ideia principal é que, devido ao pecado original, o homem espalhou o mal em toda a terra e Cristo apareceu para restabelecer a ordem e fazer triunfar a igreja, numa luta que, terminará com o juízo final. Deste modo a terra é apenas um local transitório para a expiação e redenção do pecado e o homem em vida tem a oportunidade de se preparar para o juízo final.
Entre as fontes da história cristã existem as doutrinárias e as históricas. Muitos documentos históricos foram destruídos alegadamente por serem apócrifos, ou seja, inauténticos. Contudo em história este procedimento é de todo condenável pois as fraudes também são matéria de estudo. Portanto não se pode entender tal atitude de outra maneira que não a tentativa de manter uma unidade doutrinária. Isto leva-nos a afirmar que a história cristã baseou-se, em informações tendenciosas previamente seleccionadas e por isso construiu uma visão de história humana com um ponto de vista apologético.
3.3. Os Historiadores Cristãos
Eusébio de Cesareia (260-339) Foi o principal obreiro da história cristã. Produziu uma crónica que consistia de uma cronografia e de cânones cronológicos. A cronografia resumia a história universal povo por povo, argumentando a favor da prioridade, no tempo, de Moisés e da Bíblia. Os cânones eram tábuas cronológicas que assinalavam os sincronismos entre a história sagrada e a profana. A cronologia bíblica começa com a data da criação seguindo-se a do povo judeu até ao nascimento de Cristo, com a qual começava a história cristã. A história eclesiástica de Eusébio, bem documentada ia de Cristo até Constantinopla. Eusébio trouxe para primeiro plano da igreja cristã os judeus.
Cassiodoro (487-583) Reuniu e traduziu do grego três historiadores eclesiásticos, continuadores da história de Eusébio, nomeadamente Sócrates (380-450), Sozômeno (finais do século IV-443) e Teodoreto (393-457). Escreveu também uma história gótica e uma crónica da época de Adão ao ano 519).
Santo Agostinho (354-430) Foi o autor da primeira e até hoje a mais importante filosofia cristã da história. O seu livro “De Civitae Dei” ( A Cidade de Deus) foi uma tentativa de negar a afirmação dos pagãos seguyndo a qual a tomada de Roma por Alarico e os saques dos vândalos eram motivados pelo desapego à antiga religião romana.
Orósio (até 418) Procurou mostrar em “Sete livros de história contra os pagãos” que os tempos anteriores a Cristo tinham sido mais tempestuosos que os posteriores, como forma de rejeitar a ideia dos pagãos de querer culpar o abandono dos cultos anteriores a Cristo pelas desgraças que afligiam o império romano, em particular as invasões dos povos bárbaros.
Com a obra de Eusébio e com as continuações de Sócrates, Sazômero e Teodoreto e ainda o manual latino que deles tirou Cassiodoro, se formou o corpo da história da Igreja que alimentou a Idade Média.
Foi o cristianismo a autoria da primeira filosofia de história, a tentativa de determinar as leis porque se rege o curso dos acontecimentos. Os seus defensores procuraram mostrar como o mundo seguiu um desígnio de Deus na sua longa preparação para o advento de Cristo. A partir desse pnto central a humanidade continuaria uma marcha de sofrimentos até ao juízo final. Esta ideia foi exposta por Santo Agostinho no seu livro “Cidade de Deus” e a demonstração coube a Paulo Orósio no seu “Sete Livros de História Contra os Pagãos”, uma continuação de “Cidade de Deus”.
É portanto a história providencialista, em que a evolução da humanidade aparece como providência divina.
LIÇÃO Nº 4 – A HISTORIOGRAFIA MEDIEVAL
4.1. A Sociedade Medieval
O império romano do ocidente desmoronou-se no século V na sequência da tomada de Roma pelos bárbaros em 476. a destruição do império romano do ocidente, marcou o fim da antiguidade esclavagista e o início da Idade Média, feudal, a substituição das formas de vida política, económica, social até aí estabelecidas. As populações abandonam as cidades retornando ao campo onde se organizam em pequenas comunidades rurais baseadas na identidade religiosa (nisto, diferem das primeiras comunidades rurais ligadas por consanguinidade).
Na esfera económica, a economia urbana comercial deu lugar, a economia rural, agrícola, de subsistência. Instala-se uma mentalidade particularista onde cada comunidade tenta ser auto-suficiente, pois a dispersão dificulta os contactos. A nível social os marcos essenciais forma a destruição das tradicionais relações entre os povos devido a degradação das vias e meios de comunicação. Tecnologicamente a regressão manifestou-se pelo desaparecimento da especialização.
O cristianismo integra-se neste quadro criando o Mosteiro Beneditino, que a partir do século VI passa a servir de núcleo a uma população cujo destino seria a gradual integração na sua estrutura, em condições de dependência.
Nesta altura o trabalho é encarado como uma provação, mas os mosteiros irão rapidamente enriquecer passando a empresas geradoras de excedentes, comparáveis a qualquer outro domínio senhorial. Era a transformação do cristianismo, de religião igualitária em religião classista.
No século XI regista-se um considerável crescimento da produção agrícola. Ao mesmo tempo aumenta a população e ressurge a vida urbana. Inicia-se uma nova revolução comercial, em choque com o sistema feudal. No século XIII regista-se um notável progresso na estrutura profissional que se manifesta numa acentuada diferenciação profissional, num grau de especialização cada vez maior e na melhoria do estatuto do trabalhador a nível dos ofícios, particularmente nas artes liberais e por vezes nas artes mecânicas. Era a passagem da sociedade rural à urbana, agrícola a comercial.
Este processo é portanto muito próximo aquele que se regista na primeira revolução urbana com a diferença de que no lugar das casas estavam os mosteiros e em vez do surgimento de cidade dá-se o ressurgimento das cidades romanas. Mais ainda na primeira revolução urbana o poder espiritual sobrepunha-se ao temporal e no século XIX acontece o contrário.
4.2. A Historiografia Cristã Medieval
No contexto histórico da Idade Média, predomina uma história cristã, cuja produção é da responsabilidade dos monges. Os géneros mais dominantes são os anais e os cronicoes. Tanto uns como outros são narrativas sobretudo de factos políticos e militares, que tomam por unidade temática períodos mais ou menos longos. A diferença reside no facto de que os anais dividem as épocas estudadas em períodos de um ano, relatando secamente os factos.
Também constituem literatura histórica cristã as hagiografias, as histórias, as actas de sínodos e concílios, as bulas e outros diplomas de origem papal, as obras de clérigos seculares, os manuais dos confessores e outras de carácter eclesiástico. Para a reconstituição da história medieval existem também fontes civis de natureza oficial nomeadamente os diplomas régios bem como fontes provenientes da cultura popular, o folcrole.
Nesta história medieval o papel principal no processo histórico é atribuído a Deus e seus agentes e aos reis e seus prelados. É a estes que se atribui responsabilidade pela evolução histórica da humanidade e portanto são eles o objecto de estudo da história. A Nível metodológico a interpretação dos dogmas divinos constitui a principal operação do historiador em detrimento da investigação das razoes humanas. Os aspectos morais sobrepõem-se aos vividos na explicação dos fenómenos.
LIÇÃO Nº 5 – A HISTORIOGRAFIA DO SÉCULO XIV
5.1. O Contexto Histórico do século XIV
A segunda metade deste século é caracterizada por revoltas, umas no campo colocando os trabalhadores rurais contra os proprietários e outras nas cidades entre os artesãos e os grandes mercadores. Foram acima de centena os levantamentos em toda a Europa no final da idade média, dos quais vamos indicar apenas alguns:
1274 – Greve dos tecelões e pisoleiros de Gand;
1300 _ Greve – levantamento dos artesãos germânicos;
1302 – Vitória dos amotinados de Bruges sobre Filipe o Belo; tumultos em Bruxelas;
1303 – Revoltas populares e; Liège;
1304-1305 – Tumultos em Flandres;
1339 – Revolta de marinheiros e artífices de seda em Génova;
1340 – Revolta na Dinamarca;
1344 – Levantamento em Barcelona;
1355 – Destruição da Sinagoga em Valladolid;
1358 _ Revolta burguesa em Paris, Ajacquerie da Ile-de-France, revolta camponesa;
1379 – Inicio da revolta de Gand;
1380 – Agitações universitárias em Paris; Tumulto anti-tributário em Lubeck;
1411-1412 – Guerra Civil em Franca;
1435 – Movimento geral dos companheiros de todos os ofícios nas cidades de Reno;
1449 Assalto à judiaria Grande de Lisboa.
Os servos levantam-se contra os senhores tentando alterar a sua condição de grupo inferior.
O desenvolvimento do comércio leva a valorização dos mercadores sobretudo a nível económico. Constroem fábricas, emprestam dinheiro, comandam as rotas terrestres da Europa e da Ásia, etc. Também começam a erguer, ao lado das velhas cidades, os burgos que lhes vão dar o nome – burguesia – projectando algumas cidades europeias à categoria de república, como foram os casos de Veneza, Florença, Génova, etc. Os burgueses também dominam o saber pois são eles que maioritariamente frequentam as universidades europeias.
No século XIV a burguesia era já suficientemente forte a nível social, económico e cultural mas o poder politico continua nas mãos da nobreza e do clero, detentores dos bens fundiários. Neste contexto histórico surge a partir dos finais do século XIII um novo tipo de historiografia – palaciana – de iniciativa régia ou senhorial produzida nas cortes reais ou senhoriais por cronistas ao serviço dos senhores ou dos príncipes e sob encomenda destes. É portanto uma historia que grosso modo está mais preocupada em apresentar a imagem mais conveniente à instituição servida pelo cronista do que com a verdade e objectividade dos factos.
Em paralelo com esta história, alguns historiadores tentam, movidos pela ética profissional, transmitir aquilo que julgam ser a verdade.
Por seu turno a burguesia começa a fazer a sua própria história – a história burguesa que se debruça sobre a cidade onde esta camada era já autónoma. A nível metodológico os cronistas do século XIV já começavam a associar a compilação ao inquérito no terreno. Mas havia ainda muitas insuficiências como o predomínio da narração sobre a investigação das causas e o facto de as tomadas de posição serem, em regra, favoráveis aos detentores do poder. No centro da análise dos historiadores estavam os deuses a que se seguiam logo os senhores e os príncipes.
Lição nº 6 – A Historiografia do Renascimento (séculos XV e XVI)
6.1 A Luta da Burguesia Contra o Regime Católico Feudal
A reforma protestante constitui um dos acontecimentos mais marcantes, senão o mais marcante desta época. Quando, sob a égide papal, Portugal assinaram o tratado de Tordesilhas as Burguesias Holandesas, Inglesa e francesa, em oposição a este tratado, decidiram proclamar a independência das igrejas nacionais, desafiado, por tanto, a autoridade supranacional da igreja romana.
Este acontecimento foi antecedido por outra grande revolução da Burguesia, o movimento comunal.
A luta da Burguesia pela sua emancipação espiritual estava assim a começar tendo como pano de fundo a rejeição do regime católico – feudal e a implantação de uma nova ordem mais condizente com o desenvolvimento da Burguesia. É portanto uma revolução cultural marcada pelo desejo de mudança - o renascimento cuja tónica dominante é a tentativa de Homem de sair da sua menoridade (incapacidade de atingir a sua incapacidade de atingir a sua felicidade sem o recurso e o apoio de outrem). Instiga-se a confiança no homem.
6.2 A historiografia dos séculos XI-XVI
A evolução dos séculos XV XVI favoreceu o surgimento de um pensamento humanista que defende o livre arbítrio, o valor da experiência e desejo de glória individual, que conduziu a história humanista, que coloca no centro do seu estudo o homem, reduzindo o papel de deus. O homem vai se sentindo cada vez mais o construtor e responsável do processo histórico. A Historia evolui inspirando-se na consciência humanista e na limitação da antiguidade clássica. É assim que entre os humanistas alia-se uma nova consciência do mundo e da vida a idealização da antiguidade com tentativas de secularização da história.
Nesta altura já não são os teólogos e monges mais sim os poetas, literatos, diplomatas, estadistas que escrevem historias falando criticamente do passado nacional ou urbano. Há portanto um alargamento da temática histórica, muito embora prevaleçam os aspectos políticos.
Para alem do objecto, os humanistas alteram também a forma medieval de exposição, a crónica. Passam então a predominar os anais, numa história orientada para a política que tem na biografia a principal forma de exposição histórica.
O pensamento humanista deu também lugar a ideia da relatividade das coisas e au surgimento de um novo critério de verdade, a experiência que fez crescer a coerência racional entre a teoria e a pratica e impôs o hábito de submeter a validade dos juízos a sua comprovação.
O Humanismo foi apenas o pensamento dominante pois a par da história humanista, critica, anticlerical e antinobiliarca ouve nos séculos XV e XVI uma historiografia exemplar preocupada em servir uma determinada ideologia (normalmente a do poder) podendo ate sacrificar a verdade se tal finalidade assim o justificar.
A nível metodológico a historia recebe com uso humanistas a importantes subsídios. Inicia-se com eles a ordenação metódica das fontes graças as contribuições de Flávio Biondo, Tristano calchi, Lourenzo valla, Bernaldo Giustiani entre outros.
Flávio Biondo começou a reunir e a comparar fontes de certas épocas com algum sentido crítico, enquanto a calchi se atribui o mérito der iniciado o uso de documento e inscrições. Por seu turno Lourenzo Valla foi o primeiro a defender criticas filológicas das fontes medievais. Finalmente Giustiniani se deve a critica histórica objectiva que ele iniciou a submeter todos os dados da tradição a critica da sua possibilidade de aplicação pratica.
6.3 Representantes da Historia Humanista
Nicolau Maquiavel (1469-1527) – foi o mentor, no séc. XV de uma nova concepção do estado: o estado temporal, soberano, totalmente da tutela da ijreja, centralizado e único.
Entende que o regime republicano com eleição de dirigentes é o ideal do estado. É um ponto de vista inspirado na sociedade quatrocentista, na qual a burguesia aspirava a formação de mercados nacional cada vez mais amplos e politica economicamente integrados por forma a assegurar a livre circulação dos seus produtos. Nas suas obras “Discorsi sopra la prima década de Tito Lívio” e “II príncipe” Maquiavel Adopta já uma atitude científica procurando explicar os fenómenos sociais que descrevem pela intervenção de factores naturais como o clima, a natureza humana, ect.
Considera ele que se deus e a fortuna têm alguma margem de intervenção na história, ao homem cabe pelo menos metade dessa intervenção.
Lourenzo Vala (1407-1457) – A sua obra “de falso credita et emitida costantine” passa a assinalar a partir de 1440, o nascimento de um dos maiores instrumento de critica histórica: a filologia humanista (comparação de estilos documentais, erros de tradução, etc.) método com o qual descobriu a falsidade de “Doação de Constantine” e, numerosas deturpações contidas novo testamento.
Franscis Bacon (1561-1526) defende a superioridade dos tempos actuais em relação aus antigos e a ciência experimental sobre as concepções teóricas do passado. Para eles as ciências devem ser renovadas e colocadas ao serviço do progresso da humanidade através das leis da natureza.
Jean Bodin (1530-1596) compôs um “methodus ad, facilem
historiarum cognitionum” (1566) onde defende que a Historia não deve ser fabulosa mais uma espécie da tábua da verdade e dos acontecimento; e que a ela se dedica não deve começar pela historia de Deus, mais pela dos homens. Defendia igualmente a influência do clima sobre a natureza física e psíquica dos homens.
Fernão Lopes – prólogo da crónica D. João 1, de que ele é autor, é um documento notável no ponto de vista da definição de Historiografia. Nele esta patente a sua defesa da independência do historiador perante as autoridades e, o sentido da sua responsabilidade perante o povo, procedimento que colocam-no na vanguarda dos historiadores Europeu do seu tempo. Para F. Lopes o motor da historia, já a maneira duque viria a ser para a historiografia romântica liberal, é a sociedade no seu conjunto, ou maias propriamente, o povo.
Nalguns casos, principalmente quando os reis tratavam a nação com equidistância entre a nobreza e a burguesia, o historiador reflectindo em certa medida a ideologia social, esforça-se por analisar os problemas e os homens com isenção e objectividade.
Por tanto um aspecto importante do século XV foi a formulação da regra de ouro da história, aquele que escreve história de acontecimento deve conhecer e encadear os factos, as datas, os projectos e os resultados.
LIÇÃO NUMERO 7 – A HISTORIOGRAFIA RACIONALISTA – (SÉC. XVII-XVIII)
7.1 Contexto Histórico
A partir de meados do século XVII o ambiente é de transição do feudalismo ao capitalismo no qual está presente a luta sempre inerente a este tipo de situação. Iniciada praticamente no séc. XIV, esta luta era agora claramente favorável aos burgueses, embora não na mesma dimensão em todos os países da Europa. A Inglaterra adiantou-se ao nível do capitalismo Industrial enquanto a França se destacava no âmbito da consciência revolucionário com os antagonismos entre a burguesia e a aristocracia.
O séc. XVII é também marcado pela constituição também de impérios coloniais por parte dos holandeses, Franceses, Ingleses, que já detinham a supremacia nos mares depois de suplantarem os portugueses e espanhóis.
Neste período dá-se também uma certa evolução material com o aparecimento dos correios e vias de comunicação organizadas, arquivos públicos, etc., bem como uma evolução científico-técnica, com a formulação da dúvida metódica, a exaltação do valor da experiência na construção da ciência, afirmação do método científico.
A Nível da relação de produtos ocorre a passagem da economia feudal à economia capitalista.
7.2 O Iluminismo
Neste contexto as ideias burguesas vão se impondo defendendo particularmente dois procedimentos básicos: o domínio da natureza pelo trabalho; e o conhecimento da realidade através da experiência e da interpretação cientifica. É por tanto um pensamento novo oposto a ideológica medieval dominante e que pretende tomar como critério de verdade apenas razão.
Sob esta visão o homem recusa a menoridade (radicada na incapacidade de alguém se servir do próprio entendimento, sem a direcção de outrem) e procura acreditar na quilo que lhe é dado entender, no seu próprio raciocínio. É o iluminismo baseado na razão esclarecida e que a ideia de que os antigos eram os mais velhos e mais sábios, transferido esses atributos ao homem moderno para os burgueses, verdadeiramente experiente e espiritualmente maduro.
A filosofia passa para o controle da burguesia e rejeita todos os preconceitos que entravem a felicidade dos homens. A nível da região iluminismo implantou a mentalidade produzida na renascença, no humanismo e na reforma e difundiu o Deísmo (religião sem dogma), que defende que deus criou o homem livre e concedeu-lhe autonomia plena e, dotando-o de razão para puder superar de todas as dificuldades, já não na sua vida particular ou comunitário. Os homens do século XVIII recusam as normais, a autoridade, os dogmas. Não são cristãos e no lugar do direito divino crêem no direito natural.
Portanto as ideias principais do iluminismo são:
A- A razão – tudo deve ser sujeito a uma analise racional, tendo como algo principal a religião e as instituições político-social;
B- progresso – sobretudo no campo cientifico-técnico;
C- A paz – que deve assentar na igualdade e fraternidade entre os homens.
Para o iluminismo a razão é o supremo critério do valor para a religião, a filosofia, as ciências, o estado o direito e a economia.
No quadro descrito as ciências irão evoluir no caminho de iluminismo onde a tradição é questionada e o saber livresco substituindo, como critério da verdade, pela experiência sensorial. Valoriza-se o homem livre ou em libertação do dogma e da veneração dos antigos. Só se reconhecesse o progresso do espírito humano na iluminação e na razão secularizada.
Entretanto a evidência sensorial, como critério de verdade, é mais aplicada as ciências naturais e menos ao domínio das ideias e por isso a sua implantação sugere uma certa preferência. Aquela área de pensamento em detrimento desta. Não obstante este ambiente relativamente hostil o interesse pela história não se extinguiu.
Descartes introduziu, como critério de verdade, a evidência racional, consistindo num longo trabalho crítico, através de sucessivas analises e sínteses, acompanhadas de uma atitude de dúvida metódica.
Surge assim o método crítico de investigação, a base da história científica.
7.3 A Historiografia e Racionalista
Sob o fundo iluminismo desenvolve-se a partir do século XVII uma história racionalista.
A história providencialista que tenta se adaptas as mudanças incurso e deixa de interpretar o fenómeno histórico apenas no seu aspecto dogmático, admitindo a intervenção do homem no processo histórico, mas continua defendendo a origem divina do poder (foi no caso de Bousset) no outro extremo os burgueses tentam fazer uma historia dirigida contra a igreja e que defende a origem popular do poder, como fez Arnold..
À margem desta história das lutas religiosa surgem, nos países onde prevalecia a mentalidade católico-feudal, nomeadamente no sul e no ocidente uma historiografia politica, interna e católica.
Com os beneditinos franceses iniciou-se um tratamento mais cuidado e profundo da ciência auxiliares, nomeadamente a diplomática e da paleografia. Com os franceses e construção da narrativa histórica começa com a investigação dos factos, sua classificação por épocas e temas, critica filológica e organização em reportórios ou dicionários.
Já no século XVIII a temática da história alargou-se com aparecimento de uma história global abarcando as grandes deslinhas de evolução da sociedade (politica, económica, cultura, etc); o surgimento de uma historia da civilização material, a historia deixa de ser limitada ao campo político-militar.
A consciência histórica da racionalista esta bem patente no seguinte estrago da autoria de Voltaire: “a historia da Europa tornou-se um imenso processo de contrato de casamento de genealogias (…) que fazem passar despercebidos os grandes acontecimentos, conhecimento das leis o do costumes objectos bem mais dignos de atenção (…) eu queria descobrir qual era a sociedade dos homens, como se vivia no interior das famílias, que arte eram cultivadas (…)”.
A nível metodológico a razão a razão burguesa incita à crítica minuciosa para o apuramento da autenticidade, veracidade e exactidão das fontes a curiosidade e a duvida passam a ser os maiores impulsionadores da busca do conhecimento histórico. Pretende-se uma narrativa histórica racional e objectiva, que recusa o secundário e supérfluo.
A função da história também se altera deixando de servir as pessoas (importantes/poderosas) individualmente para passar a servir a burguesia como classe, e seus ideias sociais e políticos.
7.4. Representantes da História Racionalista
Charles de Secondat (1689-1755), o Barão de Montesquie, mais conhecido por Montesquieu – Centrou-se particularmente no estudo da Filosofia política que procura explica-la por um determinismo científico, manifestando particular preocupação pelas grandes correntes sociais. Mostra pouco espírito crítico para além de admitir lendas e cometer erros na datação dos acontecimentos. A sua obra de relevo “o espírito das leis” contribuiu sobremaneira para o desenvolvimento da ciência jurídica.
François Arouel, vulgo Voltaire (1694 – 1778) Inaugurou uma história verdadeiramente humana, debricando-se sobre política, finanças, religião, aspectos demográficos, económicos, etc. mas nem sempre a sua narrativaé isenta. Admite o anedótico e a sua filosofia é determinista e pessimista.
Antoine de Condorcet (1743 – 1794) defende uma história global e cosmopolita. Foi, com Robert Jacques Turgot, um dos percursoes do positivismo.
Jean Jacques Rousseau ( - 1778) – Critica os valores tradicionais católicos – feudais e defende a valorização da sensibilidade e da personalidade livre e natural, contribuindo assim para uma compreensão da realidade histórica.
LIÇÃO No. 8 A HISTORIOGRAFIA DO SÉCULO XIX
8.1 Historiografia romântica
Dois acontecimentos marcaram de modo particular o final do século XVII, a revolução industrial e a revolução francesa. A aliança entre a ciência e a técnica que a Revolução industrial deu lugar e permitiu encontrar soluções, aplicáveis tanto na indústria como na agricultura, na circulação e na investigação científica.
No século XIX a revolução industrial contava já como um.
Conjunto de sucessos científicos e técnicos suficientes para servirem.
De base a construção de novos valores e ao renascimento de novas.
Esperanças no futuro dos homens. A tecnologia desenvolve-se, deixando de depender das invenções dos práticos sem formação teórica para passar a depender de operários especializados e devidamente orientados pelos cientistas.
Era no contexto particularmente favorável a implantação de um pensamento científico capaz de dar respostas as riquezas postas pela a razão e as exigências postas pelas necessidades humanas. A industrialização trouxe progressos materiais e com eles novas exigências nas ciências naturais, mas também trouxe uma série de problemas a nível da sociedade tais como a propriedade privada, as relações de classe, etc. impondo um seu estudo pelas ciências sociais como filosofia, sociologia, pedagogia, entre outras.
A revolução francesa iniciada na segunda metade do século XVIII, também influenciou bastante o pensamento do século XIX. Ela permitiu a expressão de sentimentos a muito reprimidos, criando um clima emotivo que favorece a implantação e expansão do romantismo. O romantismo encerra a defesa de ideais próprios como a liberdade politica, a pátria, a arte, a moral, etc. e também pela exaltação do excepcional. Dos homens de forte carácter, da natureza e contra tudo o que encerra formulas clássicas preestabelecidas.
Portanto o século XIX e em vários aspectos o prolongamento o das ideias iluministas mas com algumas situações histórico-filosóficas novas o que, no conjunto, conduz a uma diferenciação nas maneiras de encarar e explicar a evolução da humanidade. Como resultado surge uma grande divisão do pensamento em varias correntes que a nível da história vai conduzir a uma fragmentação das suas concepções. Assim no principio do século divulgou-se o romantismo enquanto na segunda metade dava-se o aparecimento dos embriões das ideias cientificas nomeadamente o Positivismo, o Historicismo e o Socialismo Cientifico.
8.2 O Romantismo
Surgido no contexto da revolução francesa, o romantismo reflecte em si as várias camadas sociais envolvidas na dita revolução. Assim destacam-se três tendências/direcções distintas no seio do romantismo:
Romantismo Conservador Das velhas classes privilegiadas nobreza e o clero, e cuja essência era o seu desejo de repor a velha ordem aristocrática. Era portanto a aspiração da reposição do poder do rei da supremacia da igreja.
Romantismo Liberal – A ideologia da burguesia vencedora na revolução francesa e que portanto julga efectivamente realizados os ideais da revolução. Aspira a implantação de um novo regime, burguês, assente nos ideais defendidos quando da revolução francesa.
Romantismo Socialista Defendido pelo San-cullotyes, o proletariado, que ao longo da guerra desempenham papel de relevo, determinante mesmo, mas que no fim não viram melhorada em nada a sua condição social, tendo apenas como dizia um dos ideólogos desta camada mudando apenas o seu opressor – tinha passado do jogo dos reis e do clero para o da burguesia.
No contexto do romantismo como não poderia deixar de ser registaram-se formas próprias de concepção de história. A nível da investigação histórica, os historiadores românticos presta particular atenção ao passado especialmente a idade media, vista por todos como um momento particular, embora por razoes diferentes.
Enquanto para os conservadores ela e o centro das virtudes, momento em que se instalou o regime ideal., para os liberais tinha sido o período do início da constituição da classe e da sociedade burguesa.
Na época romana há também a destacar a adopção de novos objectivos de estudos em história abandonando-se a historia que trata exclusivamente dos factos políticos e indivíduos e incluindo outra que considera também os ideólogos e mentais que se preocupam com o conhecimento das sociedades e das suas instituições como com outros povos, civilizações e costumes.
As metodologias tiveram igualmente na época romântica com o surgimento do método científico assente num elevado espírito de rigor, de prudência, de reserva que pressupõe um tratamento cuidado dos factos antes de proceder a generalização.
8.3 Representantes da historia romântica
François Guizot (1787-1874) Debruçando-se sobre o facto histórico a respeito do que apresenta uma ideia mais ampla considerando que não e apenas o acontecimento que deve ser encarado como tal, mas também a relação entre os acontecimentos. Afirma por outro lado, Guizot, que o facto histórico não deve ser limitado ao político mas extensivo ao facto da civilização.
Augusto Thierry (1795-1856) Luta pela substituição da historia dos grandes e dos príncipes pela das massas. Peca por ser pouco rigoroso na crítica às fontes.
Jules Michelet (1798-1874) É o percursor da actual “historia total”. Presta atenção especial aos factos económico-sociais, culturais, religiosos, e psicológicos.
Alexandre Herculano Seguiu o caminho de Guizot e Thierry. Da grande importância a sociedade e valoração do povo trabalhador. Procurou, no lugar da história dos indivíduos e peripécias, fazer a história da colectividade através das instituições, do direito, sentimentos colectivos, relações politicas entre as diversas formações de classes sociais.
LIÇÃO Nº 9 – AS RAÍZES DAS IDEOLOGIAS CIENTIFICAS
9.1 O positivismo
Surgiu no âmbito da euforia científica do século XIX tendo como principal teórico o filósofo alemão Auguste Comte (1798-1857). Surge na altura, sob impulso, do triunfo da Burguesia, do regime parlamentar, da elite e da fortuna; o período do impasse entre o idealismo e o materialismo pré-marxista.
9.2 A Doutrina Positivista de Comte
Tentando resolver o conflito que se instala entre os idealistas e os materialistas, em que os princípios defendiam a primazia do espírito sobre a natureza e a evolução autónoma daquele, enquanto os materialistas advogavam o contrario, Comte avançou uma ideia segundo a qual não existe conhecimento absoluto. Admitindo sempre a existência duma área incognoscível, vedada a razão humana, sugere que apenas os fenómenos são cognoscíveis. Portanto o Positivismo comtiano restringe o conhecimento aos fenómenos e as relações entre os fenómenos.
Como dizia A. Comte “Não podemos conhecer o que esta para alem da experiência e as reivindicações metafísicas quanto ao conhecimento de inobserváveis “essenciais” reais e de “causas finais” são pretensões sem nenhuma garantia. O modelo de investigação, em todas as esferas deve portanto ser dos processos adaptados pelas ciências empíricas particulares, cujo objectivo único e descobrir as regras que governam a sucessão e a coexistência dos fenómenos.
É a este sistema, que defende a relatividade do conhecimento em oposição ao conhecimento absoluto e pelo objectivismo em oposição ao subjectivismo, que Comte chamou Positivismo
A análise de Comte alastrou-se para o campo da sociedade, sustentado que a evolução da humanidade tinha conhecido três etapas correspondentes a outros tantos estádios de desenvolvimento do intelecto humano.
● O estádio teológico em que as causas dos fenómenos eram atribuídas a Deus ou Deuses, que corresponde politicamente ao estado Teocrático;
● O estado metafísico em que as causas dos fenómenos eram vagas imaginárias, politicamente conotadas com o estado Anárquico;
● O estado positivo no qual os fenómenos tem causas naturais e que corresponde ao estado Sociocrático.
9.3 A Historiografia Positivista
Baseou-se na noção positivista de ciências da natureza. Para eles o processo histórico era idêntico e ao processo natural, por isso os métodos das ciências da natureza eram aplicáveis a interpretação da história. Corresponde a dizer que os historiadores positivistas privilegiavam a determinação dos factos, pois segundo a sua ideia de que só nos fenómenos são cognoscíveis este era o único caminho para se chegar ao conhecimento.
Portanto o aspecto dominante da historiografia positivista foi a sua tendência de confundir o conhecimento histórico com a recolha e classificação dos factos, procurando depois o historiador formular leis de evolução histórica da humanidade e estabelecer em seguida os factos com um rigor crítico dogmático.
Assim o que os positivistas produziram foi acima de tudo um conhecimento histórico pormenorizado resultante de um exame cuidado das fontes. A consciência histórica passou a se identificar com o escrúpulo infinito em relação a todo o facto isolado, o que conduz a uma história assente na monografia.
Do ponto de vista metodológico privilegiou-se a compilação acompanhada de uma busca constante de fontes sujeitas, depois a um rigoroso exame crítico.
Os positivistas consideram que não era trabalho do historiador estabelecer as relações entre os factos, mas sim do sociólogo, que aparecia como um super-historiador que fazia ascender a historia a categoria de ciência.
Embora se possam fazer inúmeras criticas aos positivistas reconhecem-se nas suas ideias importantes contributos para a ciência histórica. Podemos a este respeito mencionar a ideia de que a sociedade humana constitui objecto de investigação científica como qualquer outro, a ser compreendido a luz de leis verificáveis em correlação com factos observados. Também teve mérito ao reivindicar a interpretação dos chamados fenómenos psíquicos ou mentais.
Outro ideal positivista de grande valor histórico e a sua perspectiva e sua convicção de que forcas sociais e intelectuais básicas constituem a verdadeira determinante da evolução histórica, uma vez que a eficiência da legislação e da iniciativa politica dependem do grau em que se adaptem a tais forcas.
Na historiografia positivista critica-se particularmente a ânsia de encontrar leis o realce exaustivo das fontes, limitando demasiado o papel interpretativo do historiador na construção histórica. Para alem disso e uma historia que privilegia os aspectos institucionais e políticos. Critica-se nela igualmente o facto de ser uma história que trabalha a nível dos eventos e do tempo curto em detrimento das estruturas e conjunturas (sobre as dimensões do tempo histórico falaremos mais a frente). A acepção positiva de facto histórico e também questionável
9.4. Os historiadores positivistas
Ernest Renan (1823-1892). Tentou dar uma explicação racional aos milagres referidos na tradição crista.
Hipolite Taine (1828-1892) – Atribui importância aos factos económicos mas deixa-se levar pela sua preferência pela aristocracia. Para alem disso confia em fontes suspeitas.
Fustel de Coulagens (1830-1889) – Procura explicar as estruturas das sociedades antigas só pelo facto religioso. Limita a critica histórica ao estudo minucioso e imparcial dos documentos apesar de não se preocupar coma origem e credibilidade das fontes narrativas. Para ele “a historia não e uma arte, e pura ciência”. Consiste com qualquer outra ciência em verificar os factos, analisa-los, aproxima-los, em anotar o elo duns com outros. Sua únicas ambição e ver bem os factos e compreende-los como Fustel crê que não se pode ser um verdadeiro historiador e sem independência de espírito.
9.5 O Historicismo
O percursor desta linha de pensamento foi o alemão Leopold Von Ranke (17956-1886)
Os historiadores distanciaram-se em muitos aspectos dos positivistas. Com efeito, diferentemente destes, os historicistas defendem uma maior intervenção do historiador que, dizem,”: deve compreender como as coisas”.
Para o historicismo o conhecimento histórico e especifico e diferente do conhecimento cientifico.
Deste modo surge que enquanto as ciências exactas formulam leis gerais e abstractas a historia descreve factos individuai, particulares e únicos e por isso e avessa a generalização da lei. Mas no insistir na singularidade dos factos esta corrente acabou negando a historia o estatuto de ciência.
Ora aqui pode notar um aspecto em comum como positivismo, a valorização dos factos históricos, com, a diferença de que para uns, os positivistas, os factos falam por si e por isso o historiador não pode nem deve emitir qualquer opinião, enquanto para os historiadores o mesmo tem um papel praticamente importante, pois o conhecimento histórico pressupõe uma interpretação dos factos e não a aceitação passiva dos mesmos.
Um desenvolvimento particularmente notável regista-se a nível da metodologia pois para o historicismo não basta descrever, e preciso intuir, procurar compreender os factos históricos. Porém, peca por sobrevalorizar essa intuição, ou seja a personalidade do historiador pois abre caminho ao subjectivismo e ao relativismo.
LIÇÃO Nº 10 AS RAÍZES DAS IDEOLOGIAS CIENTIFICAS – CONCLUSÃO
10.1 O Socialismo cientifico
O socialismo cientifico foi fundado por Karl Marx (1818—1883)e Frederich Engels (1816—1895) que foram os seus maiores representantes no século XIX, O contexto do seu surgimento e dominado pela luta entre o capital e o trabalho, pela exploração da mão-de-obra e, consequentemente ,por revoltas e lutas armadas.
E igualmente momento da expansão da revolução industrial e do capitalismo, do triunfo dos movimentos nacionalistas, das ideias autonomistas dos povos, do sindicalismo.
As ideias de Marx e Engels foram no essencial produto da sua tentativa de compreensão e explicação dos fenómenos do seu tempo, que segundo Marx são produto e expressão da tal luta de classes entre o proletariado e a burguesia.
O pensamento de Marx não foi uma inovação, mas sim a continuação e sobretudo o melhoramento e critica de ideias já avançadas por figuras como Jonh Ball,Thomas More,Feuerbach,Rousseau,Hegel,Darwin,os socialistas utópicos etc.
Sem menosprezar os outros professores de Marx, hegel foi quem, com as suas ideias, impulsionou particularmente o pensamento marxista, o socialismo científico.
Criticando Hegel que defendia que todo o processo histórico `e uma transformação -mudança das vontades humanas que se exprimem pela acção.
Marx considerou que também as formas de vida, que exprimem as ideias, se transformam modificando estas. Dai conclui que `e a realidade exterior que cabe o papel essencial e dinâmico sendo, por isso, as realidades económicas, a forca -motriz do processo histórico.
Para Marx `e a realidade económica que determina as relações de produção que por sua vez geram as relações sociais especificas, que movidas por interesses antagónicos conferem ao processo histórico a sua própria dinâmica a dinâmica da luta de classes.
10.2 A concepção marxista de historia
Tem com base o processo produtivo e a compreensão da forma de intercâmbio relacionada e criada por este modo de produção.
Tenta explicar as várias produções teoréticas e as várias formas de consciência. de religião, de filosofia, de moral, a partir da sociedade, o que permite, evidentemente, representar a coisa na sua totalidade.
A concepção marxista histórica, não só explica a partir da ideia, mas a formação das ideias a partir da prática material. Deste modo entende-se que não `e a critica, mas a revolução, a forca impulsionadora da historia e bem assim da religião, da filosofia e das demais teorias.
Do exposto acima surge que para os marxistas a historia das sociedades humanas consiste numa sucessão de modos de produção - esclavagismo, feudalismo, capitalismo - no seio de cada um dos quais a estrutura económica impõe-se `a super estrutura jurídica, politica e ideológica, embora haja interacção entre todos esses factores, pois a historia e globalizante. A passagem de um modo de produção para o outro resulta da luta de classes - contradição sempre presente quando as forcas produtivas entram em choque com as relações de produção.
Mostras portanto que as circunstancias fazem os homens, tanto como os fazem as circunstancias.
Pois bem a concepção marxista de história alarga o objecto de estudo da história pois implica estudo das condições materiais de existência dos homens e da história das técnicas e de desenvolvimento económico no contexto global das relações industriais. Pressupõe também o estudo do papel das massas no processo histórico.
Vários subsídios a nível das metodologias foram, legados pelos marxistas a história moderna. Os marxistas deixam de se limitar a simples descrição para passar a contemplar no seu trabalho a investigação de processos sociais e económicos mais complexos e de maior amplitude; introduziram uma nova tendência histórica a história global, que abarca diferentes aspectos da vida social (económica, politica, mental) e que sobrevaloriza as estruturas sobre os acontecimentos, --------- sobre o individual, o quotidiano sobre o acidental. O marxismo iniciou igualmente uma nova história problemática, interdisciplinar, apoiada na longa duração e numa perspectiva global.
Apesar do seu inegável mérito a concepção marxista de história não teve inserção e muito menos influenciou o pensamento historiográfico do seu tempo. A razão disso é que o marxismo mais do que uma simples direcção de pensamento integrou igualmente a contestação dos seus autores ao sistema capitalista na altura dominante, o que levou ao chamado bloqueio anti marxista.
Alguns reparos devem entretanto ser feitos `a história marxista:
i a sobrevalorização das estruturas económicas sobre as restantes que leva a que todos os fenómenos sejam explicado com base na economia.
ii A colocara das mentalidades na super estrutura, contrariando a actual tendência da historia que `e a de coloca-las como ponto fulcral da evolução histórica.
iii `e uma historia que acredita numa evolução linear, considerado um único modelo de construção do processo histórico.
EXERCÍCIO Nº 2
Questões resolvidas
1 O renascimento constitui no essencial a rejeição dois valores medievais e a preferência pelos da antiguidade.
-Em que medida esta atitude renascentista influenciou a historiografia do seu tempo?
Resposta: Nos séculos XV-XI e acompanhando a evolução e o pensamento dominante a historia conheceu uma reformulação em quase toda a sua dimensão. O seu objecto passou a ser o homem que do renascimento consideravam o verdadeiro responsável pelo seu próprio progresso, contrariando o pensamento cristão dominante na idade média. O método passa a ser a análise da actividade humana e não procura do desígnio de Deu sou a compilação dos dogmas; Os autores e ate a forma de exposição da historia também se alteram na época do Renascimento.
2 O século XVII trouxe importante contributo para o desenvolvimento da história
Em que `e que consistiu tal subsidio?
Resposta: O maior desenvolvimento verificado na história do século XVII foi o aparecimento de novas metodologias e em especial de disciplinas auxiliares da história tais como a diplomática numismática entre outras. Portanto o principal contributo dos historiadores do século foi no alongamento do campo metodológico da história.
3. “ O SÉCULO XVII o surgimento da verdadeira consciência histórica.
-Porquê esta afirmação?
Resposta: `E no século que os historiadores começam a questionar o tipo de história limitada a alguns sectores da sociedade ou ate de actividade propondo um tratamento mais amplo da evolução da sociedade abarcando os diferentes extractos e actividades sociais. Estas ideias de Historia estão bem explicitam nas afirmações de historiadores da época como Voltaire, Condorcet, etc.
Questões não resolvidas
1 Caracterize brevemente o renascimento.
2 Que subsídios proporcionou o renascimento a historiografia?
3 O iluminismo, e. nos séculos XVII-XVIII , o pensamento dominante.
- Caracterize a historiografia feita sob a influência do iluminismo.
4. Qual `e foi o contributo dos historiadores franceses na historiografia do século XVII.
5. Analise o contributo de Voltaire e Rousseau na evolução da ciência histórica.
6. Criticado e quase interdito no seu tempo o pensamento histórico de Marx e Engels revelou-se no século XX um dos pilares da Historia Nova. Argumente.
LIÇÃO Nº 11- A CRISE DA HISTORIA NO INICIO DO SÉCULO XX
Nos finais do século XIX a historia era dona e senhora do conhecimento humano, uma vez que por privilegiar os aspectos políticos, institucionais e culturais, como era característico da história positivista, tornou-se o domínio preferido dos dirigentes, o único modelo susceptível de fornecer normas de acção.
A partir do século XX a historia começou a perder importância devido vários factores;
1. A critica feita por novas correntes historiográficas a historia tradicional.
a) O materialismo histórico - que trouxe uma nova concepção, materialista, de historia acentuando o papel das massas e não dos indivíduos, a importância da historia estrutural e de longa duração em detrimento daquela que privilegiava os aspectos particulares e factuais, o estudo das economias e das sociedades no lugar dos aspectos políticos, a descontinuidade do processo histórico e o papel da luta de classes;
b) a “revué de sinthese hiostorique”/, fundada por Henri Beri, em 1990 marcou a ruptura com o positivismo e o historicismo. A visão analítica, factual e monográfica foi substituída pela visão de síntese.
c)em 1903 Francois Simiand denunciou a historia politica, individual e cronológica.
2 As novas correntes de pensamento
a) Os estudos filosóficos - que alargaram o conhecimento do homem de si mesmo;
b) O estruturalismo - cujo surgimento alterou o conceito de homem e da própria historia.
c)A evolução científica da época a rápida evolução dos conhecimentos científicos, que agora se renovam constantemente, revolucionou os quadros do saber estabelecido que assim deixa de ser um facto acabado para ser em constante mudança, como os homens.
4. A emergência das ciências sociais e humanas
A história perde na segunda metade do século XIX o exclusivo do conhecimento do homem devido a individualização e institucionalização, como ciências, de novos campos de análise e compreensão dos fenómenos sociais e humanos; sociologia, Geografia humana, Antropologia social e cultural, etc.
O aparecimento destas ciências e a sua entrada no campo que antes era exclusivo da história veio colocar aos historiadores ter novos problemas, nomadamente o da definição do conteúdo específico da história, o da reformulação da sua função objectiva nas sociedades modernas e o da metodologia.
11.3 As manifestações da crise da histórica
Dissemos que a historia entrou num momento de crise nos princípios do século porque a partir destra altura e na sequência dos factores mencionados acima a historia deixa de monopolizar o conhecimento do homem e das civilizações, ou seja, neste momento já não `e soa historia que nos fornece todas as informações relativas ao homem.
A crise também se manifesta pelo facto de certas questões antes eram tratadas em historia terem passado para outros domínios do conhecimento, o que corresponde a dizer foram arrancados da história certos conteúdos.
Para alem disso a historia perdeu credibilidade por se atrasar na adopção de uma metodologia científica própria e a sua função específica começou a ser contestada.
LIÇÃO Nº 12- A HISTORIA NOVA
12,1 Os Ananales e o surgimento da nova historia (1929-1946)
Os primeiros anos do século XX, como já dissemos anteriormente, viveu-se um momento de contestação a história tradicional e procura de novos caminhos a nível do pensamento. Impunha-se uma reformulação o que começou com a criação da revista Annales por Lucin Fabvre e Marc Bloch em 1929
Nos Annales foram publicadas varias ideias novas sobre a historia, produzidas a partir da evolução historiográfica dos séculos XVII e XIX, tornando-se esta revista uma verdadeira escola historiográfica.
Ate 1946 os Annales tiveram nos seus fundadores os maiores impulsionadores o que não significa que tenham trabalhado totalmente sozinhos nesta transformação da historia, durante esta fase ocorreram importantes modificações na ciência histórica.
Um dos pressupostos básicos da história dos Annales era a luta contra a historiografia positivista tradicional. Era portanto a luta contra a história politica e individualizada, factual e superficial, opondo a esta história a dos homens e populações totais, económica e social que se pretendia elevar a uma histórica comparada das civilizações.
Baseava-se uma história explicativa, problemática e não automática, profunda e total.
A história dos Annales propõe um alargamento do território do historiador ou seja uma história total, global. Recusa a selecção simples dos factos e a valorização apenas dos referentes aos dirigentes da vida pública ou a classe dominante e considera importante todo o facto que influa nas condições basilares de existência da sociedade modelando atitude de vários grupos na vida real dos seus componentes.
`e portanto por uma historia de todos os homens ou simplesmente a historia humana.
O desejo dos Annales sobre o alcance da história esta bem expressa na seguinte frase de Marc Bloch: “A verdadeira historia `e uma historia universal”
Os Annales apresentam uma nova visão de documento histórico. Para eles documento histórico não `e só escrito, mas também o figurado, o vestígio arqueológico, a informação oral, etc. Tudo o que pode informar sobre o passado dos homens.
Finalmente também os Annales tem uma atitude diferente da dos positivistas no que diz respeito ao papel do historiador, pois para eles tem um activo na construção histórica.
Para os Annales o facto nunca existe, senão num certo contexto e que o acontecimento só chega a categoria de facto histórico depois que o historiador o tiver conduzido a isso integrando-o numa determinada teia de relações. Por isso o facto histórico e uma criação do historiador.
Sendo assim, embora sem exageros dos historiadores Annales conferem aos historiadores um papel importante na construção do conhecimento histórico. Também lutam por uma história que não se limitasse na descrever os acontecimentos, mas que procurasse resolver ou pelo menos colocar problemas pela história - problema, para eles a grande história.
12.2 A evolução da historiografia a partir de 1946
A partir de 1946 a revista annales alargou os seus horizontes já com L.Febvre sozinho a frente da direcção (Marc Bloch foi assassinado pelos nazis em 1944) mas contando com uma valiosa contribuição de Robertt Mandrou, Marc Ferro, Charles Moraze, Fernand Braudel,Vitorino Magalhães Godinho,etc.
“ Hoje a “ Historia Nova “ (…), procura estruturar-se melhor, definir os seus campos, a sua problemática, os seus métodos e técnicas, (…).Por todos os países vão surgindo novas maneiras de ver a Historia, adaptadas muitas vezes a condições e problemas nacionais. Dai a multiplicidade de obras que vão sendo o lume sobre metodologia e epistemologia nova da Historia, mas também novas obras sobre problemas ate a pouco tempo desprezadas pelos historiadores: a família, o amor ,as festas populares, o clima, etc.”
Portanto a historia regista a partir de 1946 uma reformulação: (i) a nível do objecto de estudo – com a adopção de novos objectos como a família, a sexualidade, a morte, a delinquência religião popular, etc. ate ai reservados a outras ciências sociais. Também busca novos heróis: marginais, mulheres, camponeses, operários, etc.
Tudo o que diz respeito ao homem `e agora matéria de estudo em história.
(ii) a nível metodológico – aperfeiçoando o seu método de investigação e analise e encontrar novas técnicas e meios de investigação podendo assim, utilizar muitas fontes históricas, o que se deveu a evolução cientifica da época, em geral, e ao aperfeiçoamento das ciências auxiliares da historia, em particular. Deste desenvolvimento resulta um alargamento do âmbito cronológico da história. Surge assim na história nova há uma espécie de dialéctica entre o passado e o presente, em que se procura compreender o presente pelo passado e o passado pelo presente.
no campo geográfico – Passando a defender a universalidade em oposição ao euro centrismo. A história nova nega a sobrevalorização de certos povos minimizando outros. `e também contra a analise individualizada dos diferentes povos propondo a integração das sociedades num todo, destacando-se claramente os delineamentos, marcando as relações e as inter-influencias, as condições de isolamento, discernindo os centros donde partem as invenções, num, a sucessão cronológica, daqueles que as recebem.
LIÇÃO Nº 13 A HISTORIA ESTRUTURAL
Após a morte de Lucien Febvre em 1956, os annales passaram para a direcção de Fernand Braudel e iniciou-se uma nova etapa na evolução da história particularmente desde que em 1958 Braudel publicou o seu artigo “Historia e ciências sociais: a longa duração” contendo as linhas mestras da actual etapa da história nova: a historia estrutural baseada na longa duração.
Estrutura – Designa principalmente as formas e as actividades relativamente permanentes nas relações de proporções, nas dimensões relativas, nas relações entre as forcas de produção. Em geral as estruturas evoluem lentamente, mas certas modificações podem tornar a forma de mutações violentas como por exemplo uma inovação técnica, uma revolução politica, etc.
13.1 Características da Historia Estrutural
A recusa da concepção positivista do facto singular como objectivo principal do conhecimento histórico impôs que a historia recorresse a conceitos de outras ciências sociais. Neste contexto a conjuntura e a estrutura entram no âmbito da história, que agora pretende privilegiar o conjunto, as grandes massas, estar atente as flutuações, dinâmica no tempo e no espaço. a partir desta base Braudel e o sociólogo Gurvitch introduziram as noções de geo-historia e o complexo histórico-geográfico, vir-se-ia a tornar num importante subsidio para a periodização e síntese histórica. Estas noções permitem fazer mais inteligível o que aparece como caótico, integrando os acontecimentos em estruturas, num espaço determinado.
a) Introduz-se um novo conceito de tempo histórico, recusando o tratamento dado ao tempo pelas correntes tradicionais
Braudel sugere que o tempo histórico deve ser medido de acordo com a duração, sequencia, permanência ou mudança dos fenómenos e não pela sequência do calendário pois, nem sempre o tempo social coincide com o tempo cronológico.
Partindo desta base Braudel propõe um modelo triplo de duração histórica:
-Um tempo curto ( o tempo dos acontecimentos ) que se ocupa com as ocorrências de superfície que não exige nem investigação nem analise profunda.
-A média duração estuda as pequenas varia coes cíclicas – as conjunturas
- A longa duração estuda as grandes repetições ou as grandezas e permanências. ` e o tempo das estruturas ou a historia estrutural.
b) A aproximação das ciências sócias e o valor da interdisciplinaridade
O ideal de história total e a teoria da longa duração levaram a história a uma maior aproximação com as ciências humanas e sociais, a interdisciplinaridade, a fim de captar o social na sua totalidade. De facto seria impensável fazer-se o tipo de história que se defende nesta altura sem o recurso a outros campos do saber.
Assim a historia tem ligação com a antropologia, sociologia, economia, geografia, psicologia, linguística ciência da vida, matemática, etc.
c) A revolução nas metodologias
- a especialização e o trabalho em equipa
A história total, global, interdisciplinar e comparativa que se pretende na história nova impõe cada vez a especialização, apoiada e completada por um trabalho de equipa, interdisciplinar e integrador.
- A critica `a historia nova
Não obstante os progressos registados ao longo de séculos de aperfeiçoamentos a todos níveis continuam em pleno século XX a se apontar incorrecções na ciência histórica. Alias isso não `e de espantar pois todo o conhecimento `e relativo e nunca se constitui como um dado feito, esta em constante reformulação.
Entre as limitações da história nova aponta-se em primeiro lugar a falta de originalidade, afirmando os críticos, que os annales atribuírem, dignidade histórica a outros heróis campos, sem mudar a perspectiva, não fizeram mais do que retirar esses elementos a outras ciências, portanto a nova historia não tem nada de original.
Na continuação das críticas considera-se que nova, ao mesmo tempo que suscitou o gosto pela história aproveitou-se dela para fazer da história uma forma de literatura, um espectáculo enquanto o historiador se transformava num encenador. Consideram assim que a historia feita como a entendiam os defensores da história noiva acabou perdendo rigor científico passando a partir da intriga, da “conversa de café”mas não terminam por aqui as criticas. Considera-se igualmente que a tentativa de explicação da problemática do passado, conduz o historiador a reflectir, nas suas obras, mais nos problemas do presente, de que `e portador e com os quais se identifica, do que nos da época sobre que se debruça. Assim a historia perde objectividade.
Outros aspectos críticos na historia nova são a dispersão da atenção do historiador pelos campos da sociedade, economia, psicologia, etc.e a consequente especialização que, dizem, leva a uma imagem de uma historia em fatias, aos bocados, devido aos muitos trabalhos que passam a ser necessidades na historia nova e; a perspectiva demasiado sincrónica da historia estrutural e o desprezo pelo acontecimento e pela diacronia que se entende como procedimentos que desvirtuam o sentido da historia.
--As novas propostas
As críticas a historiografia nova foram acompanhadas pelo surgimento, nos setenta, na Inglaterra, e E.U.A. de novas correntes historiografias, por um lado herdeira da história nova por outro lado, reagindo contra aquilo que se pode considerar limitações dessa história. Estas correntes dão corpo a uma nova perspectiva chamada Novo Estruturalismo.
13.2 O novo estruturalismo
Eis as suas ideias – chave:
O retorno a narrativa e a visão linear do discurso histórico;
(ii) O regresso a valorização do acontecimento, agora integrado sob todos os prismas, no seu próprio tempo;
iv O retorno a historia politica.
v O novo estruturalismo e por uma nova noção de tempo que nega a tradicional, que o coloca como pano do fundo dos acontecimentos, propondo que se encare COMO PARTE INTRÍNSECA DO ACONTECIMENTO. ASSIM segue-se o princípio a tripla dimensão iniciada por Braudel, mas considera-se que o historiador deve ser atencioso no seu tratamento evitando sobre valorizar uns e menosprezar outros.
LIÇÃO Nº 14- A EVOLUÇÃO DA HISTORIOGRAFIA AFRICANA
Depois da análise historiografia feita desde antiguidade ate a época contemporânea, tratando da Europa e parte do oriente, passamos agora análise da historiografia africana.
O que se pretende nesta abordagem e uma tentativa de mergulhar nos imensos problemas ligados a elaboração e concepção da historia como ciência em Africa.
Ao estudarmos a evolução da historia da Africa importa notar, antes de mais, que esta foi extremamente distinta entre o norte, tradicionalmente ligados as civilizações mediterrânicas e Árabe e, o sul do Saara.
Os primeiros trabalhos sobre os trabalhos da Africa com o surgimento da escrita. Entretanto essas são referentes ao norte da Africa que integrava as civilizações do velho mundo mediterrânico e islâmico medieval.
A Africa tropical continuava fechada, sem conhecer a critica com o seu passado conservando-se e transmitindo por da oralidade e experiência.
Foi assim ate a expansão do império Otomano no século XVI.
A partir dos finais do século XVIII, com a expansão do Napoleão Bonaparte (1798) ao Egipto, renova-se o interesse pelo norte da Africa. Tal como antes a Africa negra não e ainda referencia preferida dos historiadores.
A tomada de Argel pela Franca (1830) e do Egipto pela Inglaterra (1882) será acompanhada pelo surgimento de um ponto de vista europeu colonialista na história do norte de Africa.
A modernização do Islão desenvolvimento da instrução do tipo europeu nas colónias e o surgimento dos movimentos nacionalistas levou ao surgimento de escolas historiografias produzindo escritos em árabe, inglês e francês.
Na Africa tropical o estudo foi bastante limitado e as informações de autores antigas para alem de raras não inspiram muita confiança. Só na época clássica aparecem primeiras fontes credíveis sobre o mar vermelho e o Indico escritas pelos mercadores. Africa ocidental, norte do Sudão e de Africa oriental as melhores a lá passavam informações são dos autores árabes que por
Sobre ou se tinham instalado fazendo comercio. Al-Masudi (morreu em 950), Al-Bakri (1029-1094), Al-Idrisi (1154), Ibn Battuta (1304-136y9), Hassan Ibn Muhamad al Wazzan’n (Leão africano-1494-1552), etc. foram os autores das fontes mais importantes dos séculos XI a XV.
Contudo não estávamos ainda em presença de historiadores de facto pois o seu trabalho não passou de descrições de regiões de Africa a partir das informações possíveis na época, não fazendo qualquer estudo sistemático sobre as mudanças ocorridas ao longo do tempo. Para alem disso era informações duvidosas.
Um dos primeiros e mais importante historiador da Africa foi Ibn Khaldun (1332-1406). Estudou a Africa e suas relações com o Mediterrâneo e o Próximo oriente, introduziu o modelo de ciclo para a história da Africa e tentou chagar a verdade histórica através da crítica e da comparada. Estudou também o Mali com base na tradicional da época.
Quando o Islão e com ele a escrita, chegou a Africa oriental, os negros africanos começaram a conservar a sua historia através de textos escritos. Foi o caso dos Ta’rikh All-Sudan,Tarikh Al-Fattash,a crónica de Kano, a crónica de Kilwa, etc.
No século XV os europeus começaram o contacto com a costa africana dando lugar a produção de obras literárias de valor histórico. Foram produzidos na costa da Guine materiais que fornecem testemunhos directos e datados bem como compilações de relatos. Mas eram mais descrições sobre a situação contemporânea da época do que historia. Noutras regiões da Africa tropical foram igualmente produzidos materiais históricos especialmente por missionários.
A partir do século XVIII a Europa começa a prestar uma certa atenção a Africa. No século XV os europeus começaram o contacto com a costa africana dando lugar a produção de obras literárias de valor histórico. Foram produzidos na costa da Guine materiais que fornecem testemunhos directos e datados bem como compilações de relatos. Mas eram mais descrições sobre a situação contemporânea da época do que historia. Noutras regiões da Africa tropical foram igualmente produzidos materiais históricos especialmente por missionários.
A partir do século XVIII a Europa começa a prestar uma certa atenção a Africa. Os livros opeus de historia começam a contemplar a Africa um número considerável de páginas e algumas monografias sobre história são produzidas. No entanto e uma historia eurocêntrica que se faz sobre a Africa neste período e nos tempos que se irão seguir.
A visão euro centrista da história resultou da convergência do Renascimento, do Iluminismo e da evolução científica e industrial. Partindo do que chamavam herança greco-romana única os euro centristas julgavam os objectivos, conhecimentos, poder e riqueza da sua sociedade preponderantes e que como tala civilização europeia devia se sobrepor as demais. Consequentemente a sua história era a chave de todo o conhecimento e dos outros em especial a africana sem nenhuma importância.
Hegel foi muito claro a este respeito quando disse:”A Africa não e um continente histórico; ela não demonstra nem mudança nem desenvolvimento.”
Este ponto de vista manteve-se no século XIX e tem ainda alguns adeptos em pleno século XX.
A implantação da nova história da Africa foi obra de historiadores profissionais que fizeram dela o objecto do seu ensino e os seus escritos. Quase nulo em 1950, o num, erro de historiadores profissionais com nível de doutoramento ou equivalente escrevendo sobre Africa rondava os 500 em 1970.
A promoção de uma história de Africa descolonizada começa por volta de 1947, quando intelectuais africanos começaram a definir a sua própria concepção em relação ao passado africano e a buscar nele fontes de uma identidade cultural negada pelo colonialismo. Tenta-se já uma história livre de mitos e de preconceitos subjectivos.
A partir de 1948 foram criadas Universidades com Departamentos de historia marcando um novo impulso a história de Africa. Surge uma história de Africa comparável a de qualquer outra parte do mundo.
A fundação de novas universidades criou a necessidade e a possibilidade de uma história renovada da Africa, sob um ponto de vista africano.
O início do estudo da história de Africa noutros continentes constituiu igualmente um factor importante para a reestruturação da história africana.
As independências dos países africanos a partir da década de 1760 criaram um renovado interesse pela Africa e uma considerável curiosidade popular.
Antes porem, a partir do princípio do século XX e sobretudo depois da primeira guerra mundial, tinha se espalhado um pensamento que pretendia minimizar e ate negar a influência de presença europeia em Africa, apresentando-a como um acontecimento de ínfimo impacto na evolução histórica da Africa .Este pensamento afro centrista constitui também uma etapa importante na evolução da historiografia africana.
Portanto, começando do século XIX altura em que começa a ser regular e ate seriamente escrita, a história da Africa seguiu três correntes principais: o euro centrismo, o afro centrismo e ainda uma corrente intermédia, a que alguns dizem progressista, que tenta estabelecer um certo equilíbrio entre as duas primeiras claramente radicais em defesa dos objectivos que perseguem.
Retirado do Bloguer: Factos e a verdade. Link: http://repensand.blogspot.com/2013/06/a-historiografia.html