A prostituição
A presente pesquisa tem como objetivo geral perceber as causas da prostituição A prostituição sendo caracterizada pelo modo como sua prática é exercida nas mais variadas formas, desde tempos antigos, perpassando até os dias actuais. Nesse sentido, a prostituição configura-se sendo tarjada como “profissão mais antiga do mundo”, logo, em relação a essa assertiva, convém analisar suas partes, seu contexto sócio-histórico e suas principais categorias e modalidades. Desse modo, nosso estudo buscou responder aos seguintes questionamentos: Quais os fatores que ocasionam essas mulheres a ingressarem na prostituição? Quais suas perspectivas de vida actuais e futuras? Nessa perspectiva, para alcançar os objetivos propostos pela pesquisa foram utilizadas técnicas que se adequassem melhor à análise. Deste modo, a presente pesquisa possui uma abordagem qualitativa, estudo bibliográfico e emprego da técnica de entrevista semiestruturada. A pesquisa revelou que a maioria as mulheres se prostituem em sua maior parte pela condição financeira, ou seja, pela falta de condições para suprir suas necessidades, outro dado revelado que se destaca é a ausência de oportunidade em conseguir um novo emprego em decorrência da atuação como prostitutas, uma vez que muitos ao saber da sua condição de vida não aceitam empregá-las. Outro dado relevante é o de que muitas não possuem sequer o ensino fundamental completo, fato que dificulta ainda mais a procura de um novo emprego, dado que a maioria das mulheres pesquisadas afirmaram que trabalhavam como empregada doméstica antes de entrar na prostituição, mas que ainda realizam algumas atividades relacionadas para complementar a renda.
PALAVRAS-CHAVE: Prostituição. Trajetória de vida. Estigma. Preconceito.
SUMÁRIO
RESUMO
1. INTRODUÇÃO
1.1 Problemática
1.2 Hipótese
1.3 Justificativa
1.4 Objectivos
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 PERCEPÇÕES ACERCA DA PROSTITUIÇÃO: DA ANTIGUIDADE AOS DIAS ACTUAIS
2.1.1 A Prostituição e suas Conquistas como uma Categoria Profissional
2.1.2 Breve Resgate Histórico sobre a Regulamentação e o Abolicionismo
2.2 CAUSAS DA PROSTITUIÇÃO
2.2.1 A Prostituição em Angola
2.2.1.1 Um só negócio, histórias diferentes
2.3 PRINCIPAIS CATEGORIAS E MODALIDADES DA PROSTITUIÇÃO
2.4 CONSEQUÊNCIAS DA PROSTITUIÇÃO
2.5 SOLUÇÃO PARA PROSTITUIÇÃO
2.6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
3. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Prostituição é a troca consciente de favores sexuais por dinheiro. Uma pessoa que trabalha neste campo é chamado de prostituta, e é um tipo de profissional do sexo. A prostituição é um dos ramos da indústria do sexo. O estatuto legal da prostituição varia de país para país, a ser permitida, mas não regulamentado, a um crime Forçado ou Não-Forçado ou a uma profissão regulamentada.
A prostituição é praticada mais comumente por mulheres, mas há um grande número de casos de prostituição masculina em diversos locais ao redor do mundo.
Popularmente chamada de “profissão mais antiga do mundo”, a prostituição é moralmente reprovada em quase todas as sociedades, dada a degradação que representa para as pessoas que a praticam.
Prostituição é a atividade que consiste em oferecer satisfação sexual em troca de remuneração, de maneira habitual e promíscua. A definição de prostituição baseia-se em valores culturais que diferem em várias sociedades e circunstâncias, mas geralmente se refere ao comércio sexual de mulheres para satisfação de clientes masculinos. Também há formas masculinas de prostituição homossexual e, em menor proporção, entre homens que alugam seus serviços para mulheres. Em sociedades muito permissivas, a prática da prostituição se torna desnecessária; em culturas demasiado rígidas, é perseguida e punida como delito.
1.1 Problemática
A prostituição é uma profissão não lícita porque leva a pessoa à muitos riscos tais como drogas, doenças sexualmente transmissíveis (DST) e danos neurológicos. Assim sendo, como problemática desta pesquisa temos a seguinte questão:
O que leva as pessoas a se prostituírem?
1.2 Hipótese
A prostituição pode ser ocasionada por vários motivos, como desqualificação profissional, analfabetismo, inoportunidade de emprego, problemas familiares e outros.
1.3 Justificativa
A prostituição é um grave problema social, consequente de uma política governamental que não dá oportunidades para todos e obrigam alguns a ganharem dinheiro da forma mais cruel que existe, vendendo a única coisa que realmente possuem: seu corpo.
Paralelo à prostituição, encontramos outros problemas, como: AIDS, Aborto, Drogas, etc., alastrando ainda mais a situação de degradação na sociedade. Podemos ver que falar da prostituição, apesar de ser um tema sobre uma profissão antiga, ainda é de suma importância nos nossos dias, pois como todos nós sabemos o índice de problema tem-se propagado cada vez mais e particularmente aqui em Angola o aumento tem se notado nas duas modalidades de prostituição o de luxo e a prostituição de rua e nos últimos dias tem se relatado ainda casos de estrangeiras aqui em Angola particularmente em Luanda que tem influenciado no aumento de prostituição de luxo de acordo com uma reportagem da Televisão Pública de Angola (TPA).
1.4 Objectivos
1.4.1 Objetivo Geral
· Discutir as principais causas que levam as mulheres a se prostituírem.
1.4.2 Objetivos Específicos
· Compreender os fatores que ocasionam as mulheres a ingressarem na prostituição;
· Analisar as perspectivas de vida actuais e futuras de mulheres prostitutas.
·
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 PERCEPÇÕES ACERCA DA PROSTITUIÇÃO: DA ANTIGUIDADE AOS DIAS ACTUAIS
A prostituição, seus significados e suas formas ao longo do tempo foram perpassando por mudanças, estigmas e estereótipos que a representam e que vão ganhando novas roupagens, dessa forma, “O significado social da prostituição não é imutável ou trans-histórico. Ao contrário, ele se modifica e de acordo com o contexto sócio-histórico, cultural, político e econômico, os quais mediam e dão significado à prostituição (RODRIGUES, 2009, p. 44).
De acordo com leituras de autores como Guimarães e Bruns (2010), Rodrigues (2009) entre demais que referenciam a prostituição como uma das profissões mais antigas do mundo, a partir desse entrelace pude perceber que ela é considerada dessa forma e vem se adaptando de acordo com as mudanças ocorridas na sociedade.
Nesse sentido, a prostituição pode ser compreendida a partir de seu histórico desde épocas remotas, nas antigas sociedades como a Grécia, Roma dentre outras, ressaltando que a mesma deve ser sempre pensada em seu contexto sócio-histórico.
De acordo com Guimarães e Bruns (2010), durante o período da Idade do Bronze (referência ao período da civilização em que ficou caracterizada pela criação do bronze resultante da mistura de cobre com estanho), na sociedade matriarcal as prostitutas eram consideradas mulheres sagradas, devido à crença de serem a encarnação de uma deusa. Não eram vistas com um olhar preconceituoso diante da sociedade, pelo contrário desenvolviam um papel importante.
Porém, de acordo com Guimarães e Bruns (2010), essa fase estava com seus dias contados, devido às tribos de homens guerreiros da Mesopotâmia, que invadiram essas sociedades matriarcais e fizeram com que essas mulheres consideradas sagradas fossem dominadas por eles. Agora deviam se subjugar às regras que lhes eram impostas, passando assim a perderem os seus plenos poderes.
A Igreja começa a entrar nesse ponto, reprimindo qualquer questão que fosse relacionada ao culto à Deusa[1], e defendia totalmente o casamento e a monogamia, por outro lado aceitava a prostituição na forma em que era vista como algo necessário.
A partir de então, começa a se fragmentar o poder feminino, as mulheres estavam submetidas aos poderes dos homens, ao qual a sociedade passou a ser mais centrada no comércio nas guerras e conquistas. Para eles, esses fatores eram essenciais, enfatizando que as atividades masculinas estavam ganhando o seu lugar e as atividades femininas, porém sem nenhuma importância, passaram a ser submersas pelo poder masculino. Nesse ponto, chega a uma total “dominação masculina”[2] sobre a mulher, o homem passa a ter o real controle com medidas preventivas, como o casamento e a monogamia.
Logo, de acordo com Brasil (2012), na Grécia as prostitutas viviam em estados dependentes consideradas escravas e possuíam o nome de porné, eram incessantemente usadas pelos industriais que possuíam o nome de pornoboskoi. E eram convocadas pelas comunidades antigas como objeto, ou seja, ser para todos.
De acordo com o tempo, com as mudanças na civilização grega, passaram a permitir que os homens possuíssem três mulheres, sendo uma para fins sexuais, outra para cuidar da casa e, por fim, uma para ter filhos. Possuíam a função de procriar. Vale destacar que o Estado também começa a se aproveitar da ocasião e passa a ver o sexo como um negócio (BRASIL, 2012).
Nesse sentido, a prostituição feminina passa a ser aderida como um trabalho visando apenas ao lucro, deixando de lado suas emoções, passando assim a ser vista pelos homens como um objeto que se transformou em uma mercadoria que estava sendo colocada a venda.
Segundo Torres et a. (1999):
A prostituição [...] na Idade Média, ela foi oficializada como profissão pelas autoridades, constituindo, assim, uma fonte de renda para o Estado. Durante a Revolução Industrial, a prostituição aumentou em toda a Europa devido ao êxodo rural, às condições de pobreza e a promiscuidade das aglomerações urbanas.
Com o tempo, a prostituição vai se moldando de acordo com as estratégias que lhes são lançadas, desse modo percebemos que na atualidade ela passa a ser segregada pelo preconceito e horror ao exercício dessa atividade, são totalmente desrespeitadas pelo poder público e também pela sociedade sendo até consideradas invisíveis pela sociedade.
Se épocas atrás, a prostituição era vista na forma de um culto a uma Deusa, nos dias de hoje é considerada uma mulher profana ancorada pelo estigma de que são tratadas (GUIMARÃES E BRUNS, 2010).
Nessa perspectiva, “[...] podemos perceber que essas mulheres não eram estigmatizadas como são hoje, desempenhavam um papel importante na sociedade [...]” (GUIMARÃES E BRUNS, 2010, p. 23).
Dessa forma, as prostitutas dos dias de hoje são consideradas de baixo meretrício[3], sentem vergonha de exercer suas atividades, principalmente as de rua. Contudo, observa-se que as prostitutas consideradas com um poder aquisitivo maior não se preocupam com essa condição, pois as mesmas não se enquadram nesse perfil.
Para Pinheiro (2006), na modernidade, “[...] a prostituição ocupou novos espaços, antes inviáveis, por meio da utilização de recursos tecnológicos, tais como a internet e o telefone celular [...]” (p. 14). Fato que ampliou ainda mais o mercado da prostituição, sua renda, maiores números de pessoas em busca de uma melhor condição de vida.
Portanto, de acordo com as palavras de Guimarães e Bruns (2010), a prostituição de hoje é a mesma desde a antiguidade, porém se readapta à atualidade, dessa forma como uma nova embalagem, mas com o mesmo produto.
2.1.1 A Prostituição e suas Conquistas como uma Categoria Profissional
De acordo com Vilela (2011),
O surgimento dos movimentos sociais para a defesa dos direitos das prostitutas e a reavaliação da sua nomenclatura, deixando de ser um “trabalho sexual” para tornar-se um “trabalho como qualquer outro”, fez inovar também quanto ao termo “prostitutas” para “profissionais do sexo” ou “trabalhadoras do sexo”, para se referirem àquelas mulheres que fazem do sexo sua profissão (p. 3).
Importante mencionarmos que o ano de 1975 é considerado um marco na história da prostituição, estimado como uma de suas primeiras lutas para com a categoria, esse fato ocorreu no dia 2 de junho de 1975, 150 prostitutas se reuniram na Igreja de Saint-Nizier, em Lyon, na França.
As prostitutas reivindicavam contra o preconceito existente e as altas taxas de impostos que lhes eram cobradas. Sendo assim, esse ato se tornou universal passando a ser aderido em vários locais, como em Paris, Marselha, Montpellier, Genoble e no Brasil, as prostitutas percorriam as ruas distribuindo folhetos explicativos, informando a respeito das inúmeras opressões que sofriam e também pelas insistências policiais em persegui-las. Entretanto, no dia 10 de junho do ano de 1975, as mulheres que estavam na Igreja Saint-Nizier foram banidas pela polícia, mas deixaram o seu legado vivo permanecendo até nos dias de hoje, gerando assim uma independência às prostitutas, porém independência que não era totalmente formada devido aos nós que se prendia a sociedade, como o preconceito, o estigma e outros valores.
As prostitutas em sua história política e organizativa davam seu pontapé inicial por volta dos anos 80, sendo cerceada pelos sanitaristas e policiais. De acordo com a cartilha Manual do Multiplicador, difundida pelo Ministério da Saúde (1996):
As primeiras organizações políticas de mulheres prostitutas surgem na Alemanha Ocidental HYDRA, de Berlim considerada a primeira organização pelos direitos das prostitutas. Fundada em 1980, seguindo-se a fundação, logo depois da HWG em Frankfurt e posteriormente outras em Munique, Nuremberg, Hamburgo, Colonia e Bremem (p. 12).
Na época, para muitas autoridades a regulamentação ou legalização era vista como uma medida que seria imprescindível para o mal necessário da prostituição, destacando que essa medida serviria apenas para bordéis, sendo proibido para atividades públicas.
As medidas tomadas em relação à mulher prostituta se davam de uma forma severa que chegavam a processar proprietários de pensões caso as alugasse quartos para as mesmas.
De acordo com Roberts (1998), em 1864 surge primeiro Ato das Doenças Contagiosas, formado por “higienistas”, dizia respeito, porém, a soluções para as doenças sexualmente transmissíveis, na época, principalmente, a sífilis, caracterizada como a “doença da imoralidade”.
Como afirma Roberts (1998), o que existia mais era a questão do medo, e acabavam exagerando, deixando assim de lado assuntos mais importantes como a fome e a miséria.
Na época, os médicos dificilmente conseguiam diagnosticar doenças sexualmente transmissíveis, na verdade eram as próprias prostitutas que se autodiagnosticavam e conseguiam detectar as doenças sexualmente transmissíveis. Elas tinham suas regras, no sentido de que antes de realizarem sexo com seus respectivos clientes deviam examiná-los para assim estarem cientes de que possuíam ou não alguma doença que as transmitissem. Caso contrário, poderiam ser infectadas por eles no ato sexual, quando isso acontecia recorriam a remédios e ervas caseiras.
2.1.2 Breve Resgate Histórico sobre a Regulamentação e o Abolicionismo
As primeiras menções referentes a uma regulamentação da prostituição se dão de acordo com Ceccarelli (2008), nos últimos anos com:
Alguns países europeus, como Alemanha, Países Baixos, Dinamarca e Noruega legalizaram a prostituição; em outros, como no Reino Unido, é tolerada. Em Portugal, a prostituição não é ilegal, desde que não haja incentivo para essa atividade. Na França, não é legal nem proibida, embora o proxenetismo seja uma infração. Outros países ainda a penalizam, como a Suécia, onde vender sexo é tão ilegal quanto comprá-lo. Resultado: prostituta e clientes são punidos com até seis meses de prisão. Nos Estados Unidos, a prostituição é ilegal em praticamente todo o território (p. 4 - 5).
Em 1870, nos Estados Unidos, médicos e demais autoridades propuseram uma regulamentação da prostituição, esse fato se dava devido ao abastamento das doenças prolíferas. Baseavam-se em algumas cidades nas quais já havia a regulamentação, como na Europa Continental, em que as prostitutas possuíam seus direitos trabalhistas; outro país é a Holanda, no qual as profissionais do sexo ficam em mostruários como mercadorias à venda para os seus clientes.
É importante mencionarmos que, com todo esse ensejo de regulamentar a prostituição, por trás existiam os reais motivos para essas medidas serem tomadas, que seria o de lucrar com o dinheiro com as prostitutas, sendo área muito investida pela elite nos negócios masculinos.
De acordo com Swain (2004), “a prostituição sendo legalmente convertida como uma profissão a mesma estaria legalizando a própria violência da mulher”. Contudo, Tavares (s. d.) afirma que “[...] impulsionado pelas feministas, que consideravam a prática da prostituição uma escravatura humana, nos finais do século XIX, inicia-se na Europa um movimento contra o regulamentarismo [...]” (p. 2).
O movimento era liderado por Josefine Butler. Seguindo a ideia do autor, o abolicionismo sendo um sistema contra a exploração sexual da mulher, as prostitutas são, dessa forma, consideradas vítimas desse sistema de exploração, e consequentemente desaprova quem dela vive, ou seja, o proxenetismo.
2.2 CAUSAS DA PROSTITUIÇÃO
Muitas mulheres entram para a prostituição muito cedo, às vezes ainda criança. Essa prática pode ser incentivada pela própria família que busca recursos financeiros para sobreviver e por isso, explora a criança e a coloca em uma situação de violência.
Para entender a prostituição é preciso analisar a organização social. Ou seja, quais motivos levam as mulheres para essa atividade, para o comércio do corpo. Entre os fatores estão as desigualdades sociais no País, ou seja, a existência de um sistema econômico falho, onde poucos têm muito dinheiro e muitos mal conseguem sobreviver.
Outro fator que estimula essa prática é a busca por uma boa condição financeira que permita uma maior possibilidade de consumo, independente das regras estipuladas pela sociedade. Ou seja, não importa se a atividade é imoral ou ilegal, o que vale é o dinheiro que vai ser adquirido e que pode ser usado para sustentar uma família.
Factores económicos: falta de emprego; migração para os grandes centros urbanos; jovens do campo, passando a viver na cidade; mães solteiras com dificuldade na manutenção do filho. Moradias em condições sub-humanas: barracos, cortiços, porões, muitas vezes abrigam a promiscuidade, que é um caminho aberto para a prostituição.
Factores psicológicos: carências afectivas e traumas que marcam a infância e a adolescência das pessoas.
Aspectos fundamentais a serem considerados
1. Identidade – origem – identidade sexual: A identidade sexual é um indicador chave no caso de jovens homossexuais cuja identidade real não aceita; ou para jovens imigrantes mesclados entre duas culturas e identidades paralelas. Quando a verdadeira identidade não foi reconhecida ela pode ser procurada na prostituição.
2. Violência, protecção de si mesmo: violências sofridas na infância ou na adolescência são o fio condutor de novas violências. Estas, quase sempre, foram silenciadas, e esse silêncio continua na prostituição.
3. Baixa Auto-Estima: Desvalorização, depreciação, sentimento de nulidade ou inutilidade.
4. Recursos financeiros e sua relação com o dinheiro: A relação com o dinheiro fica alterada – excesso ou falta – é uma questão importante, falta de visão entre o patamar da vida e realidade financeira oficial. Situações de graves dívidas ou dívidas sucessivas, que podem esconder maus tratos – máfia, pessoas abusadas, tráfico, etc. Ou uma tendência da mulher a se deixar explorar financeiramente para parecer boa pessoa.
5. O Meio de Vida: Mulheres que não têm relações com outras pessoas fora da prostituição, estão em situação vulnerável, elas foram levadas a isso ou escolheram essa situação, – jovens em situação conflituosa com a família, marginalizadas, precariedade social e afectiva e tendo um medo do confronto com a realidade e suas exigências – casamentos desequilibrados, amizades complicadas.
6. Contexto profissional: Desempregadas, mudanças profissionais infindáveis, precariedade económica são factores que fragilizam as mulheres. Alguns empregos facilitam a chegada à prostituição.
7. Valores éticos: É bom questionar as referências das mulheres, o sentido de mundo pessoal delas, da vida, da prostituição, seus desejos e a questão familiar.
2.2.1 A Prostituição em Angola
Em Angola, ainda não há qualquer lei que regule a actividade, pelo que as mulheres dizem-se livres de exercer o negócio onde quiserem, desde que não pratiquem actos sexuais em lugares públicos.
2.2.1.1 Um só negócio, histórias diferentes
Apesar de estarem no mesmo negócio, estas mulheres trazem consigo histórias de vida completamente diferentes. Júlia Sacaita contou que pratica a actividade devido ao comportamento do marido, que a abandonou com dois filhos.
“Saímos do Kuíto para Luanda com a intenção de ganharmos a vida. Mas uma vez cá, ele começou a trabalhar e decidiu abandonar-me com as crianças, sem apoio. Como não conheço ninguém por cá, a única saída foi mesmo me prostituir, ou então os meus filhos morreriam de fome”, explicou. Júlia chegou a trabalhar como babá, mas ganhava apenas kz 20 mil por mês. (Rede Angola, 2014)
A jovem revelou ainda que trabalha todos os dias da semana, das 20 h à meia-noite. Nos “melhores dias” atende uma média de dez clientes, e o valor cobrado oscila entre os kz 1,5 mil e os 2 mil. Em meses de maior movimento, o valor pode chegar a mais de kz 300 mil por mês. “Com os valores que ganho já consigo sustentar os miúdos e pagar a casa onde vivemos. Tenho esperança, sim, de um dia vir a largar este negócio, mas preciso de algo que dê para sustentar a família”. (Rede Angola, 2014)
Por seu turno, Paula Mateus contou que entrou no negócio depois de perder o emprego. Com o marido desempregado e uma filha para sustentar, a mesma frisou ter-se sentido esgotada e a única alternativa que lhe apareceu foi a prostituição. A questão da segurança é outro aspecto que a mesma revela ter sempre em conta. “O meu marido sabe que me prostituo, mas ele entende porque faço isso para sobrevivermos. Por isso tento arduamente cuidar-me, usando o preservativo. Aliás, todas nós o tentamos fazer. (Rede Angola, 2014)
O sociólogo José Garcia Lencastre disse que “na nossa sociedade a prostituição tem uma imagem negativa” e uma das consequências para quem pratica este estilo de vida é dificilmente verem-se livres do passado, quando abandonam a prostituição.
A prostituição em Angola tem causas económicas, assegura o sociólogo, apontando que devido à guerra, muitas mulheres perderam os maridos e não conseguem, com o salário que auferem, sustentar a família.
A prostituição em Angola não consta das profissões reconhecidas legalmente. A sua prática é ilegal, disse José Garcia Lencastre. Por isso, as mulheres que assim procedem não têm acompanhamento médico.
“Estamos a entrar nas consequências que esta prática pode trazer porque elas não sabem com quem se estão a prostituir e correm o risco de se infectarem com o VIH/Sida. Muitas não usam métodos de prevenção contra inúmeras doenças venéreas, seja nas ruas de Luanda ou no mercado Roque Santeiro”. (Rede Angola, 2014)
2.3 PRINCIPAIS CATEGORIAS E MODALIDADES DA PROSTITUIÇÃO
Segundo Araújo (2006, p. 17),
A definição das várias modalidades de prostituição envolvendo não só a ocupação espacial, mas também o conjunto de práticas matérias e simbólicas inerentes à atividade, tais, como: formas de exposição, relações com os clientes, tabelas de serviços, negociação de pagamentos.
Uma das modalidades que o autor ressalta é o trottoir, para o ele “[...] é a modalidade mais visível em razão do reconhecimento imediato que possibilita e de sua nítida configuração espacial” (p. 17).
Nota-se que a prostituição de rua é a que mais a mulher se expõem como afirma acima, ficam até altas horas à espera de um cliente. Neste sentido, iniciaremos com a prostituição de mulheres:
A prostituição é concebida como uma derivação (deturpação do sentido) do ato sexual legitimado pelos costumes ou pelo casamento, transformando-o em fonte de renda. Para que haja prostituição há necessidade de participação da mulher – a que vende a sua força de trabalho, no caso, a capacidade sexual -, e do homem, que compra o direito de usá-la por determinado momento. Dessa associação, resulta a compra e a venda do desempenho sexual da mulher (ESPINHEIRA, 1984).
Devemos observar que muitas dessas mulheres vendem seus corpos para sobreviver, ser uma renda a mais na família e até ajudar a criar o próprio filho, porque, às vezes, apenas um salário mínimo não dá condições mínimas de suprir o seu sustento e de demais.
Outra modalidade é a exercida em boates e casas de shows, para o autor,
[...] É comum a apresentação de strip-tease [...]. O perfil da clientela e mulheres que se prostituem é mais elevado nessas casas. [...] nesse tipo de estabelecimento a profissional do sexo é obrigada a fazer o cliente beber muito, preferencialmente bebidas caras. [...] às mulheres que frequentam tais boates é facultada a práticas de programa com os clientes, se bem que não no local (p. 19).
Ou seja, nas casas de shows as prostitutas realizam papel de entreter o cliente, no sentido de que eles não percebam que estão sendo explorados, para consumir algo no estabelecimento.
Nesses locais, existem as prostitutas de “alto padrão” e as de “baixo padrão”. As prostitutas de alto padrão estão localizadas em casas elegantes, seus frequentadores são homens de posse que possuem bens financeiros. Já as de baixo padrão são referendadas em bordéis ou zonas de prostituição frequentadas geralmente por operários e homens de nível financeiramente mais baixo. Essa modalidade se dá também em anúncios e classificados de jornais da cidade, são as chamadas “acompanhantes.
Geralmente são conhecidas como acompanhantes de luxo, muitas optam por clientes que paguem suas despesas, como financiamento de um automóvel, aluguel de apartamento e que financiem seus estudos. As mesmas optam por clientes da alta sociedade, como políticos, empresários, médicos e outros.
Existe também a ciber-prostituição,
[...] vem se tornando bastante comum nas cidades [...] a oferta de profissionais do sexo se dá via internet [...] podem-se encontrar em anúncios de profissionais do sexo mulheres, homens ou travestis, com suas características é quase sempre fotos. [...] outra forma de exposição se dá por chat, ou sala de bate-papo na internet, em que o (a) profissional oferece seus serviços ao interagir com os participantes da sala (p. 21).
E importante destacar que essa modalidade está aumentando nos dias actuais, trata-se de uma prostituição diferente, pois o cliente não tem necessidade de ter o contato inicial físico com a prostituta, travesti ou homem.
Vale destacar que existem aquelas prostitutas que não se encontram em nenhuma das descrições acima, são as que exercem a modalidade de se prostituírem em vários lugares das cidades, ou seja, não possuem um local fixo, às vezes, ficam em um bairro rua ou cidade.
Outra modalidade a mencionar refere-se às mulheres que trabalhavam durante o dia normalmente em seus respectivos trabalhos, mas que se prostituem para terem melhores condições, são discretas realizando assim seus encontros em seus próprios apartamentos e hotéis. Podemos presumir que são reservadas em seus ambientes, não gostando assim de descreverem suas atividades noturnas.
Diante da notória discussão a respeito de algumas modalidades da prostituição, convém para a nossa pesquisa apresentar as categorias dos profissionais do sexo. Para tanto, iremos embasar-nos nos conceitos de alguns autores.
2.4 CONSEQUÊNCIAS DA PROSTITUIÇÃO
As consequências são muito ruins. Entre elas ficam as marcas internas, baixa auto estima, a perca da infância, supressão forçada da inocência, distúrbio de comportamento, a gravidez precoce, abandono dos estudos, infecção por doenças transmissíveis (DST), uso de drogas, condutas anti-social, aumento da geração de crianças de rua e mortes.
2.5 SOLUÇÃO PARA PROSTITUIÇÃO
Para solucionar o problema da prostituição é preciso sensibilizar a população através da comunicação social, mostrando as consequências que ela acarreta; reduzir o nível de desemprego e dando educação gratuita de qualidade para todos afim de minimizar a prostituição, os familiares das vítimas devem dar carinho, amor e mostrar o quanto elas valem como seres humanos, ao passo que as prostitutas, para se afastarem dessa vida, devem cultivar auto-estima, amor à Deus e respeito a si mesmas.
2.6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com o objetivo de descrever a prostituição, vimos que tal atividade é praticada desde os tempos antigos, sendo compreendida da mesma forma. Nesse âmbito, seus princípios são fundados desde os seus primórdios. A prostituição, na atualidade, é segregada pela descriminação e vergonha que a profissão adquiriu para com a categoria mais vulnerável - que são as mulheres que exercem o meretrício nas ruas, passam a atuar dessa forma com uma nova roupagem, aderindo assim a práticas que atuem contra essa discriminação e a favor da valorização. Nesse sentido, ganham o caráter de profissionais do sexo, passam a se organizar politicamente como vêm demonstrando as associações existentes.
É importante frisar que a banalização da prostituição leva a problemas psicológicos irreversíveis, como hiperatividade sexual, estupros, pedofilia e a mais sutil e perigosa banalização da mulher na sociedade.
3. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Assistência à Saúde. Programa Nacional de doenças Sexualmente Transmissíveis/AIDS. Manual do Multiplicador - Profissional do Sexo. Brasília: Ministério da Saúde, 1996.
ESPINHEIRA, G. 1984: Conformismo e Divergência. In: Divergência e Prostituição: Uma Análise Sociológica da Comunidade Prostitucional do Maciel. RJ, Tempo Brasileiro, Salvador: Fundação Cultural do Estado da Bahia.
FRANÇA, C.V de. Prostituição: um enfoque político-social. Feminina, Rio de Janeiro, v. 22, p. 145-148, fev. 1994.
GUIMARÃES. R. M. e BRUNS. M. A. T. Garotas de Programa: uma nova embalagem para o mesmo produto. Campinas, SP: Editora Átomo, 2010.
PINHEIRO, Veralúcia. Socialização, Violência e Prostituição. 2006. Tese de Doutorado (Faculdade de Educação). Universidade Estadual de Campinas, 2006.
RAMOS, Silva. O papel das ONGs na construção de políticas de Saúde: a Aids, a saúde da mulher e a saúde mental. 2004.
RODRIGUES, Marlene Teixeira. Polícia e prostituição feminina em Brasília - um estudo de caso. 2003. 369 f. Tese (Doutorado em Sociologia)-Universidade de Brasília, Brasília, 2003.
Disponível em: < http://repositorio.unb.br/handle/10482/1585?mode=full>. Acesso em: 11 out. 2014.
SILVA, Rogério Araújo da. Prostituição: artes e manhas do ofício, Goiânia: Cânone Editorial, Ed. UCG, 2006.
TORRES, G. de V.; DAVIM, R. M. B.; COSTA, T. N. A. da. Prostituição: causas e perspectivas de futuro em um grupo de jovens. Rev. latino-am.enfermagem, Ribeirão Preto, v. 7, n. 3, p. 9-15, julho 1999.
[1] Segundo dados da Revista Galileu, na sociedade matriarcal, período que teve início no ano 35.000 A.C teria existido na Europa e na Ásia a compreensão de que as mulheres ocupavam cargos de lideranças e possuíam culto à deusa que simbolizava a natureza, esse suposto período era descrito como uma época tranquila e criativa.
[2] De acordo com Bourdieu (2002), a dominação masculina não é vista como uma forma de violência propriamente dita, mas que perpassa futilmente pelos olhos de suas próprias vítimas. Esse fato pode ser comprovado até pelo desconhecimento de suas vítimas em não reconhecer acontecimento como uma forma de violência.
[3] Essa terminologia se refere às prostitutas consideradas de um baixo nível de padrão socioeconômico.