as massimedias no desenvolvimento da cultura
ÍNDICE
INTRODUÇÃO
OS MASSIMEDIAS NO FORTALECIMENTO DA CULTURA DO MEDO
Conceito
Os massimidias e o medo
O medo e a sociedade
A influência da mídia e sua relação
com o medo
O papel dos meios de comunicação na acção da cultura
de massas
CONCLUSÃO
BIBLIOGRAFIA
INTRODUÇÃO
Desde
muito pequeninos aprendemos a temer o medo e a confiar em celestiais criaturas
e muitos passam a serem nossos monstros, concepções imaginárias que nos
assombram em um quarto escuro, em um sonho, em uma visita ao médico ou
dentista, em situações que estamos longe de nossos genitores e nos sentimos
ameaçados.
No
início de nossa existência tudo é seguro, puro e invisível aos olhos. À medida
que nos tornamos maiores – criança, adolescentes, jovens, adultos e idosos – o
medo passa a ser um de nossos principais inimigos e será ele que, em muitos
momentos, nos impedirá de seguir nossos sonhos, de arriscar uma tentativa ou de
fazer uma mudança radical. O medo passa a ser parte de nossa vida e em tudo que
fazemos sempre estará presente de alguma forma e por algum motivo. Assim,
aprendemos a temer o medo. O presente trabalho tende-se a falar sobre os
massimídias no fortalecimento da cultura do medo, na cadeira de Técnica de
Comunicação.
OS MASSIMEDIAS NO
FORTALECIMENTO DA CULTURA DO MEDO
Conceito
Os
Mass Media são sistemas organizados de produção, difusão e recepção de
informação. Estes sistemas são geridos, por empresas especializadas na
comunicação de massas e exploradas nos regimes concorrenciais, monopolísticas
ou mistos. As empresas podem ser privadas, públicas ou estatais.
Os
Mass Media assentam em diferentes suportes ou tipos de transmissão da
informação:
Por
difusão - Scriptovisual (imprensa escrita)
-
Audio (rádio)
-
Audiovisual (televisão e cinema)
Por
edição - Scripto (livro)
-
Audio (disco)
-
Scriptovisual (cartaz e poster)
-
Audiovisual (documento audio visual)
Os
vários meios de expressão social: a imprensa, a televisão, a rádio e o cinema,
são orientados para um público que se pretende o mais abrangente possível,
produzindo um produto específico de mensagens políticas, ideológicas,
comerciais, recreativas e culturais etc.
Os massimidias e o
medo
A ideia de utilização do
medo como forma de criar um sentimento de insegurança na população é motivo de
debates entre estudiosos não só da área jurídica, mas também de comunicação e
outras, sobretudo as relacionadas às questões criminais.
A veiculação de
determinados fatos criminosos de forma excessiva gera na população na sensação
de extrema vulnerabilidade, o que enraíza no imaginário popular a possibilidade
de ser vítima potencial das acções veiculadas, além do sentimento de
insegurança, colaborando assim com a ideia de que se pode impedir o aumento da
criminalidade a partir de alterações que tornem a legislação criminal mais
severa.
Barry Glasner, na obra
Cultura do Medo, desvela o modo como à mídia nos Estados Unidos, ao desenvolver
práticas sensacionalistas, deslocou para os noticiários e programas
especializados, notícias sobre crimes, despidas de factores e dados que
mitigariam as informações, criando um sentimento de medo e insegurança na
população.
Da análise de dados
sociais relacionados com a desigualdade social e do grande acesso às armas de
fogo, a pesquisa de Glasner tem inserção possível para um debate homólogo em
nosso País.
Nesta premissa, analisa-se
ainda a exagerada divulgação, por parte da mídia (cujos interesses fogem à mera
transmissão da informação indo além) na disputa pela maior audiência, em uma
guerra entre os donos do mercado da informação, tendência que cria nas
autoridades responsáveis pela investigação e punição dos fatos o desejo de que
os culpados sejam punidos, o que demonstra in casu, a realização
plena de seus afazeres legais, em um esforço contra a impunidade, desse modo
colaborando com a imprensa, divulgando informações em primeira mão.
Como parte final de tal
fenómeno analisa-se efeitos sobre os envolvidos (independentemente de serem ou
não culpados, pois este não é o objecto do estudo) e finalmente, o debate que se
instala sobre possíveis alterações na legislação penal e o esforço no sentido
de mudá-la, pois na opinião de leigos (especialistas seleccionados e
apresentados à sociedade pela mídia), como medida de urgência para satisfazer
os anseios da sociedade que vê ingenuamente no aumento da pena uma possível
solução para o problema da criminalidade, afastando-se da origem dos problemas
que no em países periféricos pós-neoliberalismo tem um carácter económico
social e não criminal.
O medo e a sociedade
É historicamente unânime
que a exposição do crime aliado aos expedientes que causam a sensação de medo
sempre foi inserida como ingredientes básicos de conteúdos literários no mundo
ocidental, sendo necessários segundo Aristóteles, “para que a tragédia
cumprisse suas funções estéticas e morais que lhe atribuía” constituindo-se
como verdadeira tradição literária. Edgar Morin denominou de “grande fascínio
da morte” as múltiplas e densas significações desta que dotam qualquer evento
de um marcante interesse.
Com o advento da
tecnologia e respectivo surgimento da televisão, esta fertilizou tal actividade,
substituindo romances policiais transmitidos via rádio ou televisão, que já
constituem tradição popular. Todavia àquela deslocou a matéria para noticiários
e programas especializados sensacionalistas (sobre o crime) revelando ter
reservado outras finalidades além da literatura e audiência.
Para que se delimite a
extensão do conceito de cultura do medo, parte-se do conceito de cultura que
significa: “conjunto de estruturas sociais, religiosas de manifestações
intelectuais, artísticas que caracterizam uma sociedade”, que neste caso são
integradas pelo medo, sentimento denominado como “sentimento de angústia, de
apreensão em face de um perigo real ou imaginário” que gera temor, receio,
sobressalto. Considera-se, todavia, que “o medo baseado em avaliações reais é
um instrumento no auxílio ao escape ou enfrentamento de perigos reais” . Mas o
medo veiculado pela mídia, o falso medo, “baseado em estimativas irrealistas, é
fonte de sofrimento e determina políticas equivocadas”.
Paulo Sergio Pinheiro ensina
que: “a questão é que no mundo ocidental nascemos e crescemos em meio a uma
‘cultura do medo’ e em nenhum momento nas sociedades contemporâneas houve tanto
medo”. Esclarece o autor Glassner, em Cultura do Medo, que essa gera um
sentimento de insegurança tornando possível a inserção de políticas públicas de
segurança baseadas naquilo que é difundido e, em verdade, de forma preferencial
isto é notícias que tratam de violência, de atentados enfim de informações que
gerem medo. Ensina ainda Glassner, que as pessoas “reagem ao medo e, não ao
amor”, portanto para o jornalista que precisa despertar a atenção do receptor,
a utilização de determinada espécie de notícia torna-se indispensável para
gerar um impacto na população.
É ainda, Barry Glassner,
que expressa haver situações muito mais dramáticas para as famílias e que
recebem muito menos exposição da mídia do que a criminalidade, um exemplo são
os dados sobre o desemprego nos Estados Unidos: “entre 1980 e 1995, mais de 42
milhões de empregos foram eliminados...”, entretanto 30 % das notícias escritas
pela imprensa americana, no período, foram dedicados ao crime e nas emissoras
de televisão, quase a metade do noticiário.
Desse modo, este
raciocínio “dê”-nos um final feliz e escreveremos uma história de desastre
(p.19) gera medos irreais e infundados que atingem proporções absurdas onde um
único evento anormal cria grupos diversos de coisas a temer: é o exemplo da
“bactéria comedora de carne”, das “crianças assassinas”, dos “atentados
terroristas” e da “pedofilia em escolas”. Esses medos, acima mencionados, foram
amplamente veiculados pela mídia norte americana causando temor e descontrole
público.
Dando continuidade ao
raciocínio de Glassner, citamos Lola Aniyar de Castro que ao tratar da
insegurança gerada na população pelo delito, ensina: “Para construir uma
tragédia, não é necessário que exista “um grande fato”, basta que se ponham em
jogo elementos que permitam ao leitor sentir-se tocado, afectado em sua rotina.
Isso acontece quando ocorre alguma coisa com um ‘ personagem’ da farândula, da
política ou dos esportes, por exemplo.
O fato delitivo participa
dessa mítica substância da tragédia: seu drama, sua magia, seu mistério, sua
estranheza, sua poesia, seu carácter tragicômico, seu poder de compreensão e de
identificação, o sentimento de fatalidade que o habita, seu excesso e sua
gratuidade”.” E enquanto o acontecimento só é compreendido em relação aos
outros, a tragédia é uma informação total, imanente: não é preciso saber nada
do mundo, não remete a nada além de si mesmo”.
É o caso dos desastres,
assassinatos, dos roubos, dos acidentes. A tragédia “é como um buraco por meio
do qual se estabelece conexão com outro mundo, maravilhoso mundo dos
enigmas, dos porquês sem respostas. Os detalhes interessam ao público: quem é?
como é? como aconteceu ? A dramatização dada a tragédia a converte-se em parte
da vida real, em algo assim como a telenovela da cotidianidade”.
A influência da mídia e sua relação com o medo
A mídia tem por objetivo atender as expectativas imediatas
dos indivíduos. Ela pode ser definida como o conjunto de meios ou ferramentas
utilizados para a transmissão de informações ao público assumindo um papel
muito importante na formação de uma sociedade menos conflituosa. Porém, em uma
realidade complexa como a nossa, a mídia desempenha um papel garantidor da
manutenção do sistema capitalista, fomentando o consumo, ditando regras e modas
e agindo sobre interesses comerciais.
A mídia notoriamente tem papel importante na conjuntura
social atual, pois exerce influência em todos os campos, seja na família, na
política e na economia, incutindo na população uma forma de agir e pensar
importante para a manutenção da ordem.
A mídia, quando tomou corpo de mercadoria, era
disponibilizada somente para as famílias mais abastadas. Aos poucos esse
público foi sendo ampliado e o acesso a esse tipo de informação chegou também à
população menos favorecida ocasionando o que temos hoje, um público em massa
dos meios de informação através, principalmente, da televisão.
Schecaira (apud BAYER,
2013) entende que a mídia é uma fábrica ideológica condicionadora, pois não
hesitam em alterar a realidade dos fatos criando um processo permanente de
indução criminalizante. Assim, os meios de comunicação desvirtuam o senso comum
através da dominação e manipulação popular, através de informações que, nem
sempre, são totalmente verdadeiras.
Com isso, propagando o medo do criminoso (identificado
como pobre), os meios de comunicação aprofundam as desigualdades e exclusão
dessa parcela da sociedade, aumentando as intolerâncias e os preconceitos.
Utiliza-se do medo como estratégia de controlo, criminalização e brutalização
dos pobres, de forma que seja legítimo as demandas de pedidos por segurança,
tudo em virtude do espetáculo penal criado pela imprensa.
Criam-se normas penais para a solução do problema, porém,
o Direito Penal passa a ser apenas um confronto aos medos sociais, ao invés de
atuar como instrumento garantidor dos bens juridicamente protegidos.
Hoje, vivemos em constante situação de emergência e
deixamos de perguntar pelo simples fato de estar provada a barbaridade dos
outros. A partir daí, muros são construídos para separar a sociedade. Há muros
que separam nações entre pobres e ricos, mas não há muros que separam os que
têm medo dos que não têm.
A manipulação das notícias através dos meios de
comunicação aumentam os medos e induzem ao pânico, reforçando uma falsidade à
política criminal e promovendo a criminalização e repressão, ofertando ao
sistema penal uma legitimação para uma intervenção cada vez mais repressiva,
criando um verdadeiro Estado Penal. A mídia exerce influência sobre a
representação do crime e também do delinquente em razão do constante destaque
que se dá aos crimes violentos. Assim, a mídia vai colaborando o processo de construção
de “imagem do inimigo”.
Através de uma selecção de conteúdos a mídia tem o poder
da construção da realidade, que é um poder simbólico. Esse poder simbólico
procura reproduzir uma ordem homogeneizada do tempo e do pensamento, com um
único objectivo, a dominação de uns sobre os outros. Com isto, criam sujeitos
incapazes de contestar o que se lhes é apresentado de forma a garantir a ordem,
a torná-los submissos e dominados.
A mídia incute na sociedade uma política de higienização e
rotulação dos desiguais que devem ser banidos da convivência social. Diante da
propagação dessa política, cada vez mais os cidadãos são colocados diante de
questões criminais que parecem nunca se resolver provocando uma sensação de
intranquilidade e medo. Esse último, por sua vez, é agravado pela sensação de
vulnerabilidade e de impossibilidade de defesa.
A industrialização favoreceu o crescimento do mundo
urbano e, com este, a difusão de novos hábitos culturais, dissociados do ritmo
da ruralidade.
No século XX, as cidades tornaram-se metrópoles
gigantes e as multidões que nelas moram apreciam os novos entretenimentos
fornecidos pelos mass media e pelos desportos colectivos.
A imprensa,
a rádio e o cinema, apesar de não serem invenções
do século XX, adquiriram nesse século um papel importante na estandardização de valores e
comportamentos (uniformização de padrões culturais). Cumpriam uma função de lazer e,
simultaneamente, uma função
educativa que chegava a muitas pessoas ao mesmo tempo, o que
favoreceu a homogeneização
cultural – a chamada cultura de massas:
– Todos os serões, à volta do aparelho radiofónico, as famílias
escutavam as notícias, as novelas, as peças de teatro, os êxitos da música
ligeira e os clássicos da música erudita;
– O cinema (sonoro desde 1927) propiciava
a evasão à rotina e aos problemas
do quotidiano, veiculava
valores morais e propunha, por meio dos atores mais famosos –
as estrelas de cinema – modelos de comportamento e de beleza física;
– Os jornais, de leitura mais acessível do que as
obras literárias, eram instrumentos
poderosos na formação da opinião pública; incluíam, histórias de guerra
e de crime, títulos bombásticos, crónicas avulso, secções desportivas, páginas
femininas e, muitas das vezes, histórias em banda desenhada, que os jovens
guardariam para sempre como uma das melhores recordações do seu período de
crescimento. A par dos jornais proliferam as revistas que exploram as
temáticas mais diversas, procurando responder aos desejos e ambições de um público cada vez mais
vasto.
As classes médias desenvolvem, ainda, interesse por
novos géneros literários: o romance
policial (as obras de Agatha Christie, criadora do célebre
inspetor Poirot e de Georges Simenon, criador do Comissário Maigret alcançaram
grande popularidade), a banda desenhada (heróis
como Tintim, Super-Homem, Pato Donald passaram a dominar o imaginário de muitas
crianças e jovens) e o romance
cor-de-rosa (no qual se destacou a autora Bárbara Cartland). Esta
literatura sentimental conquistou predominantemente o público feminino.
CONCLUSÃO
É incontestável a
participação da mídia, pela forma como veicula determinados fatos, na criação
de um sentimento de insegurança que acaba por gerar medo na população, no que
se refere ao crime, esta sempre aumenta a venda ou a audiência nos meios de
comunicação, atentos aos noticiários os representantes do movimento “lei e
ordem”., isto é Políticos em busca de votos entre outros. A mídia provoca uma
situação de emergência que atende plenamente ao movimento Lei e Ordem e sempre
que casos como estes são divulgados de forma ampla e constante, aparece uma
nova legislação ou um novo debate sobre a pena de morte, redução da maioridade
penal, mudanças de procedimentos da lei.
Mas quando a mídia divulga a
criminalidade perpetrada pelos ricos e expressada por condutas de corrupção,
evidenciando verdadeiras organizações criminosas, especializadas em lavagem de
dinheiro, apesar da visibilidade que o assunto passa a ter não gera nenhuma
ação visando o combate da impunidade dos membros das camadas mais altas da
população. Ao contrário, o momento passa a ser o de debaterem-se as garantias
individuais não respeitadas pela Polícia, prejudiciais aos envolvidos, a
própria mídia passa a ser alvo de críticas pelo exagero em expor tais pessoas.
BIBLIOGRAFIA
MOTA,
Guilherme – A influência do Discurso Criminal da Mídia no Sistema Penal,
Monografia de Conclusão de Curso, mimeo, 2005.
COSTA,
Cristina. Educação, Imagens e mídia. São Paulo: Cortez, 2005.