Descartes (1596-1650)


VIDA E OBRA: A eloquência e a acessibilidade da prosa de Descartes inaugiraram a filosofia moderna. Solapando a filosofia escolástica tradicional do período medieval, ele lançou os fundamentos para uma abordagem sistemática da aquisição do conhecimento, baseada em medida e raciocínio matemático, sobre a qual a ciência se ergue até hoje.
Nascido numa aldeia perto de Tours, na França, Descartes foi educado num colégio jesuíta, onde revelou grande aptidão para matemática. Em 1617 iniciou uma carreira militar e viajou muito pela Europa durante a Guerra dos Trinta Anos, até renunciar a seu posto em 1621. Continuou a viajar até 1629, quando se estabeleceu na Holanda. Ali começou a trabalhar em seu Tratado sobre o mundo - um estudo da natureza e do funcionamento do universo físico.
Ao saber que a Inquisição romana condenara Galileu por sua defesa do sistema copernicano, em 1633, suspendeu a publicação do Tratado sobre o mundo. Sua primeira obra publicada O Discurso do método, introduziu suas ideias metafisicas, além de apresentar um relato autobiográfico de seu próprio desenvolvimento intelectual e um esboço de suas ideias sobre a abordagem apropriada à aquisição de conhecimento.
Fama crescente: Insatisfeito com a acolhida dada ao Discurso do método, Descartes escreveu, em 1641, asMeditações sobre a primeira fillosofia, numa tentativa de transmitir sua ideias filosóficas para um público muito mais amplo. Em 1644 publicou Princípios de filosofia, em que reafirmou suas ideias filosóficas, ao lado de discussões de física e cosmologia tomadas do anterior e então ainda inédito Tratado sobre o mundo.
Em 1649, com sua fama crescendo rapidamente pela Europa, foi convidado para lecionar filosofia para a rainha Cristina da Suécia. Aluna exigente, a rainha esperava que as aulas começassem às 5h da manhã, três vezes por semana, e durassem cinco horas cada uma. Desabituado de tal regime, bem como ao frio severo d inverno da Suécia, Descartes contraiu pneumonia e morreu após poucos meses no cargo.
PRINCIPAIS IDEIAS: Muito jovem, Descartes compreendeu que a filosofia tradicional que lhe ensinavam continha muito de duvidoso e discutível. Se ao menos fosse possível aplicar o modo matemático à filosofia e à ciência, pensava ele, poderíamos esperar estabelecer um conhecimento indiscutível e duradouro do mundo. Assim descobriu sua ambição: estabelecer os fundamentos e a estrutura de todo o conhecimento humano vindouro, unificando a ciência num único sistema.
O método da dúvida: Para descobrir algo "firme e constante nas ciências", seguindo o modelo matemático, Descartes acreditava precisar estabelecer primeiro princípios básicos indubitáveis. Para descobri-los, optou por duvidar de tudo em que acreditava. Se alguma crença pudesse sobreviver a esse batismo de fogo, raciocinou, seria um fundamento digno para seu novo corpo de conhecimento. Duvidou, então, dos seus cinco sentidos, afinal eles podem ser enganosos. Perguntou-se se não poderia estar sonhando e aventou a possibilidade de estar sendo enganado em todas as suas percepções por um espírito maligno. O fruto de seu ceticismo radical foi a primera certeza do seu novo sistema de conhecimento e a sua descoberta mais famosa está condensada na frase: "Penso, logo existo", afinal, disso ele não poderia duvidar nunca.
Dualismo: A partir do fato de que tinha acesso direto à sua própria mente consciente, mesmo que pudesse duvidar de qualquer coisa física, Descartes foi levado a supor que sua essência consistia em ser uma coisa pensante. Embora uma substância distinta, esse eu material está para Descartes intimamente unido ao corpo físico. E, enquanto o mundo físico, inclsusive o corpo, é matematicamente descritível e segue leis físicas precisas, o mundo da mente é livre para seguir os próprios pensamentos. A nossa capacidade de usar a linguagem e reagir às circunstâncias de maneiras imprevisíveis evidencia que que as mentes não são determinadas. Essa capacidade não pode ser reduzida a princípios mecânicos; logo, embora o mundo material deva ser reduzido à ciência matemática, a alma humana requer uma ciência própria.

Bibliografia:
CHAUI, Marilena – Iniciação à Filosofia; Ed. Ática, 2009
LAW, Stephen – Guia Ilustrado Zahar de Filosofia; Ed. Zahar, 2008