A física médica
1. Física Médica
1.1-Estado da Arte
A Física Médica é o ramo da Física que
compreende a aplicação dos conceitos, leis, modelos, agentes e métodos da
Física para o diagnóstico e tratamento de doenças, desempenhando uma importante
função na assistência médica, na pesquisa biomédica e na otimização da proteção
radiológica. A Física Médica proporciona a base científica para a compreensão e
desenvolvimento de modernas tecnologias que têm revolucionado o diagnóstico e a
terapia, estabelecendo os critérios para assegurar a correta e efetiva
utilização dos agentes físicos na Medicina. Em colaboração com a Bioengenharia,
fornece ainda as bases necessárias para a medida das variáveis biomédicas e
aporta, junto com a biofísica, os fundamentos necessários para o
desenvolvimento de modelos que explicam o funcionamento do corpo humano.
A Física Médica foi criada quando avanços da
física puderam ser incorporados à área médica. Leonardo da Vinci, no século
XVI, pode ser considerado como o primeiro físico médico devido a seus estudos
de biomecânica, como a locomoção humana e o movimento do coração, e do sangue
no sistema cardiovascular.
Os conhecimentos físicos de óptica
possibilitaram a invenção do microscópio, que por sua vez ajudou os médicos a compreenderem
melhor as estruturas biológicas, assim como a descobrir a existência dos
microorganismos no século XVII.
No século XVIII, o cientista e médico
italiano Luigi Galvani descobriu que músculos e células nervosas eram capazes
de produzir eletricidade. A partir dessa relação entre eletricidade e corpo
humano, e com o avanço da ciência do eletromagnetismo no século XIX, novas
contribuições ao tratamento e ao diagnóstico médico puderam ser feitas por
cientistas como D’Arsonval. O desenvolvimento da eletrocardiografia e da
eletroencelografia só foi possível
com tecnologias como voltímetros gravadores
de sensibilidade e o galvanômetro criado por Einthoven. Esses conhecimentos
deram origem a novas áreas, como a bioeletricidade e o bioeletromagnetismo.
Um exemplo notável de cientista cujos
trabalhos em física e em medicina se confundiam é Hermann von Helmholtz. Seu
primeiro trabalho científico foi sobre a conservação de energia, inspirado em
seus estudos sobre o metabolismo muscular. Também revolucionou o campo da
oftalmologia quando inventou o oftalmoscópio e realizou estudos sobre acústica
e audição.
Um
dos últimos objetos de estudo de Helmholtz foi o eletromagnetismo, sendo o
primeiro a demonstrar a radiação eletromagnética.
A descoberta dos raios X pelo alemão Wilhelm
Conrad Röntgen, em 1895, é um marco da Física que teve grande impacto na
Medicina. Além de render-lhe o primeiro Prêmio Nobel de Física, o trabalho de
Röntgen abriu caminho para estudos que renderiam o terceiro prêmio, dado a
Antoine Henri
Becquerel,
Pierre e Marie Curie pelas observações e interpretações de resultados sobre as
emissões de partículas provenientes de corpos radioativos (radioatividade). Em
1908, por formular hipóteses sobre substâncias radioativas, Ernest Rutherford
foi laureado com o Nobel de Química.
Além desses, muitos outros pioneiros
cientistas receberam o Nobel pelos seus trabalhos com a radioatividade. Apesar
de sua utilização na Medicina ser datada desde sua descoberta, com a utilização
da substância rádio no tratamento de câncer de pele, os perigos de uma
utilização não controlada foram rapidamente evidenciados, com a doença e morte
de alguns desses cientistas. A partir dessa preocupação, foram criadas as
primeiras organizações internacionais responsáveis pelas recomendações de
proteção radiológica.
A utilização de raios X e radioatividade no
diagnóstico e na terapia foram responsáveis pela introdução dos físicos em
hospitais. O físico e matemático suíço Theophil Friedrich Christen doutorou-se
em Medicina em 1905. Por razões de treinamento médico, visitou importantes
hospitais em Londres e nos EUA. Depois de retornar dos EUA, abriu em Berna uma
clínica médica, onde se ocupou principalmente da recente Radiologia e se
preparou para o exame
de habilitação em fisioterapia. Em 1908,
diante da Faculdade de Medicina de Berna, na área de Física Médica, defendeu
uma tese não convencional para a época: "A Clareza das Chapas Médicas como
Problema de Absorção".
Em um hospital em Boston, nos EUA, o físico
William Duane iniciou um trabalho com fontes de radônio para o tratamento de
câncer em 1913. No mesmo ano, outro físico, Sydney Russ, começou a trabalhar no
Middlesex Hospital em Londres. Gioacchino Failla, em Nova York, trabalhava no
uso de radiações em terapia, no ano de 1915.
Como área de atuação, estava criada a Física
Médica. Na década de 50, médicos e profissionais de Física Médica já atuavam em
conjunto. Nas décadas de 60 e 70 foram criadas legislações que estabeleceram a
presença deste profissional em algumas áreas médicas, como por exemplo, em
radioterapia e medicina nuclear. No Brasil, esta área foi mais bem estruturada
com a criação, em 1969, da Associação Brasileira de Física Médica (ABFM).
Atualmente a Física Médica é desenvolvida
principalmente nas áreas de radiologia diagnóstica e intervencionista, medicina
nuclear, radioterapia, radiocirurgia, proteção radiológica, metrologia das
radiações, biomagnetismo, radiobiologia, processamento de sinais e imagens
biomédicas, clínica e epidemiológica.
Apesar do surgimento da Física Médica estar
associado ao uso da radiação ionizante, essa área do conhecimento não se
restringe a esse tipo de radiação. Assim, a crescente contribuição da Física
Médica é uma conseqüência natural da evolução da ciência moderna e da
tecnologia, com grande impacto na saúde da população. Como exemplo, há a
Biofotônica que tem apresentado intenso desenvolvimento de novas técnicas de
diagnóstico e terapia.
O físico médico pode atuar em diversos ramos:
como professor de instituição de ensino superior; como pesquisador de centros e
instituições, gerando novos conhecimentos e métodos para serem utilizados em
diagnóstico, tratamento e processos relacionados à área médica; e trabalhando
em centros médicos (clínicas e hospitais), onde atua lado a lado com outros
profissionais da área de saúde, ou em empresas de desenvolvimento e
Pode trabalhar também em empresas
especializadas na prestação de serviços de controle da qualidade de
equipamentos de alto teor tecnológico, em projetos de controle da radiação
(transporte de material radioativo, cálculo de barreira/proteção radiológica), em
institutos controladores e reguladores de radiação ionizante, em órgãos de
vigilância sanitária e na indústria de equipamentos de diagnóstico e terapia.
Existe ainda a possibilidade de ministrar cursos de formação de pessoal técnico
qualificado, como técnicos e tecnólogos em radiologia, entre outros
profissionais da área da saúde.
O físico médico é indispensável no
planejamento radioterápico, no desenvolvimento, controle e emprego de
equipamentos como mamógrafos, tomógrafos de raios X, aparelhos de ressonância
magnética nuclear, cintilografia, entre outros, e no uso de técnicas que
empregam laser, podendo atuar ainda na proteção radiológica de trabalhadores da
área de saúde e do público em geral. O físico médico é responsável pela
otimização dos protocolos de aquisição de imagens e dosimetria, garantindo a
segurança radiológica dos pacientes e a qualidade diagnóstica das imagens. Ele
é capacitado a avaliar, por exemplo, a eficiência de blindagens em setores que
utilizam equipamentos com fontes de radiação, e, com pós-graduação, a trabalhar
em universidades e centros de pesquisa. Como o físico médico trabalha sempre
com a interdisciplinaridade de áreas, necessita de conhecimentos sólidos em
física, matemática, informática, química e nas áreas biológicas, principalmente
anatomia, fisiologia, biologia celular e tecidual e farmacologia, entre outras
disciplinas.
1.2-Desafios
e perspectivas
Como a Física Médica é uma área multi e
interdisciplinar, é essencial que os físicos que nela atuam tenham uma formação
voltada para essas características. Entretanto, existem poucos cursos de
graduação em Física ou áreas correlatas com currículos enfocando as
necessidades dessa especialidade e, para dificultar, um número significativo de
profissionais tem
atuado em estabelecimentos de saúde diversos,
sem o treinamento e capacitação prévios adequados em ambiente clínico nessa
especialidade.
Esse panorama identifica o primeiro desafio
geral a ser vencido: a formação de físicos qualificados para atuarem nas
diferentes áreas e funções. Os cursos de graduação com essa finalidade devem
ter, além de uma sólida base em física, um enfoque dirigido às práticas e aos
objetivos da área desde o início, para que os egressos possam ingressar no
mercado de trabalho com um treinamento dado sob a supervisão, em um hospital ou
clínica, por um ou mais físicos médicos experientes já atuantes na área
(relação aluno-preceptor). Será também importante o estabelecimento de centros
de referência e programas de intercâmbio para treinamento de profissionais
provenientes de regiões nas quais as novas tecnologias não tenham sido
implementadas. Não se pode esquecer da formação de físicos egressos de cursos
tradicionais que queiram entrar na área. Isso pode ser feito com programas de
especialização e treinamento sistematizados em centros clínicos bem equipados e
com equipes com profissionais qualificados de várias áreas. Nesse sentido, é
imprescindível a abertura de programas de residência multiprofissional em Física
Médica, nas suas modalidades tradicionais, nas diversas regiões do país.
Um segundo desafio para os físicos médicos: a
educação, principalmente dos diferentes profissionais de saúde - técnicos e
tecnólogos em radiologia, biomédicos, pessoal da enfermagem, médicos,
engenheiros clínicos e biomédicos - sobre os riscos e benefícios das radiações
ionizantes e não-ionizantes. Apesar do esforço dos físicos, as dúvidas e os
vícios de procedimentos, assim como os mitos e os medos, sempre voltam, e há
necessidade de uma contínua atenção na educação dos profissionais, para que
seja garantida a segurança do atendimento aos pacientes e dos próprios
trabalhadores ocupacionalmente expostos à radiação.
Também se faz necessária a divulgação à
população em geral dos riscos e benefícios das radiações ionizantes e
não-ionizantes, em especial o esclarecimento com a apresentação de estudos
epidemiológicos para combater o preconceito decorrente de mitos e medos
associados à radiação.
Quando se consideram os resultados de grupos
de pesquisas e as aplicações clínicas, surge um terceiro desafio no âmbito
geral da Física Médica: como melhorar e implementar novas parcerias entre
hospitais e
universidades e centros de pesquisa, para que
se gere mais conhecimento na área e se amplie a formação dos físicos médicos?
Como mencionado, essa parceria tem duas vias, e ambas devem ser aproveitadas
completamente. Em geral, a interação se dá no âmbito individual e pontualmente,
de pesquisador com pesquisador e num aspecto particular de comum interesse.
Muitas vezes, uma divulgação com conseqüente discussão mais ampla pode resultar
num melhor aproveitamento do tópico ou da metodologia em pauta. A criação de
espaços acadêmicos congregando profissionais, pesquisadores e estudantes de
diversas áreas do conhecimento para a troca de experiências profissionais e
científicas, seja através de programas de pós-graduação interdisciplinares stricto
e lato sensu nas universidades ou de residência multiprofissional em
hospitais, pode contribuir para aumentar a massa crítica em Física Médica e
fomentar a geração de conhecimento de vanguarda com vistas a aplicações
clínicas.
O quarto desafio envolve a implementação de
parcerias entre grupos de pesquisa e fabricantes de equipamentos e/ou empresas
de software da área da saúde, para que resultados importantes não sejam
deixados em prateleiras dos centros de pesquisa e encontrem uso através da
incorporação nos produtos comerciais, que são dominados por multinacionais. O
outro lado dessa questão não é discutido, pois, em geral, esses fabricantes já
financiam projetos de seu interesse em centros de pesquisa ou universidades em
seus países de origem ou, então, simplesmente implementam algoritmos publicados
em revistas cientificas em seus sistemas. Uma possível solução -
principalmente, nas áreas de imagens, proteção radiológica e controle da
qualidade - é a instalação de microempresas de desenvolvimento de software e de
prestação de serviços ou, ainda, fabricantes de equipamentos de menor custo,
como os medidores de sinais elétricos e fisiológicos, simuladores e
dispositivos para controle de qualidade. Essa alternativa exige outras
habilidades que fogem do escopo da formação tradicional dos físicos,
necessitando de parcerias com outros profissionais, como engenheiros e
administradores.
O quinto desafio é o pequeno número de
egressos do ensino médio que optam pela carreira de física e, conseqüentemente,
optam pela carreira de físico médico. Desconhecida da maior parte da população,
ainda existe um
A lista de desafios não se limita a esses
cinco, que são os mais presentes e que requerem reflexões por parte dos
físicos. O desenvolvimento desta área é fundamental para o progresso da
tecnologia e atendimento em
Saúde
no país. Para isso, precisamos fortalecer a profissão de físico médico através
do estabelecimento de definições precisas das qualificações de um especialista
nessa área; criação de programas de graduação, especialização e pós-graduação
na área; estabelecimento de comitês de supervisão de atividades de treinamento.
Os objetivos futuros incluem estabelecer a profissão de físico médico como uma
das especialidades de uma carreira de física independente, como ocorre com
enfermeiros, dentistas, fonoaudiólogos, fisioterapeutas e outros profissionais
da área de saúde; definir de forma clara tarefas e responsabilidades do físico
médico; estabelecer regulamentos que evitem a atuação de indivíduos sem
qualificação.
Do ponto de vista cientifico, existe um fluxo
constante de inovação advinda do desenvolvimento de novos princípios e técnicas
na ciência em geral e, em particular, da física, possibilitando que com novas
técnicas haja diminuição de custos de tratamento e redução da taxa de
mortalidade. Existe uma preocupação constante em se diminuir os níveis de
exposição às radiações ionizantes nos procedimentos radiológicos,
particularmente nos sistemas com captura digital de imagens. O desenvolvimento
e uso de equipamentos e modalidades de diagnóstico que possibilitam a obtenção
simultânea de imagens anatômicas e funcionais vem crescendo, exigindo novas
competências na área. A radioterapia vem passando por uma grande revolução com
técnicas conformacionais, terapias guiadas por imagem e futuramente pela
fisiopatologia celular. Medidas ultra-sensíveis de campos magnéticos na ordem
de um bilhão de vezes mais fracos que o campo magnético da Terra permite que se
estude a atividade cerebral de forma não invasiva. De forma análoga a
utilização de métodos ópticos não invasivos vem sendo utilizado no diagnóstico
de várias patologias, seja por métodos de imagens, seja por métodos
espectroscópicos de fluorescência ou vibracional. O laser é cada vez mais utilizado
em procedimentos médicos e em algumas situações é a única opção de tratamento.
Atualmente a remoção de caries já
deixou de ser um procedimento desconfortável
e desagradável com o advento de lasers ablativos em tecidos mineralizados. A
terapia fotodinâmica antimicrobiana tem sido uma excelente alternativa de
tratamento em medicina bucal e na pele, assim como nos últimos anos lasers ou
LEDS de baixa potência tem prevenido e tratado a mucosite (efeito colateral da
radioterapia ou quimioterapia), sendo o Brasil líder nestas aplicações
clínicas. Além disso, técnicas de dois fótons poderão levar a terapia
fotodinâmica para o interior do corpo humano permitindo o tratamento de tumores
mais profundos. As nanopartículas estão na ordem do dia através de agentes de
contraste para o trato gastrointestinal e como possíveis carregadores de
agentes para o aumento da eficácia da radioterapia, da terapia fotodinâmica
antimicrobiana, ou ainda no aumento dos sinais ópticos de espectroscopia Raman
ou FTIR para diagnóstico diferencial de microorganismos, células ou neoplasias.
A medida de pequenos fluxos sanguíneos só é possível com a o laser Doppler,
indicando de forma rápida e não invasiva se um tecido está em processo de
necrose. As ondas acústicas, através do ultrassom, começam a ser utilizadas
para o tratamento de células cancerígenas. A lista é extensa e para que
possamos nos manter atualizados, investimentos contínuos e substanciais se
fazem necessários.
2-Relevância
para a Sociedade
2.1-Formação
de Pessoal
O Físico Médico é um profissional com sólida
formação em Física, conhecedor do método científico, com desenvolvimento da
atitude científica como hábito para a busca da verdade científica, de postura
ética e perseverante, preparado para enfrentar novos desafios e buscar soluções
de problemas de forma criativa e com iniciativa. O Físico Médico utiliza
prioritariamente o instrumental (teórico e/ou
experimental) da Física em conexão com outras áreas do saber como a Biofísica,
Medicina, Biologia, Química, Comunicação, Economia, Administração e incontáveis
outros campos. Em quaisquer dessas situações, o físico médico passa a atuar de
forma conjunta e harmônica com especialistas de outras áreas, tais como,
químicos, médicos, matemáticos, biólogos, engenheiros e administradores.
É importante lembrar que as pesquisas
realizadas por alguns grupos de biofísica – em especial a biofísica molecular e
a neurofisiologia – trazem resultados que auxiliam a compreensão de mecanismos
celulares e processos neurológicos, entre outros. Esses conhecimentos podem
contribuir para o desenvolvimento de novas abordagens e metodologias em
diagnóstico e terapia. Por outro lado, os físicos médicos podem fornecer
informações de caráter clínico que venham a indicar futuras patologias causadas
por anormalidades em nível molecular. Assim, a colaboração entre biofísicos e
físicos médicos pode ser bastante enriquecedora para ambos.
2.2-Desenvolvimento
científico e tecnológico
Em Física Médica, a demanda por profissionais
qualificados é devida, principalmente, ao avanço tecnológico crescente dos
equipamentos utilizados pelo setor da saúde. Tomografia computadorizada,
aplicação de laser no tratamento dermatológico, medicina nuclear e o tratamento
radioterápico do câncer, entre outros, são exemplos de áreas que necessitam de
um profissional qualificado para sua operacionalização e desenvolvimento.
Segundo dados de 2007 da Associação Brasileira de Física Médica, o Brasil tem
da ordem de 500 físicos médicos atuantes no mercado de trabalho, principalmente
nas grandes capitais do sul-sudeste, o que mostra uma carência muito grande de
profissionais nas regiões menos demográficas do
Brasil.
A necessidade da formação de pessoal qualificado é devido à expansão da
tecnologia e da instrumentalização dos hospitais e clínicas especializadas,
crescente necessidade de formação de físicos com uma visão interdisciplinar,
expansão dos cargos de Professores nas IES e IFETS, promoção de uma
2.3-Impacto
na economia
Além das já conhecidas atuações dos físicos
médicos em Radiodiagnóstico, Medicina Nuclear, Radioterapia e Radioproteção,
existe ainda um número reduzido de profissionais da Física Médica contratados
por fabricantes de equipamentos e acessórios em setores de assistência,
treinamento e vendas. Grupos de físicos médicos também formam empresas de
consultoria em informática médica, proteção radiológica, bem como controle da
qualidade em diversas áreas, e realizam atendimento nas diversas regiões do
país.
O desenvolvimento de equipamentos de
diagnóstico e terapia com tecnologia nacional, além de dispositivos de controle
de qualidade, a preços competitivos internacionalmente pode gerar divisas ao
país e facilitar o acesso da população a procedimentos que hoje tem alto custo
para o sistema único de saúde.
A tendência mundial tem sido a de acompanhar
a sofisticação das técnicas de diagnóstico e tratamento com o uso de métodos
dosimétricos mais precisos, simulações computacionais de feixe e de paciente,
desenvolvimento de algoritmos de cálculo mais fieis à anatomia do paciente e a
verificação individual da dose no paciente.
3-Infraestrutura
A comunidade de físicos médicos brasileiros
tem contribuído principalmente na elaboração e execução de programas de
controle e garantia da qualidade e de proteção radiológica. Grupos em
universidades estão também desenvolvendo pesquisas em processamento de imagens
- para fins de diagnósticos mais precisos em reconstrução tomográfica, com a
inclusão de fatores instrumentais físicos que não são considerados em sistemas
comerciais.
A ultrassonografia
tem tido pesquisas associadas há várias décadas.
Porém, devido
aos equipamentos clínicos
de ultrassonografla serem
relativamente inócuos, e bastante fechados pelos
fabricantes, quase não se encontram físicos atuando na rotina clínica no
Brasil. Existem grupos no país, principalmente em universidades, realizando
pesquisas de desenvolvimento de transdutores e métodos para caracterização de
tecidos. Há a perspectiva de que o aumento na adoção de procedimentos
quantitativos pelos médicos especialistas possa levar a uma procura maior de
físicos nessa área.
Os grupos de ressonância magnética do
Instituto de Física da Universidade de São Paulo (campus São Carlos) e da Universidade
Federal de
Pernambuco
foram pioneiros ao construírem seus próprios tomógrafos de baixo campo
magnético. Com isso, eles mostraram que é possível desenvolver tecnologia
própria nessa área em que dominam os fabricantes multinacionais. Atualmente,
esses e outros grupos associados têm se dedicado à melhoria dos tomógrafos e à
construção de bobinas específicas, assim como a seqüência de pulsos para a
extração de informações que não são fornecidas pelos sistemas comerciais,
dentro de um ambiente mais acadêmico do que clínico.
O físico na área de radioterapia no Brasil
não costuma atuar como pesquisador, pois a pesquisa continua basicamente
atrelada a empresas estrangeiras. Porém, dentro de um serviço de radioterapia,
sua tarefa é de fundamental importância. Dentre suas obrigações, está a
garantia da qualidade de em cada fase do processo radioterápico. Para isso,
além do comissionamento, da calibração e da dosimetria dos equipamentos de
tratamento, bem como a supervisão de proteção radiológica, sua atuação com os
sistemas de planejamento é de grande responsabilidade, incluindo implementação
dos dados das máquinas de tratamento, a verificação dos algoritmos para uso
clínico, o uso de imagens e os planejamentos de tratamento. Com as novas
técnicas de tratamento, o controle da qualidade deve ser muito rígido, e a
verificação da entrega da dose aos pacientes tem papel de destaque.
No Brasil, nas rotinas das radioterapias,
realiza-se somente a dosimetria do feixe no ar e em simuladores homogêneos. Há
situações ainda raras em que a parceria de clínicas de radioterapia com
universidades e institutos de pesquisa resulta em desenvolvimento de novas
técnicas radioterápicas ou dosimétricas, por iniciativa individual de algum
físico médico ou médico que deseja avaliar um novo tratamento ou equipamento.
Muitas pesquisas
extremamente cuidadosas devem ser realizadas para verificar a existência de uma
correlação entre as radiações não ionizantes e os efeitos carcinogênicos. No
caso da radiação ultravioleta, é preciso estabelecer metas de esclarecimento do
público para evitar exposições excessivas ou mesmo artificiais com propósitos
de bronzeamento. No Brasil, existem pesquisadores estudando os efeitos das
radiações não ionizantes e diversos grupos se dedicando ao desenvolvimento de
equipamentos para a aplicação de laser em odontologia, oftalmologia e
dermatologia e em terapia fotodinâmica.
4. Inclusão Social
Poderíamos definir a inclusão social no
contexto da Física Médica como universalizar o acesso de toda a população aos
bens e serviços que garantam qualidade de vida ao cidadão. Nesse contexto, o
desenvolvimento da Física Médica no Brasil possibilitaria a propagação de
técnicas de terapia e diagnóstico por todas as regiões do território nacional e
classes sociais, atingindo inclusive as regiões e classes menos favorecidas,
com a garantia da qualidade e da segurança a todos os envolvidos no processo. A
Física Médica compreende uma área do conhecimento fortemente associada à saúde,
com uma estrutura de formação acadêmica e profissional em nível de graduação e
pós-graduação realizada tradicionalmente em instituições formadoras de
reconhecida competência. Os programas de residência, aprimoramento ou
especialização em andamento na área, caracterizados pelo treinamento em serviço
com supervisão de profissionais capacitados, reforçam a vocação do físico
médico como profissional da área da saúde.
Hoje, somente grandes hospitais possuem
tecnologia suficiente para oferecer a seus pacientes um melhor tratamento e
técnicas de diagnóstico por imagens de maior complexidade. No entanto, os
grandes hospitais, em sua maioria, são particulares, e, portanto, somente as
classes altas da sociedade usufruem dos benefícios oriundos das novas
tecnologias em Física Médica. Os hospitais públicos possuem um grande número de
pacientes a serem tratados, o que acaba por gerar uma sobrecarga na execução de
tratamentos.
O
aumento de Físicos Médicos no mercado de trabalho brasileiro poderia então
facilitar o desenvolvimento de tecnologias nacionais mais baratas em relação às
importadas, além de fornecer mão de obra qualificada para o monitoramento dos
equipamentos, terapias e diagnósticos, garantindo assim que os benefícios da
tecnologia na saúde alcancem a todos, com segurança e qualidade.
5. Recomendações
Qualificar os cursos de graduação em Física
Médica, garantindo a realização de estágios em hospitais e clínicas com
profissionais qualificados;
Capacitar os físicos
médicos através de cursos de pós-graduação;
Ampliar o número de cursos de pós-graduação
em Física Médica nas diversas áreas;
Estabelecer metas para o cumprimento das
normas e leis que determinam a presença de físicos médicos qualificados em
hospitais e clínicas;
Ampliar a divulgação das áreas de atuação do
físico médico e sua importância na segurança dos pacientes e trabalhadores da
saúde, assim como a garantia da qualidade dos serviços;
Integrar
o físico médico às profissões da área da saúde. Reconhecer a Física Médica como
área do conhecimento em saúde
Envidar esforços para
a descentralização das atividades de física médica.