AS DIFERENÇAS ENTRE CONCEPÇÃO TRADICIONALISTA E SOCIO-INTERACCINISTA
INTRODUÇÃO
A educação hoje em dia já passou por muitos momentos bons e ruins, felizes e tristes,
fracassados e vitoriosos. Muitas descobertas já se deram no cenário da nossa
educação. Muitos foram os que já pensaram – e pensam – a educação. Todos nós,
educadores e educandos, família e sociedade, formamos a amplitude dos processos
e ações educativas, que deram certo ou não.
Assim na teoria
tradicionalista educar é um ato de amor, de compreensão, de afetividades. É
o processo no qual se envolvem aqueles que buscam a
significação para daquilo que poderá encaminhá-lo a um futuro de sucesso ou até
mesmo para resolver um problema pontual. O professor, hoje mais conhecido como
mediador ou educador, já foi o protagonista na magistral peça do ensino
brasileiro. Era dele que o ensino partia, pois era nele que esses conhecimentos
habitavam. Se foram momentos hoje questionados, por outro lado se enxergam bons
proveitos em termos de sucesso na aprendizagem, bem como na capacitação do
aluno. A pedagogia tradicional teve o seu momento de destaque nas páginas
da história da educação do Brasil e nesse texto iremos resgatar algumas das
suas principais características.
Na teoria
sócio-interacionista, que teve em Vygotsky seu maior expoente, uma nova
abordagem fica evidenciada. Seus pressupostos partem da idéia de homem enquanto
corpo e mente, enquanto ser biológico e social e enquanto participante de um
processo histórico cultural.
1.
AS
DIFERENÇAS ENTRE CONCEPÇÃO TRADICIONALISTA E SOCIO-INTERACCINISTA
1.1.Concepção Tradicional
O termo pedagogia tradicional, como bem o conhecemos através dos cursos de formação inicial e continuada, adveio do
estudo das concepções antigas de educação. Essa teoria ou concepção pedagógica
formou-se a partir dos pontos recorrentes nas práticas de ensino evidentes ao
longo da história da educação. Daí o termo Pedagogia Tradicional,
para explicitar a sua recorrência, a sua gênese histórico-cronológica.
Segundo o verbete criado pelo filósofo e pedagogo
brasileiro Dermeval Saviani para o glossário do sítio da Unicamp disponível nas
referências bibliográficas, a introdução da denominação “Concepção Pedagógica
Tradicional ou Pedagogia Tradicional foi introduzida no final do século XIX com
o advento do movimento renovador que, para marcar a novidade das propostas que
começaram a ser veiculadas, classificaram como ‘tradicional’ a concepção até
então dominante”.
A visão da concepção pedagógica é a busca pela
essência do homem e para realizar as suas inferências coloca o professor como o centro de todo o processo educativo, mantendo a visão no
desenvolvimento do intelecto, na imposição da disciplina como parte fundamental
para o sucesso educacional, na memorização dos conteúdos como forma de
apropriação dos conhecimentos tidos como essenciais. Ainda nessa concepção,
distinguem-se duas vertentes: a leiga e a religiosa.
1.2. Características da concepção pedagógica
tradicional
O papel da escola é o de promover uma formação puramente moral e intelectual, lapidando o
aluno para a convivência social, tendo como pressuposto a conservação da
sociedade em seu estado atual (status quo). A escola terá como foco
apenas a cultura, sendo os problemas sociais resguardados apenas à própria
sociedade.
Os conteúdos de ensino são aqueles que foram ao longo do tempo
acumulados e, nesse momento, são passados como verdades absolutas, sem chance
de questionamentos ou levantamentos de dúvidas em relação a sua veracidade. Nessa
concepção não está presente a consideração sobre os conhecimentos prévios do
aluno, apenas o que está no currículo é transmitido, sem interferências ou
‘perdas de tempo’.
A Metodologia de ensino é a exposição verbal por parte do professor e
a preparação do aluno. O foco principal é na resolução de exercícios e na
memorização de fórmulas e conceitos. Desta forma, o professor inicialmente
realiza a preparação do aluno, em seguida formula a apresentação do conteúdo,
correlacionando-o com outros assuntos e, por último, faz-se a generalização e
aplicação de exercícios.
A relação professor-aluno é marcada pelo autoritarismo do primeiro em
relação ao segundo. Somente o professor possui conhecimento para ensinar, o
papel do aluno é o de receber o conhecimento transmitido pelo professor. O
silêncio em sala de aula é imposto pela autoridade docente.
Os Pressupostos da aprendizagem são fundamentados na receptividade dos conteúdos e na mecanização de sua
recepção. A aprendizagem se dá por meio da resolução de exercícios e da
repetição de conceitos e recapitulação do saber adquirido sempre que necessário
for reavivá-lo na mente. A avaliação também é mecânica e ocorre por meio de
resolução de tarefas enviadas para casa, provas arguitivas e escritas.
1.3. Importância
Ao destacar as principais características da
concepção tradicional percebemos que ela se encontra cada vez mais presente nas
práticas pedagógicas atuais. Apesar de hoje em dia se pregar a importância de
evidenciar o conhecimento prévio do aluno, pouco se ver o aproveitamento
posterior dessa investigação e, principalmente, a sua correlação com os
conteúdos curriculares organizados.
Não é preciso ir muito longe para percebermos as
metodologias tradicionais de ensino sendo utilizadas pelos professores da
atualidade: exposição verbal, foco nos exercícios, na repetição e na
memorização. No caso da relação professor-aluno, ainda prevalece, na
maioria das escolas, o predomínio da autoridade do professor, bem como a
imposição do silêncio. A avaliação está totalmente ligada à concepção
tradicional, dando-se por meio de tarefas para casa e, quase que
exclusivamente, pela prova escrita.
Presumo que não conseguiremos nos libertar do
estilo da pedagogia tradicional. Na verdade, acredito que não devamos procurar
essa libertação. Alguns pontos deverão, sim, serem descartados, como em
qualquer modelo de concepção pedagógica, porém, outros deverão permanecer
embutidos em nosso leque de práxis e, de acordo com a realidade vigente,
modelados e direcionados a atenderem as nossas necessidades, bem como às
expectativas e necessidades do aluno.
2. TEORIA SÓCIO-INTERACIONISTA
O sócio-interacionismo
surge da ênfase no social. Os estudos de Vygotsky sobre o aprendizado decorrem
da compreensão do homem como um ser que se forma em contato com a
sociedade. “Na ausência do outro, o homem não se constrói”.
Para Vygotsky, a formação
se dá numa relação dialética entre o sujeito e a sociedade a seu redor – ou
seja, homem modifica o ambiente e o ambiente modifica o homem. Para ele o que
interessa é a interação que cada pessoa estabelece com determinado ambiente, a
chamada experiência pessoalmente significativa.
Outro conceito-chave da
teoria de Viygotsky é a mediação. Segundo a teoria Viygotskiana, toda relação
do indivíduo com o mundo é feita por meio de instrumentos técnicos e da
linguagem – que traz consigo conceitos consolidados da cultura à qual pertence
o sujeito.
Todo aprendizado é
necessariamente mediado – e isso torna o papel do ensino e do professor mais
ativo e determinante – para quem cabe a escola facilitar um processo que só
pode ser conduzido pelo próprio aluno. Segundo Vygotsky o primeiro
contato da criança com novas atividades, habilidades ou informações deve ser a
participação de um adulto. Ao internalizar um procedimento, a criança “se
apropria” dele, tornando-o voluntário e independente.
O ensino para Vygotsky,
deve se antecipar ao que aluno ainda não sabe nem é capaz de aprender sozinho,
porque, na relação entre o aprendizado e desenvolvimento, o primeiro vem antes.
É a isso que se refere um de seus principais conceitos, o zona de
desenvolvimento proximal, que seria a distância real de uma criação e
aquilo que ela tem o potencial de aprender. Em outras palavras, a zona de
desenvolvimento proximal é o caminho entre o que a criança consegue aprender
sozinha e o que ela está perto de conseguir fazer sozinha.
Vygotsky defende a idéia de
contínua interação entre as mutáveis condições sociais e as bases biológicas do
comportamento humano. Partindo de estruturas orgânicas elementares, determinadas
basicamente pela maturação, formam-se novas e mais complexas funções mentais, a
depender das experiências sociais a que as crianças se acham expostas.
2.1.Nova abordagem
A nova abordagem da
teoria socio-interccionista pode ser resumida em:
a) privilegia o ambiente social;
b) o desenvolvimento varia conforme o ambiente;
c) não aceita uma visão única, universal, do desenvolvimento
humano;
d) a relação homem/mundo é uma relação mediada por instrumentos
(símbolos);
e)desenvolvimento e aprendizagem são processos que se influenciam
reciprocamente; quanto mais aprendizagem mais desenvolvimento;
f) a linguagem tem uma função central no desenvolvimento cognitivo,
com a aquisição da linguagem modificam-se todos os processos mentais; a linguagem
é fator de interação social;
g) pensamento e linguagem procedem de raízes genéticas diferentes,
porém, ao longo do desenvolvimento se juntam e se separam repetidas
vezes;
h) o uso dos signos como instrumentos das atividades psicológicas,
transformam as funções mentais elementares (ações reflexas; reações
automatizadas) em processos mentais superiores (ações conscientemente
controladas; atenção voluntária; memorização ativa; pensamento abstrato;
comportamento intencional; capacidade para solução de problemas).
i) o indivíduo percebe e organiza o real através dos dados fornecidos
pela cultura.
j) os sistemas de representação e a linguagem constituem os
instrumentos psicológicos que fazem a mediação entre o indivíduo e o mundo.
Para Vygotsky, toda forma superior de comportamento
aparece duas vezes durante seu desenvolvimento: primeiro como forma coletiva,
como um procedimento externo do comportamento, isto é, interpsicológica, para
depois se converter em individual, em uma forma de comportamento da própria
pessoa, isto é, intrapsicológica.
Através dos postulados de reconstrução e
reelaboração dos significados culturais que Vygotsky desenvolveu o conceito de
Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP), pois, só é possível a criança
realizar ações que estão próximas daquelas que ela já consolidou.
Para Vygotsky, a ZDP constitui-se em dois
níveis: o nível de desenvolvimento real e o nível de desenvolvimento potencial.
A capacidade de realizar tarefa sozinha, constituí-se no nível de
desenvolvimento real, enquanto que o nível de desenvolvimento potencial é
a etapa em que a criança desempenha tarefas com a ajuda do
outro. "Essa possibilidade de alteração de desempenho de uma pessoa
pela interferência de outra é fundamental na teoria de Vygotsky. Em primeiro
lugar porque representa, de fato, um momento do desenvolvimento: não é qualquer
indivíduo que pode, a partir da ajuda do outro, realizar qualquer tarefa. Isto
é, a capacidade de se beneficiar de uma colaboração de outra pessoa vai ocorrer
num certo nível de desenvolvimento, não antes". (Oliveira, 1993:59).
O nível de desenvolvimento potencial
caracteriza-se, portanto em uma etapa na qual a interferência do outro afeta
significativamente o resultado da ação individual. A partir desta síntese
pode-se inferir que os pressupostos teóricos de Vygotsky reconceituam o estudo
da interação, que, no processo educativo, caracteriza-se como ponto central
para compreender os processos de mudança produzidos pelas interações realizadas
em situações escolares.
CONCLUSÃO
Portanto, depois da pesquisa feita deu-se ao
resultado de que na concepção tradicionalista, o aluno é considerado receptor
passivo de informações preestabelecidas pelo sistema ou instituição
educacional, que deve criteriosamente selecionar e preparar os conteúdos a
serem transmitidos às novas gerações. A avaliação da aprendizagem baseia-se na
capacidade de reprodução fiel das informações ensinadas. A relação
educador-aluno é marcada por forte hierarquização e autoritarismo. O educação
toma todas as decisões relativas ao processo ensinoaprendizagem, e exerce a
função de conduzir seus alunos a adaptarem-se ao contexto cultural vigente,
tido como referência do modelo. Não se verifica incentivo ao pensamento crítico
e criativo, à autonomia do aluno, à colaboração entre pares, e à democracia nas
tomadas de decisões, ao passo que na concepção socio-interaccionalista consiste o processo de interiorização implica uma
verdadeira reconstrução daquilo que em princípio foi manifestado em nível
externo. Dessa forma, o desenvolvimento cultural da criança tem origem social,
em duplo sentido de: primeiro, porque as funções psicológicas superiores - e
com elas todas as formas culturais - são construções sociais; e, segundo porque
sua construção em nível individual, sua interiorização, é concretizada a partir
de interações que a criança mantém com os adultos e outros agentes mediadores
de seu entorno, nos quais aparecem tais funções". É evidente para Vygotsky
a idéia de que o indivíduo reconstrói e reelabora os significados transmitidos
pelo seu grupo cultural.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Baquero, Ricardo. Vygotsky e a aprendizagem
escolar. Porto Alegre: Editora Artes Médicas. 1998.
LAGAR, Fabiana; SANTANA, Bárbara Beatriz de; DUTRA,
Rosimeire. Conhecimentos Pedagógicos para Concursos Públicos. 3.
ed. – Brasília: Gran Cursos, 2013.
Vygotsky, L.S. A Formação Social da Mente. S.
Paulo: Editora Martins Fontes. 1994.