Cláud Levi
Claude Lévi-Strauss
Claude
Lévi-Strauss (Bruxelas, 28
de novembro de 1908 — Paris, 30
de outubro de 2009) foi um antropólogo, professor e filósofo francês. É
considerado fundador da antropologia estruturalista, em
meados da década
de 1950, e um dos grandes intelectuais do século
XX.
Professor
honorário do Collège
de France, ali ocupou a cátedra de antropologia
social de 1959
a 1982. Foi também membro da Academia
Francesa - o primeiro a atingir os 100 anos de idade.
Desde
seus primeiros trabalhos sobre os povos indígenas do Brasil, que
estudou em campo, no período de 1935 a 1939, e a publicação de sua tese As estruturas
elementares do parentesco, em 1949, publicou uma extensa obra, reconhecida
internacionalmente.
Dedicou
uma tetralogia, as Mitológicas, ao
estudo dos mitos, mas
publicou também obras que escapam do enquadramento estrito dos estudos acadêmicos
- dentre as quais o famoso Tristes
Trópicos, publicado em 1955, que o tornou conhecido e apreciado por um vasto
círculo de leitores.
Biografia
Primeiros anos
Claude
Lévi-Strauss nasceu em Bruxelas, de uma
família judia de origem alsaciana, das
cercanias de Estrasburgo. Mas, à
época do seu nascimento, seu pai, Raymond Lévi-Strauss - um pintor retratista,
que acabou arruinado pelo advento da fotografia - tinha
um contrato a cumprir na cidade e sua mulher, Emma, estava prestes a dar à luz.
Assim, o pequeno Claude ali passou as primeiras semanas de vida.
O avô
materno, com quem ele viveu durante a Primeira
Guerra Mundial, era o rabino da sinagoga de Versailles. Seu bisavô,
Isaac Strauss, era regente de orquestra na corte - à época de Luís
Filipe e
depois, sob Napoleão
III.1
Vida escolar e política
Depois de
concluir a escola primária em Versalhes, instala-se em Paris para
prosseguir seus estudos secundários - primeiro no tradicional Lycée
Janson-de-Sailly e depois no Lycée Condorcet, um dos melhores
colégios de Paris.2
No final
dos seus estudos secundários, encontra um jovem socialista filiado
a um partido belga e se liga à esquerda,
familiarizando-se rapidamente com a literatura política que até então lhe era
desconhecida, incluindo Marx.
Torna-se militante da S.F.I.O.,
encarregado de coordenar o grupo de estudos socialistas, tornando-se depois
Secretário Geral dos Estudantes Socialistas.
Início da trajetória acadêmica
Estudou direito na
Faculdade de Direito de Paris, obtendo sua licença antes de ser admitido na Sorbonne, onde se
graduou em filosofia em 1931,
com doutorado em 1948, com a tese As
estruturas elementares do parentesco.
Depois de
passar dois anos ensinando filosofia no Liceu Victor-Duruy de Mont-de-Marsan e no
liceu de Laon, o
diretor da Escola Normal Superior de Paris,
Célestin Bouglé, por telefone, convida-o a integrar a missão universitária
francesa no Brasil, como professor de sociologia da Universidade de São Paulo. Esse
telefonema seria decisivo para o despertar da vocação etnográfica de
Lévi-Strauss, conforme ele próprio iria declarar mais tarde: "Minha
carreira foi decidida num domingo de outono de 1934, às 9 horas da manhã, a
partir de um telefonema."3
Estadia no Brasil
Entre
1935 a 1939, Lévi-Strauss lecionou sociologia na recém-criada Universidade de
São Paulo, juntamente com os professores integrantes da missão francesa, entre
eles: sua mulher Dinah Lévi-Strauss, Fernand
Braudel, Jean Maugüé e Pierre
Monbeig.
Junto com Dina, Strauss também excursionou por regiões centrais do Brasil, como Goiás, Mato Grosso e Paraná. Publicou o registro dessas expedições no livro Tristes Trópicos (1955), neste livro ele conta inclusive como sua vocação de antropólogo nasceu nessas viagens.
Em uma de suas primeiras viagens, no norte do Paraná, teve seu esperado primeiro contato com os índios, no Rio Tibagi, porém ficou decepcionado ao supor, sem muito conhecimento etnográfico, que "os índios do Tibagi (caingangues) não eram nem verdadeiros índios, nem selvagens" (Lévi-Strauss 1957:160-161).
Junto com Dina, Strauss também excursionou por regiões centrais do Brasil, como Goiás, Mato Grosso e Paraná. Publicou o registro dessas expedições no livro Tristes Trópicos (1955), neste livro ele conta inclusive como sua vocação de antropólogo nasceu nessas viagens.
Em uma de suas primeiras viagens, no norte do Paraná, teve seu esperado primeiro contato com os índios, no Rio Tibagi, porém ficou decepcionado ao supor, sem muito conhecimento etnográfico, que "os índios do Tibagi (caingangues) não eram nem verdadeiros índios, nem selvagens" (Lévi-Strauss 1957:160-161).
Porém, ao
final do primeiro ano escolar (1935/1936), ao visitar os cadiuéus na
fronteira com o Paraguai e os bororos no
centro de Mato
Grosso,
rendendo-lhe sua primeira exposição em Paris nas
férias de (1936/1937), o que foi fundamental para a entrada de Lévi-Strauss no
meio etnológico francês, conforme admite ele próprio:4 "Eu
precisava fazer minhas provas de etnologia, porque não tinha formação alguma.
Graças à expedição de 1936, consegui créditos do Museu
do Homem e da Pesquisa Científica, ou do que acabaria se chamando assim. Com
esse dinheiro, organizei a expedição nambiquara."
Em 1938,
foi realizada uma expedição até os nambiquaras no Mato
Grosso, com financiamento francês e brasileiro, que deveria durar um ano. No
entanto, durou apenas seis meses - de maio a novembro do mesmo ano. Além do
casal Lévi-Strauss, participaram o médico e etnólogo francês Jean Vellard e o
antropólogo brasileiro Luís
de Castro Faria, que aponta os problemas que a missão enfrentou
com os órgãos públicos brasileiros, por contar com o patrocínio de Paul
Rivet, ligado
ao Partido Socialista francês, e que
se tornara persona non grata no Brasil porque supostamente teria
difamado o país na França.5 Já Luis Grupioni aponta
as resistências existentes no SPI quanto à
segurança da missão e a relutância de Lévi-Strauss em aceitar um fiscal do
Conselho de Fiscalização das Expedições Artísticas e Científicas: "Mais
que a possível simpatia socialista identificada aos membros da expedição, era a
perspectiva de fiscalização e controle de uma expedição estrangeira, o que
teria impedido a concessão da licença." 6
A missão
também visitou os últimos homens e mulheres Tupi-Kaguahib no Rio
Machado, hoje considerados desaparecidos.
O período
que passou no Brasil foi fundamental em sua carreira e no seu crescimento
profissional, além de ter despertado em Strauss sua vocação etnológica. Disse: "Um
ano depois da visita aos Bororo, todas as condições para fazer de mim um
etnógrafo estavam satisfeitas"(1957).
Retorno à França
Após três
anos no Brasil, Lévi-Strauss voltou à França,
reconhecido no meio etnológico. Diz ele, em Tristes Trópicos: "Um
ano depois da visita aos Bororo, todas as condições para fazer de mim um
etnógrafo estavam satisfeitas."7
Seu livro
As estruturas
elementares do parentesco foi publicado em 1949 e, instantaneamente,
consagrou-se como um dos mais importantes estudos de família já
publicados. O título é uma paráfrase ao
título do livro de Émile
Durkheim, As formas elementares da vida religiosa.
No final
da década
de 1940 e começo da década seguinte, Lévi-Strauss continuou a publicar e
experimentou considerável sucesso profissional. Em seu retorno à França ele se
envolveu com a administração do CNRS e do Musée de l'Homme, até
ocupar uma cadeira na quinta seção da École Pratique des Hautes Études, aquela
de 'Ciências Religiosas' que havia pertencido previamente a Marcel
Mauss e que
Lévi-Strauss renomeou para "Religião Comparada de Povos
Não-Letrados".
Apesar de
bem conhecido em círculos acadêmicos, foi apenas em 1955 que Lévi-Strauss se
tornou um dos intelectuais franceses mais conhecidos ao publicar Tristes Trópicos, livro
autobiográfico acerca de sua passagem pelo Brasil e contato com os ameríndios
na década de 1930, que contém uma visão eurocêntrica, e até
certo ponto colonialista.
Colégio de França
Em 1959
Lévi-Strauss foi nomeado para a cadeira de antropologia
social do Collège de France. Por
volta desse período publicou Antropologia estrutural, uma
coleção de ensaios em que oferece tanto exemplos como manifestos programáticos
do estruturalismo. Começou a organizar uma série de instituições e confrontos
entre as visões existencialista e
estruturalista que iria eventualmente inspirar autores como Clastres e Bourdieu. Foi
também eleito doutor
honoris causa de diversas universidades pelo mundo.
Últimos anos
Apesar de
aposentado, Lévi-Strauss continuava a publicar ocasionalmente volumes de
meditações sobre artes, música e poesia, bem como reminiscências de seu
passado.
Claude
Lévi-Strauss morreu em 30 de outubro de 2009,8 9 poucas
semanas antes da data em que faria 101 anos.10 A morte
só foi anunciada quatro dias depois.10
O
presidente da França Nicolas
Sarkozy o definiu como "um dos maiores etnólogos de todos os tempos".11 Bernard
Kouchner, o ministro de Assuntos Exteriores francês, afirmou que Lévi-Strauss
"quebrou com uma visão etnocêntrica da história e humanidade […] Em um
tempo em que tentamos dar sentido a ideia de globalização, construir um mundo
mais justo e humano, eu gostaria que o eco universal de Claude Lévi-Strauss
ressonasse mais forte".12 O jornal
The Daily Telegraph afirmou
no obituário do antropológo que Lévi-Strauss foi "uma das influências
pós-guerra dominantes na vida intelectual francesa e o principal expoente do Estruturalismo nas Ciências sociais".13 A
secretária permanente da Académie Française Hélène Carrère
d'Encausse disse: "Ele era um pensador, um filósofo […] Nós nunca
encontraremos outro como ele".14
Citações
"O antropólogo é o
astrônomo das ciências sociais: ele está encarregado de descobrir um sentido
para as configurações muito diferentes, por sua ordem de grandeza e seu
afastamento, das que estão imediatamente próximas do observador." Antropologia
Estrutural, 1967.
"Meu único desejo é um
pouco mais de respeito para o mundo, que começou sem o ser humano e vai
terminar sem ele - isso é algo que sempre deveríamos ter presente". -
Aos 97 anos, em 2005, quando recebeu o 17º Prêmio Internacional Catalunha, na Espanha.
Distinções, condecorações, recompensas
Distinções
- Eleito
Membro da Academia Francesa em 1973. Decano da Academia desde a morte do
professor Jean Bernard em 2006.
- Membro
estrangeiro da Academia Nacional de Ciências dos Estados-Unidos;
- Membro
da Academia Britânica;
- Membro
da Academia Real de Artes e Ciências dos Países Baixos;
- Membro
da Academia Norueguesa de Ciências e Letras.
- Conservador
de honra do Museu do cais Branly, nomeado em 2007
- Palmas
Académicas da França;
Condecorações
- Comendador
da Ordem Nacional do Mérito da
França;
- Comendador
da Ordem Artes e Letras da França;
- Comendador
da Ordem da Coroa da Bélgica;
- Comendador
da Ordem Nacional do
Cruzeiro do Sul do Brasil;
- Comendador
da Ordem do Sol Nascente do
Japão;
- Grã-cruz
da Ordem Nacional da Legião de Honra da França;
- Grã-Cruz
da Ordem Nacional do
Mérito Científico do Brasil;
Prêmios e medalhas
- Medalha
de ouro e Prêmio do Viking Fund, 1966
- Medalha
de ouro do Centro Nacional
da Pesquisa Científica da França, 1967
- Prêmio
Erasmo, 1973
- Prêmio
da Fundação Nonino, 1986
- Prêmio
Aby M. Warburg, 1996
- Prêmio
Meister Eckhart, 2002
Doutor honorário
- Universidade
Nacional de Berlim - (Alemanha);
- Universidade
Livre de Bruxelas - (Bélgica);
- Universidade de Chicago - (Estados Unidos);
- Universidade de Columbia - (Estados Unidos);
- Universidade de Harvard - (Estados Unidos);
- Universidade Johns Hopkins - (Estados Unidos);
- Universidade Laval - (Canadá);
- Universidade
Nacional Autônoma do México - (México);
- Universidade de Montreal - (Canadá);
- Universidade de Oxford - (Inglaterra);
- Universidade de São Paulo - (Brasil);
- Universidade de Stirling - (Escócia);
- Universidade de Uppsala - (Suécia);
- Universidade
Visva Bharati - (Índia);
- Universidade de Yale - (Estados Unidos);
- Universidade
Nacional do Zaire - (Zaire).