Investigação qualitativa, quantitativa e mista Trabalhos feitos Navegante
INTRODUÇÃO
Uma investigação científica pode ser realizada de acordo
com um de vários modelos investigativos, contudo, toda a investigação
científica será desenvolvida segundo um destes três paradigmas, quantitativa,
qualitativa ou mista. A investigação quantitativa baseia-se na utilização de
instrumentos de recolha de dados quantitativos como sejam questionários de
resposta fechada e os resultados finais são depois apresentados num relatório
do tipo estatístico. A investigação qualitativa – a mais utilizada em educação
e, portanto, aquela sobre a qual se debruçará mais aprofundadamente o meu
estudo – baseia-se na utilização de instrumentos de recolha de dados do tipo
qualitativo, como sejam a observação participativa ou a utilização de
entrevistas. As investigações deste tipo apresentam os seus resultados sob a
forma de um relatório do tipo narrativo com descrições contextuais e citações
dos participantes. A investigação mista não é mais do que uma mistura da
investigação quantitativa e da qualitativa. Esta investigação pode aproximar-se
mais de um dos anteriores tipos ou do outro e o grau de semelhança a cada um
deles pode ser muito variado. Por esse motivo, podemos ter uma variedade de
tipos de investigação mista. A investigação qualitativa é a mais usada na
educação pois considera o comportamento como sendo variável e situacional. Este
princípio é muito importante quando estamos a estudar a interacção relacional
que se desenvolve no ambiente da escola e da sala de aula.
METODOLOGIA DE INVESTIGAÇÃO QUALITATIVA, QUANTITATIVA E MISTA
INVESTIGAÇÃO QUALITATIVA
Não tendo sido utilizada nas Ciências Sociais até
final dos anos 60 do século XX, a expressão 'investigação qualitativa' surge
como um termo genérico que agrupa diversas estratégias de investigação com
características específicas. No seio das Ciências Sociais e utilizada no vasto
campo desenvolvido pela Antropologia, a tradição de pesquisa qualitativa faz
com esta seja denominada de investigação etnográfica, adotando a Etnografia
estratégias específicas, uma vez que representa um corpus de ciências
imbricadas umas nas outras. Tomando como ponto de partida as sociedades como um
corpo, cujos elementos se articulam no tempo e no espaço, a Etnografia utiliza
métodos intensivos de recolha de informação, tais com a observação
participante, com base numa participação ativa por parte dos investigadores ao
longo de todo o 'trabalho de campo', e a realização de 'entrevistas' de índole
diversa, o que permite uma certa flexibilidade, na medida em que um conjunto de
tópicos poderá ser utilizado como orientador da ação. Com base nesta
metodologia, o investigador deverá proceder a uma articulação entre local/
/global, inserindo o objeto de estudo no contexto envolvente, uma vez que -
salienta Boas (1940, Some problems of methodology in the social sciences. In
Race, language and culture. Chicago: The University of Chicago Press) - o
indivíduo pode ser compreendido unicamente como sendo parte integrante da
sociedade a que pertence, ao mesmo tempo que essa sociedade só pode ser
compreendida a partir das inter-relações existentes entre esses mesmos
indivíduos.
MÉTODOS QUANTITATIVOS DE INVESTIGAÇÃO EM EDUCAÇÃO
A utilização de Métodos
Quantitativos está associada à investigação experimental ou quase experimental o que
pressupõe a observação de fenómenos, a formulação de hipóteses explicativas
desses mesmos fenómenos, o controlo de variáveis, a selecção aleatória dos
sujeitos de investigação (amostragem), a verificação ou rejeição das hipóteses
mediante uma recolha rigorosa de dados, posteriormente sujeitos a uma análise
estatística e uma utilização de modelos matemáticos para testar essas mesmas
hipóteses. O objectivo é a generalização dos resultados de uma determinada
população em estudo a partir da amostra, o estabelecimento de relações causa –
efeito e a previsão dos fenómenos.
Os objectivos da investigação quantitativa consistem
essencialmente em encontrar relações entre variáveis, fazer descrições
recorrendo ao tratamento estatístico dos dados recolhidos, testar teorias;
Quer se trate de uma investigação experimental, quer se
trate da caracterização estatística de uma determinada população (por exemplo
mediante a administração de um inquérito por questionário ou por entrevista estruturada),
procede-se à selecção de uma amostra que deverá ser representativa da população
em estudo, para que os resultados possam ser generalizados a essa mesma
população, o que implica a selecção aleatória dos sujeitos de investigação;
Uma das principais limitações dos métodos quantitativos
em Ciências Sociais está ligada à própria natureza dos fenómenos estudados:
complexidade dos seres humanos; estímulo que dá origem a diferentes respostas
de acordo com os sujeitos; grande número de variáveis cujo controlo é difícil
ou mesmo impossível; subjectividade por parte do investigador; medição que é
muitas vezes indirecta, como é por exemplo o caso das atitudes; problema da
validade e fiabilidade dos instrumentos de medição.”
Dentro dos estudos quantitativos, (distinguimos) estudos
experimentais e não experimentais ou descritivos, inspirados nas
conceptualizações de Macmillan & Schumaker (1997) e Charles (1998). Assim
dizemos que estamos perante uma investigação experimental quando: a) fazemos
variar sistemáticamente a variável independente ou tratamento experimental, b)
controlamos as outras variáveis que podem concorrer com a variável independente
na determinação das variáveis dependentes (efeitos). Ainda dentro da categoria
da investigação quantitativa, considerámos os estudos não experimentais ou
descritivos para contemplar todas as situações em que um investigador pretender
conhecer um fenómeno ou encontrar relações entre variáveis, mas não pode
manipular as presumíveis causas (ou porque são variáveis atributivas ou por
razões de ordem ética ou técnica), quaisquer que sejam os métodos de recolha e
análise de dados. Dentro
desta categoria, (distinguimos) os chamados survey ou estudos exploratórios
(caracterizados pela constituição de uma amostra representativa da população e por se obterem os
dados inquirindo os sujeitos), os estudos correlacionais (que buscam relações
entre variáveis não manipuladas) os estudos ex post facto ou causais comparativos e os estudos
psicométricos.
METODOLOGIA DE INVESTIGAÇÃO MISTA
Esta metodologia de investigação pode ser vista como uma
metodologia mista que se expressa não no sentido de integrar as duas formas de
inquérito, mas no sentido de utilizar características associadas a cada uma
dessas formas. A Figura 1 apresenta aspectos, das abordagens quantitativa e
qualitativa, que foram considerados nos
procedimentos metodológicos da investigação realizada.
A orientação
metodológica tem uma base fundamentalmente racionalista (uma característica das
abordagens quantitativas) quando, por exemplo, se elaboram modelos para análise
de dados tendo por base quadros teóricos prévios. Esta orientação permite
explorar hipóteses na base de uma teoria orientadora (hipóteses experimentais).
Contudo, também se tem usado uma orientação metodológica de carácter
naturalista (uma característica das abordagens qualitativas) quando, por
exemplo, os indicadores e os descritivos utilizados nos instrumentos, derivados
dos modelos, são fundamentalmente obtidos a partir da observação directa dos
contextos em estudo.
Esta abordagem, de pendor mais naturalista, tem permitido
a formulação de hipóteses na base dos dados empíricos (hipóteses
explicativas).
No que respeita à
recolha de dados, têm-se também usado procedimentos metodológicos
asociados às duas formas de inquérito. Com efeito, a par de questionários de tipo fechado
(característicos de abordagens quantitativas) tem-se recorrido frequentemente a
modos de questionamento mais abertos, como entrevistas e observações
(característicos de abordagens qualitativas). Também ao nível do tratamento dos dados, se tem recorrido a
métodos quantitativos (tratamentos estatísticos) e qualitativos (análises
interpretativas de conteúdo).
Se considerarmos outros posicionamentos, distintos dos dois paradigmas tradicionais da
investigação educacional, a tipologia apresentada por Constas (1998) pode ser
útil para situar a metodologia de investigação que se tem vindo a desenvolver.
De acordo com esta tipologia, construída com base na interacção de três
dimensões – política, metodológica e
representacional -, é possível
considerar oito protótipos de inquérito educacional. A dimensão política do inquérito está
presente quando se investigam e incorporam (como adquiridas), num determinado
estudo, questões de natureza política e quando se analisa e se questiona o
efeito que as relações de poder podem ter na investigação. A dimensão
metodológica do inquérito refere-se às estratégias relacionadas com os
procedimentos de recolha de dados (no caso da investigação educacional baseada
em dados empíricos) e com as técnicas de argumentação (no caso da investigação
educacional assente em dados teóricos). A dimensão representacional diz
respeito à natureza do discurso académico (estilo de escrita, léxico e organização
do discurso).
CONCLUSÃO
A importância do contexto é fulcral pois os
comportamentos e as reacções dos actores educativos estão intrinsecamente
dependentes daqueles que os rodeiam bem como do ambiente em que estão ou não integrados.
Daí que a investigação qualitativa se preocupe em descrever o contexto e
contextualizar todas as acções e reacções dos participantes na investigação.
Esta investigação é, sobretudo, do tipo indutivo pois a hipótese de teoria só
surge a partir da investigação. São feitas observações de determinadas
situações e comportamentos e a verificação de um padrão é o que desenvolve a
hipótese ou teoria final.
BIBLIOGRAFIA
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