Recursos hídricos

Introdução

A água é essencial à vida e todos os organismos vivos no planeta Terra dependem da água para sua sobrevivência. O planeta Terra é o único planeta do sistema solar que tem água nos três estados (sólido, líquido e gasoso), e as mudanças de estado físico da água no ciclo hidrológico são fundamentais e influenciam os processos biogeoquímicos nos ecossistemas terrestres e aquáticos. Somente 3% da água do planeta está disponível como água doce. Destes 3%, cerca de 75% estão congelados nas calotas polares, em estado sólido, 10% estão confinados nos aqüíferos e, portanto, a disponibilidade dos recursos hídricos no estado líquido é de aproximadamente 15% destes 3%. A água, portanto, é um recurso extremamente reduzido.



Os impactos nos recursos hídricos

Os impactos quantitativos nos recursos hídricos são crescentes e produzem grandes alterações nos estoques de águas superficiais e subterrâneas. Há casos muito evidentes de uso excessivo de recursos hídricos superficiais que resultaram na redução quantitativa acentuada e em desastres de grandes proporções. Exemplos disto são os problemas referentes ao Mar de Aral [11, 12], à cidade do México [13] e a muitas outras regiões do planeta, especialmente regiões urbanas.
Além dos impactos quantitativos, há muitos outros impactos na qualidade da águas superficiais e subterrâneas que comprometem os usos múltiplos e aumentam as pressões econômicas regionais e locais sobre os recursos hídricos. Estes impactos estão descritos na Tabela VI.
Tabela VI – Impactos das atividades humanas nos ecossistemas aquáticos e valores/serviços dos recursos hídricos em risco.
Atividade Humana Impacto nos ecossistemas aquáticos Valores/serviços em risco
Construção de represas. Altera o fluxo dos rios e o transporte de nutrientes e sedimento e interfere na migração e reprodução de peixes. Altera habitats e a pesca comercial e esportiva.Altera os deltas e suas economias.
Construção de diques e canais. Destrói a conexão do rio com as áreas inundáveis.    Afeta a fertilidade natural das várzeas e os controles das enchentes.
Alteração do canal natural dos rios. Danifica ecologicamente os rios. Modifica os fluxos dos rios. Afeta os habitats e a pesca comercial e esportiva. Afeta a produção de hidroeletricidade e transporte.

Drenagem de áreas alagadas. Elimina um componente-chave dos ecossistemas aquáticos. Perda de biodiversidade. Perda de funções naturais de filtragem e reciclagem de nutrientes. Perda de habitats para peixes e aves aquáticas.
Desmatamento do solo. Altera padrões de drenagem, inibe a recarga natural dos aqüíferos, aumenta a sedimentação. Altera a qualidade e a quantidade da água, pesca comercial, biodiversidade e controle de enchentes.
Poluição não controlada. Diminui a qualidade da água. Altera o suprimento de água. Aumenta os custos de tratamento. Altera a pesca comercial. Diminui a biodiversidade. Afeta a saúde humana.
Água para as regiões urbanas
O crescimento exponencial da população humana promoveu uma enorme demanda sobre os recursos hídricos, aumentando significativamente a necessidade de grandes volumes de água para suprir as populações urbanas adequadamente sem causar danos à saúde pública. A urbanização avançou sobre os mananciais e deteriorou as fontes de suprimentos superficiais e subterrâneas. Os custos do tratamento de água para produção de água potável atingem altos valores especialmente se os mananciais estão desprotegidos de florestas riparias e cobertura vegetal suficiente nas bacias hidrográficas e se as águas subterrâneas estão contaminadas. Estes custos variam de R$ 0,50 a R$ 80,00 ou R$ 100,00 dependendo da região, época do ano e da fonte. De grande preocupação é a toxicidade dos mananciais, o que pode aumentar os riscos à saúde humana e agravar problemas principalmente de toxicidade crônica. Regiões urbanas produzem grandes volumes de águas residuárias de origem doméstica, esgotos não tratados que degradam rios e lagos próximos e elevam os custos do tratamento. No Brasil somente 20% dos esgotos municipais são tratados, produzindo um vasto processo de eutrofização de rios, represas e lagos naturais e águas costeiras.
O futuro dos recursos hídricos
Recursos Hídricos representam um estoque de recursos fundamental para a manutenção da vida no planeta Terra e também para o funcionamento dos ciclos e funções naturais. Recursos Hídricos beneficiam direta ou indiretamente a população humana, principalmente se levarmos em conta os vários benefícios promovidos para o bem estar da população humana e para a sobrevivência de organismos.
Uma nova ética é necessária para enfrentar a escassez de recursos hídricos no futuro e para tratar este recurso como um componente fundamental dos ciclos do planeta Terra.

Conclusão
Acima de tudo, o futuro dos recursos hídricos depende de uma integração entre o conhecimento (diagnóstico, banco de dados, sistemas de informação) ou seja, dados biogeofísicos e a sócio economia regional, incluindo-se as tendências e a construção de cenários.
Para evitar desperdícios, economizar água, melhorar os custos do tratamento e desenvolver arcabouços legais e institucionais é necessário considerar o conjunto de recursos hídricos – águas continentais superficiais, águas subterrâneas, águas costeiras e sua sustentabilidade no espaço e tempo incluindo valores estéticos, segurança coletiva, oportunidades culturais, segurança ambiental, oportunidades recreacionais, oportunidades educacionais, liberdade e segurança individual.


Bibliografia
A. Shiklomanov, “World fresh water resources”, in Water in Crisis: A Guide to the World’s Fresh Water Resources, P. H. Gleick, ed. (Oxford University Press, New York. 13-24 p, 1993).
2. B. Braga, O. Rocha, J. G. Tundisi, Dams and the environment: the Brazilian experience, Water Resources Development, v. 14. 127-140 p (1998).
3. Agência Nacional das Águas – ANA, A evolução da gestão dos recursos hídricos no Brasil, Edição comemorativa do dia mundial das águas, 64 p (2002).