contradições do desenvolvimento humano

Introdução
No presente trabalho iremos abordar sobre as contradiçoes do desenvolvimento humano. Assim sendo começamos por dizer que o primeiro pressuposto de toda a história humana é, naturalmente, a existência de indivíduos humanos vivos. O primeiro fato a constatar é, pois, a organização corporal desses indivíduos e, por meio dela, sua relação dada com o restante da natureza.
Apresentaremos como entender a contradição humana nas relações sociais que engendram a disputa entre as tendências formativas que se materializam na contradição entre unilateralidade e multilateralidade. Neste trabalo debatemos como a tendência formativa unilateral, alienada, é enclausurada pelas relações de produção capitalistas que impedem a possibilidade de desenvolvimento de todas as capacidades humanas. Expomos também porque a tendência formativa multilateral demanda como base de desenvolvimento outra lógica de sociabilidade. Deste modo, na esteira das produções marxistas, buscamos construir a crítica contra às relações capitalistas de produção, para, partindo desta crítica alçar nas contradições do real as possibilidades de superação.

                  










Contradição humana
A libertação de cada indivíduo singular será alcançada na medida que a história seja totalmente transformada em história mundial. A riqueza real do indivíduo depende inteiramente da riqueza de suas conexões reais. Apenas isso libertará os indivíduos das barreiras nacionais e locais, os trará para a conexão prática com a produção (inclusive a produção intelectual) de todo o mundo e tornará possível a eles a aquisição da capacidade de desfrutar dessa multilateral produção de todo o planeta (as criações do homem). (Marx, 1998, p. 59)
O processo de domínio do homem sobre a natureza através de sua atividade fundante vital – o trabalho – possibilitou, portanto, o desenvolvimento da própria corporalidade humana, ao fabricar instrumentos cada vez mais complexos, sua formação biofísica e psíquica foram transformando-se. É o trabalho, por exemplo, que torna possível o surgimento da linguagem, pois o desenvolvimento dos órgãos vocais ocorre a partir da necessidade de comunicação entre membros de um mesmo grupo. (MARX, 2006). Aqueles que defendem a centralidade da linguagem como fundante do ser social podem vir a afirmar: os animais também modificam sua própria realidade através de suas atividades. Todavia, sabemos que os animais identificam-se diretamente com a atividade necessária para manutenção das suas vidas, os amimais são as suas próprias atividades, eles produzem suas habitações e retiram da natureza sua alimentação.

Porém, de modo distinto dos seres humanos os animais fazem somente aquilo que é indispensável para mantê-los vivos e, quando capazes de utilizar uma ferramenta, não imprimem a ação apreendida no instrumento utilizado, pois tão logo o objeto satisfaça suas necessidades, torna-se obsoleto aos animais. De modo diferente, a inscrição da cultura humana fixa-se nos instrumentos construídos, o ser humano mostra ao outro como reutilizar seus instrumentos. Assim, a atividade humana evolui de sua forma sensorial e prática alcançando o patamar de uma atividade orientada por uma ação que ocorre na mente, na consciência, uma ação teleológica. (GOELLNER, 1990) O homem, diferente dos animais é livre do produto de seu trabalho. O ser humano pode produzir de acordo com o padrão de todas as espécies; os animais, só segundo a sua própria espécie; o homem pode produzir inclusive a partir do que é considerado belo em cada época, deste modo, o homem é capaz de produzir de maneira universal. (MARX, 1983) O trabalho que possibilita ao homem produzir universalmente possui duas dimensões: uma ontológica4 , ineliminável, e outra histórica, eliminável. A dimensão ontológica é aquela que funda a própria corporalidade do homem, funda a espécie humana, sua determinação genética e só pode ser eliminada com o processo de extinção, no entanto, a dimensão histórica, é eliminável, por isso o homem precisa ensinar a cada nova geração a viver no mundo humano, ou seja, ensina a dimensão histórica do processo de trabalho5 necessária para a manutenção da vida. Assim, cada geração aprende a viver no mundo humano com as gerações que a precederam e a humanidade edifica-se sobre os ombros da geração anterior vivendo sempre em um mundo organizado pela geração precedente. De acordo com Marx (1985b)
O simples fato de cada geração posterior deparar-se com forças produtivas adquiridas, pelas gerações precedentes, que lhes servem de matéria prima para novas produções, cria na história dos homens uma conexão, cria uma história da humanidade, que é tanto mais história da humanidade quanto mais forças produtivas dos homens, e, por conseguinte, as suas relações sociais, adquirem maior desenvolvimento. (MARX, 1985b, p. 207). As forças produtivas são as forças que garantem a vida humana: a força de trabalho, a ciência e a terra (MARX, 2006), ou seja, o próprio homem, sua atividade fundante , os meios do trabalho, o meio ambiente, a cultura, o conhecimento, a ciência e a tecnologia. Já as relações de produção são determinadas pelas relações sociais estabelecidas entre os seres humanos para produzir e reproduzir a sua vida material e espiritual6 e são exatamente tais relações, que determinam o modo de produção. O homem através de sua atividade principal mediatizadora7 , o trabalho, supera o processo de hominização: dependência de dadas particularidades estruturais orgânicas e impetra o processo de humanização, ou seja, passa a ter sua vida dirigida por particularidades sócio historicamente desenvolvidas. Mas a produção é desde o início um processo social que se desenvolve segundo as suas leis objetivas próprias, leis sócio-históricas. A biologia pôs-se, portanto, a “inscrever” na estrutura anatômica do homem a “história” nascente da sociedade humana. Assim se desenvolvia o homem, tornado sujeito do processo social de trabalho, sob a ação de duas espécies de leis: em primeiro lugar, as leis biológicas, em virtude das quais os seus órgãos se adaptaram às condições e às necessidades da produção; em segundo lugar, às leis sócio-históricas que regiam o desenvolvimento da própria produção e os fenômenos que ela engendra.” (LEONTIEV, 1978, p. 02).

Desenvolvimento da relação humana
A relação entre hominização e humanização, o processo de formação humana, assim como todo fenômeno, desenvolve-se na relação entre o necessário e o contingente que “[...] se encontram em ligação orgânica e interdependência e pertencem aos mesmos fenômenos. Cada fenômeno, cada formação material é, ao mesmo tempo, necessário e contingente” (CHEPTULIN, 1982, p. 250).
[...] cada organismo vivo, no decorrer do seu desenvolvimento e de sua existência, manifesta uma série de propriedades que o caracterizam como representante de uma certa espécie. Essas propriedades são condicionadas por sua natureza, por seus aspectos e ligações internos e são também programadas neles e constituem o necessário (CHEPTULIN, 1982, p. 250). No entanto, diferente dos animais, não basta nascer humano pra ter as características sociais do homem, as ações que levam o homem a humanização objetivam-se através de relações contingentes, pois “se tratam de propriedades que são engendradas pelas condições individuais de sua existência, por interação com outras formações materiais e com o meio-ambiente” (CHEPTULIN, 1982, p. 250). No processo de hominização, por exemplo, em um determinado momento a comunicação entre os seres aparece como uma necessidade para o desenvolvimento do que viria a ser humano e a linguagem é a contingência que objetiva tal necessidade. Desta feita, a humanização, ainda que determinada por relações contingentes constitui-se como uma necessidade história, que expressará diferentes concepções formativas a depender da direção dada pelas relações contingenciais que a estruturam. Segue-se igualmente que o conhecimento da necessidade é uma tarefa fundamental da ciência. Mas, como o necessário não existe no estado puro e se manifesta mediante uma grande quantidade de desvios contingentes, seu conhecimento só é possível por meio do estudo do contingente e a colocação em evidência, nele, das tendências possíveis. (Cheptulin, 1982, p. 251) Por isso, ainda que o homem tenha garantido geneticamente a sua formação biofísica – hominização – ele só torna-se humano na medida em que uma série decontingências é objetivada. Reconhecer tais contingências e seu papel no processo de mediação da formação humana – humanização - é essencial para dar direção a este processo. Leontiev (1978) ao explicar o processo de formação humana rejeita as explicações criacionistas e idealistas do desenvolvimento humano e alça o homem como único responsável por sua própria existência, destacando a importância do processo educativo das novas gerações para o desenvolvimento da própria humanidade. Sob esta lógica conclui-se que a cultura humana, produto da atividade prática do homem, ao não se fixar no genoma humano, precisa ser ensinada as novas gerações. Portanto a origem do homem confunde-se com a própria origem do que podemos denominar de educação. De acordo com Saviani (2011, p.13), O que não é garantido pela natureza tem que ser produzido historicamente pelos homens, e aí se incluem os próprios homens. Podemos, pois, dizer, que a natureza humana não é dada ao homem, mas e por ele produzida sobre as bases da natureza biofísica. Consequentemente, o trabalho educativo é o ato de produzir direta e intencionalmente, em cada indivíduo singular a humanidade que é produzida histórica e coletivamente pelo conjunto dos homens.

Atributos essenciais da contradiçao humana
Trabalho e educação são atributos essenciais dos seres humanos, apenas o ser humano trabalha e educa. A educação é uma exigência do e para o processo de trabalho, ela é necessária para que o homem aprenda a executar determinada atividade, para que ele domine a natureza/matéria prima a partir do trato com diferentes instrumentais de trabalho, não importando se estes são simples ou complexos, é preciso educação para produção da nossa própria existência. Assim, o modo como o ser humano mantém sua vida, como produz e reproduz sua existência objetiva o que ele concretamente é. O que os homens são “[...] coincide, pois, com sua produção, tanto com o que produzem como também o modo como produzem. O que os indivíduos são, portanto, depende das condições materiais de sua produção” (MARX e ENGELS, 2007 p. 87). E são as relações sociais de produção, ou seja, o modo como os homens relacionam-se entre si no processo de produção, que determinam o modo de produção.
De acordo com Marx (2006), é impossível separar a produção da reprodução, pois o processo que funda o modo de produção refere-se à produção, distribuição, intercâmbio e consumo. As relações de produção e reprodução são relações sociais inseparáveis: não há produção sem consumo, não se consome sem produção. Destacamos a partir da compreensão sobre a indissolubilidade entre produção e reprodução no atual modo de produção que a formação humana para ser compreendida em sua essência8 não pode ser deslocada deste processo, pois precisa corresponder à manutenção do processo de trabalho necessário para sustentar a vida humana. Qualquer que seja a forma social do processo de produção, tem este de ser contínuo ou de percorrer, periódica e ininterruptamente as mesmas fases. Uma sociedade não pode parar de consumir nem de produzir. Por isso, todo processo social de produção, encarado em suas conexões constantes e no fluxo contínuo de sua renovação, é, ao mesmo tempo, processo de reprodução. As condições da produção são simultaneamente as condições da reprodução. (MARX, 2011, p. 661) De acordo com Saviani (2007), Leontiev (1978) e Ponce (1994), a educação, necessária ao processo formativo, se desenvolvia nas comunidades primitivas no próprio processo de produção e cada um aprendia a viver na comunidade de forma quase espontânea fazendo de tudo um pouco na convivência cotidiana: nestas relações a educação era a própria vida em comunidade e não havia separação entre trabalho e educação. É o aparecimento da propriedade privada e das classes que modifica radicalmente o processo educativo. Com o aumento da população, da produção e através da evolução das relações familiares9 , novas relações sociais, para além darelação social da família são originadas, possibilitando a mudança da divisão natural para a divisão social do trabalho. O embrião da divisão do trabalho localiza-se na organização da sociedade em diferentes famílias. O trabalho de um é apropriado de forma privada por outrem dentro da relação familiar. A propriedade privada e a divisão do trabalho são portanto, expressões idênticas, já que a apropriação do trabalho alheio é provavelmente a primeira forma de apropriação privada. Sobre isso, afirmam Marx e Engels (2007): A escravidão, a família, ainda latente e rústica, é a primeira propriedade que aqui, diga-se de passagem, corresponde já a definição dos economistas modernos, segundo a qual a propriedade é o poder de dispor da força de trabalho alheia. Além do mais, divisão do trabalho e propriedade privada são expressões idênticas – numa é dito com relação à própria atividade aquilo que noutra, é dito com relação ao produto da atividade (MARX; ENGELS, 2007, p.36-37).

Propriedade privada e a divisão social
 A propriedade privada e a divisão social do trabalho permitem o desenvolvimento da contradição entre os interesses dos indivíduos, os interesses de determinadas famílias e os interesses coletivos de todos os indivíduos que necessitam relacionar-se socialmente para manter a vida. Objetiva-se neste processo a divisão entre interesse particular e interesse comum - social. Enquanto o ser humano vive em uma sociedade em que a divisão do trabalho se dá naturalmente, o trabalho abarca o processo educativo. No entanto esta relação se modifica com o desenvolvimento da divisão social do trabalho. Já que, As diferentes fases de desenvolvimento da divisão do trabalho significam outras tantas formas diferentes da propriedade; quer dizer, cada nova fase da divisão do trabalho determina também as relações dos indivíduos uns com os outros no que diz respeito ao material, ao instrumento e ao produto do trabalho (MARX e ENGELS, 2007, p.89) Nesse sentido, o surgimento da propriedade privada e da divisão social do trabalho, e, especialmente a apropriação privada da terra, possibilitou a divisão dos homens em classes sociais, a classe dos não proprietários e a classe dos proprietários. E são os interesses de classes determinadas que se expressam no interesse coletivo e criam uma relação de dominação de uma classe sobre as outras.
De acordo com Saviani (2007) é a divisão da sociedade em classes que permite a desvinculação entre trabalho e educação, pois somente quando uma classe passa a viver da exploração do trabalho de outra, ela pode desvincular-se do processo de trabalho. O rompimento do vínculo direto entre trabalho e educação ocasiona uma radical modificação no fenômeno da própria formação humana. Pois somente com o aparecimento da apropriação privada do trabalho e de seu produto, aparecem duas principais tendências formativas: uma voltada para a formação da classe proprietária e outra que formará a classe não proprietária e, de acordo com (SAVIANI, 2007); (PONCE, 1994) é o modelo de formação da classe dos não proprietários que origina a escola. A origem etimológica da palavra escola vem do grego, lugar do ócio referindose a “educação dos membros da classe que dispõe de ócio, de lazer, de tempo livre [...] contrapondo-se à educação da maioria, que continua a coincidir com o processo de trabalho” (SAVIANI, 2007, p. 156). A formação humana que na sua aparência se expressa como relação unicamente subjetiva expõe suas determinações objetivas na medida em que se evidencia sua principal mediação: as relações sociais de produção. Deste modo, Marx e Engels (2007) esclarecem que a formação humana é produto da atividade humana real, realizada em determinadas relações de produção e precisa ser compreendida a partir destas mesmas relações estabelecidas entre os homens, seus trabalhos e suas condições de classe, que são as próprias condições coletivas de desenvolvimento humano.
O mundo sensível que o rodeia não é uma coisa dada imediatamente por toda a eternidade e sempre igual a sim mesma, mas o produto da indústria e do estado de coisas da sociedade, e isso precisamente no sentido de que é um produto histórico, o resultado da atividade de toda uma série de gerações, que, cada uma delas sobre os ombros da precedente, desenvolveram sua indústria e seu comércio e modificaram sua ordem social de acordo com as necessidades alteradas. (MARX e ENGELS, 2007, p.30) A organização escolar vai se modificando e complexificando na medida em que as relações de produção e as forças produtivas desenvolvem-se e modificam-se os modos de produção. Diversas formas de educação vão surgindo sob a necessidade de acompanhar o modo de vida de cada sociedade. Passando pelo modelo de produçãoescravagista e feudal, é na sociedade capitalista que a escola assume o modo predominante de educação10 e é também nesta formação societal que se encontram diametralmente opostas às duas classes que desempenham o trabalho material e espiritual.


A sociedade burguesa moderna
A sociedade burguesa moderna, que brotou das ruínas da sociedade feudal, não aboliu os antagonismos de classe. Não fez nada mais do que estabelecer novas classes, novas condições de opressão, novas formas de luta do lugar das velhas. No entanto, a nossa época, a da burguesia, possui uma característica: simplificou os antagonismos de classes. A sociedade divide-se cada vez mais em dois campos opostos, em duas classes diametralmente opostas: a burguesia e o proletariado (MARX e ENGELS, 1988, p 76) Após a revolução industrial, devido à necessidade de generalização da força de trabalho capaz de lidar com o advento da indústria, os países passam a organizar a educação de modo a generalizar a escola básica. Com a máquina no centro das relações de produção a escola emerge com principal forma de educação (SAVIANI, 2007). A complexificação das relações de trabalho impõe uma alteração na organização da educação. É, portanto, a generalização da organização produtiva que passa a exigir uma formação básica semelhante àqueles que não possuem meios de produção e necessitam trabalhar - vender sua força de trabalho - em troca de salário para sobreviver. Tal formação corresponde deste modo à exigência de uma qualificação mínima necessária que capacite a força de trabalho para as novas relações de produção. Ressaltamos que o processo de transição do modo de produção feudal para o modo de produção capitalista adveio justamente quando as relações sociais de produção feudais tornaram-se um entrave para o livre desenvolvimento das forças produtivas, ou seja, o modo com que os homens relacionavam-se entre si e com a natureza no processo de produção e reprodução da humanidade tornou-se uma profunda limitação para o livre desenvolvimento das forças necessárias para manter a vida humana. Deste modo, o embrião da sociedade capitalista surge ainda no interior do modo de produção feudal.




As relações sociais de produção
São as relações sociais de produção e, essencialmente o desenvolvimento das forças produtivas que exigem do homem uma formação que possibilite o trato com as diferentes ferramentas de trabalho desenvolvidas em cada época. Marx no livro “A Miséria da Filosofia” (1985a), exemplifica como as relações de produção correspondem11 a determinado grau desenvolvimento das forças produtivas e exigem algumas especificidades na formação humana. Adquirindo novas forças produtivas, os homens transformam o seu modo de produção e, ao transformá-lo, alterando a maneira de ganhar sua vida, eles transformam todas as suas relações sociais. O moinho movido pelo braço humano nos dá a sociedade com suserano; o moinho a vapor, dá-nos a sociedade com o capitalista industrial (MARX, 1985a, p. 106). A formação humana, desta feita, hegemonicamente adquire as características necessárias ao seu tempo. A propriedade privada e a divisão social do trabalho são categorias fundantes da formação humana em determinadas relações sociais de produção. No modo de produção capitalista, tais relações atingem determinado grau de desenvolvimento e impedem que a essência do processo de produção e reprodução da vida seja compreendido por todos. Isso ocorre, pois o trabalho, doravante alienado, torna alienantes e alienadas as relações sociais erigidas sob este modo de produção. Estas relações sociais de produção fundam uma sociedade em que a vida humana tornase fetichizada, é o que Kosik (2002) denomina como o “mundo da pseudoconcreticidade”:
A práxis de que se trata neste contexto é historicamente determinada e unilateral, é a práxis fragmentária dos indivíduos, baseada na divisão do trabalho, na divisão da sociedade em classes e na hierarquia de posições sociais que sobre ela se ergue. Nesta práxis se forma tanto o determinado ambiente material do indivíduo histórico, quanto a atmosfera espiritual em que a aparência superficial da realidade é fixada como o mundo da pretensa intimidade, da confiança e da familiaridade em que o homem se move “naturalmente” e com que tem de se avir na vida cotidiana. (Kosik, 2002, p. 14-15).
Por isso, no modo de produção capitalista, a propriedade privada, a divisão social do trabalho e a alienação objetivam-se como as categorias basilares para a explicação mais geral das mediações incidentes na humanização. Reconhecemos, de acordo com Marx e Engels (2007), que a alienação surge a partir da propriedade privada e da divisão social do trabalho e não se reduz à subjetividade (apartada da realidade) do indivíduo, mas é um fenômeno social generalizado nas relações de produção e reprodução da vida no capitalismo. A alienação é, portanto, uma característica do trabalho humano em determinadas condições, ela não é inerente ao trabalho humano. Ao mesmo tempo em que são criadas condições históricas para que ela se objetive, por dentro das contradições destas mesmas condições históricas é onde se encontram as condições para a sua superação.
Nas relações de produção capitalistas o trabalho, auto-atividade humana, perde seu caráter libertário e torna-se alienado. Em estudo anterior (ALVES, 2010) explicamos, de acordo com Marx (1983) as características do trabalho alienado nas relações capitalistas de produção, são elas: 1) O ser humano é alienado do processo de trabalho; 2) do produto do trabalho; 3) do gênero humano; 4) de outros homens e de si mesmo. Assim, o trabalho, responsável pela humanização do homem, passa a pervertê- lo, muitas vezes não é mais capaz de prover nem as necessidades de primeira ordem: o homem trabalha mas come mal, trabalha mas não tem o que vestir, trabalha mas não tem condições mínimas de moradia. Quanto mais o trabalhador produz, tanto menos ele tem a possuir. O trabalhador fica mais pobre à medida que produz mais riqueza e sua produção cresce em força e extensão. O trabalhador torna-se uma mercadoria ainda mais barata à medida que cria mais bens. A desvalorização do mundo humano aumenta na razão direta do aumento de valor do mundo das coisas. O trabalho não cria apenas bens; ele também produz a si mesmo e o trabalhador como uma mercadoria, e, deveras, na mesma proporção em que produz bens (MARX, 1983, p.90





Conclusão
Chegamos a conclusão que  as contradições que fundamentam o desenvolvimento humanoesta na  possibilidade de superação que já no capital direcionam o processo formativo cujo horizonte seja a superação da contradição. Destacamos que tais tendências de contradição precisam apresentar como base a transição do modo capitalista de produção para o modo socialista de organização da vida, pois, somente quando os homens forem senhores de sua própria história, seu processo de humanização se objetivará em todas as suas potencialidades.
A crítica marxiana às bases de desenvolvimento da formação no capitalismo e a defesa do projeto histórico socialista - cujas relações sociais de produção deixarão de ser entrave e possibilitarão o livre desenvolvimento das forças produtivas - apresentamse como base necessária para a alteração da essência dacontradição humana, já que a divisão social do trabalho, a propriedade privada e a alienação são relações sociais inerentes ao capital. Por fim, apontamos que urge buscar naquilo que realmente existe as bases para a transição de modo de produção em sua expressão qualitativamente superior. A transição se constitui no movimento real da luta entre as classes.











Referências
ALVES, Melina Silva. Divisão Social do Trabalho e Alienação na Formação de Professores de Educação Física da UFS: o estágio supervisionado/prática de ensino enquanto síntese dialética dos projetos em disputa.
 Dissertação de Mestrado. Universidade Federal de Sergipe, 143p. 2010.
CHEPTULIN, Alexandre. A Dialética Materialista: categorias e leis da dialética. São Paulo: Alfa-Omega, 1982. ENGELS, Friedrich.
O Papel do Trabalho na Transformação do Macaco em Homem. 4ed. São Paulo/Rio de Janeiro: Global, 1990.
Do socialismo utópico ao socialismo científico. Material impresso, sd. GOELLNER, Silvana Vilodre.
A categoria da atividade e suas implicações no desenvolvimento humano. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, Campinas, v. 13, n. 2, p. 288-292, jan. 1992. KOSIK, Karel.