Abordagem Comportamental da Administração
Abordagem Comportamental da Administração
A partir dos
trabalhos de dinâmica de grupo desenvolvidos por Kurt Lewin, ainda na sua fase
de impulsionador da Teoria das Relações Humanas, com a divulgação do livro de
Chester Barnard (The Functions of the Executive) e, posteriormente, dos estudos
de George Homans sobre sociologia funcional de grupo (The Human Group),
culminado com a publicação do livro de Herbert Simon (Administrative Behavior),
sobre o comportamento administrativo, uma nova configuração passa a dominar a
teoria administrativa. As raízes profundas dessa nova abordagem podem ser
localizadas muito mais adiante, como veremos a seguir. Todavia, é a partir da
década de 1950 que se desenvolve inicialmente, nos Estados Unidos, uma nova
concepção de administração, trazendo novos conceitos, novas variáveis e,
sobretudo, uma nova visão da teoria administrativa baseada no comportamento
humano nas organizações.
A abordagem
comportamental marca a mais forte ênfase das ciências do comportamento na
teoria administrativa e a busca de soluções democráticas e flexíveis para aos
problemas organizacionais. Esta abordagem originou-se das ciências
comportamentais e, mais especificamente, da psicologia organizacional.
É com a abordagem
comportamental que a preocupação com a estrutura se desloca para a preocupação
com os processos e com a dinâmica organizacional, isto é, com o comportamento
organizacional. Aqui ainda predomina a ênfase nas pessoas, inaugurada com a
Teoria das Relações Humanas, mas dentro de um contexto organizacional.
A Abordagem
comportamental será tratada em dois capítulos: um sobre a Teoria Comportamental
da Administração e outro sobre a Teoria o Desenvolvimento (D.O.).
Teoria
Comportamental da Administração
A Teoria
Comportamental (ou Teoria Behaviorista) da Administração veio significar uma
nova direção e um novo enfoque dentro da teoria administrativa: a abordagem das
ciências do comportamento, o abandono das posições normativas e prescritivas
das teorias anteriores e a adoção de posições explicativas e descritivas. A
ênfase permanece nas pessoas, mas dentro de um contexto organizacional.
Principais vultos da teoria: Kurt Lewin (1890-1947),
Douglas McGregor, Herbert Simon, Rensis Likert, Chris Argyris, J.G.March.
Origem:
O movimento
behaviorista surgiu como evolução de uma dissidência da Escola das Relações
Humanas, que recusava a concepção de que a satisfação do trabalhador gerava de
forma intrínseca a eficiência do trabalho. A percepção de que nem sempre os
funcionários seguem comportamentos exclusivamente racionais ou essencialmente
baseados em sua satisfação exigia a elaboração de uma nova teoria
administrativa.
A Teoria
Comportamental defendia a valorização do trabalhador em qualquer empreendimento
baseado na cooperação, buscando um novo padrão de teoria e pesquisa
administrativas. Foi bastante influenciado pelo desenvolvimento de estudos
comportamentais em vários campos da ciência, como a antropologia, a psicologia
e a sociologia. Adotando e adaptando para a administração conceitos originalmente
elaborados dentro dessas ciências, propunha-se fornecer uma visão mais ampla do
que motiva as pessoas para agirem ou se comportarem do modo que o fazem,
particularizando as situações específicas do indivíduo no trabalho.
Dentre os
trabalhos fundamentais para a eclosão do Behaviorismo destacam-se os de
Barnard, acerca da cooperação na organização formal e os de Simon, relativos à
participação dos grupos no processo decisório da organização. Eles oferecem os
principais pontos de referência para a formulação das propostas inicias dessa
abordagem. Posteriormente, essas idéias e propostas foram complementadas pela
Teoria X e Y de McGregor, pelo Sistema 4 de Rensis Likert, pelas teorias
motivacionais de Herzog e de McClelland, assim como pelos estudos de Chris
Argyris.
Novas Proposições
sobre a Motivação Humana
Para explicar o
comportamento organizacional, a Teoria Comportamental se fundamenta no
comportamento individual das pessoas. Para poder explicar como as pessoas se
comportam, torna-se necessário o estudo da motivação humana. Os autores
behavioristas verificaram que o administrador precisa conhecer as necessidades
humanas para melhor compreender o comportamento humano e utilizar a motivação
humana como poderoso meio para melhorar a qualidade de vida dentro das
organizações.
Necessidades de
Maslow
Maslow, um
psicólogo e consultor americano, apresenta uma teoria da motivação, segundo a
qual as necessidades humanas estão organizadas e dispostas em níveis, numa
hierarquia de importância e de influenciação. Essa hierarquia de necessidade
pode ser visualizada como uma pirâmide. Na base da pirâmide estão as
necessidade mais baixas (necessidade fisiológicas) e no topo as necessidades
mais elevadas (as necessidades de auto-realização)
1- Necessidades
fisiológicas: Constituem o nível mais baixo de todas as necessidades
humanas, mas de vital importância. Neste nível estão as necessidades de
alimentação, de sono, de repouso, de abrigo, ou desejo sexual.
2- Necessidades
de segurança: constituem o segundo nível de necessidades humanas. São as
necessidades de segurança ou de estabilidade, a busca de proteção contra a
ameaça ou privação, a fuga ao perigo.
3- Necessidades
Sociais: surgem no comportamento, quando as necessidades mais baixas
(fisiológicas e de segurança) se encontram relativamente satisfeitas. Dentre as
necessidades sociais, estão as de associação, de participação, de aceitação por
parte dos companheiros, de troca de amizade, de afeto e amor.
4- Necessidades
de estima: são as necessidades relacionadas com a maneira pela qual o
indivíduo se vê e se avalia. Envolve a auto apreciação, autoconfiança, a
necessidade de aprovação social e de respeito, de status e de prestígio, e de
consideração.
5- Necessidade
de auto-realização: são as necessidades humanas mais elevadas e que estão
no topo da hierarquia. São as necessidades de cada pessoa realizar o seu
próprio potencial e de continuamente auto-desenvolver-se. Essa tendência
geralmente se expressa através do impulso de a pessoa tornar-se sempre mais do
que é e de vir a ser tudo o que pode ser.
As necessidades
fisiológicas e as de segurança constituem as necessidades primárias porque
se referem à própria sobrevivência do indivíduo, enquanto as demais
necessidades que estão na parte superior da hierarquia são necessidades
secundárias e, portanto, mais ligadas ao comportamento do indivíduo sob o ponto
de vista psicológica e social. São as necessidades que motivam o comportamento,
dando-lhe direção e conteúdo.
Necessidade de
auto-realização: Auto-realização, Auto-desenvolvimento
e Auto-satisfação.
Necessidade de
estima: Orgulho, Auto-respeito, Progresso,
confiança, Necessidades de status,Reconhecimento, Apreciação, Admiração pelos
outros.
Necessidades
Sociais: Relacionamento, aceitação, afeição,
amizade, compreensão, consideração.
Necessidade de
Segurança: Proteção contra perigo, doença, incerteza,
desemprego, roubo.
Necessidades
Fisiológicas: Alimento, repouso, abrigo, sexo.
Estilos de Administração
A Teoria
Comportamental procura demonstrar a variedade de estilos de administração que
estão à disposição do administrador. A administração das organizações em geral
está fortemente condicionada pelos estilos com que os administradores dirigem,
dentro delas, o comportamento das pessoas. Por sua vez, os estilos de administração
dependem substancialmente das convicções que os administradores têm a respeito
do comportamento dentro da organização. Essas convicções moldam não apenas a
maneira de conduzir as pessoas, mas também a maneira pela qual se divide o
trabalho, se planejam e organizam as atividades.
Teoria X e Teoria
Y
McGregor, um dos mais famosos autores behavioristas da
Administração, preocupou-se em comparar dois estilos opostos e antagônicos de
administração: de um lado, um estilo baseado na teoria tradicional,
excessivamente mecanicista e pragmática (a que deu nome de Teoria X) e, de
outro, um estilo baseado nas concepções modernas a respeito do comportamento
humano (a que denominamos Teoria Y).
Teoria X
É a concepção
tradicional de administração e se baseia em convicções errôneas e incorretas
sobre o comportamento humano, como, por exemplo: O homem é indolente e
preguiçoso por natureza, ele evita o trabalho. Falta-lhe ambição, não gosta de
assumir responsabilidades. O homem é egocêntrico. A sua própria natureza o leva
a resistir às mudanças. A sua dependência o torna incapaz de autocontrole e
autodisciplina.
Em função dessas
concepções e premissas a respeito da natureza humana, a Teoria X reflete um
estilo de administração duro, rígido e autocrático e que se limita a fazer as
pessoas trabalharem dentro de certos esquemas e padrões previamente planejados.
Toda vez que um
administrador imponha arbitrariamente e de cima para baixo um esquema de
trabalho e passe a controlar externamente o comportamento de trabalho de seus
subordinados, ele estará fazendo Teoria X. O fato de ele impor autocraticamente
ou impor suavemente não faz diferença segundo McGregor.
A teoria X se
fundamenta em uma série de pressuposições errôneas acerca do comportamento
humano e apregoa um estilo de administração onde a fiscalização e o controle
externo rígido, constituem mecanismos para neutralizar a desconfiança da
empresa quanto às pessoas que nela trabalham.
Segundo esta
teoria o único estímulo para o trabalho é somente pelo salário, se o estímulo
salarial não vem, o trabalho não sai.
Teoria Y
É a moderna
concepção de administração, de acordo com a teoria comportamental. A teoria Y
se baseia em concepções e premissas atuais e sem preconceitos a respeito da
natureza humana.
A Teoria Y
desenvolve um estilo de administração muito aberto e dinâmico, extremamente
democrático, através do qual administrar é um processo de criar oportunidades,
liberar potencialidades, remover obstáculos, encorajar o crescimento individual
e proporcionar orientação quanto a objetivos.
Está totalmente
oposta a teoria X.
Pressuposições da
Teoria X
. As pessoas são
preguiçosas e indolentes.
. As pessoas
evitam o trabalho.
. As pessoas
evitam a responsabilidade, a fim de se sentirem mais seguras.
. As pessoas
precisam ser controladas e dirigidas.
. As pessoas são
ingênuas e sem iniciativa
Pressuposições da
Teoria Y
. As pessoas são
esforçadas e gostam de ter o que fazer.
. O trabalho é uma
atividade tão natural como brincar ou descansar.
. As pessoas procuram
e aceitam responsabilidades e desafios.
. As pessoas podem
ser automotivas e autodirigidas.
. As pessoas são
criativas e competentes.
Teoria Z
A teoria
administrativa tem sido permeada de modismos nas últimas décadas: APO, CCQ,
Teoria X e Y, enriquecimento de cargos, Desenvolvimento Organizacional etc.,
constituíram novidades que ficaram na moda muito tempo. No início da década de
1980, surgiu outra novidade em alta moda: a Teoria Z, que se fundamenta nos
seguintes princípios:
1- Emprego estável
para as pessoas, mesmo em época de dificuldades para a organização.
2- Pouca
especialização das pessoas que passam a ser desenvolvidas através de uma
filosofia de treinamento nos seus cargos.
3- Avaliação do
desempenho constante e promoção lenta.
4- Igualitarismo
no tratamento das pessoas, não importando o seu nível hierárquico. Todas as
pessoas passam a ter igual tratamento, iguais condições de trabalho, iguais
benefícios etc.
5- Democracia e participação: todas as pessoas participam
em equipe e nenhuma decisão é tomada sem o consenso do grupo.
6- Valorização das
pessoas, a tal ponto que o maior patrimônio das empresas japonesas, são as
pessoas que nela trabalham.
A Teoria Z
proporciona a base para todo programa de administração orientado para os recursos
humanos da empresa: todas as decisões organizacionais devem ser tomadas através
do consenso, com ampla participação das pessoas e orientadas para longo prazo.
A Teoria Z é um
modelo de administração participativa.
Processo
decisorial
A teoria de decisão nasceu com Herbert Simon, que a
utilizou como base para explicar o comportamento humano nas organizações. A
Teoria Comportamental concebe a organização como um sistema de decisões. Neste
sistema, cada pessoa participa racional e conscientemente, escolhendo e tomando
decisões individuais a respeito de alternativas mais ou menos racionais de
comportamento. Assim, a organização está permeada de decisões e de ações. Nas
teorias anteriores muita importância foi dada às ações e nenhum às decisões que
as provocaram.
Para a Teoria
Comportamental todos os níveis hierárquicos são tomadores de decisão
relacionados ou não com o trabalho. A organização é um complexo sistema de
decisões.
Decisão é o
processo de análise e escolha, entre várias alternativas disponíveis, do curso
de ação que a pessoa deverá seguir. Toda decisão envolve necessariamente seis
elementos, a saber:
1- Tomador de
decisão: é a pessoa que faz uma escolha ou opção entre várias alternativas
de ação. É o agente que está frente a alguma situação.
2- Objetivos: são
os objetivos que o tomador de decisão pretende alcançar com suas ações.
3- Preferências:
são os critérios que o tomador de decisão usa para fazer sua escolha pessoal.
4- Estratégia:
é o custo de ação que o tomador de decisão escolhe para melhor atingir os
objetivos.
Depende dos
recursos de que pode dispor e da maneira como percebe a situação.
5- Situação:
São os aspectos do ambiente que envolve o tomador de decisão, muitos dos quais
fora do seu controle, conhecimento ou compreensão e que afetam sua escolha.
6- Resultado:
é a conseqüência ou resultante de uma dada estratégia Assim, todo tomador de
decisão está inserido em uma situação, pretende alcançar objetivos, tem
preferências pessoais e segue estratégias.
O processo decisorial é complexo e depende tanto das
características pessoais do tomador de decisões quanto da situação em que está
envolvido e da maneira como percebe essa situação. A rigor, o processo
decisorial se desenvolve em sete etapas. A saber:
1- Percepção da
situação que envolve algum problema;
2- Análise e
definição do problema;
3- Definição dos
objetivos;
4- Procura de
alternativas de solução ou de cursos de ação;
5- Avaliação e
comparação dessas alternativas;
6- Escolha
(seleção) da alternativa mais adequada ao alcance dos objetivos;
7- Implementação
da alternativa escolhida.
Comportamento
organizacional
Comportamento
organizacional é o estudo do funcionamento e da dinâmica das organizações e de
como os grupos e os indivíduos se comportam dentro delas. É uma ciência
interdisciplinar.
Como a organização
é um sistema cooperativo racional, ela somente pode alcançar seus objetivos se
as pessoas que a compõem coordenarem seus esforços a fim de alcançar algo que
individualmente jamais conseguiriam. Por essa razão, a organização se
caracteriza por uma racional divisão do trabalho e por uma determinada
hierarquia.
A organização
espera que o empregado obedeça a sua autoridade e o empregado espera que a
organização se comporte corretamente com ele e opera com justiça. Ambas as
partes do contrato de interação estão orientadas por diretrizes que definem o
que é correto e eqüitativo. Os sociólogos se referem a uma norma de
reciprocidade, enquanto os psicólogos chamam isso de contrato psicológico.
Sempre existe um
relacionamento de intercâmbio entre os indivíduos e a organização. O modo pelo
qual os objetivos individuais são satisfeitos determina sua percepção do
relacionamento. Esse relacionamento poderá ser percebido como satisfatório para
as pessoas que percebem que suas recompensas excederam as demandas feitas sobre
elas. O indivíduo ingressa na organização e nela permanece quando espera que
suas satisfações pessoais sejam maiores que seus esforços pessoais. Se acredita
que seus esforços pessoais ultrapassam as satisfações, eles se trona propenso a
abandonar a organização, se possível.
Sumário
1- A Teoria
Comportamental marca a mais profunda influência das ciências do comportamento
na administração. Para muitos, representa a aplicação da Psicologia
Organizacional à Administração. Surgiu em 1947 nos Estados Unidos, dentro de
uma fundamentação amplamente democrática.
2- Esta teoria se
assenta em novas proposições acerca da motivação humana, notadamente as
contribuições de McGregor, Maslow e Herzog. O administrador precisa conhecer os
mecanismos motivacionais para poder dirigir adequadamente as pessoas.
3- Um dos assuntos
prediletos dos behavioristas é o que trata dos estilos da administração.
McGregor traça dois extremos: a teoria X e a teoria Y.
4- Outro aspecto
importante da Teoria Comportamental é o Processo Decisorial. Todo indivíduo é
um tomador de decisão, baseando-se nas informações que recebe do seu ambiente,
processando-as de acordo com suas convicções e assumindo atitudes, opiniões e
pontos de vista em todas as circunstâncias. A organização neste sentido é vista
como um sistema de decisões.
5- A idéia de um
tomador de decisões, dentro de uma racionalidade limitada pela escassez de
informações que pode obter e se processar, conduz ao conceito do homem
administrativo, que se comporta buscando soluções satisfatórias e não soluções
ótimas.
6- Nas
organizações existem sempre conflitos entre os objetivos individuais e os
objetivos organizacionais.Na medida em que as organizações pressionam para
alcançar os seus objetivos, elas privam os indivíduos da satisfação de seus
objetivos pessoais, e vice-versa.
7- O comportamento
organizacional é o tema preferido pelos behavioristas na teoria administrativa.
A reciprocidade entre os indivíduos e organizações e suas relações de
intercâmbio são importantes para o estudo das organizações.
8- Por fim, uma
extensa apreciação crítica a respeito da Teoria Comportamental na Administração
como uma tentativa de balanço de suas contribuições e suas limitações mostra
sua profunda influência na teoria administrativa.
Fonte
ABORDAGEM
Comportamental da Administração. [S.l.: s.n.].