Tentativas de independência em relação ao reino do Kongo

INTRODUÇÃO
No presente trabalho abordaremos sobre o reino do Ndongo em que posteriormente vimos que o reino do Ndongo  (ou reino do Ngola) é o nome de um estado pré-colonial africano na actual Angola, criado por subgrupos dos Ambundu. Os registos mais antigos acerca deste reino datam do século XVI. Ndongo foi, como Matamba, um dos vários estados vassalos do Reino do Kongo que existiram na área habitada pelos Ambundu. Ele foi liderado por um rei cujo título era ngola (que deu origem à palavra "Angola").
HISTÓRIA
Tentativas de independência em relação ao reino do Kongo
Em 1518, o Ndongo enviou uma embaixada a Portugal pedindo missionários e, indirectamente, pelo reconhecimento da sua independência face ao Kongo. Uma missão portuguesa chegou ao Ndongo em 1520 mas disputas locais e talvez a pressão do Kongo forçaram os missionários a se retirarem.  Afonso I do Kongo levou os missionários para o Kongo e deixou o seu próprio padre no Ndongo.
Por volta de 1556, o Ndongo enviou outra missão a Portugal procurando ajuda militar e oferecendo-se para ser cristianizado, apesar de os oficiais portugueses da altura terem duvidado da sinceridade religiosa do reino africano. Em 1901, E. G. Ravenstein afirmou que esta missão foi o resultado de uma guerra entre o Kongo e o Ndongo, na qual o Ndongo saiu vencedor e afirmou a sua independência. O mesmo disse Jan Vansina em 1966 (e, a partir daqui, vários outros escritores), porém isto parece ter sido uma incompreensão das fontes originais. O Ndongo poderá ter realmente visto a missão como uma espécie de declaração de independência, já que a resposta do Kongo à missão de 1518 sugere que ele ainda mantinha poder suficiente para prevenir movimentos independentistas.
De qualquer forma, a segunda missão portuguesa, liderada por Paulo Dias de Novais, neto do famoso explorador Bartolomeu Dias, atracou na foz do rio Kwanza em 1560, juntamente com vários padres jesuítas, incluindo o notável Francisco de Gouveia. A missão de Dias de Novais falhou igualmente, tendo ele voltado a Portugal em 1564, deixando o padre jesuíta Francisco Gouveia para trás.
A colónia portuguesa de Angola
Em 1571, a coroa portuguesa providencia, a Dias de Novais, carta para construir uma colónia em Angola, autorizando-o a fazer conquistas na região, trazer colonos e construir fortes. Dias de Novais chegou a Luanda, situada então em território do Kongo, dado o acordo do rei Álvaro I do Kongo com Portugal pelo qual o Kongo recompensava Portugal pelo seu apoio na luta contra o reino de Jaga. Incapaz de conquistar qualquer território por si mesmo, Dias de Novais fez alianças com os reinos do Kongo e Ndongo, servindo a estes como exército mercenário.
A GÉNESES DO REINO DO NDONGO
Segundo J. A. Cavazzi citado por Ilídio Peres do Amaral, na sua obra O Reino do Congo, os Mbundu (ou Ambundos), o Reino dos Ngola (ou Angola) e a Presença Portuguesa, de finais do século XV a meados do século XVI, publicado, em Lisboa, em 1996, pelo Instituto de Investigação Científica Tropical o primeiro soberano dos Mbundu (ou Ambundu) seria Ngola-Mussuri.

Do Ngola a Angola
A palavra Ngola, de acordo com J. C. Miller, em Kings and Kinsmen. Early Mbundu States in Angola, estava inicialmente ligada a pequenos pedaços de ferro, símbolo das principais linhagens Mbundu. Daí que Ngola-Mussuri signifique rei serralheiro, a quem um ídolo tinha ensinado a arte fabril de preparar o ferro para fazer machados, machadinhos, facas e setas, que eram necessários para as diferentes actividades quotidianas. Isso, à época, veio a dar-lhe prestígio e fonte de riqueza, o que, por sua vez, lhe permitiu alcançar importância e admiração junto das populações. Tal facto levou a que muitos régulos o elegessem chefe de uma vasta região que se passou a chamar Ndongo. Consequentemente, a palavra Ngola passou a estar também associada ao título da principal autoridade do Ndongo, bem como ainda às principais linhagens daquele reino. Por analogia, como o reino do Ndongo era o mesmo que o reino do Ngola, daí se ter chegado, por aportuguesamento, à designação reino de Angola como sendo o mesmo que o reino do Ndongo. Por seu turno a palavra Ndongo, em kimbundu, língua materna dos Mbundu (ou Ambundu), significa canoa e passou a designativo do Estado dos titulares a-ngola.
Afirma Adriano Parreira, citando B. Heintze em Historical Notes on the Kissama of Angola, que, o reino do Ndongo era limitado a norte pelo Kongo, a leste pela Matamba, a sul pelos estados Ovimbundu e pela Kisama e a oeste pelo Oceano Atlântico. É, porém, provável que os limites ocidentais do Ndongo, no século XVI, se restringissem até à região de Massangano. É assim que Ngola-Mussuri recebeu o título de Ngola ou rei de todo o território do Ndongo.
A origem do reino do Ndongo segundo a tradição oral
De acordo com a tradição oral, Ngola-Mussuri teve várias mulheres. Mas a uma concedeu o título de ngana-inene, a dona de casa, a grande senhora, que teve três filhas dele: Zunda-dia-ngola, Tumba-dia-ngola e uma terceira cujo nome é desconhecido. Deste modo, ficava assim marcado o carácter inicialmente matrilinear das linhagens dos futuros ngola. 
O facto da esposa ngana-inene não lhe ter dado um filho varão, levou-o a casar a sua primeira filha com um escravo, a quem já havia agraciado com algumas liberdades e nomeou-o vice-rei. No entanto, este acabou por matar Ngola-Mussuri, seu sogro, e tinha a intenção de também matar a sua própria mulher, caso esta não viesse a falecer repentinamente. 
É assim que Zunda-dia-ngola, a primogénita de Mussuri foi proclamada e venerada como rainha, afirmando-se que governou bem até à velhice, porém de uma forma triste por não ter filhos. Daí que invejasse Tunda-dia-ngola, sua irmã, mãe de dois rapazes, casada com Ngola Quiluanji.
Escolheu um dos sobrinhos para herdeiro e durante algum tempo dedicou-se a prepará-lo para a sucessão. Mas, a partir de uma determinada altura, temeu que este a destituísse e mandou-o matar. Em represália, sua irmã Tunda e seu cunhado Ngola Quiluanji acabaram por diligenciar também a sua morte. Com o apoio das populações, Tunda foi proclamada rainha e procurou dividir o poder com o seu marido, mas este declinou tais responsabilidades. De comum acordo, resolveram fazer coroar o filho de ambos, Ngola Quiluanji Quiassamba, segundo J. A. Cavazzi, quarto rei de Angola, a quem foram atribuídas qualidades de homem valoroso, que aumentou o reino com novas conquistas. Teve muitíssimos descendentes, que foram os chefes das mais importantes famílias do reino, filhos de diferentes mulheres.
No entanto, neste seu relato da origem do reino do Ndongo, J. A. Cavazzi, na sua obra Descrição Histórica dos três Reinos Congo, Matamba e Angola, teve a preocupação de chamar a atenção dos leitores para a necessidade de dedução dos vislumbres das tradições orais que, com o decorrer do tempo, são sempre mais ou menos alteradas.
Calcula-se que os Ambundu sejam demograficamente o segundo maior grupo etnolinguístico de Angola e andariam, em 1960, à volta de um milhão de habitantes.
Foi no litoral do reino do Ndongo, que se implantou a capital da ex-colónia portuguesa, hoje, também, capital da República de Angola: a cidade de Luanda.
A cidade de Luanda
Afirma Adriano Parreira, no seu Dicionário Glossográfico e Toponímico da documentação sobre Angola séculos XV-XVII, editado em 1990, que Luanda era o nome do basculamento ou tributo pago voluntariamente pelos sobas à Coroa Portuguesa, como forma de vassalagem aos senhores do Ndongo; Luanda significava também região plana, o que parece não fazer muito sentido se atendermos ao espaço ocupado actualmente pela cidade. Porém Luanda, a Luanda dos fins do século XVI, pouco se estendia para além da Praia e da Praia Grande, bairros que confrontavam com a ilha de Luanda, que provavelmente lhe deu o nome. Luanda significa também rede, de tipóia, de pesca; Luanda também designada Cidade de Angola, Porto de Angola, Vila de Olanda ou por Cidade. A região de Luanda foi chamada de São Paulo de Luanda, em 1576 e São Paulo da Assumpção de Luanda, em 1649. Durante o século XVII, a povoação ainda não se tinha estendido à Praia do Bispo, às Ingombotas ou ao Bungo.  Já se definia a rua Direita e a Maianga ou a Lagoa dos Elefantes (um lugar remoto para os moradores aonde existiam as Kasimba, depósitos naturais de água potável aonde se abasteciam os habitantes). Uma fonte do século XVII refere-se à Igreja da Nazaré, como um lugar desviado da cidade, o que nos pode sugerir uma ideia diferente da que actualmente temos. É a localização da povoação a sua característica mais peculiar e a que, durante séculos, contribui para a definição do seu carácter e das suas gentes. Local costeiro, já assinalado nas cartas geográficas da época, foi considerado dos melhores portos naturais do mundo, o que em parte pode explicar a razão pela qual Luanda se tornou porventura, em alguns períodos da História, o principal porto exportador de escravos do mundo. Era o sertão que a alimentava de escravos, forjando-se gradualmente uma sociedade poderosa, cosmopolita, multirracial e rica, mas também decadente, viciada e dependente. Os moradores de Luanda alimentavam-se com os produtos vindos das fazendas do Bengo e dos arimos (propriedades agricolas) do Museke (região do Ndongo que exportava anualmente para Luanda, no século XVII, cerca de 40.000 sacos de fuba). A Luanda chegavam e partiam as mais diversas mercadorias como os panos de ráfia, o marfim, a algália e sobretudo, os escravos de todas as idades, sexo, condição e etnia que rumavam para São Tomé, Índias de Castela e todos os portos das Caraíbas e americanos, e também para a Europa. Luanda era a metrópole do comércio mercantil do tráfico de escravos. Os escravocratas, negros e mestiços na sua maioria, mas também brancos e judeus, homens e mulheres, clérigos e militares, enviavam os seus pumbeiros (de Pumbe, o mesmo que Sertão e etimologicamente do kimbundu Mpumbu) comerciantes do sertão, na maioria negros e mestiços, mas também brancos para trocarem panaria (uma certa qualidade de pano) e outras mercadorias por escravos. Estes moradores foram aos poucos impondo um poderio militar próprio e em muitos aspectos autónomo que, em diversos momentos, dominou áreas extensas dentro do território do Ndongo e também do Kongo e da região de Benguela.
A aculturação como circunstância histórica
O reino do Ndongo foi, em Angola, no século XVII, a primeira nação tradicional africana a ser sujeita ao domínio militar e administrativo português. Talvez, por esse facto, tenham também sido os Ambundu os mais aculturados de todos os outros grupos etnolinguísticos.
Tal facto levou o etnólogo português José Redinha a afirmar no seu livro Etnias e Culturas de Angola, editado, em 1974, pelo Instituto de Investigação Científica de Angola (e independentemente da polémica que tal afirmação possa ou não ter despertado) que a integração cultural do Grupo Etnolinguístico Quimbundo atingiu um desenvolvimento que justifica para este ciclo etnológico uma classificação de luso-quimbundo.
De acordo com Vatomene Kukanda, o grupo de línguas Kimbundu abrange as províncias administrativas do Kwanza-Norte (uma parte), Malange, Bengo e Luanda e apresenta cerca de 21 variantes linguísticas: o hungu, o luangu, o dembu e o ambundu, na província do Kwanza-Norte; o puna, o jinga o ngola, o bondo, o ombangala, o holo, o kari, o shinje, o minungu, o songo, o bambara e o sende, na província de Malange; o ambundu, o ntembu e o kisama, na província do Bengo; o Luanda, na província de Luanda; o lubolu, o kibala e o haku, a norte da província do Kwanza-Sul.
Durante muito tempo, o reino do Ndongo foi dado como dependente do reino do Congo, que era um dos grandes potentados africanos. O facto da região de Luanda ser favorável ao resgate de escravos, ser rica em prata, ferro e cobre e fornecer, na altura, uma concha com valor fiduciário, chamada nzimbu, constituiu motivo suficiente para que os portugueses desejassem cristianizar o Ngola e os seus súbditos. Com os portugueses chegavam frades das diversas Ordens e clérigos para catequizarem os Ambundu.
O valor fiduciário do nzimbu
Do latim Olivancillaria nana, o nzimbu é um pequeno molusco univalve que se recolhia na Ilha de Luanda e era moeda oficial no reino do Congo. Era também recolhido, sempre por mulheres, ao longo da costa de Angola. As conchas mediam entre 15 a 18 mm e variavam de cor entre o castanho e o violeta. O brilho, por sua vez, variava conforme as latitudes. O nzimbu era transportado em sacos que tinham o nome de Querilas. Após terem chegado ao reino do Congo, os portugueses passaram a estender os seus interesses comerciais ao reino do Ndongo, onde Angola, como colónia portuguesa, teve a sua verdadeira génese.



CONCLUSÃO
Conclui-se então que o reino do ndongo Quando os portugueses chegaram à foz do rio Zaire encontraram dois reinos, Kongo e Ndongo. Ndongo foi fundado no início do século XVI, por um pequeno chefe Kimbundo que possivelmente, controlava o comércio de ferro. Os primeiros ngolas, partindo da possível ligação com a arte do ferro, estenderam a autoridade do Ndongo sobre diversos sobas. (Soba: do quimbundo, senhor de um distrito) para terminarem, em meados do século XVI, ocupando as terras compreendidas entre os rios Dande, Lucala e Cuanza.
Os ngolas foram obrigados a se submeteram os manikongos e pagarem impostos e rendiam a eles homenagens. A organização do estado Ndongo era parecida com a do Kongo, o estado Kimbundo só se tornou independente em l556, quando as tropas do ngola Inene, apoiadas por alguns portugueses, infligiram uma importante derrota ao manikongo. Este último, inspirado pelos
portugueses, tentava uma aventura militar nos territórios do Ndongo.


BIBLIOGRAFIA
·         AMARAL, I. O Reino do Congo, os Mbundu, o Reino dos Ngola e a presença Portuguesa de finais do século XV a meados do século XVI. Lisboa. 1996.
·         BIRMINGHAM, D. Trade and Conquest in Angola. Oxford. 1966.
·         HEINTZE, B. Studien zur Gesichte Angolas im 16. und 17. Jahrhundert: Ein Lesebuch. Colónia. 1996.
·         HEYWOOD, L. & THORNTON, J. Central Africans, Atlantic Creoles, and the Foundation of America, 1580-1660. Cambridge. 2007.
·         SACCARDO, G. Congo e Angola con la storia dell'antica missione dei Cappuccini. 3 volumes. Veneza. 1982-83.