A LEITURA INFANTIL E A SUA CONTRIBUIÇÃO PARA O HÁBITO DE LEITURA DOS QUATRO (4) AOS CINCO (5) ANOS NA CRECHE.

INTRODUÇÃO
O presente trabalho insere-se na pesquisa sobre a leitura infantil e sua contribuição para o hábito de leitura dos quatro (4) aos cinco (5) anos de idade na creche. Sendo assim é importante frisar que garantir o contacto com as obras e apresentar diversos géneros às crianças pequenas é a principal função dos professores de creche e pré-escola para desenvolver os comportamentos leitores e o gosto pela literatura desde cedo. Já é amplamente sabido que a leitura deve ser uma actividade diária na Educação Infantil. Mas nunca é demais lembrar que as crianças pequenas não têm paciência para ficar muito tempo fazendo a mesma coisa. À medida que criam o hábito da leitura, os pequenos começam a prestar atenção em histórias mais longas.
Este trabalho tem objectivo de nos proporcionar ideias de como incentivar as crianças à prática da leitura, ressaltando o valor da leitura infantil na formação de futuros leitores, e o quanto é relevante o incentivo das instituições para o crescimento de indivíduos críticos para formação de leitores competentes. Ressalta a leitura e os benefícios que trazem ao desenvolvimento do conhecimento e a grandiosidade da prática da leitura permitindo que a criança possa usar a imaginação, uma experiência tão presente durante a infância.



A LEITURA INFANTIL E A SUA CONTRIBUIÇÃO PARA O HÁBITO DE LEITURA DOS QUATRO (4) AOS CINCO (5) ANOS NA CRECHE.
Diferentes habilidades são afloradas por meio da literatura, entre elas a linguagem, contribuindo para a ampliação do vocabulário e incentivando a criatividade e a vivência do mundo do faz de conta.
Na fase dos 4 aos 5 anos, a linguagem é a habilidade que a crianças mais desenvolve, e a interlocução com o adulto favorece esse processo, principalmente quando mediado pela literatura, oferecendo contacto com a linguagem escrita, já que linguagem quotidiana dá acesso à norma-padrão da língua.
Ler, contar e ouvir histórias são actividades pelas quais a criança pode conhecer diferentes formas de falar, viver, pensar e agir, além de um universo de valores, costumes e comportamentos de sua e de outras culturas situadas em tempos e espaços diversos do seu.
A Educação Infantil tem a responsabilidade de resgatar e organizar o repertório das histórias que as crianças ouvem em casa e nos ambientes que frequentam, uma vez que essas histórias se constituem em rica fonte de informação sobre as diversas formas culturais de lidar com as emoções e com as questões éticas, contribuindo para a construção da subjectividade e da sensibilidade delas. Ter acesso à boa literatura é dispor de informação cultural que alimenta a imaginação e desperta o prazer pela leitura.
A PRÁTICA DA LEITURA DURANTE A INFÂNCIA
Ler é apoderar-se de um bem, e uma vez adquirido, jamais será perdido: o conhecimento. Mas, o que se faz necessário para que um indivíduo venha a se tornar um leitor activo e detentor de conhecimentos? Não existe uma fórmula, mas certamente há caminhos que levam a tal fim, e sem dúvidas o principal caminho é a prática da leitura na infância. É praticar, com o devido apoio, da família, e da escola, esta acção libertadora, a leitura é o pontapé inicial para o sucesso intelectual de um indivíduo. A infância é marcada por descobertas, a criança a todo o momento interage com novos universos, e a leitura é uma dessas novidades. Inicialmente, o foco está em aprender as vogais, depois o alfabeto, tudo isso de uma maneira lúdica, cores e ilustrações são sempre bem-vindas nessa fase em que tudo é uma grande brincadeira. Depois vem as primeiras pequenas palavras, logo a criança começa ler pequenos textos, esta prática é fundamental para o desenvolvimento leitura. Entretanto, mesmo estando em questão a “leitura” na infância, existe uma prática de igual importância, em que a criança não só ler, mas também ouve as histórias, tal actividade torna-se imprescindível, se atentarmos para um detalhe: provavelmente o primeiro contacto de uma criança com um texto, é através de sua mãe, ou seu pai que lhe contam histórias. Em sua obra Literatura Infantil.
Ah, como é importante para a formação de qualquer criança ouvir muitas, muitas histórias... Escutá-las é o inicio da aprendizagem para ser um leitor, e ser leitor é ter um caminho absolutamente infinito de descoberta e compreensão de mundo [...] é ouvindo histórias que se pode sentir (também) emoções importantes, como a tristeza, a raiva, a irritação, o bem-estar, o medo, a alegria, o pavor, a insegurança, a tranquilidade, e tantas outras mais, e viver profundamente tudo o que as narrativas provocam em quem as ouve [...] (ABRAMOVICH, 1993)
Praticar a leitura na infância está directamente ligado em despertar na criança o prazer em ler. É interessante colocá-las em contacto com os clássicos da literatura Infantil, como os contos de fadas, que tanto mexem com nossa imaginação e proporcionam o desenvolvimento da criatividade. Tais ingredientes, se devidamente misturados, irão formar um leitor com qualidades indescritíveis, trata-se de um leitor competente, este não enfrentará dificuldades de interpretar um texto complexo, possuirá desprendimento em seu discurso oral, lendo e escrevendo de maneira correcta. Mas para tanto se faz necessário um trabalho conjunto, trata-se de despertar o desejo de ler e o amor pelos livros, é preciso incentivar.
Orientações para o trabalho com os livros
Faixa etária
Textos
Tempo
Ilustrações
Materiais
4 aos 5 anos
Os livros adequados a esta fase devem propor vivências radicadas no quotidiano familiar da criança por meio dos textos curtos.
30 minutos
Predomínio de imagens.
Livros com dobraduras simples. Outro recurso é a transformação do contador de histórias com roupas e objectos característicos. A criança acredita, realmente, que o contador de histórias se transformou no personagem ao colocar uma fantasia.

Meios para tornar a leitura agradável e educativa da criança
Para que a acção de ler seja espontânea e cause impacto positivo na criança, deve-se:
·         Reconhecer o tempo de atenção da criança e não ir além dele;
·         Procurar compreender o tipo de assunto que desperta a curiosidade na criança, para então escolher o material de leitura;
·         Estimular a interacção da criança com o livro perguntando sobre do que trata a história que será lida. Isso pode ser feito depois de você ler a resenha da história; em seguida, abra espaço para deduções introduzindo perguntas como “E agora o que vai acontecer?”, “Como será que vai acabar?”, “Como vocês gostariam que a história acabasse?”;
·         Permitir que a criança “leia” com ou para você, quando já conhecer bem a história, apoiada na memória e nas ilustrações do livro;
·         Promover oportunidades para o reconto da história.
Sugestões de actividades e objectivos
Actividades
Objectivos
Ler histórias infantis.
Encenar peças infantis utilizando fantoches, dedoches, peças curtas com máscaras etc.
Organizar “sarauzinhos” (declamação de poemas infantis e parlendas).
·         Familiarizar a criança com os diferentes géneros literários.
·         Estimular a capacidade delas de ouvir e compreender.
·         Desenvolver a capacidade de análise e síntese.
Cantar e dançar músicas infantis do folclore regional.
·         Estimular o desenvolvimento motor, fonador e rítmico.
·         Valorizar e se apropriar do folclore infantil da região.
Produzir desenhos relacionados à historinha ouvida e apresentar para o grupo.
·         Estimular o desenvolvimento motor.
·         Aprimorar a capacidade de síntese.
Quando o assunto é aquisição da leitura e da escrita, as histórias podem oferecer muito mais do que o universo ficcional. Na verdade, elas desenvolvem aspectos importantes para a formação da criança no âmbito emocional, afectivo, social e cognitivo.
Ao ouvir histórias, a criança constrói seu conhecimento a respeito da linguagem escrita, que não se limita ao conhecimento das marcas gráficas que ele terá de produzir ou interpretar, mas envolve género, estrutura textual, funções, formas e recursos linguísticos. Ouvindo histórias, a criança sente a satisfação que elas provocam; aprende a estrutura delas e passa a ter consideração pela unidade e sequência do texto, assim como pelas estruturas linguísticas mais elaboradas, típicas da linguagem literária.
OS BENEFICIOS DA LEITURA NA CRIANÇA DOS 4 AOS 5 ANOS DE IDADE
Por que é tão importante o incentivo? Como já relatado, a leitura oferece nesta idade trás uma infinidade de conhecimento, é a porta que, uma vez aberta irá oferecer riquezas para o intelecto de um indivíduo, que irá formar uma nova mentalidade. E proporcionar às crianças o contacto com a leitura, antes de tudo, é uma responsabilidade com a formação dos adultos de amanhã. Para aqueles que infelizmente não têm dimensão deste compromisso, fazer uma criança ler é apenas mera uma actividade de distracção. O que essas pessoas não sabem é que, enquanto a criança absorve as informações contidas em um livro, sua capacidade de compreensão aumenta, trata-se de algo grandioso. Alguns autores atribuem à leitura o objectivo de “transformar” o meio em que vivemos, a partir da leitura infantil, como é o caso de Coelho (2000, p. 15) ao afirmar que:
Estamos com aqueles que dizem: Sim. A literatura, e em especial a infantil, tem uma tarefa fundamental a cumprir nesta sociedade em transformação: a de servir como agente de formação, seja no espontâneo convívio leitor/livro, seja no diálogo leitor/texto estimulado pela escola. [...] É ao livro, à palavra escrita, que atribuímos a maior responsabilidade na formação de consciência de mundo das crianças e dos jovens. (COELHO, 2000, p. 15)
De facto, a actual situação em que passamos nesta sociedade, onde em cada minuto uma nova onda de informações e novidades surgem, e, em muitos casos, até confunde aqueles que não acompanham este relato, a leitura representa um terreno sólido onde podemos firmar nossos pés, sem que para isso, tenhamos que deixar de acompanhar as tecnologias. E é neste cenário complexo que nós, enquanto incentivadores da leitura devemos oferecer aos pequenos de hoje, homens e mulheres de amanhã, a oportunidade conhecer a ferramenta que irão utilizar durante toda sua vida.

A família
Sem dúvidas, a principal peça nesta tarefa de incentivo à leitura. O sucesso da criança está directamente ligado aos incentivadores que possui em casa. Não importam quantos existirem em outros ambientes, sem o apoio dos familiares, dificilmente esta irá galgar de uma plena experiência com os livros. Um dos grandes factores que prejudicam a vida escolar das crianças é o fato de não receberem o devido incentivo e estímulo familiar.
O estímulo à leitura deve ser iniciado com o hábito de ler em família, fazendo da leitura algo quotidiano, pois esse é um processo que a torna algo simples e natural. Mas a realidade é outra, muitas vezes, a família não participa da educação para a leitura. (CASSIANO, p. 8, 2009)
Mas não devemos “culpar” pais e mães que não acompanham a vida escolar e automaticamente a vida de leitor de seus filhos. Mais uma vez, a sociedade turbulenta, a vida cheia de compromissos profissionais, acaba fazendo os pais atribuírem somente à escola, a tarefa de educar suas crianças, como se, ao passar a responsabilidade para escola, a sua parte na educação seja compensada, algo totalmente erróneo. O incentivo familiar dá-se de várias maneiras, o acompanhamento, ou mesmo contar histórias, mesmo historinhas curtas, mas que irão proporcionar um contacto entre pais, filhos e leitura. Alguns pais podem não ter dimensão do quanto, mas sem dúvida trata-se de um estimulo simples, porém tão importante quanto a educação recebida em sala de aula.
Escola
A escola é uma aliada, é no convívio escolar que as crianças podem mostrar sua capacidade de compreensão e interpretação, adquiridos com a leitura. É um lugar onde a troca de experiência entre aluno e professore produz o desenvolvimento individual. Mas a escola só é verdadeiramente uma ferramenta, uma vez que actua, através de seus recursos pedagógicos na educação infantil de maneira satisfatória.
O ambiente escolar é um espaço privilegiado, no que diz respeito ao contacto de leitores e livros, e deve está impregnado na formação dos leitores. Essa valorização que parte da sociedade em relação à escola merece ser retribuída através do compromisso de seus dirigentes com a leitura. É necessário um conjunto de deveres a serem cumpridos, visando a excelência da educação. Mota (2006, p.161) atenta para o compromisso da escola, vejamos:
A escola pode ser entendida como uma instituição sócio-cultural, organizada e pautada por valores, concepções e expectativas, onde seu membros são vistos como sujeitos históricos, culturais que relacionam suas ideias acordando ou contrapondo-se aos demais. E talvez, devido a estas discordâncias e consensos que a humanidade realiza descobertas e evolui. (MOTA, 2006, p.161)
Infelizmente não é novidade, que passamos por momentos difíceis na educação angolana, a cada dia nos deparamos com notícias alarmantes, os dados publicados em periódicos, acerca de pesquisas realizadas sobre a situação da leitura em nosso país, deixam claro, que as coisas não vão bem. Diante disso, qual o papel da escola? Que acções desenvolver para buscar resultados mais satisfatórios na educação? Trata-se de uma série de acções, que juntas, podem devolver à escola seu papel de incentivadora da leitura. Vale ressaltar que, a escola possui uma excelente ferramenta, que deve ser usada em prol da educação, não somente como um depósito, ou expositor de livros: A Biblioteca Escolar, que tanto merece destaque. Esta é um bem obrigatório, como apoio às actividades de leitura e pesquisa de escola. Merece estar inserida em todos os eventos escolares, suas portas devem estar sempre abertas à curiosidade das crianças.
A LEITURA NA VIDA DAS CRIANÇAS
A leitura se faz presente em todos os campos na qual a criança esta inserida, tanto na vida social quanto na vida “pessoal” de cada uma. A primeira instituição em que a criança conhece é a família que tem papel fundamental incentivá-las em seu desenvolvimento intelectual e social, em segundo vem a escolar onde a criança passa a se relacionar com outras crianças, e assim conhece um mundo diferente do que ela está acostumada e muitas vezes se encontra com dificuldades de socialização por falta de orientação adequada.
Com os livros não é diferente, é sempre necessário que haja um incentivo por parte de todos que estão em seu convívio, sobre a importância da prática da lei da leitura, essa estimulação pode ser introduzida no quotidiano das crianças através de actividades pedagógicas como: jogos, recreação, entre outras, o fundamental é sempre estar inovando com actividades criativas para que não entre em rotina, e sempre trabalhando com a interacção entre as crianças para que seu desenvolvimento com a leitura seja eficaz e positivo. Moura (2008, p.1) ressalta que:
É objectivo da escola e das famílias em geral proporcionar às crianças o acesso ao conhecimento e a formação de indivíduos críticos, comprometidos consigo mesmo e com a sociedade, capazes de intervir modificando a realidade, auto motivados e aptos a buscar o aprendizado e o aperfeiçoamento contínuo, o que passa pela formação de leitores competentes.
É de grande relevância a consciência sobre a importância da leitura infantil na vida das crianças, no qual tem como maior objectivo torná-las em adultos leitores e aumentar o índice de leitores no Brasil, onde o mesmo é considerado como um país onde a leitura não é levada a sério. Observe Silva (2005):
(...) parece certo dizer que não existe tradição de leitura no Brasil. Dada as condições do desenvolvimento histórico e cultural do país, a leitura, enquanto actividade de lazer e actualização, sempre se restringiu a uma minoria de indivíduos que teve acesso à educação e, portanto ao livro.
O ato de ler activa uma série de acções na mente do leitor. Por meio delas, a criança no caso, extrai diversas informações, podendo ser mantidas, modificadas ou desenvolvidas durante a absorção do conteúdo. Quando a criança é inserida no mundo da leitura é possível que vários questionamentos sejam compreendidos, entendidos. No ato da leitura é possível que duas crianças ao lêem o mesmo texto entendam de maneira diferente, observe o que diz Naspolini (1996, p.25):
Quando alguém lê algo, inicia aplicando um determinando esquema, alterando – o ou confirmando – o, ou ainda, tornando – o mais claro e exacto. Assim, duas pessoas que estão lendo o mesmo texto podem entender mensagens diferentes por que seus esquemas cognitivos são diferentes, ou seja, as capacidades já internalizadas e o conhecimento de mundo de cada uma são específicos.
Diante desse relato considera-se que a criança ao lê deve estar sempre em interacção com as demais, para que assim várias informações contidas em somente um texto podem ser compreendidas e repassadas em diversas formas, com outras visões. A prática da leitura deve ser apresentada na vida das crianças de forma natural, com calma, mostrando em sua essência seus benefícios e sua importância, para que a mesma não se sinta na obrigação de fazer algo, para que está acção se torne prazerosa, e haja compreensão do que seja a leitura eficiente e eficaz. É fundamental que a criança compreenda qual o sentido desse aprendizado, só assim saberá qual a importância da leitura em sua vida.
A INFLUÊNCIA DOS LIVROS INFANTIS PARA CRIANÇA DOS 4 AOS 5 ANOS
Já na formação das crianças no ventre de suas mães, o bebé já ouvi, sente e escuta o chamado de seus pais, principalmente de suas mães. Nessa fase a mãe conversa com seus filhos e conta historinhas de ninar para que seus bebes se acalmem, ou até mesmo no acto de amor e carinho. Depois do nascimento, é de suma importância que a criança ainda possa ouvir histórias, pois certamente já se acostumou a ouvi-las de seus pais. Existem várias situações onde a leitura pode ser introduzida no quotidiano e nos primeiros anos de vida da criança, o banho e a amamentação, por exemplo, são situações coniventes para serem criados esses elos, a mãe ou o pai conta a história e a criança interage com eles de forma gradativa. As crianças são seres muito curiosos e ao manusear os livros, que hoje são muito fáceis de se encontrar no mercado e possuem várias formas, e texturas, sendo de plástico, pano, papel ou musicais são importantes para que os pequenos manipulem, brinquem e explorem o objecto que pode ampliar o vocabulário e imaginação dos futuros leitores.
Ouvir histórias é um acontecimento tão prazeroso que desperta o interesse das pessoas em todas as idades. Se os adultos adoram ouvir uma boa história, um “bom causo”, a criança é capaz de se interessar e gostar ainda mais por elas, já que sua capacidade de imaginar é mais intensa (FILHOS DE A a Z, 2010)
Livros com muitas ilustrações e pouco texto são adequados para crianças dos quatro aos cinco anos, que poderão criar histórias com base nos desenhos ou interpretá-los. Se a leitura for estimulada desde pequenino, o manuseio do livro para essas crianças já será comum. Desse modo, quando o processo de alfabetização estiver acontecendo, as crianças que passaram por todo o processo de conhecimento e manuseio do livro terão prazer em lê-lo, seja um livro indicado pela escola ou o que a própria criança escolher na biblioteca.
CONTRIBUIÇÃO DA LITERATURA INFANTIL PARA O DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA DOS 4 AOS 5 ANOS DE IDADE
As crianças desde sempre manifestaram um grande fascínio pelos contos e em todas as sociedades e culturas existem histórias que lhes são contadas, passando de geração para geração. Durante muito tempo, o hábito de contar histórias era tão comum que ninguém se preocupava em reflectir sobre o seu valor. As pessoas, simplesmente, depois de um dia de trabalho, reuniam-se e contavam histórias, sobretudo as pessoas mais velhas, tendo as crianças como principais ouvintes. Talvez porque as pessoas mais velhas sabiam mais histórias, tinham vivido mais tempo. Talvez ainda porque como as crianças, tinham menos trabalho, mais tempo livre. E contar histórias às crianças é uma boa forma de as manter seguras e sossegadas, sem ter o trabalho de “correr atrás delas”. Actualmente, todos os educadores concordam sobre a importância dos contos para a formação da criança, quer do ponto de vista afectivo e psicológico, quer ainda no processo de socialização e conhecimento do mundo. Os estudos utilizados no âmbito desta pesquisa ajudaram-nos a compreender o grande valor da literatura no processo de desenvolvimento da criança dos 4 aos 5 anos de idade. Nos pontos seguintes, apresentamos de forma sintetizada algumas descobertas feitas nesta matéria.
Aquisição da linguagem, socialização e conhecimento do mundo
Actualmente, todos os educadores estão de acordo sobre a importância dos contos na formação da criança, nomeadamente do seu papel no desenvolvimento da linguagem, na aquisição de referências sobre a organização das comunidades humanas, da sua em particular, e do mundo em geral. Através das histórias que ouvem, as crianças aprendem a designar as coisas que as rodeiam, as plantas e os animais, os montes e as ribeiras, o mar, o vento, o rio, a floresta e tantos outros elementos da natureza e do mundo. As histórias ajudam a compreender o lugar do ser humano entre os outros seres da natureza, assim como a relação entre os próprios humanos.
Através das histórias, as crianças vão “experimentando” a aplicação dos conceitos de irmão, filha, mãe, pai, avô, primos, construindo a sua própria compreensão das relações de parentesco, de pertença a uma mesma comunidade. Para além do vínculo com a sua comunidade de origem, as histórias contadas às crianças também contribuem para lhes alargar os horizontes de espaço e de tempo, começando pelo distante lugar do “Era uma vez…”.
Saídas para o campo ou para a cidade, para as montanhas e pelos mares, outras terras, outras gentes, vão ensinando as crianças a conhecer o imenso mundo em que vivem, a sua riqueza e diversidade, as suas imensas possibilidades. Quando as crianças têm oportunidade de, para além de ouvir, também contar histórias a outras crianças ou adultos, desenvolvem ainda mais as noções nelas contidas, mais do que palavras, são representações do mundo, regras de convivência, diferenciação entre o certo e o errado.
Deste modo, as histórias tornam-se uma ferramenta para ensinar às crianças as regras do “estar no mundo” e formas de agir sobre ele. Os contos não ensinam apenas uma criança de cada vez, mas toda uma geração que, ao partilhar histórias comuns, acaba por adquirir uma certa visão do mundo, um entendimento, uma cultura e mesmo uma ideologia. De facto, os contos não são neutros. As histórias são leituras do mundo e como tal reflectem os valores de cada comunidade, época e autor. Como nos dizem Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada:
“Além do talento e das opções individuais, a literatura infantil reflecte com clareza e nitidez a época a que pertence. Excepção feita aos contos tradicionais, que não só não surgiram para entreter crianças como ocupam um lugar à parte que não cabe aqui tratar, cada história é um espelho do momento em que surgiu. O mundo transforma-se. A literatura infantil não tem outro remédio senão transformar-se também. Voluntariamente ou não, cada autor acaba por fazer eco dos valores, ideologias, modos de vida, formas de encarar a educação e a infância. Estes aspectos por vezes transparecem até nos títulos de livros ou de colecções”.
A literatura é um meio poderoso de consciencialização sobre o mundo, as desigualdades e injustiças, os benefícios de uns e as desvantagens de outros. Esta consciencialização pode conduzir a uma tomada de consciência da necessidade de transformar as relações entre os seres humanos, particularmente na sociedade actual marcada por tantos desafios. A propósito desta perspectiva, Nelly Novais escreve:
“A literatura, em especial a infantil, tem uma tarefa fundamental a cumprir nesta sociedade em transformação: servir como agente de formação, seja no espontâneo convívio leitor/livro, seja no diálogo leitor/texto estimulado pela escola (...). É no sentido dessa transformação necessária e essencial (cujo processo começou no início do século XX e agora chega sem dúvida, às etapas finais decisivas) que vemos na literatura infantil o agente ideal para a formação da nova mentalidade que se faz urgente”.
 Mas este objectivo de transformar a mentalidade só poderá ser atingido se as pessoas adultas que se ocupam das crianças (pais, educadoras, professores) tiverem consciência da sua responsabilidade e reorganizarem o seu próprio conhecimento. Como afirmou Ana Maria Machado, citando Abramovich,
“É uma possibilidade de descobrir o mundo imenso dos conflitos, dos impasses, das soluções que todos vivemos e atravessamos”. A autora acrescenta ainda: “Nesse sentido ouvir ou ler histórias inicia a criança no processo de construção da linguagem, ideias, valores e sentimentos os quais ajudarão a criança na sua formação cultural como pessoa e cidadão”.
Fantasia e imaginação (dos 4 anos aos 5 anos)
Fase lúdica/ predomínio do pensamento mágico;
·  Aumenta, rapidamente, o seu vocabulário;
·  Faz muitas perguntas. Quer saber “como” e “por quê?”;
·  Egocentrismo – narcisismo;
·  Não diferenciação entre a realidade externa e os produtos da fantasia infantil;
·  Desenvolvimento do sentido do “ eu”;
·  Tem mais noção de limites (meu/teu/nosso/certo/errado);
·  O tempo não tem significação – não há passado nem futuro, a vida é o momento presente;
·  Muitas imagens ainda completando, ou sugerindo os textos;
·  Textos curtos e elucidativos;
·  Consolidação da linguagem, onde as palavras devem corresponder às figuras;
·  Para Piaget, etapa animista, pois todas as coisas são dotadas de vida e vontade;
·  O elemento maravilhoso começa a despertar interesse na criança.
 
CONCLUSÃO
É muito comum cada sala de Educação Infantil ter um cantinho de leitura, com uma pequena estante. O ideal é que todo o acervo fique ao alcance das crianças (perto do chão e sem obstáculos entre obras e leitores). Nessa fase da escolarização, o educador deve ensinar os cuidados básicos que devemos ter com o livro. As histórias de ficção (como os contos de fadas) são as que mais encantam as crianças, mas é importante oferecer a elas diversas obras para que criem um repertório amplo. Os livros são um óptimo caminho para ampliar o universo cultural dos pequenos porque permitem entrar em contacto com situações desconhecidas.



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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