A CRISE DO CATOLICISMO E AS IDEIAS REFORMISTAS


INTRODUÇÃO
Até ao século XVI, a Igreja Católica dominava por completo a sociedade europeia. Muitos membros do alto clero viviam no luxo e na opulência em contraste com o ideal de pobreza pregado por algumas ordens religiosas. A corrupção e a imoralidade eram frequentes entre os clérigos . Alguns humanista cristãos, como Erasmo de Roterdão, apelaram para uma profunda reforma da Igreja, que moralizasse a vida eclesiástica e reconduzisse o Cristianismo à sua pureza original. No entanto, os papas não se mostravam dispostos a aceitar as críticas. A rebelião de Martinho Lutero Em 1513, o papa Leão X enviou pregadores a muitos lugares, pedindo aos fiéis que contribuíssem com o dinheiro para as obras da Basílica de S. Pedro. Em troca dessa esmola, o Papa concedia-lhe uma bula de indulgências, isto é, um documento em que declarava o perdão das almas do purgatório em favor de quem fosse dada a esmola. Em 1517, Martinho Lutero, um monge alemão, tomou uma posição pública contra a doutrina em que se baseavam as indulgências, numa proclamação conhecida como as Noventa e Cinco Teses. Acabaria por ser excomungado pelo Papa e só a protecção de alguns príncipes alemães impediu que fosse condenado à morte na fogueira.


A CRISE DO CATOLICISMO E AS IDEIAS REFORMISTAS
A base material da Igreja
A organização da Igreja Católica lembra uma combinação entre uma velha monarquia feudal e um moderno partido político. Na época do predomínio global do modo de produção capitalista, a Igreja Católica desempenha o papel de ideólogo coletivo a serviço da burguesia, influenciando 1,2 bilhão de pessoas em todos os continentes. Para levar a cabo essa tarefa reacionária, além do pessoal leigo que trabalha em seus órgãos e nas estruturas que ela controla, ela emprega um aparelho de mais de 400.000 sacerdotes (metade deles concentrada na Europa), 750.000 freiras, etc. Só nos EUA mais de um milhão de homens e mulheres trabalham para a Igreja Católica Romana, de uma forma
Os dados estatísticos mostram que a maioria dos católicos não comparece à Santa Missa semanal, e em muitos países a proporção de comparecimento está encolhendo. Na Itália em 1995-2000, 48% dos católicos adultos declararam que estavam seguindo este preceito fundamental, e em 2005-2008 apenas 36% o seguiam. Esses dados também não refletem a situação real. Por exemplo, uma pesquisa encomendada pelo próprio Vaticano em uma diocese na região central da Sicília, realizou uma contagem física, entre aqueles que disseram que iam à igreja todos os domingos (30%), de quantos iam na prática. O resultado mostrou que apenas cerca de metade deles (18%) iam realmente assistir à missa. Há também uma crescente hostilidade da opinião pública contra os privilégios eclesiásticos, especialmente escandalosos em tempos de crise e nos países de maioria católica, mas essa hostilidade também é significativa em países como os EUA, onde tais privilégios são compartilhados por uma grande variedade de denominações cristãs e outras organizações religiosas.
Combine tudo isso com a concorrência de Igrejas mais modernas e agressivas e então as ameaças à estabilidade do fluxo de caixa do Vaticano podem ser facilmente compreendidas. Isso tornou o Vaticano cada vez mais dependente do reinvestimento de seus recursos de capital em operações financeiras, explorando a possibilidade de usar o seu pequeno estado em Roma como um paraíso fiscal e como um lavador internacional de dinheiro.
Intrigas da corte
Em 2006, Joseph Ratzinger (nome real do Papa Bento XVI) escolheu o cardeal Tarcisio Bertone como seu novo secretário de Estado, ou seja, como seu primeiro-ministro. Bertone já tinha "trabalhado" com Ratzinger na Inquisição Romana, e eles foram aliados no conclave de 2005 (o conclave papal é o congresso de cardeais que elege o Papa). A partir dessa posição, ao longo dos anos ele acumulou notável poder que ele tem usado da forma mais imprudente contra as crescentes fileiras de seus inimigos dentro da corte papal. É no contexto de um forte conflito entre a facção de Bertone e os seus adversários na Cúria (como o Cardeal Sodano, o Cardeal Ruini e outros "Wojtylians" – Karol Wojtyla era o nome do Papa João Paulo II) que estourou o escândalo ‘Vatileaks’ (vazamento de documentos secretos do Vaticano). Este escândalo consistia em uma série de vazamentos sobre duas questões principais: a sujeira das finanças do Vaticano e a iminência de uma sucessão pontifícia.
Desde 2008 o Cardeal Bertone é o chefe do órgão dirigente do banco IOR. De lá, ele fez oposição a todas as tentativas por parte do banco central italiano e do Conselho da Europa para fazer o funcionamento da IOR menos opaco. Basicamente, no momento, qualquer um pode anonimamente abrir uma conta bancária lá usando um cúmplice clérigo como um procurador. Desde 2010 uma série de escândalos surgiu, expondo o IOR como um parceiro preferido de vários grandes bancos italianos e europeus em transações obscuras. Em dezembro de 2010, 23 milhões de euros pertencentes a um cliente anônimo do IOR foram congelados pelas autoridades italianas.
O desdobramento da crise econômica fez com que as autoridades bancárias ficassem menos dispostas a serem tolerantes com o modo de operação do IOR, que atuava com absoluta desregulamentação papal, livre de impostos e em total desrespeito às normas internacionais. A situação ficou tão ruim que levou as autoridades italianas a impor o desligamento de todos os caixas eletrônicos na Cidade do Vaticano. Rumores originados da Cúria Romana, e relatados pelo jornal diário La Repubblica, dizem que o bloqueio dos caixas eletrônicos e a renúncia de Bento XVI estão intimamente ligados. O mordomo defendeu-se dizendo que ele teria provocado o Vatileaks com o objetivo de proteger a Igreja e o próprio Papa do inimigo interno: a ganância e a corrupção ... e seu secretário de Estado. Vale a pena notar que o julgamento terminou com uma condenação, mas o pontífice perdoou o mordomo. Alguns explicam a abdicação de Ratzinger como uma medida extrema para desembaraçar a Cúria do aperto sufocante de Bertone. Não seria fácil demitir o secretário de Estado, e Ratzinger não parecia disposto a tanto, mas se o Papa sai então seu primeiro-ministro tem que sair junto, e ele pode não ser confirmado se o conclave instaurar um novo equilíbrio de poder. Aparentemente, Bertone está usando esses últimos dias antes de 28 de fevereiro - a data anunciada da abdicação - para colocar seus asseclas em posições-chave. E o que é bastante significativo, ele não perdeu tempo para conseguir que um novo grupo de Bertonianos obedientes assumissem a gestão do IOR. Tudo indica uma exacerbação da luta interna.
Muda o Papa, os problemas continuam
A eleição de Joseph Ratzinger representou um afastamento da linha de João Paulo II, que era baseada no ecumenismo, universalismo e uma tentativa de apelar mais para a juventude. Como marxistas, sabemos que a política de Karol Wojtyla não foi menos reacionária: o papa polonês abriu seu reinado sob a bandeira de um flagrante anticomunismo e da intolerância, e a falsa postura anticapitalista e anti-imperialista adotada após o colapso da URSS e durante a guerra no Iraque foi realmente utilizada para ocupar o espaço político à esquerda e atrair milhões de jovens para o solo estéril das manifestações de massa no Dia Mundial da Juventude, puxando-os para longe da luta contra o capitalismo. Esta manobra, no entanto, revelou seus limites com o chamado movimento antiglobalização, quando a tentativa católica de sequestrar o movimento produziu resultados muito escassos. Na realidade, o falso anticapitalismo de Wojtyla nem sequer conseguiu impedir o deslocamento para a esquerda na América Latina, e o ecumenismo não conseguiu desacelerar significativamente o avanço de outras religiões e seitas novas. Apesar das intenções de Wojtyla, sua alegada abertura não reverteu efetivamente a enfraquecida influência do dogma católico, e no final das contas ela simplesmente fez com que as numerosas ovelhas negras no rebanho católico seguissem as tendências predominantes. Para os cardeais presentes naquele conclave, a eleição de Ratzinger deve ter tido o gosto de café preto após uma noite de bebedeira.
A eleição deste teólogo alemão foi uma escolha obscurantista que implicava uma mudança de foco de volta para o núcleo duro dos verdadeiros crentes conservadores. Foi uma escolha provinciana destinada a cuidar dos gananciosos interesses da Igreja na Itália e das intrigas dentro da Cúria de Roma. Como podemos observar, esta linha também enfrentou grandes problemas e agora foi derrotada. Seu papado viu um fluxo interminável de escândalos vergonhosos, divisões dramáticas, e declarações reaccionárias. Já em seu sermão como Decano do conclave dos cardeais, antes de ser eleito, ele atacou a " ditadura do relativismo ", listando os inimigos ideológicos da fé cristã escondidos atrás da ameaça relativista, entre os quais o marxismo merecia ser mencionado em primeiro lugar. Com a palestra de Regensburg de 2006, além de lançar uma provocação contra os muçulmanos dando uma piscada para a intolerância religiosa, ele reviveu sua cruzada contra o relativismo, pregando a oposição medieval entre a razão da ciência e a razão da fé. Ele tentou enfraquecer ou até mesmo revogar as inovações introduzidas pelo Concílio Vaticano II e readmitiu quatro bispos tradicionalistas ultraconservadores cristãos, incluindo um que acabou por negar o Holocausto.
Ele herdou do papa anterior o enorme escândalo dos encobrimentos e da cumplicidade das chancelarias diocesanas e do Vaticano nos casos de estupros cometidos por sacerdotes, particularmente em crianças, e ele tratou esses casos com reticências e uma conspiração de silêncio (tudo isso está agora de novo pegando fogo com protestos em muitos países contra os cardeais passíveis de condenação ​​sendo admitidos no novo conclave). Ele confirmou a postura clerical mais obstinada sobre a contracepção, a prevenção da AIDS, o direito ao aborto, a eutanásia e a homossexualidade. Ele dogmaticamente rejeitou qualquer pedido de inovação na estrutura eclesiástica proveniente da periferia do clero mais preocupado com a crise de confiabilidade e a escassez de vocações.
O conclave de 2005 descobriu uma forma de sair do impasse entre Ratzinger e o jesuíta argentino Bergoglio graças a "traição" de alguns cardeais latino-americanos que optaram por mudar de lado e apoiar Ratzinger, quem sabe em troca de quê. A composição da casta dos cardeais é largamente favorável aos países que são financeiramente decisivos para a Igreja Católica. Apesar da proclamada visão global do cristianismo, 49 cardeais de um total de 209 são da Itália. A segunda nação mais representada é a dos EUA, apesar de ter apenas 19. O conjunto da América Latina só tem 30. Os consistórios realizados por Bento XVI reforçaram a alocação ítalo-cêntrica e eurocêntrica de cardeais. Este papa nomeou tantos cardeais que o próximo conclave terá uma maioria de cardeais escolhidos por ele. Qualquer tentativa de eleger um papa não europeu, para ser usado em países mais pobres com a mesma função política que Karol Wojtyla teve no leste europeu, vai enfrentar a oposição feroz dos poderosos lobbies italianos.




Conclusão
Chegamos a conclusão de que o reformismo protestante mais tarde, Lutero estendeu as suas críticas à doutrina da Igreja Católica. Esta ensinava que o Homem só poderia alcançar a salvação eterna através da prática de boas obras e da mediação do clero. Para Lutero, no entanto, o fundamental era a fé .O homem salvava-se se tivesse fé, isto é, se acreditasse em Cristo e na sua palavra. Para isso, Lutero traduziu a Bíblia para alemão, de forma que cada crente a pudesse ler e interpretar livremente, sem precisar de ter o clero como intermediário. O culto devia limitar-se à leitura da Bíblia e ao cântico de hinos. Lutero reduziu os sacramentos, mantendo apenas o baptismo e a comunhão e aboliu o culto dos santos e da Virgem Maria. Defendeu a extinção das ordens monásticas, do celibato eclesiástico e estabeleceu que a igreja não deveria possuir propriedades. Isto levou muitos príncipes alemães a apoiar o luteranismo, seduzidos pela possibilidade de se apropriarem dos bens da Igreja Católica. As ideias reformistas de Martinho Lutero deram início à Reforma Protestante.